quinta-feira, 6 de julho de 2017

O que é preciso é desacreditar a escola

De vez em quando, especialmente em tempo de pré-férias, quando os reatores das notícias começam e entrar em ritmo lento, os nossos “jornaleiros” lá puxam de novo pelo demagógico e enganoso título “as escolas estão a passar alunos com quatro e cinco negativas”.

Aconteceu esta semana outra vez. Não venho aqui defender nenhuma teoria da conspiração, mas parece que, de há uns tempos para cá, os nossos serviços de notícias e de comentários têm funcionado como uma verdadeira oposição às forças governamentais. Veja-se o triste aproveitamento que foi e continua a ser feito acerca dos trágicos acontecimentos de há duas semanas no pinhal interior aqui do distrito e com o inexplicável assalto ao paiol de Tancos com os respetivos ataques aos elementos do governo, bem como as notícias inventadas de suicídios, aviões despenhados e desaparecidos, manifestações fantasma e assim.

Ora para continuar a desacreditar o governo e a pedir a demissão rápida e pura e dura de ministros, nada melhor do que incendiar a opinião pública sobre um tema por de mais sensível a toda a população e que é a escola. Ou melhor, a “bandalheira” que vai nas escolas!

Desacreditar a escola (pública) é o melhor que podem dar a estes “noticiadores” incendiários. Por isso, vai de desenterrar a velha, velhíssima questão das escolas que “passam alunos com quatro e cinco negativas” para deixar no ar a ideia que isso foi mais uma “orientação” que as escolas receberam do ministério da Educação.

Desculpem-me, mas “vou aos arames” com estas patranhas. Mais ainda se se trata da escola.

Esta questão é tão antiga quanto a publicação do modelo de avaliação dos alunos do ensino básico prescrito pelo ministério do ilustradíssimo Ministro da Educação Roberto Carneiro em 1992. Essa legislação inovadora à época remetia para um profundo conhecimento da realidade de cada aluno por parte dos seus professores e dizia claramente: «A decisão da retenção tem sempre carácter excepcional, depois de se ter esgotado o recurso a apoios e complementos educativos, devendo, portanto, revestir-se de especial cuidado para garantir a sua necessidade, utilidade e justiça

Repare-se nos conceitos que norteavam a retenção de um aluno: o seu caráter excecional e apenas quando se registasse a sua necessidade, utilidade e justiça.

Por essa época, numa das diversas vezes em que fui presidente dos conselhos diretivo e pedagógico, dei passagem a alunos (poucos, diga-se) de 6º e 9º anos que tinham já um grande número de retenções e idade de entrada no mercado de trabalho, garantindo-lhes assim o diploma que lhes permitia irem trabalhar e até tirarem a carta de condução. É que, de facto, não havia necessidade de os reter, nem era útil nem justo para eles nem para a escola retê-los.

Qual não foi o meu espanto, quando recebi um telefonema da minha colega (e amiga) presidente da escola secundária nossa vizinha, a perguntar-me, muito escandalizada, se eu tinha autorizado a passagem desses alunos para o 10º ano. «Não – disse-lhe eu – Apenas lhes dei o diploma da escolaridade básica.» E ela: «Ah, mas eles estão a matricular-se aqui na secundária!» - esperneava ela. «Vocês têm de aplicar o vosso modelo, nós aplicámos o nosso.» - disse-lhe eu. Duvido que ela tenha entendido.


Só que os objetivos do ensino secundário – nesse tempo – eram muito diferentes dos objetivos do ensino básico. Atualmente, com o alargamento da escolaridade obrigatória para o 12º ano (quer se concorde ou não com esse alargamento – e eu não concordo) os objetivos do secundário já não são assim tão diferentes dos do ensino básico como eram nos idos de 90…




5 comentários:

  1. Beijinhos, bfds.
    Vou de férias.
    Até finais de Julho!

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  2. Boas férias, Pedro!!
    Também vou na próxima semana e volto no fim do mês.

    Beijinho.

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  3. Ao que parece alguns dos peões da comunicação social receberam recentemente instruções para desancarem membros do Governo, a torto e a direito. Tenho visto entrevistas na televisão que são uma vergonha.
    Esta quarta-feira apanhei um pouco do programa do José Gomes Ferreira da SIC, a partir do Teatro José Lúcio da Silva. O dito senhor, como se sabe, é pródigo nas tiradas que lança para a bancada. Ele entrevista, porém, não se coíbe de responder às suas próprias perguntas, para consumo e gáudio do povo. Não me passou despercebida, pelas imagens transmitidas pelas câmaras, o modo como certas pessoas se compraziam na plateia com as "verdades" propaladas pelo jornalista/comentador/economista.
    Quanto às Educação estará preste a entrar na calha.
    BFS.

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  4. Amigo Agostinho, não tenho saúde para ver esses energúmenos, sob pena de escaqueirar o aparelho de televisão!

    Quanto à Educação, é tema que eles têm sempre à mão... :(

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  5. Separando as águas...
    Dizer a um aluno com sete negativas: "tu passas de ano como aquele que tem 5 a tudo..." é exactamente a mesma coisa que dizer àquele que tem 5 a todas as disciplinas: "estás a esforçar-te e a estudar para quê? Diverte-te, joga, brinca... estudar é uma inutilidade, tu passas de igual forma!"

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