Acabei finalmente de ler o grosso romance de Mário Cláudio “Tiago Veiga. Uma Biografia”. Chamou-me a atenção o que sobre este livro ficou dito no Jornal de Letras de Junho último e que foi o seguinte: «Não será um “grande poeta”, mas é seguramente um “caso” na poesia do século XX. E quem é este poeta que em vida preferiu o anonimato, andou pelo mundo, frequentou salões literários e conviveu com grandes nomes da literatura portuguesa e europeia, sempre mostrando-se e escondendo-se, para acabar na sua velha casa do Alto Minho? É o que agora no mostra Mário Cláudio, numa longa biografia, depois de ter revelado três livros póstumos de sua autoria: Os Sonetos Italianos, Gondelim e Do Espelho de Vénus.
Mas o escritor, biógrafo, não revela, é a verdadeira identidade do biografado. É Tiago Veiga um heterónimo de Mário Cláudio? Um pseudónimo? Um outro modo de dizer-se em verso? Um misterioso alter ego ou simplesmente mais uma personagem na galeria romanesca da sua obra(…)?»
O próprio autor, na entrevista que lhe foi feita pelo JL, afirma que «Para ser um heterónimo meu teria que manter comigo um certo umbicalismo. Se pensarmos no grande exemplo da heteronímia em Portugal, os heterónimos pessoanos, verificamos que todos eles são mais ou menos contemporâneos do ortónimo. Se TV fosse meu heterónimo, e digo francamente que não é, não poderia tê-lo inventado a fabricar, muito antes de eu ter nascido, coisas que eu próprio fabricaria… (risos)». E depois: «Não o inventei. Digamos que a questão se resume a saber se TV teve ou não existência em termos de registo civil. E esse é um esforço que os leitores poderão fazer. Os que quiserem ter a certeza de que de facto existiu, basta irem às Conservatórias do Registo Civil e verificarem se o nome dele consta e com aquela data de nascimento. (…)»
Perante estas dúvidas e com o que ficou dito a propósito por Miguel Real no seu artigo “Nova teoria da heteronímia” (JL de Junho de 2011), fiquei cheia de vontade de ler o livro para chegar a uma conclusão minha.
Gostei bastante de ler o livro que, de facto, não tem uma leitura fácil, mas que nos transporta pela literatura portuguesa e estrangeira do século XX, já que Tiago Veiga nasceu em 1900 e morreu em 1988, depois de viajar pela Europa, África e Estados Unidos, tendo conhecido e contactado com grandes nomes desde Fernando Pessoa a José Régio e Rui Cinattie Luis Miguel Nava, ou desde Edith Sitwell a Jean Cocteau, W. B. Yeats, Benedetto Croce, ou Marianne Moore. Moveu-se entre políticos como Bernardino Machado e Manuel Teixeira Gomes ou mesmo António Ferro. Viveu em conventos e deu-se com os fascistas italianos.
Trata-se de uma belo romance picaresco no âmbito da literatura e da vida social do século XX – se se puder dizer isto – à laia de um Tom Jones de Fielding, de um Fernão Mendes Pinto da atualidade, ou de um Tristram Shandy de Sterne.
Se tiverem paciência, leiam.
Casa dos Anjos, em Venade, Paredes de Coura, onde viveu e morreu Tiago Veiga |
Igreja de Venade |
Rio Coura |
Uma boa indicação. E, pelo seu comentário, praticamente, resenha, vale a pena.
ResponderEliminarAbraço, Célia.
Lerei, se o tempo me deixar e se a agenda da Minha Alma o seleccionar... deu-lhe uma boa ajuda.
ResponderEliminarTens que mo emprestar embora ande com dois livros entre mãos e pouca concentração para ler!
ResponderEliminarUm novo conceito de heteronímia parece-me uma ideia interessante!
Abraço
então ainda não respondeu o que é isso de fascismo , pensei que estivesse na ponta da língua , será que anda a pesquisar ?
ResponderEliminarCaro anónimo, não há nada para pesquisar. Sobre o fascismo sei o que vi e vivi nos anos 50, 60, 70. Acha pouco? O meu receio é que tenhamos de voltar a esses cenários e a essa vivências tão vis.
EliminarEste vou passar! Fui espreitar e o livro tem 800 páginas. O que me parece excessivo para uma biografia de alguém que nunca ouvi falar... :)
ResponderEliminarContinuação de boas leituras!
Beijocas!
Mas olha que está muito bem escrito.
EliminarA descrição está muito boa, mas ando comtantos livros em atraso...
ResponderEliminarBjs
Cara senhora Graça Sampaio , a pergunta não era o que viu ou o que viveu , com certeza todos já vimos e vivemos muita coisas , o que é o fascismo é que era a pergunta , como professora decerto gosta de respostas referentes ao que é questionado e não divagações sobre experiências pessoais , quem sabe até esteja enganada só sabendo o que é algo podemos dizer se é A ou B ,o resto serão suposicões , claro que não é obrigada a responder e até me pode ignorar caso não tenha resposta , bom final de semana .
ResponderEliminarE qual a conclusão? TV é ou não MC?
ResponderEliminar(tenho o livro, mas ainda não o comecei a ler)
um beijinho
Gábi
Para mim, acho - ou melhor, tenho a certeza - que TV não existiu e que é uma personagem inventada por MC. Aliás, muito bem inventada.
ResponderEliminarÉ de ler! Se bem que seja enorme!!!!
Caro anónimo: gosto muito de História e sei um pouco sobre o fascismo. Lembro-me de no exame de História da Cultura Medieval (sou de Germânicas) a professora me ter perguntado e eu ficar atrapalhada porque nunca se tinha falado nisso nas aulas (até porque não se podia em 67...) E depois, fui informar-me. Hei de voltar aqui - ou ao seu espaço - para falarmos sobre isso.
ResponderEliminarAté lá.
Mário Cláudio aparece e desaparece quando nunca se espera..."Tiago Veiga" já está no chão do meu quarto. Já me ri ao ler nas primeiras páginas escritas pelo autor a referência que dedica a um "Professor" que muito admiro.
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