terça-feira, 19 de junho de 2012

19. Um dia no campo no Verão

Para mim, picnics e dias passados no campo, «jamé»! Que me desculpem os amantes das belezas e do silêncio (verdadeiramente assustador) do campo, mas para mim, não! E, garanto, já não é de agora. Teria eu os meus três anos ou por aí, a minha mãe, sempre preocupada com a saúde da sua menina, resolveu, um Verão, alugar um quarto em Santa Iria da Azoia, zona rural de Lisboa à época, para a menina «mudar de ares», como era costume dizer-se. É bom que se saiba que antes de eu nascer, a minha mãe sofreu duas gravidezes mal sucedidas e, ao que sei, o parto do meu nascimento ia correndo muito mal para ela, de tal modo que, na brincadeira, eu costumo dizer que fui o terceiro aborto da minha mãe… Além disso, a minha mãe teve sempre uma saúde muito frágil e receava que eu lhe seguisse os passos. O que não aconteceu porque a minha avó espanhola e mãe dela, que me criou, alimentou-me a leite condensado, a caldos de galinha e a outras coisas boas que agora não vêm ao caso, o que fez de mim a moçoila que já vão conhecendo.

Ora estava eu a falar da nossa ida para o campo. Que não correu bem! Aconteceu que, enquanto os meus pais passeavam comigo lá pela natureza, e não sei mais por onde, ainda suportava; porém, assim que entrávamos em casa, eu desatava num berreiro que ninguém me aguentava! Como já deu para perceber, tenho uma boa memória e posso afirmar que guardo umas imagens foscas dessa realidade: de chegar às imediações da casinha, de porta e janelas encarnadas e de me tomar de uma tristeza tal que só me dava para chorar… De tal modo que ao fim de dois ou três dias, os meus pais, exaustos, agarraram em mim e na tralha e casa com eles!


Santa Iria da Azoia noutros tempos (imagem da net)

Não sei se foi trauma, se é só mania, mas campo para mim, não, obrigada! Gosto de passar e ver o colorido, as árvores, os pássaros e as flores, tirar umas fotografias das belezas – e elas são muitas no nosso país – mas depois, voltar ao aconchego da minha casa ou de um simpático hotel… 

A propósito das maravilhas que as pessoas apregoam sobre o campo, vem-me sempre à ideia a triste lembrança que já não sei que autarca de Leiria, com o "prestimoso" patrocínio dos Rotários (!) teve de homenagear a zona mais rural da cidade – as Cortes, que são os arredores mais bonitos de Leiria – e, na rua urbana onde vem desembocar a Estrada das Cortes, mandou erigir um monumento aos naturais dessa bela zona, tão obsoleto e tão saudosista de outros tempos que o considero um verdadeiro insulto à ruralidade. Eu acho, mas ... Querem ver?

A rotunda










No campo, não, obrigada! E de tal modo não, que já disse às minhas filhas que, quando virem necessidade de me submeterem aos cuidados de uma instituição sénior, não escolham, por amor de Deus, um daqueles lares situados no meio do pinhal ou nos arrabaldes de uma qualquer aldeia para os velhinhos terem “qualidade de vida” – como se usa agora dizer. Para mim, a dita «qualidade de vida» mesmo quando for velhinha é no Largo do Saldanha ou, se isso não for possível, ali perto da Praça Rodrigues Lobo… 




16 comentários:

  1. O que me ri com este post!
    E eu que vinha propor-te abrirmos uma pensão para a 3ª idade no campo. Até me lembrei de te convidar a comer a posta, que tanto gostas, mas assim sendo ainda te dá uma coisa má por lá e depois, não tendo dinheiro para te trazer de volta, teria que te arranjar uma última morada demasiado sossegada.:))
    (agora és tu que me mandas às urtigas!lol)

    beijocas, ó citadina, verdadeira amante de praia e confusão! (sabes que às vezes também a procuro?A confusão...:))

    NINA

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  2. Ainda estou a pensar nos velhinhos do lar... coitados. Quando a Graça for para lá, lá se vai o sossego deles.
    :)

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  3. Tens razão... Isto é, tens e não tens. Os que figuram lá na rotunda, parecem, desse horror ao campo, partilhar...
    parecem que estão todos a pôr-se a cavar...

    Parece pois!

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  4. Adoro ler tudo o que escreve, Graça!

