Infelizmente morta há anos de
mais para a escrita, a imensa escritora Agustina Bessa-Luís deixou-nos hoje
fisicamente, aos 96 anos.
Figura controversa desde sempre,
sobre ela escrevia Sophia de Mello Breyner na sua correspondência com Jorge de
Sena:
[Paris, Março de 1961]
(…) Fui para Florença com a Agustina Bessa-Luís que era a delegada
portuguesa [ao Congresso COMES – Comissão Europeia de Escritores] (…) Vim para Lisboa pensando que se tratava dum
congresso apenas literário. Vim encontrar um congresso político, praticamente
exclusivamente político, anti-fascista. (…) O Congresso era anti-fascista –
coisa com que concordo, mas os métodos usados foram fascistas, mal-educados e
policiais. (…)
Criaram à volta de Agustina um
clima de suspeição e inquisição. E isto foi-me dito por uma pessoa de direita e
de carácter: Disseram-me que eu a devia abandonar pois o facto de eu andar
com ela me comprometeria. Como você sabe, eu não sou capaz de abandonar nenhuma
pessoa que está só e que é injustamente acusada e perseguida na sua liberdade.
(…)
Quanto à atitude política de Agustina penso poder garantir que ela não
é nem salazarista nem fascista. Considera o nosso governo criminoso mas
considera também inoportuno afirmá-lo no estrangeiro. Pensa também que a COMES
deve defender a liberdade do escritor mas sem espírito partidário.
A minha atitude política é diferente da de Agustina, como você sabe,
mas penso que a atitude dela deve ser respeitada porque acredito na liberdade. Acho
que não se pode criar em nome do anti-fascismo um novo fascismo. (…)
Hoje no caminho em Montpellier fomos abordados por um jornalista
espanhol que nos fez um interrogatório habilíssimo e cerrado ora dizendo bem do
Salazar e do Franco, ora dizendo mal – foi muito estranho. Admirei a extrema
inteligência com que a Agustina conseguiu não responder a nada. Fiquei com a
impressão que éramos seguidos. Tenho quase medo de que não me deixem entrar em
Portugal. (…)
……………………………
Esquecida da coterie literária depois da Revolução pelas suas escolhas políticas
encostadas à chamada direita, tem visto ultimamente a sua imensa obra
literária reeditada.
De referir ainda a completíssima biografia da romancista modernista
e neo-romântica (como diz Eduardo Lourenço) «O
Poço e a Estrada» da autoria da escritora Isabel Rio Novo.
Agustina, Sophia e Eugénio de Andrade (1958) |
Bela foto!
ResponderEliminarMulher, nortenha e da direita.
ResponderEliminarAGUSTINA BESSA-LUÍS estava muito acima de todos os preconceitos.
A Sophia que sempre gostou de dizer mal das colegas como da Natália Correia e da Maria Judite de Carvalho, na correspondência com Jorge de Sena, porém nunca se atreveu a dizer mal da Agustina Bessa-Luís. Sophia compreendia a superioridade da amiga.
É verdade...
EliminarPartiu a criadora, fica a obra.
ResponderEliminarBjs
Agustina, uma escritora que desassossegava e encantava. Dependendo do ponto de vista de quem a lia. A mim, causa-me as duas sensações.
ResponderEliminarSerá que te posso roubar a fotografia, Graça?
Para já vou levar, se não deixares, devolvo-ta. :)
Beijinhos
Aqui pode-se tudo, Janita! Considero uma honra quando levam algo daqui.
EliminarBeijinhos.
Uma pena. Mas os bons nunca morrem. Fica a sua obra:))
ResponderEliminarHoje:-Por vezes existem dias sem cor.
Bjos
Votos de uma óptima terça - Feira.
Muita Luz e Paz para o seu espírito.
ResponderEliminarAbraço
Irá ficar a sua obra!
ResponderEliminarBeijinho querida
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminarEu sigo o seu blog, mas há muito
ResponderEliminarnão apareço. Desculpe, o tempo
tem sido curto.
Um beijo e parabéns pelas postagens,
sempre de bom gosto.
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