terça-feira, 10 de abril de 2012

Primeiro dia do 3º período


Mantenho – mesmo correndo o risco de ser admoestada pelas minhas amigas/colegas aposentadas – aquela sensação estranha de “friozinho no estômago” no início de cada período escolar. 

Não esqueço, não consigo esquecer, a sensação de quase primeira vez sempre que iniciava um novo ano letivo. Era todos os anos como se fosse a primeira vez que me punha frente às novas turmas. Dias antes começava a ter sonhos incríveis como não saber onde eram as salas de aulas – e imaginem, eu estive na mesma escola trinta e tantos anos! – ou de ter de dar aulas de Físico-Química quando sou de Inglês, ou até mesmo de chegar às turmas e não me lembrar de uma única palavra em Inglês! 

Já no início do 2º período, vinda da rapidíssima interrupção do Natal, a sensação era de uma tristeza, de uma nostalgia apenas explicada pelo desfazer do presépio e da árvore e pela incerteza que nos traz o alvorecer de um novo ano. O dia 3 de Janeiro era sempre, para mim, dos mais difíceis do ano letivo parecendo-me sempre o início de algo interminável. Claro que, no dia 4, as nuvens cinzento-chumbo desadensavam-se e o sol do meu habitual entusiasmo recomeçava a brilhar. 

O início do 3º período foi sempre o mais fácil. No final do 2º período todos nós, nas escolas, nos sentimos exaustos: é o acumular de muitos meses daquela tensão criada pelo ato do ensino-aprendizagem que dá ou não dá frutos; é o acumular do cansaço que vem do facto de termos de tratar por vezes com 180 alunos ao longo de semanas e com cada um de forma diversa porque cada um deles é uma pessoa diferente com personalidades e necessidades diferentes; é a tensão da avaliação que é a mais verdadeira do ano letivo – no Natal ainda mal os conhecemos e damos-lhes o benefício da dúvida; no final do ano é o balanço final e há que sopesar muito bem a progressão ou a retenção de cada um; mas é na Páscoa que se atribuem as notas verdadeiras, diz-se-lhes o que eles verdadeiramente valem e “apertam-se” um pouco as bitolas para os levar ao não desmazelo em termos de interesse e de estudo. Além de que, de Fevereiro para Março, cai-nos a pré-primavera em cima com aquele clima morno que nos amolece os músculos e nos amolenta o espírito enquanto põe os alunos todos com a adrenalina em alta, em elevada alta! No fim de tudo isto vêm aqueles diazinhos de pausa – sempre tão mal entendidos pelos restantes trabalhadores e entende-se porquê… - que, em terminando, nos lança na corrida do 3º período, por vezes, tão curto que nem dá para respirar! 

Hoje é um desses dias. De recomeço antes do grande final. Apetece-me sempre mandar mensagens aos meus ex colegas a desejar-lhes “um bom recomeço”, assim num misto de desejo sincero e de invejazinha, estão a ver?

É esse voto que deixo aqui a todos e todas que eventualmente me leiam: tenham e façam ter um bom 3º período! Só quem é – ou foi – professor é que consegue saber a correlação de forças que se exerce durante cada um dos períodos letivos!

10 comentários:

  1. A sensação de entrar pela primeira vez em palco, não é? Como a entendo bem...

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  2. Tenho esses sintomas tudinhos, por vezes desespera-me o sonho (pesadelo) quando não encontro a sala de aula! é o meu sonho mais recorrente!
    Beijinhos

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  3. Se o Crato te lê ainda faz uma repescagem! :-))
    Também cheguei a ter sonhos/pesadelos desses...de ir a meio da auto-estrada e não levar a pasta com os testes corrigidos, de trocar as horas e faltar, eu que nunca faltava, de me mudarem as turmas, etc ...
    Mas já não penso na escola há muito!
    Olhar para trás para quê?
    Para a frente é que é o caminho!
    Mas não te critico, somos todas e todos diferentes...
    O resto não digo! :-))

    Abraço e goza bem esses dias

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  4. Estimada Amiga Graça Sampaio,
    Nunca passei por experiências dessa natureza, embora e não estando profissionalmente habilitado para o desempenho dessa mui nobre e meritória missão de ensinar, quando militar em Macau, fui nomeado Director e Prof. das Aulas regimentais, aí sim, educar adultos ileterados não é fácil, como tal compreendo os seus sentimentos, visto que 30 e anos de ensino, não se podem esquecer de outro dia para o outro.
    Linda esta sua mensagem para suas colegas.
    Eu, desde que deixei a Marinha, faz 20 anos, nunca mais nela pensei nem mais pus os pés nas suas instalações, vivo correndo mundo, e recordando e tentando passar os melhores momentos da vida, já que o termo aposentado está em desuso, agora sou um Tecnico Superior de Lazer.
    Abraço amigo

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  5. Desde que me aposentei , nunca mais fui ao liceu para cortar mesmo com essas sensações de sonhos / pesadelos ,etc etc etc.Tudo que descreve é verdadeiro, mas agora quero esquecer a profissão para a qual dei os melhores dias da minha vida, M.A.A.

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  6. Nunca fui professora, mas tenho impressão que teria essas mesmíssimas sensações, aqui tão bem relatadas... :9

    Beijocas!

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  7. Querida
    Não sou, nem me sei colocar no lugar dos professores.
    Mas torço para que o meu netinho neste último periodo consiga levantar uma negativa, para não voltar a repetir o 8º, por tudo o que tem e está a passar mesmo assim tem sido um grande homem.

    Beijinho e uma flor

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  8. Também nunca mais fui à escola. Até porque não tenho prazer nenhum em ver quem lá ficou no meu lugar! Não tenho saudades, mas não deixo, sei que não deixarei nunca de sentir e de me interessar pelo que fiz durante toda a vida.

    Também gostaria de poder fazer como a amigo Cambeta, viver correndo mundo, mas não tenho "vagar"....

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  9. Estou aposentada há sete ano e ainda sonho com coisas relacionadas com o serviço.

    E quem está ligado à Educação durante décadas nunca se desligará de todo, rrss

    Um abraço fraterno

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  10. Obrigada, São, pela tua solidariedade!

    Flor, espero bem que o teu neto tenha sucesso. (Se a negativa for em Inglês ou a Português, posso dar uma ajuda...)

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