sábado, 30 de junho de 2012

30. Uma palavra que defina o Verão ... e este desafio

Absolutamente ESFUZIANTE!!!

(Foto de Francisco Mendes)

Muito obrigada a todos pela vossa paciência
ao fim de tantos textos sobre o Verão!

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Quadras para São Pedro




Parece, ó meu bom São Pedro,
Que se esqueceram de ti.
Nem uma quadra nos blogs
Nem no Facebook li…

Eu gosto de Santo António
E também de São João
Mas gosto mais de São Pedro
Que é do céu o guardião.

As noites de Santo António
São frescas e deslumbrantes,
As de São João são quentes,
As de São Pedro escaldantes.

Dei um cravo a Santo António
Levei outro a São João,
A São Pedro não dei cravos
Ofereci-lhe o coração.

Não fiques triste São Pedro
Por aos festejos pores fim
Os últimos são os primeiros
Toda a vida foi assim!

 

29. Uma paisagem de Verão

(Imagem retirada da net)

«A casa está construída na duna e separada das outras casas do sítio. Esse isolamento cria nela uma unidade, um mundo. O rumor das ondas, o perfume do sal, o vidrado da luz marinha, o ar varrido de brisas e vento, a cal do muro, os nevoeiros imóveis, o arfar ressoante do mar estabelecem em seu redor grandes espaços vazios, tumultuosos e limpos onde tudo se abre e vibra.

A casa é construída de pedra e cal e a sua frente está virada para o mar.

No andar de cima da fachada há três janelas e uma varanda com grades de madeira. No andar de baixo há três janelas e uma porta. Essa porta, as janelas e as grades da varanda estão pintadas de verde. No chão, ao longo da parede, corre um passeio de pedra que separa a casa das areias da duna.

Para além das dunas a praia estende-se a todo o comprimento da costa e só o limite do olhar a limita. E, de norte a sul, ao longo das areias, correm três linhas escuras e grossas de algas, búzios e concas, misturados com ouriços, pedaços de cortiça e pedaços de madeira que são restos de bóias e de barcos. Sobre a areia molhada que a maré cheia alisou o poisar das gaivotas deixa finas pegadas triangulares, semelhantes à escrita de um tempo antiquíssimo. (…)

Há na casa algo de rude e elementar que nenhuma riqueza mundana pode corromper, e, apesar do seu halo de solidão e do seu isolamento na duna, a casa não é margem mas antes convergência, encontro, centro. (…)

Quem do quarto central avança para a varanda e vê, de frente, a praia, o céu, a areia, a luz e o ar, reconhece que nada ali é acaso mas sim fundamento, que este lugar é um luar de exaltação e espanto onde o real emerge e mostra seu rosto e sua evidência.»

“A Casa do Mar”, Sophia de Mello Breyner Andresen, 1970

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Es tut mir Leid...



Oh que pena! Os alemães foram eliminados do Europeu de futebol!... E ainda por cima por uma equipa de PIGS!... Que pena, mesmo! A formiguinha organizada e trabalhadora do Norte “batida” por uma das cigarras cantadeiras e gastadoras do Sul!

É claro que os jovens atletas não podem levar com o “ódio” que grande parte dos europeus sente atualmente pela governação alemã, mas… lembram-se da fábula do lobo e do cordeiro: «Se não foste tu, foi o teu pai, ou o teu avô!» 

Assim estamos nós todos! 

À exceção do Sr. Platini, claro, que deve estar cá com uma birra!...

28. Uma sombra no Verão

A maior sombra no Verão é quando este está a acabar. Para mim, que sempre fui professora – até me parece que já nasci professora! - o fim do Verão trazia-me sempre as angústias, os receios, as incertezas que se sentem no final de cada ano quando um novo Janeiro teima inexoravelmente em nascer.

Mar de São Pedro, com nevoeiro

Nos anos – e foram muitos – que, em 31 de Agosto, deixava para trás o sempre brumoso mar de S. Pedro e em que dizia às minhas filhas para dizerem «Adeus, praiinha, até para o ano!», sentia sempre um imenso nó na garganta que nunca consegui explicar. Nunca gostei de Setembro. Nunca gostei do início do Outono. Não sei se pelo resvalar do brilho da luz para a névoa, se pelo triste minguar dos dias, se pelas incertezas que me apertavam o coração. E a imagem que me toldava a mente era a do náufrago que tenta a todo o custo atingir a margem e pensa «Será que chego lá?»

