domingo, 27 de outubro de 2013

Não Venhas Tarde

Oiço muito pouca rádio; oiço apenas quando vou no carro e ando muito pouco de carro. É uma falha minha talvez não ouvir rádio mas aborreci-me dela (como estou a aborrecer-me da televisão) há muitos anos, quando a rádio deixou de ser um meio de ouvirmos música para ser um meio de ouvirmos anúncios e diálogos tontos que pretendiam ser frescos entre locutores também eles tontos dizendo baboseiras para o pessoal rir. Um dos primeiros programas que “chumbei” foi o famoso «Pão com Manteiga» do não menos famoso (e tonto também, que nunca gostei nada dele…) Carlos Cruz. Depois apareceu o pretensioso do Sala e outros de que nem conheço os nomes e PIM! Matei a rádio!

Ao domingo de manhã, no carro – como já disse – oiço um bocado do «Amor é…» do Professor Júlio Machado Vaz e em tempos gostava de ouvir os programas sobre a história da música ligeira nacional e não só do meu querido colega Zé Nuno Martins. 

Ora esta manhã, por causa do “jet lag” da mudança da hora… apanhei o Professor já no final e depois começaram a passar um “faduncho” do fadista (esquecido, dizia a locutora) Carlos Ramos. Assim que ouvi os primeiros acordes – e porque, como muito bem sabem, não gosto de fado – saiu-me um daqueles “Oh não!...” embirrantes como se adolescente ainda fosse… E o meu marido, habituado (e que me habituou…) a fazer-me as vontades em termos de música (e não só…) mudou de posto.

«Não! deixa ouvir!» E aí nos demos à paciência e ao encantamento de ouvir a voz doce e modelada do velho fadista a desenvolver um poema que apesar de ter sido escrito nos anos 50, acabava por sugerir à mulher uma liberdade em termos de amor que não era possível defender nesses tempos obscuros.

E recordei: finais de 50, inícios de 60, nos primórdios da nossa televisão, havia programas que se repetiam semanalmente e que víamos com a obrigação de quem tem um bem precioso e raro. Era o caso das «Charlas Linguísticas» do Prof. Raul Machado; da «TV Rural» do Eng.º Sousa Veloso; do «Museu de Cinema» do António Lopes Ribeiro; do programa de declamação de poemas por João Villaret (que eu também abominava!); da «Noite de Fados» pelo Carlos Ramos cujo genérico era, nem mais nem menos, o fado «Não Venhas Tarde» - o tal que passou hoje de manhã na rádio…

(O meu Babá)

Eu passava longas temporadas em casa dos meus avós maternos e, já eles viviam em Minde, o meu avô não dispensava ouvir o programa semanal de Carlos Ramos – que eram uma descomunal seca para mim já muito mais interessada no Paul Anka ou no Elvis. Assim que ouvia os trinados da guitarra que anunciavam o «Não Venhas Tarde», lá me saía o habitual “Oh, não!”. Mas por muito habituada a que o meu avô (o meu Babá) me fizesse as vontades, esta ele definitivamente não fazia. Nunca! É que ele gostava mesmo de fados – eu até lhe chamava o Zé da Samarra (com a amante a seu lado…) que o meu Babá era bem atiradiço e, se calhar por isso, ou por ser um lisboeta do coração, ele gostava tanto do Carlos Ramos e do seu fado de marca «Não Venhas Tarde».  

(Vale a pena dar atenção à letra)







18 comentários:

  1. Graça nunca fui grande apreciador de fado, somente em local próprio, eu gosto mais. No entanto, Carlos Ramos sempre foi e será uma das vozes que mais gosto de ouvir.

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  2. Gracinhamiga

    Matastese-me cuma facadela no pêto, mulher imçidioza e mál-lavada, ou çêja, málvada, inpia, desgrassada e polifurmada!!!

    Eu cantei ao desafio o Senhor Carlos Ramos, na sua "Toca", o "Não venhas tarde, dizes-me tu da janela; e eu venho sempre mais tarde; porque não sei fugir dela" etc. & tal.
    Sei-o de cor, de trás para a frente e vice-versa.

    Já sabias que eu sou louco pelo fado; o teu Avô era, portantos (sem s) Um gajo bué da fixe; e tu... uma tentativa/hipótese de desmancha-prazeres avôengos. (Não está correcto, mas soube-me bem...)

    Donde, vou ignorar este miserável pasquim, representante da literatura de cordel! Que o Demo se apiede de tu. Tenho dito :-) :-) :-) :-)

    Apesar do pesar
    Qjs

    Henrique, o Fadista IV

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  3. ADENDA

    Na segunda linha do prim..., ops, na primeira linha do segundo parágrafo falta um com Ca emoção até me esqueci dela. Mil escusas

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  4. Curioso... ainda há um par de dias estive a ouvir este tema... e a primeira associação de ideias que me surge leva-me sempre para a memória de meu pai.
    Ele gostava muito de fado e nomes como Carlos Ramos e Alfredo Marceneiro são uma referência do que me lembro que ele cantarolava lá por casa.

