Em mais uma excelente iniciativa da Livraria Arquivo, em Leiria, no passado domingo à tarde, o jovem escritor Gonçalo M. Tavares esteve presente na pequena sala de conferências daquela livraria com a “desculpa” de vir apresentar o seu livro “Uma Viagem à Índia”, que por acaso saiu vai para um ano, para estar à conversa com quem estivesse interessado em por lá aparecer para ouvir falar de livros e da forma como eles se “materializam”.
É sempre, para mim, um deslumbramento contactar ao vivo com quem tem o dom (e o saber, claro!) da criação da obra literária (e artística em geral, naturalmente!) Por isso, agora que tenho a disponibilidade que não tive durante o resto da vida, quando se trata de autores que me são familiares e do meu agrado, gosto de os ir ouvir e fazer os meus juízos acerca disso.
Deste jovem, detentor de tantos prémios nacionais e estrangeiros, que tem livros traduzidos em tantas línguas diferentes e de quem Saramago, por altura do lançamento do livro “Jerusalém” disse «… não tem o direito de escrever tão bem apenas aos 35 anos: dá vontade de lhe bater!», gostei de ouvir, entre muitas outras coisas, que:
- · não tem Facebook;
- · escreve diariamente durante 4 ou cinco horas concentrado, sem a presença do telemóvel ou da internet;
- · todos os dias, entre a cadeira e a janela, luta obrigatoriamente pela escolha da cadeira;
- · não conseguiria jamais viver noutro meio que não fosse a cidade;
- · a cidade foi a melhor invenção da humanidade já que é o lugar onde (con)vive um tão grande número de pessoas sem se matarem umas às outras;
- · gosta de andar por entre as pessoas e de olhar para elas e ver como agem e se comportam;
- · cada leitor tem um interpretação própria do texto ou da personagem e o autor tem, de igual modo, a sua interpretação, estando ambos – leitor e escritor – ao mesmo nível interpretativo;
- · as pessoas agem e falam como imortais; em vez de perguntarem “o que é que eu faço?” deveriam perguntar “o que é que eu faço enquanto estou vivo?”
- · o poder, a fama são necessariamente efémeros.
Gostei especialmente da sua atitude de grande tolerância de pensamento e de ação, de aceitação aberta e franca do outro, de grande abertura de espírito, de humildade por oposição à arrogância que infelizmente tem sido e é o grande problema de grande parte de quem detém ou pensa deter o poder, ou nem que seja algum poder, por mais pequeno que seja.
Uma atitude destas, porém, tem de ter subjacente pelo menos três enormes qualidades: inteligência, boa formação pessoal e social e muito saber.
Enfim, gostou da humanidade de um homem que escreve e que é lido. E isso é lindo...
ResponderEliminarPois eu ainda não li nada dele mas tenho lido sobre ele com agrado!
ResponderEliminarEste teu texto é mais um para a lista daqueles que tenho lido com agrado sobre ele! :-))
Hoje comprei um do José Luís Peixoto...já não sei para onde me virar com tanto livro na lista!
Abraço
Carol
ResponderEliminarExcelente este teu texto!!!
Não li nada do Gonçalo mas tenho ouvido falar dele.
Beijinho e uma flor
Rsrsrsrssss - é isso, de nenúfar em nenúfar como o elefante a atravessar o lago :)
ResponderEliminarGostei desta postagem pois não conhecia o escritor aqui apresentado.
Pelos "apontamentos" a seu respeito deve ser uma pessoa muito interessante e agradável de se ouvir.
Está na altura de comprar um livro dele para ficar a conhecê-lo.
E como já tenho só dois para ler...
Presentemente estou a ler o último do Moita Flores " A opereta dos vadios", mas acaba-se num instante, não é muito grande.
Passarei por cá sempre que tenha um tempinho.
Até lá... tudo de bom, feliz domingo e beijinhos
Nunca li nada deste autor nem nenhuma referência ao nome.
ResponderEliminarMas vou atualizar-me.
Beijo
Também ainda só li "Uma Viagem à Índia" que é uma coisa absolutamente diferente. Não é um romance, é mesmo uma epopeia, mas dos tempos modernos, com os problemas e pessoas da atualidade. Eu li-o de seguida e gostei por ser diferente, mas pode ser lido aos pedaços e aos saltos tal como o Livro do Desassossego porque é fragmentário. E também nos deixa bem desassossegados, garanto!
ResponderEliminarPois é, Rosinha, a gente compra, compra e compra livros e depois não arranja tempo para ler tantos! Mas dá cá uma vontade de comprar todos, não é?