 
Em Setembro de 70 escrevia assim:

Fim de Verão

Quando o sol desce mais pálido
Além nas verdes colinas
hoje mais cedo que ontem
e inda mais cedo amanhã,
que a névoa de verão de esfuma
ao longo dos areais
e que o mar bate nas rochas
solitário e esquecido
em redondilhas de espuma
e em danças orientais,
então acaba-se o sonho,
o mundo da fantasia;
acabam-se os dias longos,
o prazer da beira-mar,
a fragrância dos pinheiros,
os encantos do luar.
Então acaba-se a vida
e começa a lassidão.
Quando o sol desce mais pálido –
cai tudo em estranho sono,
em suave mansidão –
e então preciso de ti,
de realidade e … de outono.


Não resisto ainda a deixar aqui a minha canção de fim de Verão, na encantadora voz de Paul Anka: “Summer’s gone”, de 1960.

 



quarta-feira, 27 de junho de 2012

Coisas de ginjas...

Estava eu muito entretida, hoje à tarde, a descaroçar ginjas para fazer a habitual ginjinha caseira quando, no meio delas todas, redondinhas, encarnadinhas e sumarentas me aparece ... um ginjo!

A sério! Querem ver?


27. Os meus óculos de sol

Vão decerto ser estes os óculos de sol mais originais de todo o universo de "As Amantes do Verão"! Quanto a isso não tenham dúvidas! Se não, vejam:

 


A família toda pronta para ver o anunciado eclipse do Sol no Verão de 99. Mas, se bem me lembro, não conseguimos "bispar" eclipse coisa nenhuma!...  Mas divertimo-nos muito!

terça-feira, 26 de junho de 2012

26. Um outfit de Verão

Não sei o que deu nas mulheres nas últimas décadas para andarem sempre de calças! Novas, velhas, altas, magras, gordas, slim ,obesas, - de calças. Sempre. Ai, que é muito prático, que são mais confortáveis, que são muito apropriadas para ir trabalhar, que assim, que assado. Tenho de ir viajar? – Vou de calças! Tenho de ir ao campo? – Vou de calças! Vou trabalhar e lá no meu local de trabalho há muitos companheiros homens? – Vou de calças! Por amor de Deus!

Já deu para ver que eu gosto de contrariar as “ondas” das modas. E não é só no vestir. Isto para dizer que, pelos meus treze anos – bem nos idos de 60 – quando muito poucas miúdas usavam calças, tive umas cinzentas claro, muito estreitinhas, a sete oitavos e com uma racha em redondo em cada perneira, que usava apenas em férias porque estava fora de questão poder levá-las para o liceu. Nesse Verão fomos, o meu irmão e eu, numa viagem de negócios que o nosso pai teve de fazer a Trás-os-Montes e eu, toda modernaça, lá fui exibir as minhas calcinhas modelo Brigitte Bardot. A nossa primeira paragem para pernoitar foi na cidade de Vila Real onde o meu pai teve de ir tratar não sei de quê, deixando-nos aos dois a passear pela cidade. Lembro-me do ar de espanto das pessoas a olharem para mim! E sei que, quando o meu pai voltou para junto de nós, ria-se porque ouvira dizer, na característica pronúncia transmontana: «Anda aí uma rapariga de calças!» Mas nunca fui muito habituée de usar calças a não ser como alternativa esporádica às saias. E, nas últimas décadas, em que especialmente entre Outubro e Maio, grande parte das mulheres faz questão de usar calças, poderão contar-se pelos dedos as calças que comprei. 

Quando raramente apareço de calças, é sempre uma grande admiração e, nem queiram saber as fúrias (caladas, claro, que eu sou uma pessoa muito bem comportada … já fui mais…) que apanho quando as “amigas” me dizem: «Olha, usas calças?! E até te ficam bem!» Enfim!
 
Mas para mim, saias sempre! Curtas, sempre! E vestidos também. Ah! E de Verão, hot pants, como estes que comprei nos idos de 70 numa daquelas lojas de referência do Chiado que já não há, e que tinha calções de marroquin azul-escuro com saia igual, aberta à frente fechando apenas com três ou quatro botões para ser usada sobre os calções. 

