Como já deu para ver, não resisto a uma boa crítica a alguns «utilizadores/trucidadores» da nossa língua, por isso hoje vou transcrever uma crónica do sociólogo Moisés Espírito Santo que saiu no Jornal de Leiria do passado dia 12 e que tem o título de
Asneiras e Bacoquices
«Tenho momentos em que me
entretenho a notar as asneiras em português ouvidas nas televisões. Não me
refiro às pessoas entrevistadas na rua. Só tenho atenção aos jornalistas,
políticos e outras personalidades.
Já se sabe que o Presidente da
República (e de todos os portugueses) diz «cidadões» em vez de cidadãos. A presidente
do Parlamento inventa palavras: «o inconseguimento... é frustracional» (deve
ser para passar por sábia). Não há um assessor que aconselhe o ministro do
Emprego e da Solidariedade a deixar de dizer «treuze»? Eu dir-lhe ia que
«treuze» é uma saloiice chapada; seria menos criticável dizer «auga» em vez de água
porque estávamos a usar uma metátese que é um fenómeno corrente na língua. Ao
dizer «treuze» está-se, propositadamente e por vaidade, a tentar usar um processo
provinciano de distinção bacoca.
Já se torna raro que alguém nas
TV/s utilize correctamente o verbo haver que (aprendam por uma vez!) só se usa
na terceira pessoa do singular. Um deputado perguntava ao chefe do governo:
«Haverão mais cortes...?». Um jornalista disse: «Vão haver dois pedidos de
esclarecimento...». Um anúncio oral na TV diz «Há cem anos não haviam
telemóveis nem existia computadores». Duas asneiras. Digam-lhe que, se o verbo
haver só se usa na terceira pessoa do singular, o verbo existir conjuga-se em
todas as pessoas. Um cartaz da Unilever (entretanto retirado) dizia «Já experimentás-te
o chocolate Olá?». Esta maneira de escrever o pretérito também é muito comum.
Um rodapé da RTP dizia «Extra-munção» em vez de Extrema-unção. Se dissesse
«estra-monção» até tinha lógica...
Um pivô do telejornal entendeu
distinguir-se da gente comum dizendo que uma mulher islâmica tinha sido
condenada por «apostásia» (duas vezes) em vez de apostasia. O mesmo pensou que
seria mais chic nomear a capital da Turquia por Âncara em vez de Ancara. Um político
dizia «inclusível» por inclusive. Outros pivôs ou jornalistas pressupõem que,
perante uma palavra estrangeira, esta só pode ser do inglês: o termo item (que
é do latim e significa «o mesmo») passa a ser dito «aitem»; climax (também do
latim, «cúmulo»), ouvi-o a ser pronunciado «claimex». Já para o nome da cidade francesa
Chamonix ouvi «Cheimonixe» e Nice, «Naice».
A par deste português cada vez
mais mal falado vamos assistindo à invasão dum imenso palavreado inglês quando
temos palavras que exprimem as mesmas ideias. Os programas das TV/s passaram a chamar-se
Big Brother, Masterchef Portugal, Chef’s academy, Voice Portugal, A tua cara
não me estranha - kids, etc. Isto só se justifica por uma palavra: estupidez.
Falam mal a sua língua materna e fingem que «falam estrangeiro». (...) Ainda há pouco ouvi, num café, pedir uma «coca-cola
leite» (em vez de light, [lait], fugindo-lhe o pé para o chinelo).
E que dizer da praga do inglês
nas conversas, teorias ou tretas dos economistas - que fazem lembrar os astrólogos
que também usam «língua de pau» para ludibriar - quando há expressões
portuguesas exactamente equivalentes? O problema é que, com essa verborreia, os
seus autores procuram distinguir-se dos indígenas que por cá vegetam. Isto
faz-me crer que quanto mais avança a escolaridade, mais mal se fala a língua
portuguesa.»
E, já agora, deixem-me perguntar (de forma retórica e nada mais...) quantas destas pessoas retratadas na crónica se dirão perentoriamente contra o último acordo ortográfico com a desculpa pseudo-purista de
que não querem corromper a «bela língua de Camões»…
(gargalhadas...)
