sábado, 11 de junho de 2011

Estamos quase lá!





Ontem de manhã, como habitualmente, enquanto tomava o pequeno almoço, tinha a televisão acesa no Canal 1 e, como os festejos do dia de Camões (e de Portugal) se realizavam em Castelo Branco, o apresentador do programa fez uma chamada para o repórter a fazer serviço na capital da Beira Baixa para saber o que se passava por lá no que tocava à organização dos espaços e dos tempos, sobre a chegada do Presidente da República, se havia muita gente por lá.

Não queiram saber! Apresentou-se um senhor de fato e gravata, com um ar muito circunspecto, extremamente contido, seráfico mesmo, a falar muito baixinho e muito pausadamente, deslocando-se quase a medo entre as pessoas a quem ia fazendo perguntas decoradas – ou devo dizer descoradas? – que previam as respostas politicamente correctas, como se diz agora. E, o que mais me incomodou foi o modo assaz subserviente como se referia ao Senhor Presidente da República e à hora da sua chegada, e das pessoas que, ansiosas o esperavam, e das enormes expectativas com que aguardavam o seu discurso – como se falasse da própria Divindade que estivesse para descer dos Céus ali de Castelo Branco!

Não era sequer o tom com que eram, em tempos, feitas as transmissões televisivas das peregrinações de Maio à Cova de Iria. Aquele tom sussurrado, provinciano e servil transportou-me, de imediato, para o tempo em que, na televisão e na rádio, os apresentadores tinham de se comportar como se estivessem na Igreja, escolhendo umas palavras e silenciando outras para não serem eles próprios silenciados.

Veio-me à cabeça o que a avó de um colega lá da escola disse quando se deu o 25 de Abril: “O tempo que vamos ter de esperar para voltar a pôr tudo na mesma!” Estamos quase lá!


6 comentários:

  1. "Se soubesses quanto custa mandar, gostarias de obedecer toda a vida"

    Lá vamos, parolos que nós somos, cantando e rindo...

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  2. As coisas que este homem nos ensina...
    "As cerejas fazem bem a tudo, até aos calos".
    São palavras sábias estas, da figura mais nobre do reino de...
    "Por qué no te callas?"
    :)

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  3. É bem verdade: estamos quase lá!
    E o que mais me incomoda, o que mais me assusta, é ter havido tanta gente na rua, tanta gente a esperar sua excelencia,tanta gente CONTENTE!!!!!
    Para quando a tomada de consciência?

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  4. Uns parolos que nós somos! É bem verdade, António!
    Quaquer dia andamos todos aí a comer bolo rei com a boca aberta e a dizer que as cerejas são boas até para os calos! E todos contentes!!!

    Que vergonha!

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  5. Grato pela visita.
    Espero que o vosso fim de semana tenha sido bom.
    Estou em franca recuperação. Próxima terça feira meu mecânico "cardio" dirá de sua justiça.As canalizações não estão entupidas, ma talvez será necessário fazer rectificação de válvula. Vou levar uma lata de " carburundun" e uma ventosa, para simplificar o trabalho.

    Quanto ao texto, pese embora não seja saudosista, fez-me lembrar a canção " Óh tempo volta para trás ) e, o antigo corta fitas A. Thomáz. Parece-me bem que pouco ou nada falta.
    Um abraço

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  6. Boa recuperação, amigo João!
    Continuo a contar com o seu olhar irónico sobre a realidade. Pois, pois, o "corta-fitas"...

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