Mantenho – mesmo correndo o risco
de ser admoestada pelas minhas amigas/colegas aposentadas – aquela sensação estranha
de “friozinho no estômago” no início de cada período escolar.
Não esqueço, não consigo
esquecer, a sensação de quase primeira vez sempre que iniciava um novo ano
letivo. Era todos os anos como se fosse a primeira vez que me punha frente às
novas turmas. Dias antes começava a ter sonhos incríveis como não saber onde
eram as salas de aulas – e imaginem, eu estive na mesma escola trinta e tantos
anos! – ou de ter de dar aulas de Físico-Química quando sou de Inglês, ou até
mesmo de chegar às turmas e não me lembrar de uma única palavra em Inglês!
Já no início do 2º período, vinda
da rapidíssima interrupção do Natal, a sensação era de uma tristeza, de uma
nostalgia apenas explicada pelo desfazer do presépio e da árvore e pela
incerteza que nos traz o alvorecer de um novo ano. O dia 3 de Janeiro era
sempre, para mim, dos mais difíceis do ano letivo parecendo-me sempre o início
de algo interminável. Claro que, no dia 4, as nuvens cinzento-chumbo
desadensavam-se e o sol do meu habitual entusiasmo recomeçava a brilhar.
O início do 3º período foi sempre
o mais fácil. No final do 2º período todos nós, nas escolas, nos sentimos
exaustos: é o acumular de muitos meses daquela tensão criada pelo ato do
ensino-aprendizagem que dá ou não dá frutos; é o acumular do cansaço que vem do
facto de termos de tratar por vezes com 180 alunos ao longo de semanas e com
cada um de forma diversa porque cada um deles é uma pessoa diferente com
personalidades e necessidades diferentes; é a tensão da avaliação que é a mais
verdadeira do ano letivo – no Natal ainda mal os conhecemos e damos-lhes o
benefício da dúvida; no final do ano é o balanço final e há que sopesar muito
bem a progressão ou a retenção de cada um; mas é na Páscoa que se atribuem as
notas verdadeiras, diz-se-lhes o que eles verdadeiramente valem e “apertam-se”
um pouco as bitolas para os levar ao não desmazelo em termos de interesse e de
estudo. Além de que, de Fevereiro para Março, cai-nos a pré-primavera em cima
com aquele clima morno que nos amolece os músculos e nos amolenta o espírito
enquanto põe os alunos todos com a adrenalina em alta, em elevada alta! No fim
de tudo isto vêm aqueles diazinhos de pausa – sempre tão mal entendidos pelos
restantes trabalhadores e entende-se porquê… - que, em terminando, nos lança na
corrida do 3º período, por vezes, tão curto que nem dá para respirar!
Hoje é um desses dias. De
recomeço antes do grande final. Apetece-me sempre mandar mensagens aos meus ex
colegas a desejar-lhes “um bom recomeço”, assim num misto de desejo sincero e
de invejazinha, estão a ver?
É esse voto que deixo aqui a
todos e todas que eventualmente me leiam: tenham
e façam ter um bom 3º período! Só quem é – ou foi – professor é que
consegue saber a correlação de forças que se exerce durante cada um dos períodos
letivos!
A sensação de entrar pela primeira vez em palco, não é? Como a entendo bem...
ResponderEliminarTenho esses sintomas tudinhos, por vezes desespera-me o sonho (pesadelo) quando não encontro a sala de aula! é o meu sonho mais recorrente!
ResponderEliminarBeijinhos
Se o Crato te lê ainda faz uma repescagem! :-))
ResponderEliminarTambém cheguei a ter sonhos/pesadelos desses...de ir a meio da auto-estrada e não levar a pasta com os testes corrigidos, de trocar as horas e faltar, eu que nunca faltava, de me mudarem as turmas, etc ...
Mas já não penso na escola há muito!
Olhar para trás para quê?
Para a frente é que é o caminho!
Mas não te critico, somos todas e todos diferentes...
O resto não digo! :-))
Abraço e goza bem esses dias
Estimada Amiga Graça Sampaio,
ResponderEliminarNunca passei por experiências dessa natureza, embora e não estando profissionalmente habilitado para o desempenho dessa mui nobre e meritória missão de ensinar, quando militar em Macau, fui nomeado Director e Prof. das Aulas regimentais, aí sim, educar adultos ileterados não é fácil, como tal compreendo os seus sentimentos, visto que 30 e anos de ensino, não se podem esquecer de outro dia para o outro.
Linda esta sua mensagem para suas colegas.
Eu, desde que deixei a Marinha, faz 20 anos, nunca mais nela pensei nem mais pus os pés nas suas instalações, vivo correndo mundo, e recordando e tentando passar os melhores momentos da vida, já que o termo aposentado está em desuso, agora sou um Tecnico Superior de Lazer.
Abraço amigo
Desde que me aposentei , nunca mais fui ao liceu para cortar mesmo com essas sensações de sonhos / pesadelos ,etc etc etc.Tudo que descreve é verdadeiro, mas agora quero esquecer a profissão para a qual dei os melhores dias da minha vida, M.A.A.
ResponderEliminarNunca fui professora, mas tenho impressão que teria essas mesmíssimas sensações, aqui tão bem relatadas... :9
ResponderEliminarBeijocas!
Querida
ResponderEliminarNão sou, nem me sei colocar no lugar dos professores.
Mas torço para que o meu netinho neste último periodo consiga levantar uma negativa, para não voltar a repetir o 8º, por tudo o que tem e está a passar mesmo assim tem sido um grande homem.
Beijinho e uma flor
Também nunca mais fui à escola. Até porque não tenho prazer nenhum em ver quem lá ficou no meu lugar! Não tenho saudades, mas não deixo, sei que não deixarei nunca de sentir e de me interessar pelo que fiz durante toda a vida.
ResponderEliminarTambém gostaria de poder fazer como a amigo Cambeta, viver correndo mundo, mas não tenho "vagar"....
Estou aposentada há sete ano e ainda sonho com coisas relacionadas com o serviço.
ResponderEliminarE quem está ligado à Educação durante décadas nunca se desligará de todo, rrss
Um abraço fraterno
Obrigada, São, pela tua solidariedade!
ResponderEliminarFlor, espero bem que o teu neto tenha sucesso. (Se a negativa for em Inglês ou a Português, posso dar uma ajuda...)