segunda-feira, 3 de junho de 2019

Agustina (1922 - 2019)


Infelizmente morta há anos de mais para a escrita, a imensa escritora Agustina Bessa-Luís deixou-nos hoje fisicamente, aos 96 anos.

Figura controversa desde sempre, sobre ela escrevia Sophia de Mello Breyner na sua correspondência com Jorge de Sena:

[Paris, Março de 1961]

(…) Fui para Florença com a Agustina Bessa-Luís que era a delegada portuguesa [ao Congresso COMES – Comissão Europeia de Escritores] (…) Vim para Lisboa pensando que se tratava dum congresso apenas literário. Vim encontrar um congresso político, praticamente exclusivamente político, anti-fascista. (…) O Congresso era anti-fascista – coisa com que concordo, mas os métodos usados foram fascistas, mal-educados e policiais. (…)

 Criaram à volta de Agustina um clima de suspeição e inquisição. E isto foi-me dito por uma pessoa de direita e de carácter: Disseram-me que eu a devia abandonar pois o facto de eu andar com ela me comprometeria. Como você sabe, eu não sou capaz de abandonar nenhuma pessoa que está só e que é injustamente acusada e perseguida na sua liberdade. (…)

Quanto à atitude política de Agustina penso poder garantir que ela não é nem salazarista nem fascista. Considera o nosso governo criminoso mas considera também inoportuno afirmá-lo no estrangeiro. Pensa também que a COMES deve defender a liberdade do escritor mas sem espírito partidário.

A minha atitude política é diferente da de Agustina, como você sabe, mas penso que a atitude dela deve ser respeitada porque acredito na liberdade. Acho que não se pode criar em nome do anti-fascismo um novo fascismo. (…)

Hoje no caminho em Montpellier fomos abordados por um jornalista espanhol que nos fez um interrogatório habilíssimo e cerrado ora dizendo bem do Salazar e do Franco, ora dizendo mal – foi muito estranho. Admirei a extrema inteligência com que a Agustina conseguiu não responder a nada. Fiquei com a impressão que éramos seguidos. Tenho quase medo de que não me deixem entrar em Portugal. (…)
……………………………

Esquecida da coterie literária depois da Revolução pelas suas escolhas políticas encostadas à chamada direita, tem visto ultimamente a sua imensa obra literária reeditada. 

De referir ainda a completíssima biografia da romancista modernista e neo-romântica (como diz Eduardo Lourenço) «O Poço e a Estrada» da autoria da escritora Isabel Rio Novo.


Agustina, Sophia e Eugénio de Andrade (1958)

11 comentários:

  1. Mulher, nortenha e da direita.
    AGUSTINA BESSA-LUÍS estava muito acima de todos os preconceitos.
    A Sophia que sempre gostou de dizer mal das colegas como da Natália Correia e da Maria Judite de Carvalho, na correspondência com Jorge de Sena, porém nunca se atreveu a dizer mal da Agustina Bessa-Luís. Sophia compreendia a superioridade da amiga.

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  2. Agustina, uma escritora que desassossegava e encantava. Dependendo do ponto de vista de quem a lia. A mim, causa-me as duas sensações.
    Será que te posso roubar a fotografia, Graça?
    Para já vou levar, se não deixares, devolvo-ta. :)

    Beijinhos

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    1. Aqui pode-se tudo, Janita! Considero uma honra quando levam algo daqui.

      Beijinhos.

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  3. Uma pena. Mas os bons nunca morrem. Fica a sua obra:))

    Hoje:-Por vezes existem dias sem cor.

    Bjos
    Votos de uma óptima terça - Feira.

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  4. Muita Luz e Paz para o seu espírito.
    Abraço

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  5. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  6. Eu sigo o seu blog, mas há muito
    não apareço. Desculpe, o tempo
    tem sido curto.
    Um beijo e parabéns pelas postagens,
    sempre de bom gosto.



    .

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