quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Carta Aberta

(imagem da net)

Hoje (mas não é de agora) eu queria, do alto da minha idade, da minha experiência e das minhas vivências, boas e más, dizer ao senhor Pedro e ao senhor Paulo e ao senhor Nuno e às donas Assunções e à menina Luís e ao mestre Aníbal de Boliqueime que não queria voltar a ver como vi a mulher da casa a rebuscar os tostões pela casa para poder ir à praça comprar o almoço.

Que não queria voltar a ver a senhora que lavava a roupa ao tanque e passava o chão a pano de joelhos a ser paga em pouco mais que tostões e a levar os restos do almoço dos patrões para dar de comer à família.

Que não queria voltar a ver o homem da casa a ficar sem emprego e ato contínuo sem qualquer provento para continuar a manter a família.

Que não queria voltar a ver as crianças a abandonarem a escola porque os pais não conseguem mantê-los lá nem a isso são obrigados.

Que não queria voltar a ver as crianças e as pessoas portadoras de deficiência a serem escondidas em casa – quem não aparece, não existe.

Que não queria voltar a ver os doentes – os que puderem, claro! – serem tratados em casa ou em instituições privadas porque os hospitais não têm condições para os receber. E que não puderem morrer se deixam.

Que não queria voltar a ver o afastamento e a subserviência dos pobres, que serão cada vez mais, relativamente aos abastados, que serão também cada vez mais.

Que não queria voltar a ver chegar um qualquer «salvador da pátria» e tomar conta disto tudo e de todos nós em nome do equilíbrio das finanças.

Mas a avaliar pelo caminho que as coisas estão a levar, já não sei não!



10 comentários:

  1. Em nome do equilíbrio das finanças que nunca mais se equilibram. :(

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  2. Ninguém quer voltar a ver, Gracinha!
    Hoje, no metro, senti um povo acabrunhado! :(

    Abraço

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  3. Infelizmente, começo a acreditar que esse vai ser o caminho. Com o alto patrocínio do homem de Boliqueime que- é bom não esquecer- se sentia perfeitamente integrado no Estado Novo.

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  4. O desespero imobiliza.
    Sabemos o que não queremos. É preciso "bater o pé" nem que a ponte caia.

    "Não há mal que sempre dure..."

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  5. É isso, Lídia, temos de ripostar, arrebitar o nariz e reagir! Não podemos deixar-nos acabrunhar!

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  6. Acho que todos partilhamos esses (nobres) sentimentos :(

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  7. Estimada Amiga Graça Sampaio,
    As coisas estão ficando feias demais, os militares esses já não tem a força de antigamente e se acobardam, o que resta ao povo é zero, e estes gatunos continuarem as nos roubar e eles a viverem numa boa, esse portas fechadas e o coelho do mato, para não falar do tal cavaco já deviam estar era enterrados.
    Abraço amigo

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  8. Bom dia
    Penso que este grito é o grito dos portugueses em geral. É o grito dos espoliados da sorte, do emprego, da casa, da educação, da saúde pública...
    Irra que é demais...mas os gorilas que enunciou lá se vão banqueteando.

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  9. Ah! Mas o salvador já aí está e já se pronunciou. Agora que tem um diploma em filosofia técnica até já imita o seu homónimo embora não consiga atingir sequer o nível dos mais modestos sofistas. Mas para consumo interno deve bastar.

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