    Mesmo não sendo uma grande apreciadora de fado, de vez em quando sabe-me bem ouvir...

    E agora vou-me... porque está a ficar tarde!


    Beijinhos de Cinderela
    (^^)

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  5. Embora não oiça muitas vezes, adoro o fado! Este tb conheço.
    Foi na sexta da semana passada que tive conhecimendo no espetáculo do Carlos do Carmo que António Mourão tinha falecido. Curiosamente, não vi/li nem um post sobre ele.

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  6. Estimada Amiga Graça Sampaio.
    Adorei sua história e me revi el muitos momentos, igualmente não sou admirador de fado, e é raro ouvir rádio.
    Aqui em Macau por vezes ouço a antena 1, tal como presente momento estou fazendo, somente para ouvir as notícias. Mas este belo fado não venhas tarde de Carlos Ramos me diz imenso.
    Abraço amigo cá destas terras do oriente distante.

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  7. Eu cantarolava este fado... esperando que para ele não fosse fadado

    (oiço a Antena 1, quando vou de carro... de manhã sempre se ouve um pouco mais que as baboseiras habituais...)

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  8. Continuo a adorar rádio. Quanto ao Fado, só nos locais próprios para o efeito. Em casa ou no carro, jamé! Mas sempre amei esse fado!

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  9. Ora aqui está mais um belo verbete!... Claro que não vou insistir na defesa da qualidade de grande parte das letras e músicas do Fado, até porque com "Carneiros" sei bem que não vale a pena; pode até ter um efeito contrário... :)
    Mesmo assim,
    Bravo!

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  10. Já para mim a rádio é um must.
    Até na casa de banho tenho um rádio! :))
    Boa semana!

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  11. Tenho um rádio em cada compartimento...pequenos , maiores , a pilhas e um do tempo da guerra que está no quarto do meu filho e funciona maravilhosamente. Neste momento estou ligada â TSF. Aos sábados , das 11h para as 12 h d´´a um programa " com os dois Pedros" , na TSF , que vai adorar ....experimente.
    Já agora , cá em casa , também me fazem as vontades todas....M.A.A.

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  12. Bem melhor ouvir rádio, mesmo com fados, do que ouvir e VER certas figuras sinistras na nossa TV.

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  13. Meu pai, adorava e "ensinou-me" a gostar do Fado, precisamente através da Amália e do Carlos Ramos, para quem (CR) escreveu várias letras ! Mais tarde aprendi que "ver cantar" o Fado era bem diferente de "ouvir cantar" o Fado !
    Duas curiosidades :
    Certo dia estive "colado" à Amália num autocarro, do avião para o aeroporto, em Milão - ela ia actuar no Scala e trocamos breves palavras ;
    Sempre que eu saia para o trabalho às 7,30 (para regressar às 21) a minha mulher dizia-me sempre "não venhas tarde" e ambos nos riamos, cantarolando o Carlos Ramos. rsrs
    .

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  14. Que engraçado! Acabei de comentar um post do blog "Existe sempre um lugar" que também publica hoje essa canção. Será que ouviu a mesma estação de rádio? :) Em todo o caso fez-me lembrar da minha mãe que, de vez em quando, a cantarolava. :)

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  15. Cresci a ouvir rádio em casa do meu pai,não existia outra coisa, ainda hoje não dispenso o rádio, é no carro e em casa, mais na cabine do duche, quando trabalhava assim que entrava no escritório ligava o radio até sair, era a minha única companhia, tambem gosto de fado, este está bem no meu ouvido.

    beijinho e uma flor

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  16. Que belas recordações consegui despertar em todos vós, meus amigos! Que bom!

    É isso mesmo, MLisboa! Carneiro é isso mesmo: (quase) de ideias fixas... Eheheheheheh...

    Beijinhos afadistados para todos ...

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  17. Gosto de fado mas não de todo o género!
    E até o canto...mal! :)
    Mesmo a dizerem durante anos "Não venhas tarde" há sempre noctívagos!:)
    Como ando muito de carro sozinha ouço bastante rádio mas logo que começam com conversa da treta mudo de estação!

    Abraço

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  18. E JÁ LÁ VÃO 84 ANOS!...NA MINHA JUVENTUDE (ANTES DOS 20), QUANDO APARECEU AMÁLIA RODRIGUES EM PLENO,TAMBÉM ME CUSTAVA ACEITAR TAL TIPO MUSICAL MAS COM O ANDAR DOS TEMPOS (E DA IDADE) FUI APREENDENDO QUE O "FADO" NÃO ERA
    SÓ MÚSICA...IA MUITO MAIS ALÉM!
    ENTRAVA NA NOSSA VIDA...E DESDE ENTÃO COMECEI A MUDAR DE IDEIAS.
    HOJE TENHO POR AMANTES ALGUNS DESSES BELOS TRECHOS MUSICAIS INTEMPORAIS.

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