I
Repousa em redor a pequena vila.
Às luzes que cruzam a rua
Juntam-se lanternas de um fiacre.
Poluídos para alguns os frutos do
dia,
Deixam o mercado agora ermo,
Sem uvas nem girassóis.
Ouve-se música através dos muros,
No jardim alguém tenta calar o
apelo
De um amor recusado, ainda em
chaga,
Mas na cascata a água
precipita-se,
Fresca, num jorro rápido.
II
Acabou o Sol & o sino da
tarde leva
Os deuses, um a um, a um passado
provisórios,
Donde irão emergir para o grande
cisma
Do Inverno, o primeiro sopro do
qual
Já se ouve subir os píncaros da
serra.
Para a deusa branca chegou o fim
do seu enigma,
A sua ruína coroa agora as ruínas
do castelo:
Aqui morrem os deuses & as
borboletas.
Rejeitados olhando apenas,
Recíproco, um brilho no vazio.
M.S. Lourenço (1936 – 2009)
(E pensar eu que vivi ali tão perto do poeta M.S.Lourenço, decerto me cruzei com ele algumas vezes ali nas escadinhas ou no Largo do Vitor onde ele vivia e... nunca o conheci...)
Não conhecia nem nunca havia ouvido nele falar. Por isso fui pesquisar, Graça!
ResponderEliminarManuel António dos Santos Lourenço, para além de ter sido um grande poeta e escritor, foi também tradutor e filósofo.
Que pena terem ambos nascido em Sintra e nunca se terem cruzado, ou então, isso aconteceu e tu não sabias quem era!!
A vida tem destas coisas.
Beijinhos, boa semana, Graça!
E vivíamos ali pertinho um do outro... mas ele era mais velho. É pai do Frederico Lourenço que anda a traduzir a Bíblia do grego e já traduziu a Odisseia.
EliminarAh, bem...filho de peixe, tinha que saber nadar!
EliminarPois...
EliminarNão conhecia.
ResponderEliminarEstamos mesmo sempre a aprender.
Beijinhos, boa semana
Ele viveu naquela casa amarela. E eu lá pertinho...
Eliminar
ResponderEliminarE eu já ando em contagem decrescente para a Primavera...
Também não conhecia, nem o poema nem o seu autor.
Por isso aprendemos todos uns com os outros.
Achei bonito ele chamar deusa branca à lua. 🌙
Ficou muito bonito este teu post... conseguiste dar-lhe um ambiente "místico" e romântico, tal como aquele que se sente e vive em Sintra.
Beijinhos e suspiros
(^^)
Obrigada, Clara! É que eu vivi em Sintra muitos anos - é a minha terra do coração...
EliminarBeijinhos.