(Na Serra de Sintra)

 Agora vejam aqui a menina toda produzida com esse outfit modernaço a querer entrar no Casino do Estoril numa bela noite de Verão, para ir jogar nas máquinas e ser impedida por o porteiro achar que não tinha idade – 21 anos à época – para entrar. Lá tive de exibir o BI! eu que já tinha 24 anos e até já era casada! Agora escândalo mesmo foi quando, nessa mesma noite, na entrada de uma boîte – como se chamavam nesse tempo às discotecas – fui deixar o casaco e a malinha no vestiário e disse: «Olhe, deixo a saia também!»…
 
Mas esta minha tendência para usar calções já vem de antes. Aqui, tinha os meus onze anos e, no Verão, usava calções talhados e cosidos pela minha avó espanhola.


(Na Casa dos Penedos,em Sintra)

 No Verão, calções sempre!

(Em Milfontes)

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Bando de ...



Ao ver esta "foto de família" tão leve, tão informal a sair de uma reunião de conselho de ministros para celebrarem o seu primeiro belo ano de governo, vem-me à memória e aos lábios uma expressão de um texto antigo do ator Luís Miguel Cintra: bando de cagalhões!


25. Da janela do meu Verão




E está tudo dito, não está?
 ****
 
 O que amas de verdade permanece,
o resto é escória.
O que amas de verdade não te será arrancado
O que amas de verdade é tua herança verdadeira
Mundo de quem, meu ou deles
Ou não é de ninguém?
Veio o visível primeiro, depois o palpável
Elísio, ainda que fosse nas câmaras do inferno,
O que amas de verdade é tua herança verdadeira
O que amas de verdade não te será arrancado
 (...)
(Ezra Pound , Canto 81)

domingo, 24 de junho de 2012

Hipocrisia



Confesso que fiquei perplexa e não compreendi! Então a Câmara Municipal de Guimarães decidiu atribuir a medalha de ouro da cidade a Cavaco por considerar que este pertence a “um pequeno grupo de homens e mulheres de eleição que marcaram de forma indelével a vida democrática portuguesa”? Como?! Que marcou de forma indelével a vida democrática portuguesa?! Marcou como? Fazendo o quê? O que se lhe fica a dever? Ao lado de quem? De um Mário Soares? De um Cunhal? De uma Maria de Lurdes Pintassilgo? De um qualquer capitão de Abril? De todos aqueles homens e mulheres que lutaram e que sofreram nas prisões quando se opunham às manobras assassinas da ditadura, enquanto o dr. Cavaco fazia discretamente os seus estudos em Economia e declarava na PIDE que não pertencia a nenhum partido comunista e que nada tinha a ver com a mulher do pai? 

Não entendo! Ainda por cima vindo de uma Câmara de maioria socialista! Deve ser para ficarem “bem vistos na fotografia” das comemorações da Capital Europeia da Cultura. Mas se assim era, inventavam outra desculpa qualquer que não tivesse a ver com a vida democrática portuguesa! E logo numa altura em que o povo o recebe tão mal onde quer que vá e como aconteceu hoje mesmo na própria cidade de Guimarães.

Que grande hipocrisia!

24. Uma fruta de Verão


(imagem retirada da net)


Figos incondicionalmente! 

Podem acusar-me de dar o dito por não dito porque ainda aqui há dias eu dizia maravilhas da melancia. De facto! Mas que se há de fazer? Eu gosto de todas as frutas de Verão e de Inverno e de sempre – desde que não sejam tropicais!

Nem queiram saber como exultei ao ver, há anos, no belíssimo mercado de Barcelona, estes lugares de fruta tão bem disposta…




Mas figuinhos… hummmm! Docinhos, lampos, pretos, verdes, de pingo de mel… uma doçura! O problema é que, agora, com a mania das calorias e das dietas, os figos caíram como que em desgraça porque os nutricionistas puseram-se a dizer que engordam! Modas! Qualquer dia, inventam um estudo qualquer que vai defender exatamente o contrário e aí está o pessoal – especialmente o feminino – a comprar figos aos quilos…


(daqui)

 Ainda me lembro bem de, em Algés, as mulheres apregoarem naquele tom e naquela projeção de voz que só elas conseguiam: «Quem quer figos, quem quer almoçar!» «Olha o figuinho da capa rota!» Assim como apregoavam o peixe e a fava-rica. 

