quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O que eu quero para os meus filhos


Na véspera de oficialmente todas as escolas abrirem portas aos seus alunos, tomei conhecimento, por meio da minha filha mais nova, do excelente documentário "What I want for my children" que não resisto a deixar aqui. Está extraordinariamente bem apresentado com um belo texto muito bem ilustrado e bem lido que é dirigido a professores e a pais.  Como está dito em inglês, língua que nem todas as pessoas dominam, atrevo-me a deixar também uma proposta de tradução.





Os nossos filhos são extraordinários! Nós trouxemo-los para casa, sentámo-nos e observámo-los atentamente – que pequeninos seres humanos!

Maravilhámo-nos com a perfeição de cada dedinho das mãos e dos pés, com os seus narizinhos, com as suas boquinhas de botão de rosa. Com a sua macieza, com o seu cheiro.

Acordávamos durante a noite só para ver se ainda respiravam. Amamo-los tão intensamente que saltaríamos para a frente de um autocarro para os salvar. E esse amor não desvanece nem se torna menos intenso à medida que eles crescem. Ainda nos esgueiramos para os seus quartos para os vermos a dormir, talvez para lhes acariciarmos as faces ou para lhes darmos um beijo na testa.

Se foi um dia difícil, se lhes ralhámos ou gritámos com eles, ali ficamos a sentirmo-nos culpados e a dizermos que amanhã faremos melhor, teremos mais paciência e encontraremos uma forma melhor e sussurramos “amo-te!”. E preocupamo-nos. Estaremos a fazer o suficiente enquanto pais? Estarei a fazer o suficiente ou estou a falhar em alguma coisa? A vida é tão agitada que nem sempre temos tempo para sermos os pais que gostaríamos de ser.

Depois chega Setembro e levamo-los para a escola; entramos na sala de aula e sentimos que nos estão a arrancar o coração do peito e relutamos em entregá-lo a um professor que de facto não conhecemos; e dizemos: “Aqui está! Entrego-lhe o meu coração. Por favor tome bem conta dele – é tão precioso e tão especial para mim! Não sei o que farei sem ele. Por favor, não deixe que nenhum mal lhe aconteça!”

Deixamo-lo lá e ficamos preocupados:

- aprenderão o suficiente?

- ficarão bem neste mundo?

- terão sucesso?

- farão amigos?

- serão felizes?

Por isso esperamos muito dos professores e das escolas.

Lembremo-nos que estamos todos aqui com o mesmo objectivo: nós preocupamo-nos com as crianças. Temos de criar um ambiente em que todas as crianças alcancem o sucesso.

Eu quero que a comunidade escolar dos nossos filhos acredite neles e os inspire a sonhar e os apoie quando estiverem em dificuldades; que os ensine a respeitarem-se a si próprios e a terem empatia pelos que os rodeiam. Algumas crianças aparecem neste ambiente felizes e sem maldade, outros são mais complicados e mais difíceis de conquistar.

Eu quero professores que vejam para além disso e que acreditem que os nossos filhos querem alcançar o sucesso, ser felizes e ser ouvidos e amados.

Eu quero que os meus filhos tenham professores que se envolvam, que os respeitem como indivíduos e honrem cada um deles, aprendendo com as suas capacidades e dons únicos. Eu quero professores que lhes permitam aprender pelos seus próprios meios.

Eu quero que os nossos filhos tenham professores que façam perguntas mais do que dêem respostas. Este mundo é complicado e as pessoas são seres complicados. Eles precisam de adultos que aprendam com eles mais do que lhes ensinem.

Eu quero que os nossos filhos tenham voz e que os professores a oiçam, não só as palavras que dizem mas os silêncios por trás delas; as coisas que talvez as crianças tenham medo de dizer e que apenas são ouvidas com o coração.

Ouvir atentamente é a única forma que os professores têm para ajudar os nossos filhos a sentirem-se física e emocionalmente seguros. Ajudá-los a correrem riscos porque aprender coisas novas é sempre um risco.

E, finalmente, eu quero que ensinem sempre pela modelação; que façam auto-reflexão , que procurem novos desafios, que se esforcem por aprender todos os dias.

Sim! Nós queremos muito para os nossos filhos e há uma pergunta crítica que temos de nos colocar: que podemos fazer para termos a certeza de que cada escola, cada sala de aula, cada aluno, cada criança vá conseguir? Há uma coisa que temos de compreender: não há resposta. Não há uma resposta simples. Não há uma resposta única. De facto, há provavelmente tantas respostas como professores e alunos. Que podemos fazer?

“Sê a mudança que queres ver no mundo.” Ghandi

Se isto é o que queremos para os nossos filhos, é isto que temos de fazer pelos professores:

- acreditem sempre que os professores querem o que é melhor para os nossos filhos;

- não “se encostem” pensando que alguém vai fazer por vocês – envolvam-se!

- façam por conhecer os professores dos vossos filhos; mostrem-lhes que os apoiam enquanto trabalham para os fazer alcançar o sucesso; não reajam nem fiquem na defensiva – façam perguntas; disponham-se a ouvir e atentar compreender as razões que estão por detrás das acções ou decisões;

- sejam curiosos: descubram o que os vossos filhos andam a aprender; descubram os problemas que a escola enfrenta; introduza a discussão sobre o que está e o que não está a resultar, sobre o que todos nós precisamos – com o seu filho, com o professor, com o director, com as estruturas da comunidade, com o governo.

