Todos, ou pelo menos, muitos de nós tem, no fundo das suas recordações, um namoro de verão daqueles que, diziam as nossas mães, ficavam "enterrados na areia". A propósito, e porque este verão está a chegar ao fim, vêm-me sempre à lembrança os dois agostos loucos que passei, em 64 e 65, na Nazaré, praia que, com aquela disposição muito própria - pelo menos que eu desconhecia - das barracas em fileiras viradas umas para as outras, favorecia a formação rápida e intensa de grandes grupos de adolescentes. Quase de um dia para o outro, na nossa fileira, reuniu-se um animado grupo de rapazes e raparigas vindos dos mais variados pontos do país: Viseu, Leiria, Torres Novas, Torres Vedras, Ponte de Sôr, Lisboa, nós que vínhamos de Sintra e até de Madrid!
(aposto que não me descobrem nestas fotos tão antigas...)
Naturalmente que, também rapidamente, de entre alguns dos elementos desses variegados grupos nasciam, sempre sob os olhares vigilantes das mães, os famosos namoros de verão de que José Jorge Letria tão bem fala neste poema que aqui vos deixo:
O namoro durava o que dura um Verão,
tanto e tão pouco, quase nada.
Era um sopro, uma embriaguez,
um êxtase, com o mar ao fundo
a trazer para o areal algas e conchas,
restos de comida, garrafas vazias,
objectos náufragos, nomes de sereias.
O Verão, às vezes, durava uma vida.
Outras vezes durava uma noite.
Havia uma canção que marcava a cadência
da paixão volátil: Smoke Gets in Your Eyes.
Como seria ridículo dizer isto em português.
Depois havia as cartas e os retratos
com dedicatórias lembrando aquele Agosto,
aquele passeio de barco, aquela
madrugada no Palm Beach
ao som de Yesterday. Era tão veloz
esse tempo que parecíamos envelhecer
uma vida em cada semana.
Se morria um amigo, era como
se morresse para sempre a magia do Verão.
E nunca mais houve amores
como esses, primordiais e inocentes. Totais.
Voltar a eles é tão impossível
como voltar ao aconchego do ventre materno.
O namoro durava apenas um Verão,
mas é sempre a ele que voltamos
quando a palavra amor nos queima os lábios.
: )
ResponderEliminarBoas recordações… para recordar! Bonita melodia a acompanhar.
Abraço
:):)
ResponderEliminarguardo todos os meus amores de verao como recordacoes magnificas
Bjinhos
Paula
Depois de ouvir o Primeiro Ministro precisava de algo que me aliviasse da azia...
ResponderEliminarObrigado Carol!
Querida Carol, que boas memórias! :)
ResponderEliminarAi... ai... ai!!! Socorro! Remexeste meu baú de emoções... Cantarolei... dancei... amei... platônicamente com essas trilhas sonoras! Estou a ouvir! Remember!!
ResponderEliminar[ ] Célia.
Cá em casa nunca tivemos esse privilégio de uns dias de praia. Vi o mar a primeira vez tinha treze anos. Nunca esquecerei esse dia.
ResponderEliminarAs nossas paixões eram criadas e alimentadas nos serões a descamisar as espigas de milho.
Gostei desta descrição realista por outras que li ao acaso. A juventude nesse tempo parece que vivia a vida numa outra dimensão.
E se eu entendo da Nazaré!
ResponderEliminarFoi a praia da minha infância, adolescência e juventude, foi a praia da 1ª infância dos meus filhos e depois de um intervalo foi lá que passaram a adolescência.
O mais novo saiu directamente da maternidade para a Nazaré, onde a minha mãe nos esperava com o meu rapaz mais velho!
Depois comprámos lá um pequeno apartamento frente ao mar e estupidamente vendêmo-lo num acesso de cansaço das neblinas matinais!
Como me saberia bem agora!
Deixei no FB, a pensar em ti,apesar de não gostares desta rede, "Les Derniers Baisers" dos "Chats Sauvages"!:-))
Abraço
Tinhas uma vida de menina "bem", muitos furos acima da média dessa altura, em que podias ter esses luxos, por cá ninguém sabia o que isso era, sabe-lo bem.
ResponderEliminarNamoros de Verão, uma beleza. Vinham as férias, os bailaricos particulares, e, os das Sociedades e dos Clubes, as meninas de fora, verdadeiros troféus a conquistar, uns rapazes, mais expeditos que outros, lá conseguiam chegar ao podium.
Para as meninas da terra era o reverso, ver chegar as adversárias que lhes vinham disputar os seus amados do ano todo, não era Graça?
Nanomoro de Verão, o meu já leva 44 anos, não ficou enterrado na areia, embora tivesse tido muita praia.
Bons tempos... suponho que agora durem mais que um Verão... via net e telemóvel ;)
ResponderEliminarNessa altura tinha mesmo que ser só um Verão, o telefone estava no corredor (até as paredes tinham ouvidos) e via CTT nada feito, adolescente não tinha chave do correio... tempos difíceis, onde tinha que haver muita imaginação e criatividade ;)
Bjos
"E nunca mais houve amores
ResponderEliminarcomo esses, primordiais e inocentes. Totais."
E, por isso, ficaram aqui dentro, guardados no lugar mais quentinho da nossa memória.
Beijo
Minhas queridas, ainda bem ou ainda mal que "remexi" as vossas recordações mais íntimas?...
ResponderEliminarAmigo Rui, quem se lembra de se pôr a ouvir o PM!?
Era mesmo assim, Isa! O telefone ali no meio de toda a gente e as cartas entregues em mão pela mãezinha... Se a malta nova sonhasse como foram esss tempos!...
Caro Luís Coelho, perante o seu relato de adolescência até me senti um pouco envergonhada. Realmente a vida no campo era muito mais pesada e para alguns/muitos ainda mais pesada. Gostei muito do seu comentário que agradeço.
Agradeço, de igual modo, à minha amiga Rosa os Derniers Baisers pelos Chats Sauvages que foi uma das canções da minha vida...
Meu querido Caínhas, o teu comentário fez-me andar quarenta e tal anos para trás e tu sabe-lo bem. As meninas de fora entraram e... por bem, ficaram. A tua ficou para sempre e ainda bem. (Mas eu não era uma menina "bem"! Era igual às outras e com elas me dava muito bem!)
Beijinhos de fim de verão para todos.
Namoros de Verão ardiam com a força de um incêndio, mas pagavam-se com as primeiras chuvas de Outono. Mas quem não tem boas recordações desses tempos?
ResponderEliminarCuriosamente, esta foi uma das canções que escolhi para os Sucessos de Verão e lembrei-me de um amor que ficou enterrado na areia. Não da Nazaré, mas um pouco mais a Norte...
AH! Namoros e verão!!! combinação perfeita!!!!
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