A costureira é uma jovem senhora
que trabalha ali num armazém de roupas de uma loja fina de Leiria. Faz os
arranjos nas roupas das clientes da loja fina e, para além disso, faz arranjos
nas roupas da clientela aqui da(s) rua(s). Farta-se de trabalhar e não tem mãos
a medir.
Trabalha ali sozinha e, muitas
vezes, há vizinhas que se sentam lá a conversar e a fazer-lhe companhia (e a moer-lhe a cabeça com conversas da
treta…).
Hoje tive de lá ir descarregar
mais umas coisinhas para arranjar – que eu de costura só pregar botões e coser
bainhas e já não é mau! – e ela, que é uma doçura de pessoa, pediu desculpa por
não ter feito ainda as emendas noutras peças que lá tinha deixado. Que as
pessoas não fazem ideia do trabalho que dá fazer uma emenda nem que se seja
para apertar ou alargar uma saia ou umas calças.
Estava lá uma senhora de mais de
oitenta anos de idade que se apressou a dizer que sabia bem dar o valor a esse
trabalho porque, na sua juventude, trabalhara de costura, no tempo em que tudo
se costurava em casa, cuecas, combinações, camisas de homem. «A primeira camisa
de homem que fiz foi para o meu irmão ir às sortes, toda branquinha, toda feita
por mim. Morreu na tropa na Índia.» - acrescentou com tristeza mal contida.
E, a propósito dos trabalhos
desses tempos longínquos, contou como, aos sete anos, lá na serra (da Estrela)
foram ela e os irmãos (depois de irem ao primeiro dia de escola nunca mais lá
puseram os pés porque havia que ir trabalhar no campo – só a mais nova teve
permissão para ir à escola e fez a 3ª classe) postos na serra a tomar conta das
ovelhas, com aquele frio, com a neve, ela com um xaile preto pela cabeça que,
quando chovia, deitava tinta preta porque era tingido… e o pai que lhe dizia
que não deixasse as ovelhas saltarem para fora da cerca que o patrão
cobrava-lhes vinte e cinco tostões por cada ovelha que saltasse…
E contou de como fez a sua vida
sem nunca ter aprendido a ler e de como conseguia ajudar as filhas a fazer os
problemas da escola: elas liam-lhos e ela fazia os cálculos de cabeça e
explicava-lhes… e de como aprendeu a fazer tantas coisas. E disse-o sem
saudosismos nem autocomiseração, sem aquele ar patético do bafiento culto das
tradições, num tom lavado e até um tanto envaidecido.
Gostei de ouvir as suas
histórias, mas não me venham nunca com aquela de que «antigamente é que era bom» - porque não era. Não era mesmo!
Nem sei há quantos anos não vou a uma costureira propriamente dita. Os senhores da tinturaria/lavandaria onde costumo ir é que me fazem as bainhas às calças. :)
ResponderEliminarTambém gosto de ouvir estórias de antigamente e também discordo de que o antigamente é que era bom. Pelo que ouvímos não era. Nem os jovens eram melhores que os de hoje como muitos pensam.
Mas hoje é que enchemos a boca de "resiliência"... :)
ResponderEliminarMinha querida Gracinhamiga I
ResponderEliminarJá está na Travessa o n.º 6 da saga É DIFÍCIL VIVER COM UM IRMÃO MONGOLÓIDE que desta feita leva o título Um vândalo mentiroso e traiçoeiro. Este texto tem imagem muito difícil, não aconselhável a pessoas sensíveis.
Voltarei depois para comentar.
Claro que "antigamente não era bom mesmo"... Temos hoje o conforto das máquinas, que com a maravilha da tecnologia, fazem tudo por nós tanto em casa, quanto nas atividades profissionais.
ResponderEliminarAbraço.
Muito bom Ainda vou à costeira. Adorei o texto!:))
ResponderEliminarGrandeza da lua, e do amor
Bjos
Votos de óptima Sexta - Feira.
Para muitos não era bom ... e basta escutar com atenção a história de quem tem uma vida preenchida de recordações e emoções!!!
ResponderEliminarGostei de ler...bj
Tens razão, também me irrita ouvir dizer que antigamente é que era bom, quando a vida há uns meros 50 anos era dura, difícil, por vezes impossível de viver…
ResponderEliminarA história é lindo e está muito bem contada, Graça
Bom fim de semana
Eu cresci com uma costureira, a minha querida Mãe!
ResponderEliminarDurante muitos anos, quando eu trabalhava sempre ia a uma costureira para fazer as minhas roupas, mas...
desde há 4 anos que deixei de trabalhar e, tudo acaba
Gosto de ouvir histórias de antigamente!
Estou bastante em falta com a visita a todos os blogues,
até os meus faço 1 ou 2 posts por mês
Há 4 semanas que ando mais ausente
há 10 dias que estou com uma broncopneumonia
que me tem dado muitos problemas
Enfim....quero sentir-me curada o mais breve possível
ONTEM fiz um post aqui:
http://tempolivremundo.blogspot.com/
Um abraço e bom fim de semana
Claro que não Graça. Só quem não conheceu as agruras desses tempos pode dizer que antigamente é que era bom.
ResponderEliminarAbraço