quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Há-de vir um Natal

(Presépio de Machado de Castro)

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que o Nada retome a cor do Infinito 

(David Mourão-Ferreira, in 'Cancioneiro de Natal')


(Penso tantas vezes nisto! Mas nada podemos fazer para fugir ao nosso destino, não é? Quem me dera possuir o estoicismo de Ricardo Reis!)

11 comentários:

  1. Não conhecia este poema do David Mourão-Ferreira. Saberia já da febre do consumismo que transformou o Natal numa imensa loja de comércio?
    Custa a admitir, mas um Natal feito da febre do consumismo é já um "Nada a sós connosco".
    Até as crianças parecem menos inocentes...

    Um beijo

    Lídia

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    1. Ai as modas... Ai o «ter» e o «mostrar» e o «ostentar», Lídia!

      Beijinho

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  2. Um belo poema que eu não conhecia. O sentido, bom o sentido eu nem quero pensar. Quando esse dia chegar, se eu não partir antes sofrerei então. Sofrer por antecipação, não.
    Abraço

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    1. A mim acontece-me. Por vezes. Às vezes. Muitas vezes. Mas para frente é que é o caminho...

      Beijinho

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  3. ~~º~*~º~*~º~*~º~*~º~*~º~*~º~*~º~~
    «Das habilidades que o mundo sabe,
    esta é ainda a que faz melhor: dar voltas.»
    ~~~~ José Saramago.

    ~~~~~~ Beijinhos.
    ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~ ~

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Que seja um Natal de Paz.
    Acima de tudo de Paz.
    Beijinhos, bfds

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    1. «Acima de tudo de Paz» num mundo dominado pelo ódio e pela guerra.

      Beijinhos, Pedro.

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  6. Não sei se virá um Natal assim
    Tudo nos tiram e apagam memórias
    Será que tudo vai ter um fim
    Seremos nós que procuramos glórias?

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  7. Ai que mal andamos, amigo Luís!! Que mal nos sentimos...

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