quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Ida à veterinária



 Ontem ao fim da tarde tinha consulta de rotina e vacinação para dois dos meus gatos. Resolvi levar um dos machos e uma fêmea para não armar guerras desnecessárias. Só que, à hora aprazada, e porque cá em casa a educação sempre foi mantida dentro de uma liberalidade consentida e concertada, a Branquinha tinha ido à sua vida por aí pelos quintais, lá tive de levar os dois machos, para não dizer os dois borregos, se não vejam!


Socas


 Gorki


Só tenho um transportador de gatos que, por bem ou por mal, estava em casa da minha filha Ana pelo que os fulanos tiveram de ir à solta no carro. Diga-se, para entendimento de quem me estiver a ler, que a clínica veterinária está situada numa rua perpendicular à minha, aí a uns trezentos metros de minha casa. Daí que o meu marido – que não se dá muito bem com os gatos, eu digo que por ciúmes e mais nada – pegou no castanho, o Socas, e meteu-o, sabe-se lá com que jeitinho(!) para dentro da mala do carro. O outro, o Gorki, como é mais velho e bem acostumado a fazer longas viagens de carro – durante anos, semana sim semana não, fazia a viagem do Barreiro para Leiria e volta com a dona, a minha filha Marta, além de que já foi passar férias connosco ao Algarve – enrolei-o na mantinha e levei-o no colo. Tudo bem até aqui.

Chegados à clínica que é mesmo à beira da agora movimentada Estrada da Estação, lá agarrei no Socas embrulhadinho na manta, enquanto o meu marido, com muito jeitinho, abria a mala do carro, que é daquelas que abre a porta toda para cima e, quando vai agarrá-lo, o bom do gato dá um salto daqueles que só os gatos conseguem dar! E aí vai ele, assustadíssimo, correndo por baixo dos outros automóveis estacionados no parque e salta para um quintal vizinho todo vedado com arame bem alto.

Bem o chamei, mas o fulano só me respondia de longe, recusando-se a saltar o muro de volta para os meus braços. 

Entretanto, levei o Gorki à consulta enquanto narrei à doutorinha a fuga acidentada do outro. Não sei se nervoso com a fuga do mal-amado companheiro, ou por birra pela visita ao consultório, o Gorki, que tem andado sobremaneira maldisposto – não sei se será da crise em que o país está mergulhado, se será da crise de uma possível andropausa que não sei se também ataca os restantes machos da Criação – bufou todo o tempo, rosnou à doutorinha, arranhou-me toda, enquanto ela, pobre coitada, se esforçava por auscultá-lo, apalpar-lhe os interiores e espertar-lhe a injeção com a vacina no cachaço! Claro que o mau feitio que o gato manifestava era de tal ordem que ela nem se atreveu a enfiar-lhe o termómetro no rabo, procedimento que também faz parte da consulta rotineira.

Só que, apesar dos arranhões e das tentativas frustradas de fuga por parte do amarelo, o meu pensamento estava com o castanho que andaria tonto aos mios pelo quintal onde se acoitara. Com calma, e depois de depositar o recém-consultado no carro, contornei os quintais e as casas e lá fui dar com o meu gatinho encostado à rede pedindo socorro. Mas como libertá-lo? E ao menos o MacGyver estivesse por perto… Mas, mulher que é mulher não se atrapalha e, como pude, puxei a ourela inferior da rede e consegui puxar o bom do gato para fora. 

Desenganem-se se pensam que a saga termina aqui! O magano, assim que se sentiu livre, fugiu saltando para outros quintais contíguos. (Imaginem onde eu, menina lisboeta, me encontro a viver! No meio da mais incrível ruralidade, não obstante lhe chamarem zona urbana de Leiria!) 

Agora, na mais húmida e escorregadia escuridão, lá vou eu de saia, trench coat e meia de vidro pelo meio das silvas e das ervas atrás de um gato castanho-escuro, nem conseguindo ver-lhe sequer o contorno das orelhas! 

Talvez cansado da brincadeira ou porque já lhe faltassem as forças, que aquele corpinho não se alimenta de ervas, lá se deixou apanhar quando o senti sentado de costas para mim.

Mas, mesmo transpirado e sujo de ervas e de alguma lama – que não fez cerimónia em limpar no meu belo trench coat – foi à consulta e fartou-se de fazer ronrom à doutorinha.

