Fiz a minha 4ª classe num
Externato privado na Parede – de que já não me lembro o nome – no ano letivo de
1957/58. A minha mãe dava lá aulas aos alunos da 2ª classe, turma onde tinha
uma aluna que se chamava Guida Maria. Muito bonita, muito vivaça, muito alegre
e divertida, com um olho azul muito expressivo, mas nem por isso muito boa
aluna porque faltava muito às aulas para ir aos ensaios e para decorar os
papeis das peças em que representava. Teria os seus sete/oito anos.
O colégio era frequentado por
meninos e meninas “de família” por isso a Diretora, a Srª D. Maria Alice, minha
professora, tinha certos cuidados na organização do colégio, nos serviços que
prestava e nos eventos que realizava.
Lembro, com especial ternura, a
festa de final de ano em que se representou uma peça de teatro muito completa e
muito abrangente. O enredo era muito simples: uma avó fazia 82 anos e
lamentava-se, sozinha, em palco, porque nenhum dos seus netos a visitava nesse
dia. Depois, aos poucos, eles iam aparecendo e cada um trazia consigo um grupo
que dançava ou cantava para a avó. As danças, os cantares e os poemas
declamados cobriam quase todas as províncias de Portugal. Lembro-me que se
dançaram o vira do Minho e da Nazaré, o corridinho do Algarve, o bailinho da
Madeira e até o fandango sapateado do Ribatejo (que foi ensaiado pelo motorista
do colégio que era ribatejano). Também houve bailado clássico e belas canções
pelo coral.
Eu fui escolhida para representar
a avó, de cabelo empoado e longo vestido e xaile negros e a minha primeira
fala, ao abrir do pano, era: «82 anos… Como o tempo passa!» Depois, lá me
lamentava por estar sozinha e ninguém se lembrar de mim naquele dia e aí
aparecia a pequena Guida Maria, minha neta. Então desenrolava-se a peça, sendo
nós duas as “responsáveis” pela chegada dos restantes netos com os seus grupos
de animação da festa da avó.
Os nossos “ensaiadores” foram,
nada mais, nada menos do que o ator Luís Cerqueira, pai da Guida Maria, e um
cunhado daquele, tio da Guida, o Senhor Vaquinhas que era encenador.
A peça foi representada no antigo
Casino do Estoril.
No final da representação, o pai
e o tio da Guida Maria pediram à minha mãe que me deixasse seguir a carreira do
teatro que eles me encaminhariam.
A minha mãe não deixou. (A sua grande aspiração era que a
filha tirasse um curso superior e “fosse alguém”… )
Fui acompanhando à distância e a
espaços a carreira da minha famosa colega até que ontem fui tristemente surpreendida
pela notícia da sua morte.
Lamento que tenha partido com
tanto ainda para dar.
Lindo texto. Parabéns
ResponderEliminarMemórias lindas... Mas, com um final realista e triste.
ResponderEliminarAbraço.
Era uma Mulher linda, Inteligente. Paz à sua alma
ResponderEliminarBeijo
Boa noite
Era uma mulher muito bonita e muito livre.
ResponderEliminarQue viveu intensamente e partiu tranquilamente durante o sono.
Beijinhos
Que belas recordações! E na hora da partida da Guida Maria, tanto para recordar! "A avozinha sem a visita dos seus netos..." Nos dias de hoje, os netos iriam visita-la mas, quem sabe, passariam o tempo todo mexendo nos TM's... Um texto maravilhoso!
ResponderEliminarGraça, que bom ler a Guida através de ti.
ResponderEliminarBeijos e bom resto de semana.
Paz à sua alma
ResponderEliminar.
Tema: * O Silêncio da Luzência em noite escura *
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Continuação de um Ano Feliz
Boa tarde
Graça, que lindo texto!
ResponderEliminarNunca imaginei ver a Guida Maria tão bem admirada e elogiada nesta sua linda recordação.
Parabéns.
Beijinho
Memórias com ternura dentro delas -gostei bastante, creia.
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