sábado, 3 de maio de 2014

O Ministro Veiga Simão

(imagem retirada daqui)

Morreu o Professor Doutor Veiga Simão. Licenciado em Ciências Físico-Químicas pela Universidade de Coimbra onde também foi professor, doutorado em Física Nuclear por Cambridge e Reitor, quase fundador, da Universidade de Lourenço Marques, nos anos 60 do século passado.

Não foi, porém, por tudo isso que ficou por de mais conhecido e porque o recordo aqui. É que este homem extraordinário foi o primeiro Ministro da Educação que falou e lutou pela «democratização do ensino» em Portugal.


(imagem retirada daqui)
Escolhido por Marcello Caetano para integrar um governo que – dizia ele – tinha o propósito de reorganizar a vida nacional e para suceder ao “desastroso” ministro José Hermano Saraiva de má memória, foi designado Ministro da Educação em 1970 e logo começou a trabalhar na reforma do sistema de educação vigente, apresentando ao país, logo em 1971, dois projectos de reforma para discussão pública. Em Julho de 1973, seria aprovada a Lei nº 75 que estabelecia as bases a que deveria obedecer a reforma do sistema educativo. De entre as inovações nela contidas, são de apontar:

  • a institucionalização da educação pré-escolar;

  • a extensão da escolaridade obrigatória (que não era nada obrigatória, mas enfim…) de seis para oito anos;

  • a polivalência do ensino secundário e acréscimo de um ano na sua duração;

  • a expansão e diversificação do ensino superior, a criação de cursos de pós-graduação, um novo enquadramento da formação profissional;

  • a estruturação da educação permanente ;

  • e a consagração «de forma inequívoca» do princípio da democratização do ensino.


Não muito longe do que, anos mais tarde, ficaria inscrito na Lei de Bases do Sistema Educativo de 1986 que ainda nos rege.

No ano lectivo de 72/73, foi lançada em algumas Escolas Preparatórias do país uma experiência pedagógica que acabou por funcionar como o embrião do que viria a ser o Ensino Unificado dos 7º, 8º e 9º anos. Depois da Revolução de 74, a Reforma do Ministro Veiga Simão acabou (mal, mas as revoluções são mesmo assim) por ser posta de parte, tendo ainda funcionado até 76/77.

Tive a sorte de ter sido escolhida pela direcção da “minha” escola para integrar essa experiência onde aprendi muito do que fui como professora ao longo da minha carreira. As escolas da experiência foram equipadas com um excelente acervo de livros para as suas Bibliotecas e com textos de apoio para todas as disciplinas dos 3º, 4º e 5º anos experimentais. Foram escolhidos os alunos e os professores e estes recebiam formação trimestral em Lisboa. Tudo muito bem pensado e muito bem organizado.

Que não me venham agora chamar saudosista do antigamente ou comparar esta minha apreciação com a expressa pelo cherne Durão a propósito da educação do tempo da ditadura!

É que o Ministro Veiga Simão era, realmente, de outra têmpera!

13 comentários:

  1. Lembra bem, foi um tremendo disparate acabar intempestivamente com tal reforma e desmantelar todas as equipas que lhe davam suporte...

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  2. Veiga Simão é uma pessoa que respeito, mas que nunca conheci pessoalmente.

    Mais democrata que estes bandalhos presentemente no Poder- reformado de Boliqueime incluído.

    Tive o gosto de ser aluna da filha na Universidade Clássica de Lisboa, a quem deixo os meus sentimentos tal com ao resto da família.

    Que descanse em paz!

    Bom Dia da Mãe, Graça

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  3. ~
    ~ ~ Um homem inteligente, progressista, dinâmico, arrojado e de idoneidade irrepreensível.

    ~ ~ Que falta fazem pessoas desta têmpera no governo do nosso triste Portugal!

    ~ ~ ~ Um Domingo agradável. ~ ~ ~

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  4. Estimada Amiga Graça Sampaio,
    Pouco sei sobre este que foi um grande defensor do ensino em Portugak.
    Que Deus tenha a sua alma no reino dos céus.
    Abraço amigo

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  5. Ei-los que partem...novos ou velhos

    De cada um ficarão as boas obras, palavras e projectos.
    Foram vidas forjadas para servir o povo português e que lhes garantem estas memórias.

    Agradeço esta partilha para conhecer melhor o homem e a sua obra.

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  6. Bom dia, Gracita
    Um nome para recordar, sim, o que é bastante raro nos dias que correm (falando do aspecto político, claro!)
    Lembro-me, não por eu própria ser professora mas porque sempre estive inserida no meio) da sua acção como Ministro da Educação. O actual (e os anteriores) deveriam seguir-lhe o exemplo, em vez de andarem a destruir tudo, como verdadeiros tsunamis.

    Mas... por agora desejo-te um muito feliz Dia da Mãe.
    Beijinhos

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  7. Aproveito – sem me pronunciar sobre o tema do post – para te desejar um ótimo Dia da Mãe. Aqui é no próximo domingo.
    Bjos

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  8. Homem de rara inteligência, pertenceu aos que souberam adaptar-se ao pós-25 de Abril! Paz à sua alma!

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  9. um Homem de valor num ministério cheio de bolor. não tenho intenção de gracejar num momento destes, apenas aligeirar a perda de pessoas de grande inteligência e sentido de estado, parece-me a mim, que se pode dizer isto deste senhor.

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  10. Tudo que escreve , é verdade. Foi o melhor ministro da educação que tive.Sabia para onde ia e onde deviamos chegar. Conheci-o pessoalmente em 70/71 no Liceu D.Maria II em Braga.Afável , culto , educado etc.
    Foi com este ministro que passamos a ter o Agosto e Setembro pagos.
    Paz à sua alma e que sirva de exemplo à escumalha que se atirou ao pote como " GATOS A BOFES "
    M.A.A.

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  11. Se assim foi é devido o reconhecimento. Eu ignorante me confesso..., que só cheguei à escola portuguesa (como aluna) em 78.

    Fora o post, acho um mimo a foto dos passarocos que, julgo, assinala o Dia da Mãe. :)

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  12. Também tive esse privilégio!
    Foi uma experiência muito enriquecedora para professores e alunos, recebemos formação de cinco estrelas!
    Só me apercebi da sua morte ontem à noite...o fim de semana foi passado...acima das minhas posses!

    Abraço

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  13. Sibscrevo, palavra por palavra o seu texto, Graça

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