Que não o poupou da medida da temperatura…


14 comentários:

  1. Estou a imaginar a cena rocambolesca!
    E o S. não levou uma sarabanda por ter deixado fugir o Socas?!:-))
    Que desassossego, menina!
    Ainda bem que tudo terminou com os bichanos devidamente consultados e a doutorazinha devidamente arranhada! :-))
    Olha que há poucos veterinários que se entendam bem com gatos!
    Foi por isso que comecei a ir a Leiria com os meus porque aqui não eram muito apreciados! :-))

    Abraço e ronrons para eles

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  2. Carol
    O que me ri com as aventuras desses amiguinhos. É preciso coragem da tua parte para levares os gatos sem o transporta animais, olha que não era eu não. Dos meus sete que tenho só a que foi amputada é que vai ao veterinário de resto faço o resto em casa, mas a que foi amputada ontem pelaa primeira vez levei-a pela trela a dar um passeio fora da quinta, menina quando ela ouviu o carro do dono a chegar começou a fugir assustada, arranhou-me mas depois fartou-se de dar mimos.
    Beijinho

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  3. Está provado que há certas coisas que não se podem confiar aos homens...
    Mas por que raio é que insistem?
    :)

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  4. Carol, menina do Céu!! Gargalhei... miei... e tudo o que tive direito com sua odisséia "gatiniana" pelos quinatis de Leiria!! Meu Deus... você é mais veterinária que a própria doutora em questão. Agora,a vingança do termômetro foi ótima... da próxima vez, quem sabe, o danado do bichano fujão lembra-se fica mais "dengoso"... Ufa!! Abraços, Célia.

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  5. Parece ter sido mesmo uma grande aventura.

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  6. Uma aventura e pêras, que não foram doces!
    Bj

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  7. Querida Carol, que saga!!Foi uma tarde bem passada! Imagino como deve ter ficado o teu belo trench coat (estamos mesmo fashions! A Rosinha é que não gosta nada!)! ;)

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  8. faz-me lembrar as minhas idas ao dentista hehe

    Bjinhos
    Paula

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  9. Tenho três cães. Quando os levo ao veterinário é um desatino.Não na viagem, mas na sala de espera. São pequenos mas ladram e desafiam os de grande porte que por lá estiverem.

    Um pouco como vêem fazer à dona, sempre a 'rosnar e a ladrar' contra os que, não por serem grandes, mas por se fazerem, nos vão tirando o espaço e a vez de sermos atendidos e entendidos como portugueses e pessoas.

    Vou continuar vagarosamente a caminhar. A dizer as coisas ainda consigo gritar.

    Beijo agradecido pela presença e força que me tem dado

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  10. ahahhaha borregos! lovely :) Bom fim de semana Carol. Beijinhos Paula

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  11. rrrss rrsss rrss mas que aventura!!

    Não sabia que conhecias bem o Barreiro...

    Um bom final de semana, sem mais escapadelas de gatos por entre quintais, rss

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  12. Carol dear,
    Será que te ficou de emenda?
    Cá em casa só uma vez o meu marido se atreveu a levar a gata Bi-Xana ao café e ficou dito e escrito - NUNCA MAIS! - saltou de tal modo agitada de banco para banco, para cima do volante e em direcção aos vidros a querer sair do OVNI em andamento que, por pouco, não causava um acidente fatal.

    Agora, só de transportadora e não se fala mais nisso.

    Chuacs!

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  13. Bela narrativa. Gosto do tom irónico e brincalhão... Mas ser gato é isso mesmo: mandar em si próprio e ir ao médico só quando as consultas forem da sua própria vontade, o que não era o caso:) Pobres deles, ricos gatinhos!:)

    Um beijo

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  14. Gostaram, não é? E riram a bom rir! Ainda bem porque na altura eu não achei graça nenhuma!...

    Dos vossos (sempre) simpáticos comentários, retiro (pelo menos) uma boa conclusão: com os homens... é difícil contar... Ih! Ih! Ih!

    Paulinha, também tens de ir num transportador quando vais ao dentistas ou também foges à solta para os quintais vizinhos?...

    Pois é Manelinha, muito modernaças nós...

    Beijinhos a todos vós, amantes de animais, e bom fim de semana.

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