Corre por aí um belo poema que Manuel Alegre dedicou à Lisboa que agora sofre com o Corona Vírus e que diz assim:
Lisboa Ainda
Lisboa não tem beijos nem abraços
não tem risos nem esplanadas
não tem passos
nem raparigas e rapazes de mãos dadas
tem praças cheias de ninguém
ainda tem sol mas não tem
nem gaivota de Amália nem canoa
sem restaurantes, sem bares, nem cinemas
ainda é fado ainda é poemas
fechada dentro de si mesma ainda é Lisboa
cidade aberta
ainda é Lisboa de Pessoa alegre e triste
e em cada rua deserta
ainda resiste
20 de março de 2020,
Manuel Alegre
E lembrei-me deste outro, igualmente de Manuel Alegre, sobre uma Lisboa acorrentada em tempos de ditadura. Lisboa resistiu!
Lisboa perto e longe
Lisboa chora dentro de Lisboa
Lisboa tem palácios sentinelas.
E fecham-se janelas quando voa
nas praças de Lisboa -- branca e rota
a blusa de seu povo -- essa gaivota.
Lisboa tem casernas catedrais
museus cadeias donos muito velhos
palavras de joelhos tribunais.
Parada sobre o cais olhando as águas
Lisboa é triste assim cheia de mágoas.
Lisboa tem o sol crucificado
nas armas que em Lisboa estão voltadas
contra as mãos desarmadas -- povo armado
de vento revoltado violas astros
-- meu povo que ninguém verá de rastos.
Lisboa tem o Tejo tem veleiros
e dentro das prisões tem velas rios
dentro das mãos navios prisioneiros
ai olhos marinheiros -- mar aberto
-- com Lisboa tão longe em Lisboa tão perto.
Lisboa é uma palavra dolorosa
Lisboa são seis letras proibidas
seis gaivotas feridas rosa a rosa
Lisboa a desditosa desfolhada
palavra por palavra espada a espada.
Lisboa tem um cravo em cada mão
tem camisas que abril desabotoa
mas em maio Lisboa é uma canção
onde há versos que são cravos vermelhos
Lisboa que ninguém verá de joelhos.
Lisboa a desditosa a violada
a exilada dentro de Lisboa.
E há um braço que voa há uma espada.
E há uma madrugada azul e triste
Lisboa que não morre e que resiste.
E resistirá sempre!
feliz por te saber de volta
ResponderEliminare com saúde,
beijo
Muito obrigada, caro Poeta!
EliminarBeijinho
em tempo,
ResponderEliminargosto muito da poesia de Manuel Alegre
e os poemas têm a sua inconfundível marca
Dois belos poemas de um poeta que gosto muito.
ResponderEliminarAbraço
Também eu, Elvira!
EliminarBeijinho e boa saúde.
Boas memórias vivas
ResponderEliminarResistir sempre
Bj
SEMPRE!!!
EliminarA Lisboa acorrentada passou a Lisboa enclausurada...mas Livre?!
ResponderEliminarMudam-se os tempos e os poemas mudam de direcção, mas sempre resistindo.
Veremos o que vem a seguir, Gracinha.
Beijinhos e fica bem.
Dizes muito bem, Janita: vamos ver o que vem a seguir...
EliminarHaja esperança! Beijinhos esperançosos!
Houve tempos em que sabia seu versos de cor
ResponderEliminarMas nunca é tarde para voltar a decorá-los
Cantar também é uma forma de resistir...
Cantar é uma bela forma de resistir!
EliminarLisboa continua viva com gente enclausurada.
ResponderEliminarDois lindos poemas que gostei muito de ler.
Beijinhos Graça.
Ps. Também estou fartinha de silêncio :(
Beijinhos resistentes, Manu!!!
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