    Acabo sempre a rir com umas coisas, a sorrir com outras :)

    Beijinho

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  5. Pois é, as pessoas são diferentes... Eu gostava muito dos passeios no campo, quando era miúda. É até com saudade que recordo as manhãs na praia de Vila Praia de Âncora, quando o tempo permitia, e as tardes na Gelfa, onde a minha mão nos arranjava um pão com chocolate negro (fabricado localmente) para o lanche tipo piquenique, e andávamos ali a correr e a brincar entre o arvoredo, junto com os meus primos. Foi lá que vi as primeiras rãs, pequeninas que li andavam também a saltitar e a coaxar... :)))

    Quanto ao monumento, também o acho de mau gosto. Mas quer dizer, em Lisboa temos pior, no cimo do Parque Eduardo VII! :P

    Beijocas, Graça!

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  6. rrss rrss Dás-me permisão de assinar por baixo, dás? rrsss

    Bon sonhos, Gracinha

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  7. Estava a comer uma salada enquanto lia o teu post e ia-me engasgando com a primeira gargalhada!
    Essa do lar está boa! Eu tb quero um na cidade, preferivelmente, em frente de um cineplex! : )

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  8. Passear no campo com uma cestinha no braço, é uma coisa, viver lá é outra bem diferente!
    A ruralidade dessa rotunda que eu conheço tão bem é bastante pirosa, aliás já havia algo semelhante mas não colorido à entrada do Marachão, ao lado do agora antigo hospital!
    Lar sénior só mesmo em Lisboa...por isso é que já lá arranjei um! :-))
    Na Praça Rodrigues Lobo só do lado do Ateneu para vermos o Castelo!

    Abraço

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  9. Bem, Graça... um santo remédio para alegrar mente e coração foi a leitura de seu post!! Sua escolha para "qualidade de vida"... na última etapa... valha-me Deus... seria também com um belo copo de vinho? Com certeza, não?!
    Bjks. Célia.

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  10. Olá Carol!

    Fazer comida ou adquiri-la feita, encaixotá-la para depois a ir comer ao ar livre, sentada no chão ou em bancos nada cómodos, com o vento a fazer voar toalha e guardanapos,e moscas a saudarem-nos,não me convidem.
    E se levármos loiça, no regresso ela vem pavorosa de aspecto e cheiro...Gosto de passear no tal socêgo,mas que haja um restaurante limpo por perto.E regressar para dormir em casa.

    Aproveito e faço-lhe um pedido (estou como os politicos) é se me dá o seu voto... por favor passe no meu blog. Desde já obrigada.

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  11. Este texto, está o máximo! além de bem humorado é desconcertante heheheh.
    Muitos parabéns
    Bjs

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  12. Estimada Amiga Graça Sampaio,
    Nem todos somos iguais, tal como duas gotas de água. Para si o campo lhe deixou más recordações mas tem o seu encanto e beleza.
    Eu que andei trabalhando no mar durante 25 anos e que muitos adoram, nos dias de hoje para mim o mar está como o campo para si, mas vivo diante dele para o não esquecer.
    Muitas vezes passo meses numa aldeia na floresta, lá bem no norte da Tailândia, a única coisa que me aborrece é acordar às 4 da manhã pelos galos da vizinhança rsrsr
    Abraço amigo
    Abraço amigo

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  13. Adoro o silêncio do campo, escutar os "barulhos" da natureza, mas ,algum tempo depois , o silêncio até magoa...nessa altura , vai-se para a civilização....M.A.A.

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  14. Já me ri bastante com o teu post, que li logo pela manhã.
    Eu prezo muito o silêncio, a calma e a beleza da aldeia (no Gerês), se bem que não dispense a alternância com a minha Invicta.
    Já aqui estou, de "armas e bagagens" para festejar o São João.
    Qual terá sido o infeliz autarca que teve a ideia de colocar aí esse mamarracho!?

    Beijinho

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  15. Graça
    Obrigada por este momento em que me fizeste rir.
    Conheço bem as Cortes!
    Quanto ao viver no campo, nós temos casas na cidade da Marinha Grande e optamos por vir viver no meio do campo e floresta que faz parte da vila de monte Real, triste sinto-me eu se tiver que sair daqui, acredita, e tenho dias que só ouço e vejo passarinhos, os nossos gatos e o meu Rodrigo´.

    Beijinho e uma flor

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  16. :)

    e eu que gosto do campo, fartei-me de rir.

    abraço Graça

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