quarta-feira, 1 de junho de 2011

No Dia das Crianças




Às quartas-feiras, cabe-nos a nós ir levar a nossa neta Elisa ao Jardim-de-infância. Ora hoje calhou ser o Dia Mundial da Criança. Ela já saiu de casa excitadíssima porque sabia ser um dia especial em que estava lá na Escola a Inês que lhes ia pintar a cara... Mas nem queiram saber o que lá fomos encontrar! No pátio, já estavam montados os insufláveis de saltar e escorregar; a pintora de caras  tinha também o seu material disposto; e sabem que mais estavam a montar? O que nunca me passaria pela cabeça: um karaoke! As crianças do 1º ciclo já andavam por lá acomodando-se o mais próximo possível dos entretenimentos. Tudo em franca alegria e saudável excitação a que nem era alheio o Sol que brilhava forte logo de manhã. E a Educadora lá estava, profissional mas maternal, recebendo os pequenos quase tão radiante como o Sol!

Como aprecio o trabalho e a paciência e a dádiva pessoal das Educadoras! Naquela, porém, para além de tudo isso, admiro a ternura, a segurança e a alegria que diariamente  imprime ao seu trabalho. E nestes dia ainda mais!

Tudo isto no ensino público! Que diferença do que era e do que havia há uns tantos anos atrás! E, se retrocedermos ao meu tempo de criança...  não passa sequer pela cabeça dos pais destes meninos como era!


Para estas crianças e todas as outras, deixo aqui, escrito pela Luísa Ducla Soares, o poema do Miguel, o menino tolerante que deu a volta ao mundo e voltou ainda mais tolerante.

Era uma vez um menino branco, chamado Miguel, que vivia numa terra de meninos brancos e dizia:



É bom ser branco
porque é branco o açúcar, tão doce
porque é branco o leite, tão saboroso
porque é branca a neve, tão linda.


Mas certo dia o menino partiu numa grande viagem e chegou a uma terra onde todos os meninos são amarelos.


Arranjou uma amiga, chamada Flor de Lótus que, como todos os meninos amarelos, dizia:


É bom ser amarelo
porque é amarelo o sol
e amarelo o girassol
mais a areia amarela da praia.


O menino branco meteu-se num barco para continuar a sua viagem e parou numa terra onde todos os meninos são pretos.


Fez-se amigo de um pequeno caçador, chamado Lumumba que, com os outros meninos pretos, dizia:


É bom ser preto
como a noite
preto como as azeitonas
preto como as estradas que nos levam a toda a parte.


O menino branco entrou depois num avião, que só parou numa terra onde todos os meninos são vermelhos. Escolheu, para brincar aos índios, um menino chamado Pena de Águia. E o menino vermelho dizia:


É bom ser vermelho
da cor das fogueiras
da cor das cerejas
e da cor do sangue bem encarnado.


O menino branco foi correndo mundo até uma terra onde todos os meninos são castanhos. Aí fazia corridas de camelo com um menino chamado Ali-Bábá, que dizia:


É bom ser castanho
como a terra do chão
os troncos das árvores
é tão bom ser castanho como o chocolate.


Quando o menino voltou à sua terra de meninos brancos, dizia:


É bom ser branco como o açúcar
amarelo como o sol
preto como as estradas
vermelho como as fogueiras
castanho da cor do chocolate.


Enquanto, na escola, os meninos brancos pintavam em folhas brancas desenhos de meninos brancos, ele fazia grandes rodas com meninos sorridentes de todas as cores.

3 comentários:

  1. Que maravilha serem todas as crianças diferentes e igualmente belas!
    Imagino a alegria da criançada e da Elisa em particular :-))
    No facebook pus uma foto com crianças de todas as cores que acabei por não conseguir transpor para o blog...mas também não dava o poema com a imagem!

    Abraço

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  2. O seu post é comovente e o poema do Miguel um texto a ser lembrado. Quanto a comparações com o passado, não deixa de ter razão mas cuidado pois esse jardim escola não cobre todo o lado...

    Posso recomendar que repita este seu post no Dia em que se comemora A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA - 20 de Novembro, a data oficial do Dia Mundia da Criança?

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  3. Olha, Rosinha, a menina Elisa está mesmo muito saidinha das cascas... A ida para o Jardim fê-la perder a timidez e não sei se terá sido bom ou não! On ne sait jamais....

    Obrigada, Rogério pelas suas palavras. Eu bem sei que uns Jardins funcionam bem e outro menos bem - aliás como tudo e todos nós. Uns melhores que outros, que se há-de fazer? Faz parte da nossa natureza.

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