Cai a chuva abandonada
à minha melancolia,
a melancolia do nada
que é tudo o que em nós se cria.
Memória estranha de outrora
não a sei e está presente.
Em mim por si se demora
e nada em mim a consente
do que me fala à razão.
Mas a razão é limite
do que tem ocasião
de negar o que me fite
de onde é a minha mansão
que é mansão no sem-limite.
Ao longe e ao alto é que estou
e só daí é que sou.
Vergílio Ferreira, in
'Conta-Corrente 1'
Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva (Fernando Pessoa)
ResponderEliminarChove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...
Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...
Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...
Poesias (2-10-1933)
Abraço Graça e Sidónio
Muito bom!!!! Obrigada.
EliminarBeijinhos nossos.
É bem apropriado. Adorei :)) Obrigada.
ResponderEliminarBjos
Votos de boa noite.
"Memória estranha de outrora
ResponderEliminarnão a sei e está presente."
Dois versos que tanto me dizem.
Gostei imenso do poema.
Beijinhos, boa semana, Graça.
«Ao longe e ao alto é que estou
ResponderEliminare só daí é que sou.»
Hoje, podem me chamar Vergílio
Gosto tanto de ler Vergílio Ferreira. Foi bom encontra-lo aqui, Graça.
ResponderEliminarUma boa semana.
Um beijo.
Era bom que por aqui caísse também.
ResponderEliminarPara limpara um pouco a poluição.
Gostei de ler o poema. Gosto de Virgílio Ferreira. E da chuva quando ela não causa tragédias.
ResponderEliminarAbraço
Gostei imenso do poema! A foto a condizer com o tempo que faz por aqui.
ResponderEliminarBeijinhos Graça
Tão pessoano este poema mas também tão pessoal!
ResponderEliminarAbraço
RV
desconhecia a faceta poética do escritor
ResponderEliminarbeijo