E nunca vou esquecer de quando estava a fazer as provas escritas do Exame de Admissão (esse o ministro (C)rato ainda não se lembrou de fazer ressuscitar… mas tenho a certeza que lá chegará…) no Liceu Maria Amália, nas manhãs quentíssimas dos finais de Julho de 58, ouvir os pregões que entravam pelos janelões do Liceu escancarados de par em par à espera que entrasse alguma brisa fresca: «Quem quer figos, quem quer almoçar!» E nós a fazermos o ditado e a redação e os problemas com oito contas daqueles em que havia um tanque com não sei quantas torneiras, umas que enchiam e outras que despejavam a não sei quantos litros à hora e depois era para acharmos o resultado em metros cúbicos… (Será que o ministro (C)rato chegou a fazer desses aos dez anos de idade? Não sei…)

Bom, mas hoje é para falarmos de figos e não de (c)Ratos! Sabemos da sensualidade que adicionamos à figura dos figos e então procurei poemas a propósito e olhem o que encontrei: um poema belíssimo da nossa conhecida e excelente poeta/blogger Lídia Borges, de Agosto do ano passado. 

 
Os figos já exibem
Seus sorrisos roxos e doces
Nos braços da figueira

Chegam-me às mãos dispostos
Em jeito de tentação
Sobre as folhas recortadas
Que um dia no Éden
Foram as vestes de Adão

Carnudos e suculentos
Quando libertos da pele
São pura sedução
Uma carícia na boca
Um gordo pingo de mel
Pecaminoso

Tão bom!


E outro, imenso mas imensamente bom do escritor mal-amado D. H. Lawrence, numa tradução excelente de Herberto Hélder.

 
A maneira correcta de comer um figo à mesa
É parti-Io em quatro, pegando no pedúnculo,
E abri-Io para dele fazer uma flor de mel, brilhante, rósea, húmida,
        desabrochada em quatro espessas pétalas.

Depois põe-se de lado a casca
Que é como um cálice quadrissépalo,
E colhe-se a flor com os lábios.

Mas a maneira vulgar
É pôr a boca na fenda, e de um sorvo só aspirar toda a carne.

Cada fruta tem o seu segredo.
O figo é uma fruta muito secreta.
Quando se vê como desponta direito, sente-se logo que é simbólico:
Parece masculino.
Mas quando se conhece melhor, pensa-se como os romanos que é
       uma fruta feminina.

Os italianos apelidam de figo os órgãos sexuais da fêmea:
A fenda, o yoni,
Magnífica via húmida que conduz ao centro.
Enredada,
Inflectida,
Florescendo toda para dentro com suas fibras matriciais;
Com um orifício apenas.

O figo, a ferradura, a flor da abóbora.
Símbolos.

Era uma flor que brotava para dentro, para a matriz;
Agora é uma fruta, a matriz madura.

Foi sempre um segredo.
E assim deveria ser, a fêmea deveria manter-se para sempre
     secreta.

Nunca foi evidente, expandida num galho
Como outras flores, numa revelação de pétalas;
Rosa-prateado das flores do pessegueiro, verde vidraria veneziana
    das flores da nespereira e da sorveira,
Taças de vinho pouco profundas em curtos caules túmidos,
Clara promessa do paraíso:
Ao espinheiro florido! À Revelação!
A corajosa, a aventurosa rosácea.

Dobrado sobre si mesmo, indizível segredo,
A seiva leitosa que coalha o leite quando se faz a ricotta,
Seiva tão estranhamente impregnando os dedos que afugenta as
   próprias cabras;
Dobrado sobre si mesmo, velado como uma mulher muçulmana,
A nudez oculta, a floração para sempre invisível,

Apenas uma estreita via de acesso, cortinas corridas diante da luz;
Figo, fruta do mistério feminino, escondida e intima,
Fruta do Mediterrâneo com tua nudez coberta,
Onde tudo se passa no invisível, floração e fecundação, e maturação
Na intimidade mais profunda, que nenhuns olhos conseguem
 devassar
Antes que tudo acabe, e demasiado madura te abras entregando
   a alma.

Até que a gota da maturidade exsude,
E o ano chegue ao fim.

O figo guardou muito tempo o seu segredo.
Então abre-se e vê-se o escarlate através da fenda.
E o figo está completo, fechou-se o ano.

Assim morre o figo, revelando o carmesim através da fenda púrpura
Como uma ferida, a exposição do segredo à luz do dia.
Como uma prostituta, a fruta aberta mostra o segredo.

