Arlequim e Colombina de José de Almada Negreiros |
Pierrot dorme
sobre a relva junto ao lago. Os cisnes junto d’elle passam sêde, não n’o
acordem de beber.
Uma andorinha
travêssa, linda como todas, avôa brincando rente á relva e beija ao passar o
nariz de Pierrot. Elle accorda e a andorinha, fugindo a muito, olha de medo
atraz, não venha o Pierrot de zangado persegui-la pelos campos. E a andorinha
perdia-se nos montes, mas, porque elle se queda, de nôvo volta em zig-zags travêssos
e chilreios de troça. E chilreia de troça, muito alto, por cima d’elle. Pierrot
já se adormecia, e a andorinha em descida que faz calafrios pousou-lhe no peito
duas ginjas bicadas, e fugiu de nôvo.
De
contente, ergueu-se sorrindo e de joelhos, braços erguidos, seus olhos foram
tão longe, tão longe como a andorinha fugida nos montes.
De
repente viu-se cego – os dedos finissimos da Colombina brincavam com elle. Desceu-lhe
os dedos aos lábios e trocou com beijos o arôma das palmas perfumadas. Depois dependurou-lhe
de cada orelha uma ginja, á laia de brincos com joias de carmim. Rolaram-se na
relva e uniram as boccas, e já se esqueciam de que as tinham juntas…
-
Sabes? Uma andorinha…
E
foram de enfiada as graças da ave toda a paixão. Pierrot contava enthusiasmado,
olhando os montes em busca da andorinha, e Colombina torceu o corpo numa dôr
calada e tomou-lhe as mãos.
Havia
na relva uma máscara branca de dôr, e a lua tinha nos olhos claros um um olhar
triste que dizia: Morreu Colombina!
(José de Almada Negreiros, in Orpheu I, 1915)
Não suporto o ciúme, (eu sei que ele existe e estou a sentir-lhe o cheiro acre muito de perto...) mas descrito assim… quem lhe pode resistir?
Uma ponta de ciúme
ResponderEliminaré como o vinagre
um pouco, dá sabor
de mais, arde
(mestre Almada
conta um caso à parte)
“Ah! Que eu sinto claramente que nasci
ResponderEliminarde uma praga de ciúmes.
Eu sou as sete pragas sobre o Nilo
e a alma dos Bórgias a penar!”
O ciúme existe, quem disser que nunca o sentiu, mente.
Se for infundado é doentio e perigoso.
Almada Negreiros sabia bem sobre o que escrevia.
Beijinhos, bom Domingo Graça.
Estou de acordo com o Rogério. Unm pouco é como o sal. rtempera a relação, em demasia pode matar.
ResponderEliminarAbraço e bom domingo
Sim, mas ciúmes entre as irmãs... não aguento!
EliminarMaravilhosa postagem. Bom dia
ResponderEliminarRecordo com saudade, o teu carinho (Poetizando)
Beijos e um excelente domingo
Bom bom este texto! Adorei
ResponderEliminarAmor, puro sentimento, relevante fascinação.
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Bjos
Bom Domingo.
Algum ciúme é inevitável...
ResponderEliminarEste texto é uma maravilha!
Beijos, Graça :)
Também acho! Adorei lê-lo!
EliminarBeijinho