As crianças merecem!

A mudança acontece numa pessoa de cada vez. O que vais tu fazer por isso hoje?

 

17 comentários:

  1. Belo muito belo
    Necessário muito necessário. Registo, com agrado, ter sido a sua filha mais nova a dar o alerta dado... Quanto a resposta ao que me pergunta no final: Amanhã vou tentar explicar ao meu Diogo o que me diz Maria Montessori: A primeira coisa que um ser humano deveria aprender é a diferença entre o bem e o mal, e jamais confundir o primeiro com a inércia e passividade.

    Boa?

    ResponderEliminar
  2. Estou ao seu lado neste 'querer'.

    Vou guardar o texto para o distribuir aos Pais e EE, o lermos em conjunto e refletirmos.

    Obrigada!

    Beijo

    ResponderEliminar
  3. Belíssimo texto! Simplifica toda a burocracia escolar. Mestres, Diretores, Pais e Alunos, se norteados pelo texto aqui exposto, nada mais seria necessário! Encantou-me!
    Abraço, Célia.

    ResponderEliminar
  4. Já tinha sido alertada pelo FB da M. que haveria hoje este texto!
    Uma belíssima reflexão e...tradução!
    Assim consegui ler tudo sem voltar atrás milhentas vezes...:-))

    Abraço

    ResponderEliminar
  5. Está extraordinário, Carol. Deveria ser visto por todos os pais e professores !
    Estamos habituados a delegar e culpar os governos por tudo, quando as "coisas" têm que começar por nós próprios, em trabalho de equipa (pais e professores) !!!
    .

    ResponderEliminar
  6. Gostei tanto Carol! Obrigada por partilhares! Beijos Paula

    ResponderEliminar
  7. Muito bom mesmo. E muito pertinente: para professores e pais! (MV, a filha mais nova :-) )

    ResponderEliminar
  8. Enviaram-me hoje por mail e tive uma reacção igual à do Rui da Bica. devia ser de visionamento obrigatório por pais e professores.

    ResponderEliminar
  9. Alertar outras "consciências adormecidas", em vez de “chutar para canto” divulguei-o através dos meus contactos.

    ResponderEliminar
  10. Obrigada por terem gostado. É preciso divulgar junto do máximo de professores.

    ResponderEliminar
  11. Divulgar junto do máximo de professores e junto do máximo dos pais, com filhos a iniciar um novo ano !
    Se a Carol permitir publicarei no meu blog, de seguida !

    Obrigado.
    .

    ResponderEliminar
  12. Texto muito bacana. Consegui me enxergar em várias frases dele. Os cuidados, os temores, o carinho...
    Tive muita sorte com as professoras de minha filha. Algumas até se tornaram boas amigas no decorrer dos anos. E uma professora muito querida que ela teve quando menor, agora leciona para o ensino médio na escola nova de minha filha, o que passou muita segurança para nós, pois ela é um rosto amigo em um ambiente novo.
    Bjs

    ResponderEliminar
  13. Vi, li, ouvi, senti! O que vou eu fazer hoje e amanhã e, se possível, sempre, enquanto puder?Tentar estar à altura dos desafios e ajudar a operar a tal mudança individual e coletiva, a cada minuto, cada momento, cada aprendizagem, cada partilha. Vale a pena continuar a tentar!

    ResponderEliminar
  14. Welcome back, amigo Luís! Este vídeo a ti nada te traz de novo - és dos bons!

    Claro, Rui, e todos, quanto mais se divulgar melhor! É aquilo que podemos fazer já, hoje!

    Querida Milene, é uma grande sorte quando os professores conseguem criar empatia com os nossos filhos e vice-versa. É MUITO importante. Mais do que aprenderem muitos conteúdos e matérias.

    ResponderEliminar
  15. Como professora, e tendo consciência do trabalho e responsabilidade nas minhas funções,no carinho e respeito pelas crianças, pode acreditar que vou enviar este post, por e-mail, para todos aqueles que são responsáveis pelo crescimento dos vossos/nossos filhos.
    Mas, pais, não se esqueçam que a educação começa em casa. Dêem atenção aos vossos filhos, percam algum tempo com eles e façam-lhes as perguntas que devem e têm a fazer. Eles gostam.
    Obrigado.
    Maria,
    Uma professora

    ResponderEliminar
  16. Muito bom. Diz tudo!!!!!!!!
    Sou professora, embora já reformada, mas que ainda vivo muito o que se passa nas escolas, pois todos os dias me confronto com o desabafo das dificuldades dos que me acompanharam ao longo da minha vida profissional e que ainda continuam na escola. Mesmo assim, acho que "Tentar estar à altura dos desafios e ajudar a operar a tal mudança individual e coletiva, a cada minuto, cada momento, cada aprendizagem, cada partilha. Vale a pena continuar a tentar!"

    ResponderEliminar
  17. Obrigada, Margarida. Obrigada, Maria. Ainda bem se reviram neste texto.

    Beijinhos.
    (Margarida, também gosto muito de fazer ponto de cruz. Diverte-me.)

    ResponderEliminar