Assim também morrem as mulheres.
 
Demasiado maduro, esgotou-se o ano,
O ano das nossas mulheres.
Demasiado maduro, esgotou-se o ano das nossas mulheres.
Foi desvendado o segredo.
E em breve tudo estará podre.

Demasiado maduro, esgotou-se o ano das nossas mulheres.


Quando no seu espírito Eva soube que estava nua
Coseu folhas de figueira para si e para o homem.
Sempre estivera nua,
Mas nunca se importara com isso antes da maçã da ciência.


Soube-o no seu espírito, e coseu folhas de figueira.
E desde então as mulheres não pararam de coser.
Agora bordam, não para esconder, mas para adornar o figo aberto.

Têm agora mais que nunca a sua nudez no espírito,
E não hão-de nunca deixar que o esqueçamos.

Agora, o segredo
Tornou-se uma afirmação através dos lábios húmidos e escarlates
Que riem perante a indignação do Senhor.

Pois quê, bom Deus! gritam as mulheres.
Muito tempo guardámos o nosso segredo.
Somos um figo maduro.
Deixa-nos abrir em afirmação.

Elas esquecem que os figos maduros não se ocultam.
Os figos maduros não se ocultam.
Figos branco-mel do Norte, negros figos de entranhas escarlates do Sul.
Os figos maduros não se ocultam, não se ocultam sob nenhum clima.
Que fazer então quando todas as mulheres do mundo se abrirem na
     sua afirmação?
Quando os figos abertos se não ocultarem?


in “As Magias”
versão de Herberto Hélder

sábado, 23 de junho de 2012

Em noite de S. Joao


Quadras de São João

No altar de S. João
Nascem rosas amarelas
S. João subiu ao Céu
A pedir pelas donzelas.

S. João adormeceu
Debaixo da laranjeira;
Caiu-lhe a flor em cima,
S. João que tão bem cheira!

Ó meu S. João Baptista,
A vossa capela cheira,
Cheira a cravos, cheira a rosas
E a flor de laranjeira.

Agora no São João
É o tomar dos amores;
Estão os linhos nos campos,
E toda a terra tem flores.

(in “Tesouros da Literatura Popular Portuguesa”, Verbo,  1985)

 
Estas foram escritas por mim em Junho de 1970

S. João desceu à terra
Tentado pelo demónio,
Mas triste vê que as mais belas
Antes querem Santo António.

Não te zangues, S. João,
E vem daí às fogueiras;
Olha que as mais belas são
Quase sempre traiçoeiras.

 
E o meu pai, barcelense assumido (e muito maroto), cantava assim:

São João p’ra ver as moças,
Ai fez uma ponte de prata.
Ai as moças não passam lá
E o S. João todo se mata!

Rebimba o malho,
Rebimba o malho,
Rebimba o malho
E vamos todos para o … trabalho...

(desculpem qualquer coisinha... mas em noite de São João, não me levem a mal, não?...)

23. Um som de Verão

Alentejo (retirado do blog Casa das Primas)

Que som tão sugestivo o do cantar das cigarras! Que sensação tão cheia, tão ampla, quando se atravessa o belo Alentejo em dias de muito calor, no meio de todo aquele amarelo-sol, e se ouve o cante das cigarras embriagadas de vida e de cor como se de ambrósia se tratasse! Respirar aquele som que inebria... Sentir aquela vibração que nos enche a alma... Muito bonito!
 


E é então que penso quão injusta é a fábula da Cigarra e da Formiga. Que alegria nos trazem as formigas? Por isso (e não só por isso) sempre preferi a história inversa à de La Fontaine que já corria no meu tempo de liceu e que dizia assim:


«Conta-se que um dia, estava a boa da formiga à porta de casa andrajosa e triste, varrendo o caminhito em que se situava o seu pobre casebre, quando lhe para a amiga cigarra, loira e bem produzida, botox e unhas de gel, no seu belo SLK descapotável e lhe diz:

- Olá, amiga, queres vir daí? Vou para Paris atuar no Olympia e daí parto em tournée pela Europa…

Ao que a formiga, deprimida e algo despeitada responde:

- Olha, já que vais para Paris, faz-me um favor: se por acaso vires por lá o La Fontaine, diz-lhe, que mando dizer eu, que vá à merda…»

(Outro dia contarei outra versão desta fábula, bem mais reacionária...)