sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Gonçalo M. Tavares em Leiria



 
Em mais uma excelente iniciativa da Livraria Arquivo, em Leiria, no passado domingo à tarde, o jovem escritor Gonçalo M. Tavares esteve presente na pequena sala de conferências daquela livraria com a “desculpa” de vir apresentar o seu livro “Uma Viagem à Índia”, que por acaso saiu vai para um ano, para estar à conversa com quem estivesse interessado em por lá aparecer para ouvir falar de livros e da forma como eles se “materializam”. 

É sempre, para mim, um deslumbramento contactar ao vivo com quem tem o dom (e o saber, claro!) da criação da obra literária (e artística em geral, naturalmente!) Por isso, agora que tenho a disponibilidade que não tive durante o resto da vida, quando se trata de autores que me são familiares e do meu agrado, gosto de os ir ouvir e fazer os meus juízos acerca disso.

Deste jovem, detentor de tantos prémios nacionais e estrangeiros, que tem livros traduzidos em tantas línguas diferentes e de quem Saramago, por altura do lançamento do livro “Jerusalém” disse «… não tem o direito de escrever tão bem apenas aos 35 anos: dá vontade de lhe bater!», gostei de ouvir, entre muitas outras coisas, que:

  • ·         não tem Facebook;
  • ·         escreve diariamente durante 4 ou cinco horas concentrado, sem a presença do telemóvel ou da internet;
  • ·         todos os dias, entre a cadeira e a janela, luta obrigatoriamente pela escolha da cadeira;
  • ·         não conseguiria jamais viver noutro meio que não fosse a cidade;
  • ·         a cidade foi a melhor invenção da humanidade já que é o lugar onde (con)vive um tão grande número de pessoas sem se matarem umas às outras;
  • ·         gosta de andar por entre as pessoas e de olhar para elas e ver como agem e se comportam;
  • ·         cada leitor tem um interpretação própria do texto ou da personagem e o autor tem, de igual modo, a sua interpretação, estando ambos – leitor e escritor – ao mesmo nível interpretativo;
  • ·         as pessoas agem e falam como imortais; em vez de perguntarem “o que é que eu faço?” deveriam perguntar “o que é que eu faço enquanto estou vivo?”
  • ·         o poder, a fama são necessariamente efémeros.
Gostei especialmente da sua atitude de grande tolerância de pensamento e de ação, de aceitação aberta e franca do outro, de grande abertura de espírito, de humildade por oposição à arrogância que infelizmente tem sido e é o grande problema de grande parte de quem detém ou pensa deter o poder, ou nem que seja algum poder, por mais pequeno que seja. 

Uma atitude destas, porém, tem de ter subjacente pelo menos três enormes qualidades: inteligência, boa formação pessoal e social e muito saber. 




6 comentários:

  1. Enfim, gostou da humanidade de um homem que escreve e que é lido. E isso é lindo...

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  2. Pois eu ainda não li nada dele mas tenho lido sobre ele com agrado!
    Este teu texto é mais um para a lista daqueles que tenho lido com agrado sobre ele! :-))
    Hoje comprei um do José Luís Peixoto...já não sei para onde me virar com tanto livro na lista!

    Abraço

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  3. Carol
    Excelente este teu texto!!!
    Não li nada do Gonçalo mas tenho ouvido falar dele.
    Beijinho e uma flor

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  4. Rsrsrsrssss - é isso, de nenúfar em nenúfar como o elefante a atravessar o lago :)

    Gostei desta postagem pois não conhecia o escritor aqui apresentado.
    Pelos "apontamentos" a seu respeito deve ser uma pessoa muito interessante e agradável de se ouvir.
    Está na altura de comprar um livro dele para ficar a conhecê-lo.
    E como já tenho só dois para ler...
    Presentemente estou a ler o último do Moita Flores " A opereta dos vadios", mas acaba-se num instante, não é muito grande.

    Passarei por cá sempre que tenha um tempinho.
    Até lá... tudo de bom, feliz domingo e beijinhos

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  5. Nunca li nada deste autor nem nenhuma referência ao nome.

    Mas vou atualizar-me.

    Beijo

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  6. Também ainda só li "Uma Viagem à Índia" que é uma coisa absolutamente diferente. Não é um romance, é mesmo uma epopeia, mas dos tempos modernos, com os problemas e pessoas da atualidade. Eu li-o de seguida e gostei por ser diferente, mas pode ser lido aos pedaços e aos saltos tal como o Livro do Desassossego porque é fragmentário. E também nos deixa bem desassossegados, garanto!

    Pois é, Rosinha, a gente compra, compra e compra livros e depois não arranja tempo para ler tantos! Mas dá cá uma vontade de comprar todos, não é?

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