Encontrei este textinho encantador escrito antes da Primeira Reforma Ortográfica de 1911 no Rio das Maçãs e apressei-me a copiá-lo para o passar aqui já que deve fazer as delícias dos meus amigos que se opõem dramaticamente ao Acordo Ortográfico de 1990. Desculpar-me-ão a ironia, mas veja.se só o que aqueles malandros fizeram à «língua de Camões» já no início do século passado... (e em todos os séculos para trás, claro!)
"Cintra era então um refugio, onde se gosava
socegadamente longe do bulicio da cidade, sem importunos e sem caminho de
ferro.
Podia-se ali viver por gosto alguns mezes do anno, os mais quentes,
cada familia em sua casa, ou no hotel do Sant’Anna, o que valia o mesmo.
Passavam-se os dias em deliciosos passeios ora á Peninha, á
Penha Verde, á Varzea de Collares, a Sitiais, a S.Pedro, onde se encontravam
francas as quintas dos srs. Marquezes de Vianna e de Vallada, ou ao Duche a
gosar a frescura perenne d´aquelle logar, onde a agua nasce borbotando da areia
e as arvores seculares se fecham em cerrada aboboda, onde os passarinhos
chilreiam e os doirados raios solares a custo penetram por entre a folhagem.
Pois foi n’este logar, onde se bifurcam as estradas que vão
para a recente Villa Estephania e para a velha fonte da Sabuga, que o bem
conhecido negociante da praça de Lisboa, sr. António Lopes Ferreira dos Anjos
mandou edificar o palacio, que faz o assumpto da nossa gravura, palacio
magnifico que attesta o bom gosto do seu fundador e que é uma das melhores
coisas que ha para ver em Cintra.
O sr. Anjos confiou o risco e a direcção da obra ao notavel
architecto italiano José Cinatti, mas não teve a satisfação de a ver concluida,
porque a morte o arrebatou, em 31 de Outubro de 1879, tendo principiado a
edificação em 1877.
Este palacio, assim como toda a propriedade do Duche, deixou
o sr. Anjos a sua filha, a ex.ma sr.ª condessa de Valenças ficando assim
vinculado a essa casa.(...)"
Excerto de um texto publicado na "Revista
Occidente" em 15 de Julho de 1896
Junto tinha a respetiva gravura do grandioso e belo palácio.
Vista atual do mesmo Palácio, no qual funcionou a Biblioteca Municipal durante grande parte do século XX (onde li e requisitei tantos livros!)
(Brasão dos Condes de Valenças) |
Vivi quase duas décadas ali por trás do Valenças...
"20 anos nesse logar? Quase faz parte do património de Cintra
ResponderEliminar(data deste comentário: julho de 1896)
Eheheheheheheh..... É certo: quase fiz parte do património de Cintra.... E que pena não ter continuado por lá...
EliminarAté Agosto que eu vou de férias.
ResponderEliminarBeijinhos
Ui! Também eu!!!!!!
EliminarBoas férias!
Uma boa reportagem do Palácio de Valenças. O texto já conhecia. A linguagem vai mudando, mas eu não consigo aderir ao acordo...
ResponderEliminarUm beijo, Graça
Não conseguir aderir é uma coisas. Desdizê-lo e maltratá-lo e dizer parvoíces acerca das adaptações é outra.... Até porque uma pessoa habituou-se a ler e a escrever com uma determinada ortografia e depois é difícil despedir-se dela...
EliminarBeijinho, Graça
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ResponderEliminarÀ parte, a deliciosa ironia referente aos que nos acusam
de destratar e vilipendiar a língua de Camões e Pessoa,
gosto sempre de visionar a grafia de textos antigos...
~ O palácio é lindo!
~ O interior merecia uma sábia intervenção de fundo.
~ E uma sorte ser vizinha de uma grande biblioteca...
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~ ~ ~ Beijinhos. ~ ~ ~
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Também gosto muito de ver textos (e imagens) antigos e comparar as formas de escrever. Adoro gramática e linguística!
EliminarQuanto ao Palácio, estamos de acordo: é lindo!! Por fora e por dentro!
Beijinhos
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ResponderEliminar~ Pouca gente audaz, resoluta e futurista...
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Isso, Majo!!!
EliminarE insiste nisso? Santa ignorância. Continua a comparar coisas muito diferentes. As letras mudas e duplas do texto, por exemplo, nada têm a ver com o que é preconizado pelo acordo e não tinham qualquer função, havendo inclusivamente muita pseudo-etimologia. Além de que cada um escrevia como lhe apetecia (não havia uma norma fixada), havendo até discrepâncias ortográficas num mesmo texto (algo que o Acordo Ortográfico foi também repescar). Quanto às supressões de cês e pês do AO, o caso é outro: têm função diacrítica, de analogia e consistência com palavras cognatas e servem também para diferenciar palavras. E depois ainda há os hífenes, as maiúsculas/minúsculas, as “facultatividades” e os acentos…
ResponderEliminarNinguém está contra a mudança da língua, está-se especificamente contra esta mudança concreta preconizada pelo AO. É que a língua, especialmente no domínio escrito, é uma ciência e não se muda a bel-prazer, especialmente por motivos políticos e económicos. Agarre-se de uma vez ao texto do acordo e analise-o atentamente. E, já agora, leia: http://www2.fcsh.unl.pt/docentes/aemiliano/AOLP90/EMILIANO-CESC.pdf.
A história é linda...
ResponderEliminarMas esse palácio do retrato e o da fotografia parecem coisas tão diferentes!
Tenho pena de Sintra ser um dos locais que pouco ou nada conheço.