Incrível que se diga "handicapado" por "deficiente" e "partenariado" por "parceria" e "mídia" em vez de "media"( pois a palavra é latina) e "aspas" em vez de "comas".
ResponderEliminarDecidi acrescentar só mais uns assassínios ...
Que tudo na tua vida se recomponha , minha linda.
Gracinhamiga
ResponderEliminarSó bato palmas!!!!!!!!!!
Qjs
~
ResponderEliminar~ Mas que coleção completa reuniu esse sociólogo coliponense
e que boa e deliciosa crónica nos presenteia!
~ Recentemente, ouvi o filho de um primo irmão, licenciado em
germânicas a preparar o doutoramemto, dizer comprimentos em
vez de cumprimentos...
~ Quandos os erros são proferidos por formados das áreas de
letras parecem-me deveras crassos.
~ Exelente a tua publicação com uma observação, notavelmente
pertinente.
~ ~ ~ ~ Abraço. ~ ~ ~ ~
Aqui está uma bela crónica que bom proveito faria a muita gente responsável na comunicação social.
ResponderEliminarBom dia Graça
ResponderEliminarErros de palmatória no nosso tempo.
Será que ninguém lhes diz que muito se enganam e que ter dúvidas não é defeito?
Há mesmo muita gente a não saber usar as palavras como deve ser. Eu passo a vida a apanhar erros... Mas também quando são chamados à atenção não ligam...
ResponderEliminarUm beijo, Graça
É o pão nosso de cada dia!
ResponderEliminarUma tristeza!
Quanto ao NAO já sabes que ainda não aderi...espero não descer na tua consideração! :)
Abraço
Um resumo bem apresentado.Apesar de ser da área das ciências , passei a minha vida a exigir rigor de linguagem...hoje , fico tão baralhada com o que oiço que muitas vezes tenho de parar para reflectir se sou eu que já estou mesmo " cota "...
ResponderEliminarM.A.A.
~
ResponderEliminar~ Peço desculpa pelo horrível lapso-- quandos!
~ Rosa dos Ventos, todos gostamos muito de ti.
~ Pessoalmente, respeito quem decidiu ser prematuro aderir,
mas implico com os que são contra o AC, afirmando, entre outras
barbaridades, que estragamos a Língua de Camões e de Pessoa!
~ ~ ~ ~ Beijinhos. ~ ~ ~ ~
não sei se hei de rir ou chorar!!!
ResponderEliminarGostei deste texto!
ResponderEliminarPenso que além da minha cultura não ser muito alta, não dou erros como muitos que ouço e leio.
Eu ainda não me habituei a escrever com o novo acordo ortográfico, não sei se alguma vez o vou usar.
beijinho e uma flor
Uma pergunta muito pertinente, Graça.
ResponderEliminarQuanto a Moisés Espírito Santo, fiquei fã dele desde que o entrevistei há uns anos. É uma pessoa de uma cultura extraordinária.
A maioria é gente da nossa geração que está atenta a estes atropelos a que a lingua portuguesa está sujeita. Estes senhores doutores jornalistas modernos, salvo raras excepções, não conhecem quase nada das regras da nossa língua. Abençoadas estas pessoas que sabem da poda, e estão atentas.
ResponderEliminarLeo, sabes bem que a minha tolerância é infinita no que às escolhas de cada um.
ResponderEliminarGrssinhamiga
ResponderEliminarVóltei, çó para diser que não prçebo tanta amirassão por uns herritos de náda. Cá para mim, tá todo beim. E handa a jente a falár curretamête e qoizas açim e veêm uns marme-los a prutestar. Não se fás.
O Moizés Espirito Çanto é aquê-le gajo do bãnco. Hentão já foustes coumo dis o Farnmdo Memdes.
Comprimentos
ResponderEliminarTanto pontapé na gramática! Está aí o mundial!...
Daqui a nada o Português passa a ser uma língua "estrangeira". Digo eu, que já tenho dificuldades em perceber algumas expressões. LOL!..
:)
Ó Enrricamigo! De mais!!!
ResponderEliminarÇão só mesmo uns erritos, carago!
O Moizés axo que é primo do gaijo do banco e êçe já foi!
Beixos