No nosso passeio à Beira Alta, subimos a Serra da Lapa, no concelho de Sernancelhe, onde, a uma altitude de 900 metros, com um tempo cinzento, chuvoso e com um frio de cortar a pele das orelhas, nos deparámos, no meio de algumas casas de pedra, daquelas bem típicas das terras quase transmontanas, com o Santuário da Senhora da Lapa.
A capela |
A Capela e o Santuário à direita |
Segundo reza a lenda, em 1498, uma pastorinha chamada Joana, muda de nascença, da freguesia e lugar de Quintela, andando a guardar o gado de seus pais, lembrou-se um dia de entrar ali na gruta e encontrou a santa imagem que meteu na cesta onde guardava as maçarocas e a merenda. A imagem era de pequena dimensão, mas muito formosa. E a pastorinha guardou-a e enfeitava-a como podia e sabia, com as mais lindas flores que topava nos campos ou no monte. Ao voltar a casa, no fim do dia, cuidava da roupa da imagem. As ovelhas, apesar de fartas e nédias, eram apresentadas quase sempre nos mesmos lugares, o que motivou acusações por parte de outrem à mãe de Joana. Tudo isto e as teimosias da filha a fizeram enervar e, sem mais, tirou-lhe a imagem, que teve por uma vulgar boneca, e atirou-a ao lume.
A menina, transida de pavor, gritou; “Minha Mãe! É Nossa Senhora! Ai! Que fez?”. A fala começou a prender irreversivelmente a mocinha pastora e a mãe ficou com o braço paralisado, transe de que se curou com a oração de ambas.
A imagem foi levada para a Lapa, sob a orientação do percurso por Joana e todos a acompanharam. Porém, tal não terá sucedido sem que antes o cura de Quintela houvesse tentado a entronização da veneranda imagem no interior da Igreja Paroquial, donde a mesma imagem desaparecia de modo insólito.
A capela de Nossa Senhora da Lapa foi construída já no século XVII pelos jesuítas, mas o culto é muito anterior, havendo quem o remeta para o século X, quando as investidas dos mouros fizeram com que a população cristã tenha escondido uma imagem da Virgem numa gruta ou "lapa". Mas histórias, lendas e milagres são o que não falta neste santuário com muitos ex-votos e com uma curiosa passagem entre rochas por onde só se consegue esgueirar quem não cometeu pecados graves.
A Senhora da Lapa, em Portugal e Santiago de Compostela, na Espanha, chegaram a ser, em tempos, os dois Santuários mais importantes da Península Ibérica.
Presépio da Escola Machado Castro situado perto da Gruta |
Em volta do santuário cresceu uma pequena povoação que anda hoje tem alguma expressão, quanto mais não seja para receber os peregrinos e os turistas que ali se deslocam.
Representação da lenda da pastora Joana |
Estive lá em 2010, gostei muito.
ResponderEliminarVisitámos já este Santuário por duas ou três vezes. Continua sempre com muitos devotos e também os curiosos que se esforçam por passar entre as rochas
ResponderEliminarEspero no próximo Verão ter tempo e coragem para ver a nascente do rio Vouga. Por aquilo que li parece ser uma das maravilhas de Portugal e está situada nas proximidades da Senhora da Lapa..
Não vimos a nascente do Vouga. Estava frio de rachar. Embora os moradores dissessem que não estava muito...
Eliminarisso é que é coragem, Carol, andar pelas beiras a fintar o frio. :)
ResponderEliminarTambém já lá estive mas não com este frio!
ResponderEliminarÓptima reportagem!
Por aqui também há uma lenda semelhante que deu origem à capela da Senhora da Ortiga!
Os indígenas têm mais fé nesta Senhora do que na de Fátima!
Quem diria? :-))
Abraço
Abraço
Tens de contar essa lenda da Senhora da Ortiga, que não conheço.
EliminarMuito curiosa a lenda daquela passagem estreita para a gruta, no interior da capela !
ResponderEliminar.
Não me diga que o menino Rui não conhece este ríncon do nosso Portugal!
EliminarBeijinho.
Eu penso que conseguia passar...
ResponderEliminarA gula não é um pecado muito grave, pois não?
:)
Gula? Numa pessoa que perdeu não sei quantos quilos desde Abril para cá? Não acredito!
EliminarConheço bem. Muito bem mesmo. Agora imagina o que é uma visita guiada à Igreja feita pelo Pároco da Lapa, com o Padre Fontes de Vilar de Perdizes eu e mais duas pessoas amigas.
ResponderEliminarAté aqui nada de especial. Só que a visita começou depois de termos jantado, seriam por aí cerca das 10:00 e saímos de lá quase às 2:00 da manhã.
O culto é pré-cristão, aliás como o de todas as senhoras que se veneram em grutas. Está ligado à fertilidade e a passagem pelo estreitamento da rocha simboliza o renascer. À saída desse lugar, há um abaixamento na rocha à esquerda ( tipo bacia) que nos dias mais húmidos tem alguma água/humidade onde se deve passar a mão que, de seguida, deve ser levada por todo o corpo, num ritual de purificação
Momentos... bons.
Beijo
Muito giro, acácia! Essas crenças são uma maravilha!
EliminarVilar de Perdizes, hein?!
Beijinhos
Chernanchelhe, xim chenhora! Lá bem perto da terra onde "nasceu" D. Afonso Henriques e o Viriato por lá terá andado à bordoada com os Romanos e onde por lá também têm nascido uns quantos bultos da história e da política ( o Álbaro por exemplo, o dos pasteis de nata que vão ser a salbação desta terra bendita)e de outras coisas...
ResponderEliminarJá terá sido há muito tempo que lá terei estado, tanto que já nem me lembro, Carol, mas acho que sim, que já lá fui... ai ai que isto não vai nada bem...
Mas também com uma reportagem com esta categoria quem é que não fica por dentro de todos os pormenores?!
O que importa é que tenham gostado do passeio, aliás só quem não for bom português é que não conhece a Beira iAlta.
Beijinhos
Gosto muito da Beira iAlta! E do Minho. E de Trás-os-Montes!
EliminarUm país muito bonito com um governo muito fraco e um povo muito manso...
Apesar de andar em falha com o Norte, também tenho uma fotografia nesse Pelourinho...o santuário é que acho que não conheço.
ResponderEliminarBjs