domingo, 4 de setembro de 2011

A praia da minha vida



Há mais de um mês que ando a ler, em blogs que gosto de seguir os seus editores escreverem sobre a praia das suas vidas por desafio do blog Crónicas do Rochedo e logo pensei em responder de imediato ao convite. Mas depois, meteu-se isto e mais aquilo e os dias foram passando. Como a época balnear ainda não terminou apesar da chuva e do temporal que se têm feito sentir, vou então meter mãos à obra.

Tenho sempre muita dificuldade em escolher uma realidade de entre várias; foi-me sempre muito difícil dizer qual é o filme, o livro, a música preferidos, o mesmo se pondo para escolher a praia da minha vida.

Podia falar sobre a Praia da Ericeira que foi onde, já fez quarenta e cinco anos, conheci o meu marido.

Podia falar da Praia da Nazaré onde passei os dois melhores Agostos da minha adolescência, com um imenso e variado grupo de amigos agregado ali quase de um dia para o outro pelo cimento da juventude e da louca música da primeira metade dos anos 60.

Podia falar da Praia de S. Pedro de Muel onde passei o mês de Agosto entre os anos 70 e 80 muitos dos quais na amorosa e bem situada Casa do Galo antes e depois de ter sofrido obras. Nesta praia as minhas filhas deram os primeiros passos, tomaram os primeiros banhos, fizeram os primeiros amigos, tiveram os primeiros namoradinhos.


(Casa do Galo)

Podia falar da Praia D. Ana, em Lagos, que foi a minha primeira praia do coração no Algarve ou da Praia Nossa Senhora da Rocha onde temos, há muitos anos, as nossas semanas que ocupamos em Julho.

Mas sinto uma quase obrigação, uma como que compulsão que me vem do fundo dos tempos para falar das minhas queridas praias da Linha – Stº Amaro, Torre, Carcavelos – dos meus mais tenros anos de meninice e, naturalmente, Algés, a terra onde nasci e vivi até aos dez anos.

(Praia de Algés)
(imagem da net)
Falar hoje na Praia de Algés dá vontade de rir como, naquele tempo, dava vontade de rir falar na Praia de Pedrouços. Mas, à época, - e estou a falar nos anos de 1950 – era, por força das circunstâncias, uma praia bastante concorrida. Sem sensações remanescentes, foi, todavia, foi a primeira praia que vi e que pisei. Todos os Verões a minha mãe alugava um toldo por três meses e todas as manhãs as passávamos na praia: a minha mãe, o meu primo-irmão M. e outras amiguinhas da escola que já nem lembro bem. O “mar” era lisinho e morno mas nem por isso podíamos ir ao banho por nós próprios. Íamos ao banho – uma fila de miúdos – com o chato do banheiro que (nunca vou esquecer a aflição que sentia) nos punha a mão no nariz e na boca e nos mergulhava de costas na água. Um verdadeiro horror a que as mães nos obrigavam porque fazia bem à saúde e talvez porque estivesse, tal como os bancos de madeira que nos punham diariamente no toldo, incluído no preço do aluguer do mesmo.

Mas lembro, com prazer, os passeios de barco a remos que por vezes dávamos no rio com os pescadores que apanhavam pequenos camarões e outros mariscos de pequeno porte que depois eram vendidos na Praça de Algés a cinco tostões a pá – a medida era uma pá de zinco daquelas que também serviam para apanhar o lixo varrido. Boas eram as brincadeiras na areia, as corridas, os jogos de ringue e à bola, as pás e os baldes de folha com coloridos desenhos pintados. Os tremoços e as pevides que comíamos  compradas às mulherzinhas que as vendiam à entrada da praia depois de atravessada a linha do comboio, os bolos transportados pela praia em grandes caixas de lata por mulheres, ou por crianças até! E nos dias em que aparecia o fotógrafo com aquelas máquinas altas de tripé e com aquele pano preto onde ele metia a cabeça para nos tirar a almejada fotografia que depois ainda tinha de ser revelada e sei lá o que mais. Tenho ideia que levava uma manhã inteira a tirar as fotografias. E ainda tenho uma dessas para deixar aqui.




Repare-se na "elegância" dos fatos de banho que eram feitas de malha ainda sem qualquer percentagem de elástico pelo que, molhados, não aderiam ao corpo nem por nada e a touca de borracha sem a qual ninguém ia ao banho...

Já agora, conseguem reconhecer-me?...

