domingo, 16 de dezembro de 2018

Ite missa est...

Deus e os meus amigos sabem bem que não sigo os ritos católicos, nem religiosos em geral. Só que, de vez em quando, há aquelas obrigações familiares e sociais a que é preciso corresponder.

Foi o caso de hoje. Partiu desta vida a última dos ascendentes da família próxima do meu marido. Uma tia, viúva do tio irmão da minha sogra, a última matriarca da família, com 93 anos de uma vida cheia de altos e baixos – como as de todos nós que descemos a este paraíso terreal – e que, pelo menos na minha perspetiva, era um doce de senhora que, especialmente nos últimos anos de vida, depois de ficar sozinha, se tornou ainda mais doce.

Os filhos, nossos primos, portanto, decidiram-se por uma despedida religiosa e nós lá fomos acompanhar aquela nossa tia tão recetiva e compreensiva nos seus últimos momentos aqui connosco.

Entrou o celebrante, um jovem de hábito branco e até aí tudo bem. O pior foi quando abriu a boca: nem o nome da senhora conseguiu dizer direito: (senhora Maria Glória, dizia ele). Isto depois de falar várias vezes no marido da defunta, não percebendo, quem não fosse da família, se ele era vivo ou morto. Utilizou (mal quanto a mim, claro!) a parábola das dez virgens sensatas e das dez virgens descuidadas que foi tão maltratada que deixou o Senhor um bocado malvisto…

Entoava bem, mas quando falava, a voz não tinha força nem projeção e tropeçava no meio das frases. Uma lição mal preparada, cogitava eu, professora dos quatro costados… A única coisa que lhe saiu bem foi rezar o Pai-Nosso, até porque todos os rezaram em coro…
Quando eu pensava que ia continuar para missa por alma, o jovem pediu a colaboração de alguém para levar a cruz e terminou dizendo: «agora façam duas filas atrás e sigam atrás da cruz».

Pensei cá comigo: «Ai, Graça Maria, que está cada vez mais crítica; tu que nem segues estes ritos senão esporadicamente…» Mas depois lembrei-me do “meu” Padre Abílio, lá de Sintra, de quando eu ia ao “santo sacrifício da saída da missa”, que sabia como portar-se como um verdadeiro celebrante (missas em latim, naturalmente!) voz projetada e língua afiada para os adolescentes tontos feito eu quando lá aparecíamos… Que diferença!

Não fui apenas, porém, eu a notar o desconcerto do jovem pároco: havia quem rolasse os olhos de espanto. E até ouvi alguém dizer que o jovem não era padre, era apenas missionário.

Fosse o que fosse, prestou um mau serviço à Igreja. Além de que a nossa tia (Maria da) Glória merecia melhor…




9 comentários:

  1. Que grande maçada passaste, Gracinha!
    Valeu-te a doçura da prima...
    Há alturas em que uma boa avaliadora devia ter o dever de admoestar o incompetente. rsrssss...
    Beijinhos
    ~~~

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  2. Vocação religiosa até podia ter.
    Mas o resto é que pelos vistos não estava lá.
    Beijinhos, boa semana

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  3. Este desencanto nos afasta um pouco mais de um lugar que deveria ser bem diferente !!! Bj

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  4. Nós por aqui temos um pároco que já celebrou os 60 anos da primeira missa. E agora veio um jovem que durante um ano se vai dividir entre Santo André e Alhos Vedros para ajudar o pároco de lá também bastante idoso.
    Este jovem, tem um vozeirão que mal começa a falar o ajudante apressa-se a desligar o microfone.
    Lamentável o que sucedeu com a sua tia. Será que é mesmo padre?
    Abraço e uma boa semana

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  5. Acho Eles, (alguns) é que afastam as pessoas. Gostei de ler:))

    Hoje : A sede do meu devaneio

    Bjos
    Votos de uma óptima Segunda-Feira

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  6. A Tia Maria da Glória não deu pelo desatino e provavelmente, com a falta de padres que há, era apenas um aprendiz e em princípio de carreira!
    Lembras-te do nosso amigo Padre Albino? Pois foi substituído por dois jovens que mal falam português!
    A crise chega a todo o lado!

    Abraço

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  7. Realmente, Graça… Como podem acontecer coisas assim na Igreja?
    Que tenha um Natal de Amor e que o ano de 2019 traga tudo de bom.
    Boas Festas!
    Um beijo.

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  8. missas com virgens só podia dar mau resultado.
    mais uma carga de trabalhos para o Papa Francisco?
    esperemos que não. enfim, digo eu que sou "agnóstico, graças a Deus"

    beijo, minha amiga

    BOAS Festas

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