sábado, 2 de junho de 2012

Perplexidades


Lembramo-nos todos do excelente programa brasileiro de Jô Soares que passou na nossa televisão nos anos 80, O Planeta dos Homens, espetáculo constituído por vários quadros com figuras típicas que semanalmente faziam crítica social sempre de forma divertida mas incisiva.

Recordo muitas vezes um dos quadros em que a figura principal era acusada de alguma coisa mal feita terminando ele sempre com o ar mais cândido e a mão nos olhos à laia de pala, perguntando: “Ué! E sou só eu? Cadê os outros?!”

 


Isto a propósito de uma notícia de primeira página num dos jornais de Leiria que informa que um ex-autarca de uma freguesia aqui do concelho foi condenado (juntamente com o secretário e o tesoureiro) a cinco anos e seis meses de prisão efetiva por ter lesado a autarquia em 28 mil euros. Tudo bem: a justiça funcionou. Mas agora pergunto eu também com o meu ar mais cândido: a quantos anos de prisão efetiva vão ser os senhores responsáveis pelo desfalque do BPN vão ser condenados? E a quantos anos de prisão efetiva vai ser condenado o senhor Duarte Lima que roubou aos milhões, matou e vilipendiou? E porque é que o caso deste pequeno autarca não prescreveu como prescreveram os crimes do senhor Isaltino Morais? 

Etc. Etc.




Outra coisa bonita que eu ouvi esta manhã quando estava a tomar o pequeno-almoço e que me caiu muito bem foi ouvir o senhor primeiro-ministro (salvo erro num congresso da Associação Cristã de Empresários e Gestores, cujo lema era «Amor ao próximo como critério de gestão» - comovente, não?) com aqueles olhinhos de carneirinho-mal-morto e aquele sorrisinho sonso de escuteiro que todos os dias pratica uma boa ação fazer uma referência muito particular ao “sacrifício extraordinário que todos os portugueses, de um modo geral, têm demonstrado, não apenas para afirmar o seu amor ao próximo, mas também o seu amor à Pátria.” E acrescentou ainda mais untuoso: “Tem sido extraordinário e uma honra grande chefiar um governo que tem tido a possibilidade de contar com um povo tão extraordinário como aquele que nós temos em Portugal.” Não é enternecedor? E caridoso, não?

 É o que se chama “dar graxa ao cágado”…
 

8 comentários:

  1. Náuseas e vómitos são o que sinto.

    Bom Domingo.

    Beijo

    Laura

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  2. Olá
    Aqui há gato com o rabinho de fora...
    «Cadê os outros...»
    Na verdade a podridão assola este país e atrofia-o ao mais alto nível. Os pobres são condenados e roubam-lhes os subsídios Ferias / Natal, mas os governantes e os seus acessores recebem todos os subsídios e mais alguns. Afinal nem todos são os sacrificados. Enquanto a maioria passa fome eles - governantes e afins podem esbanjar...

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  3. "sorrisinho sonso de escuteiro"

    Como não me lembrei disto primeiro?

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  4. "sorrisinho sonso de escuteiro"! Ele está é parecido com o Salazar quando era novo! Ou é da minha vista?
    No que diz respeito ao post, quando se rouba, neste país, deve roubar-se muito, para poder depois comprar a nossa Justiça. Será que não vou presa? Até já estou com medo, como no tempo da outra senhora...

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  5. Lamento, mas com o AO é "dar graxa ao cagado", o que tratando-se de políticos até fica mais acertado!

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  6. Nauseante prosopopeia nem um pouco convincente! Gentalha! Bah!
    Abraço, Célia.

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  7. Palpita-me que não foste à missa.
    Tão mazinha,tão exigente... Azedou-se-me o iogurte,também não era daquele da Júlia Pinheiro...
    Ó gentes da minha terra,ponde olhos e ouvidos na Carol,p.f.
    Kinkas

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  8. Obrigada, Kinkas! Já sabes há muito tempo que sou "torcidinha das orelhas"...

    Ó Rafeiro, para este governo até fica bem tirar o acento, mas o novo AO não retirou a acentuação às palavras esdrúxulas...

    Meus queridos, ainda bem que gostaram daquela comparação do PPC aos escuteiros... (desculpe-se-me, mas eu detesto escuteiros...É que fazer "bem" por encomenda para mim não dá! E depois aquela fardeta hitleriana também me dá volta ao estômago, que se há de fazer? Vêem como a Kinkas tem razão!...)

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