11 comentários:

  1. A praia do Corgo, marcou parte da minha vida. Um dia escrevi assim...

    DESPEDIDA

    As andorinhas já se foram embora,
    Também vou partir!
    Olhando esse mar que me cativa,
    Com a promessa de voltar;
    Quero-me sentir pegado a esse mar,
    Companheiro na solidão,
    Que me fez vibrar e sonhar,
    Que tanto me dá medo como consolo.
    Que me embalou sendo criança.
    Com o que brinquei depois.
    Alimento de algumas ocasiões.
    Que me arrolhou no amor.
    Corgo, Angeiras, Torreira, Madalena,
    Quiçá por ser o meu mar!?

    Santiago do Corgo, verão de 1996

    Um grande abraço

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  2. Claro que reconheço! És a mais alta e continuas com o mesmo sorriso!
    Dizias tu há dias lá no meu espaço que não saberias se ias aguentar 5 anos de blog!
    Pois eu digo-te que só aguento porque não tenho a tua produção! :-))
    Tu não falas de uma praia, falas de meia dúzia!
    Sabes que adoro a famosa Casa do Galo? Tenho um fotografia dela quase igual à tua!

    Abraço

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  3. Que boas recordações!
    Antes de ler o comentário da Rosa dos Ventos também pensei que fosses a mais alta.
    Abraço.

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  4. Muito bem escrito e muito bem justificado ! :))
    Como a Catarina, antes de ler os comentários, "tirei-a pela pinta" (ralativamente ao sorriso da foto de perfil) !
    Bom Domingo ! :))
    .

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  5. Não podes tentar enganar ninguém, porque os traços estão lá todos, já foste reconhecida nos outros comentários.
    Tal como o comentador anterior o que ressalta é de facto a tua capacidade, e demonstração (mais uma vez) da tua bela escrita. Vê-se que não foste professora com o curso tirado com tampas das caixas da Farinha Amparo.
    Sobre as praias e puxando cá para o nosso lado, sintrense, não serão as tuas preferidas, mas se calhar ficava bem uma passagem pela Praia das Maçãs, onde íamos de eléctrico com a Escola, e com os pais, e, a Praia Grande, que não sei se frequentavas ou não, mas, não era a praia do garrafão, era mais selecta, e onde ía a malta mais nova.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Queria carol,

    Que bom passear pelas recordações da vida colada a ti e às tuas reflexões.
    Antes de termos carro para podermos procurar praias mais... selectas, como diz o Carlos, (desculpe o à vontade) também frequentámos as praias para lá de Oeiras, Carcavelos e S. João.
    A seguir íamos mais longe e lá chegámos ao Guincho, Praia das Maçás e Praia Grande. Isto até termos a ponte e podermos atravessar até às muitas e variadas Praias que a Caparica nos oferecia e nos oferece até hoje.
    Contudo, a minha praia favorita mas que hoje já não me atrai foi mesmo a de Santa Cruz. Vivências tão antigas mas tão presentes que até dói recordar!

    Abraços

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  8. Querida Carol, eu diria que o teu sorriso se manteve! Lembro-me bem da praia de Algés, foi a primeira praia onde fui, pois vivia na Estrela.
    Como as nossas memórias se tocam, tão engraçado! :)

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  9. Muito fashion os "maiôs" da época!! Inteiriços e nada de fio dental!! Agora, pelo sorriso da foto... dever ser você... deliciando-se em suas belas praias! Abraço, Célia.

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  10. Lembro-me bem desses mergulhos. Nunca os apanhei porque fui para S. Tomé com dois anos e meio. Lá, quando chegámos, mandaram-me só saltar para dentro da piscina onde estava o meu Pai. A partir daí, quando vim em 61, os meus Avós mandaram-me aprender a nadar (como devia ser !) na piscina da Figueira. Mas aos meus primos (juntava-se em Julho e Agosto a família na Figueira), o banheiro obrigava-os ao mergulho. Era uma berreiro!

    Regressei, depois de muita aflição (na 5ª feira passada), à escola onde sou do quadro.

    Beijo

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  11. Obrigada, meus queridos amigos, pelas vossas palavras sempre exageradamente simpáticas - especialmente as dos meus especiais amigos Caínhas e Rosinha dos Ventos!

    Caro que podia (e devia?) ter falado das minhas imeeeeensas idas, na adolescência, às Praias Grande e Pequena da linha do eléctrico da Praia das Maçãs, como deveria ter falado da Praia do Lisandro em cujo riozinho aprendi a nadar por mim própria, mas não calhou e também não dava para falar em todas as praias além de que não foram os melhores tempos da minha adolescência - foram tempo de depressão, acreditam?

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