domingo, 29 de agosto de 2010

Doomsday


Um belo poema do Jorge Luís Borges, escrito no seu último ano de vida, sobre a fragilidade da vida, a efemeridade das coisas e dos projectos.

Doomsday

Será quando a trompeta ressoar, como escreve
        S. João o Teólogo.
Foi em 1757,segundo o testemunho de
       Swedenborg.
Foi em Israel quando a loba cravou na cruz a carne
       de Cristo, mas não só então.
Acontece em cada pulsação do teu sangue.
Não há um instante que não possa ser a cratera do
       Inferno.
Não há um instante que não possa ser a água do
       Paraíso.
Não há um instante que não esteja carregado como
       uma arma.
Em cada instante podes ser Caim ou Siddharta, a
       máscara ou o rosto.
Em cada instante pode Helena de Tróia declarar-te
       o seu amor.
Em cada instante pode o galo ter cantado três
       vezes.
Em cada instante a clepsidra deixa cair a última
       gota.


(fotografia de Tiago Fernandes)

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