sábado, 14 de julho de 2018

Duas ou três coisas sobre os exames




Começou o “circo” dos resultados dos exames nacionais. E eu (sabe quem já me conhece) começo logo a borbulhar com as análises que a nossa (triste) comunicação social começa a deitar cá para fora.

O pior é que, no que toca aos exames nacionais, cá no burgo, não é apenas a comunicação social que é triste e pobrezinha. A começar no IAVE (que já se chamou GAVE, e as pessoas liam «gueive» como se fosse uma palavra inglesa) onde os exames são elaborados, até aos professores, aos pais e, especialmente, à opinião pública são todos muito tristes e muito pobrezinhos.

A esta hora já os meus queridos amigos estão a pensar: «Olha-me esta armada em boa!» E posso até parecer estar. O certo é que tive a sorte de estudar Ciências da Educação com bons professores na Universidade de Aveiro que me/nos fizeram ver a educação e a pedagogia de diferentes prismas.

Antes de mais, duvido da necessidade, da justeza e até do rigor dos exames. Os de final do 12º ano, enfim talvez embora nunca nos moldes em que são elaborados. Aqueles que ainda se fazem e os que o anterior ministro quis “repor”, nem pensar!! Para quê?

“Deliro” quando oiço tantas pessoas – algumas/muitas das quais professores – defender que, se antigamente havia exames em todos os ciclos, porque não hão de continuar a ser aplicados? (Aquele senhor ex ministro da Educação também achava…) esquecem-se, ou não sabem, (e o senhor ex ministro também se esqueceu ou não sabia…) que antigamente, no tempo da “bendita” ditadura, o ensino era só para alguns e por isso o objetivo dos exames era o de fazer a seleção dos alunos…

Mas se querem falar dos exames de “antigamente” – e eu fi-los todos desde o da 3ª classe – sempre vos digo que eram bem mais honestos do que são os que os illuminati do IAVE produzem atualmente. É que naquele tempo já sabíamos que se estudássemos que nem loucos, estaríamos em condições de responder mais ou menos acertadamente às questões. Atualmente, em nome de um pseudo desenvolvimento do pensamento lógico e da “bendita” obstaculização à memorização e aplicação de conhecimento, elaboram provas de exames com questões altamente complexas e dúbias que levam que tempos a descodificar completando-as com os “moderníssimos” e “americaníssimos” exercícios de escolha múltipla com quatro hipóteses de resposta muitas das quais altamente rasteirentas.
Digo, e garanto-vos que sei do que estou a falar, que as atuais provas de exame não são honestas, são manhosas, cheias de ardis e artimanhas que em pouco ou nada testam os conhecimentos ou sequer as capacidades dos alunos.  (Costumo dizer aos meus explicandos de Português do 12º ano que, se o Fernando Pessoa tivesse de fazer uma prova de exame sobre um dos seus poemas, havia de se ver bem aflito…)

Por isso, os professores vêem-se forçados, na sua maioria, a treinar os seus alunos para desmontar os possíveis artifícios constantes das provas de exame em detrimento, muitas vezes, de neles produzirem verdadeiras aprendizagens. Os alunos precisam disso, os pais querem isso e as escolas pressionam-nos nesse sentido em nome dos “benditos” rankings que a triste comunicação social inventou e com os quais o público em geral delira!

Depois os nossos “cérebros” queixam-se muito das elevadas taxas de insucesso, do abandono escolar, do ainda baixo número de licenciados e por aí fora. Pois se os exames finais do secundário são mais … como direi? Difíceis, exigentes, maquiavélicos talvez… do que os do superior! Sei de jovens que, como alunos externos, têm já parte das disciplinas de alguns cursos superiores que não podem continuar porque não conseguem nota positiva nos exames finais do 12º ano.  

E outra coisa: o ensino secundário já faz parte da escolaridade obrigatória! Não é mais seletivo, nem devia contar para o acesso ao superior…

Pois é… os “nossos” exames nacionais têm muito que se lhe diga…


13 comentários:

  1. Foi já há uns bons sete anos e não sei se pelas rasteiras mas recordo-me bem da dificuldade do exame de geometria do meu filho que até tinha excelentes notas nessa disciplina e se viu bastante aflito para conseguir a nota de que precisava para o acesso à universidade.

    [Espero que a desistência do "meu" Algarve seja por bons motivos e que esteja tudo bem convosco, Graça.]

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    1. Essas "exigências" são um tremendo disparate. "Poderzinhos" de quem ainda pensa que está a viver no tempo "da outra senhora"...

      (Infelizmente a nossa não ida para o teu Algarve para já deveu-se a mais um revês na saúde do meu marido. Mas vai ficar tudo bem! Beijinhos.)

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  2. Verdade é muito exigente o 12º ano, também me pergunto se será necessário.

    Beijinho enorme

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    1. Claro que não é necessário, Adélia! São as manias profundamente enraizadas dos senhores professores do secundário que ainda pensam que têm de mostrar que sabem muito.... Enfim!

      Beijinhos e abraços, minha querida!

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  3. Concordo inteiramente contigo.
    Beijinhos
    ~~~

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  4. Nem de propósito! O Professor José Matias Alves, que sabe MUITO destas coisas da educação, escreveu um texto no seu blog que vem ao encontro do que eu aqui defendo.

    Quem tiver interessa e paciência, pode lá ir:

    https://terrear.blogspot.com/2018/07/avaliar-para-conhecer-examinar-para.html

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  5. Interessantíssimo o teu texto, Graça. Fiquei a saber algumas coisas que a comunicação social nunca explica. Tudo subvertido, tudo enganador neste mundo que nos coube viver…
    Abraço

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    1. ]E bem verdade, Justine. Obrigada pelas tuas palavras.

      Beijinho.

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  6. Seria, porventura, melhor serem as universidades e escolas superiores a seleccionar os alunos segundo os seus próprios critérios.
    Bj.
    Bj.

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