O estudioso colombiano de Pessoa
Jerónimo Pizarro deslocou-se ontem a Leiria, a convite da Livraria Arquivo, (a
livraria de fundação puramente leiriense de que já aqui falei por mais de uma
vez e que não me canso de elogiar por ser a «loja de livros» que mais faz pela
divulgação cultural aqui na terra) a fim de apresentar o último livro que organizou
e editou e que tem o título «A Obra
Completa de Alberto Caeiro».
Apaixonada que sou pelo poeta
modernista, assim que soube da vinda deste pessoano à Arquivo, decidi que tinha
de ir assistir.
Uma presença discreta, agradável,
deveras apaixonado pela literatura e pela língua portuguesas, por Pessoa e não
só, que lamenta não ter traduções suficientes em língua espanhola, no
continente sul-americano de onde provém.
A conversa com o estudioso não
foi bem dirigida, foi mole, ficou aquém, circunscreveu-se quase à pessoa do
investigador em si e pouco a Pessoa. Às tímidas perguntas da breve assistência,
respondeu ele com algum desapego, alguma parcimónia, com ar algo provocatório
como que a querer desconstruir ou desacreditar, alguma indiferença até.
Sorridente, embora.
Caeiro, o Mestre, ficou
diminuído, desconcertado, desagregado. Campos fez uma brevíssima aparição
forçada. Reis, o latinista estóico, não apareceu. De Bernardo Soares ficou o
desassossego do seu livro. Pessoa, que o estudioso considera um dos grandes da
literatura europeia, veio com as suas «Cartas Astrológicas», a reboque de Paulo
Cardoso – Paulo Cardoso?!!! – não
obstante o investigador ter afirmado que os inéditos do poeta futurista podem
chegar ainda aos dez mil!
Desilusão para mim – que não sou
ninguém no mundo destas estrelas que gravitam ao redor de Pessoa. E exatamente
porque não sou ninguém, quando saí – a conversa durou apenas uma hora – dois
pensamentos me assaltaram o espírito: ou que realmente “é uma pepineira conversar com estes
provincianos” ou então houve uma vontade de desconstruir, de desmitificar o que
se construiu e ele próprio, o poeta, construiu acerca de si. Fingimento poético?
Marketing? Merchandising? Talvez. Mas quem disse
que eu quero ser desmitificada acerca de Pessoa?
«A espantosa realidade das coisas
É a minha descoberta de todos os
dias.
Cada coisa é o que é,
E é difícil explicar a alguém
quanto isso me alegra,
E quanto isso me basta.
Basta existir para se ser
completo.»
(Alberto Caeiro)
Pois, Graça...
ResponderEliminarE Alberto Caeiro que tem tantas pontas soltas, até na sua aparente simplicidade...
abraço
... que de simplicidade pouco ou nada tem...
EliminarBeijinho.
Que se faça a divulgação pelos apaixonados da matéria que façam bem o seu trabalho de casa ! A internet é uma ferramenta que está ao alcance de milhões de pessoas...
ResponderEliminarAdmirável mundo novo...
EliminarPelo que entendi, ele quis promover-se a ele próprio, verdade?
ResponderEliminarEu que também sou uma apaixonada por Pessoa, certamente teria como tu uma enorme desilusão.
Para desanuviar e como sou brincalhona, acho que o rapazito até tem um bom palminho de cara rsrsrs
Beijinhos Graça
Sim, sim, Manu! Nada de mandar fora...
Eliminar~
ResponderEliminarCompreender no carácter e personalidade dos heterónimos a mensagem que FP quis comunicar, não é para todos.
~~~ Beijinhos ~~~
Mas um estudioso, um investigador, um professor universitário... não entendi.
EliminarBeijinhos, Majo!
Para quê afligir-mo-nos com o desapego e a indiferença do estudioso especialista. A isso talvez Caeiro dissesse:
ResponderEliminar"Pouco me importa.
Pouco me importa o quê? Não sei: pouco me importa."
:)
E ficou-me o ponto de ? na mão... :)
ResponderEliminarEstranho! Uma Pessoa que estuda Pessoa apaixonadamente há tanto tempo!...
ResponderEliminarMas concordo, sim, que estes investigadores têm muito poder e uma consciência plena desse poder. São eles que conferem aos autores o "cânone", o selo de qualidade das suas obras. Se dizem que um é bom, será bom, mesmo que não o seja na realidade. Isto é assim porque não há nenhum instrumento plausível para medir matematicamente a literatura.
Um beijo
Lídia