Hoje (mas não é de agora) eu
queria, do alto da minha idade, da minha experiência e das minhas vivências,
boas e más, dizer ao senhor Pedro e ao senhor Paulo e ao senhor Nuno e às donas
Assunções e à menina Luís e ao mestre Aníbal de Boliqueime que não queria
voltar a ver como vi a mulher da casa a rebuscar os tostões pela casa para
poder ir à praça comprar o almoço.
Que não queria voltar a ver a senhora que lavava a roupa
ao tanque e passava o chão a pano de joelhos a ser paga em pouco mais que
tostões e a levar os restos do almoço dos patrões para dar de comer à família.
Que não queria voltar a ver o
homem da casa a ficar sem emprego e ato contínuo sem qualquer provento para
continuar a manter a família.
Que não queria voltar a ver as
crianças a abandonarem a escola porque os pais não conseguem mantê-los lá nem a
isso são obrigados.
Que não queria voltar a ver as
crianças e as pessoas portadoras de deficiência a serem escondidas em casa –
quem não aparece, não existe.
Que não queria voltar a ver os
doentes – os que puderem, claro! – serem tratados em casa ou em instituições
privadas porque os hospitais não têm condições para os receber. E que não
puderem morrer se deixam.
Que não queria voltar a ver o
afastamento e a subserviência dos pobres, que serão cada vez mais,
relativamente aos abastados, que serão também cada vez mais.
Que não queria voltar a ver
chegar um qualquer «salvador da pátria» e tomar conta disto tudo e de todos nós
em nome do equilíbrio das finanças.
Mas a avaliar pelo caminho que as
coisas estão a levar, já não sei não!
ResponderEliminarAndo tão amargurada!
Beijo
Laura
Em nome do equilíbrio das finanças que nunca mais se equilibram. :(
ResponderEliminarNinguém quer voltar a ver, Gracinha!
ResponderEliminarHoje, no metro, senti um povo acabrunhado! :(
Abraço
Infelizmente, começo a acreditar que esse vai ser o caminho. Com o alto patrocínio do homem de Boliqueime que- é bom não esquecer- se sentia perfeitamente integrado no Estado Novo.
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ResponderEliminarO desespero imobiliza.
Sabemos o que não queremos. É preciso "bater o pé" nem que a ponte caia.
"Não há mal que sempre dure..."
É isso, Lídia, temos de ripostar, arrebitar o nariz e reagir! Não podemos deixar-nos acabrunhar!
ResponderEliminarAcho que todos partilhamos esses (nobres) sentimentos :(
ResponderEliminarEstimada Amiga Graça Sampaio,
ResponderEliminarAs coisas estão ficando feias demais, os militares esses já não tem a força de antigamente e se acobardam, o que resta ao povo é zero, e estes gatunos continuarem as nos roubar e eles a viverem numa boa, esse portas fechadas e o coelho do mato, para não falar do tal cavaco já deviam estar era enterrados.
Abraço amigo
Bom dia
ResponderEliminarPenso que este grito é o grito dos portugueses em geral. É o grito dos espoliados da sorte, do emprego, da casa, da educação, da saúde pública...
Irra que é demais...mas os gorilas que enunciou lá se vão banqueteando.
Ah! Mas o salvador já aí está e já se pronunciou. Agora que tem um diploma em filosofia técnica até já imita o seu homónimo embora não consiga atingir sequer o nível dos mais modestos sofistas. Mas para consumo interno deve bastar.
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