terça-feira, 26 de maio de 2020

Faz cem anos que nasceu Rúben A.

(daqui)


Faz hoje 100 anos que nasceu Ruben A., o mais “secreto” dos grandes autores portugueses. Ruben Alfredo Andresen Leitão nasceu em Lisboa (1920) e morreu em Londres (1975), cidade onde viveu entre 1947 e 1952. (Era primo direito de Sophia de Mello Breyner.)

Aos 7 anos mudou-se de Lisboa para o Porto, ali tendo ficado até aos 19 anos. Quem leu «Os Meninos de Ouro» de Agustina Bessa-Luís reconhece-o numa das personagens da quinta do Campo Alegre. Esse intervalo fora de Lisboa coincide com a licenciatura em Ciências Histórico-Filosóficas, na Universidade de Coimbra.

Em Novembro de 1950, já com obra publicada — contos, monografias históricas, uma bibliografia sobre os Arquivos de Windsor, dois volumes do diário, uma peça de teatro e a biografia de D. Pedro V, rei de quem disse ter sido «o primeiro homem moderno que existiu em Portugal» —, e sendo leitor de português do King’s College de Londres, Salazar foi peremptório: «O Autor não pode representar Portugal nem ensinar português.» Não obstante, «o maluco...» (assim lhe chamava o ditador) manteve-se no lugar, que dependia do Instituto de Alta Cultura. Durante esses anos, Ruben A. divulgou na Universidade de Londres autores como Gil Vicente, os modernistas portugueses e Miguel Torga, ao mesmo tempo que fazia conferências em Oxford e Cambridge. Data dessa época a sua relação com T.S. Eliot, de quem viria a traduzir «The Cocktail Party» (1949, teatro).

De regresso a Lisboa, casou com Rosemary Bach (mãe dos seus quatro filhos) e fez uma passagem fugaz pelo ensino secundário. Entretanto, torna-se funcionário da embaixada do Brasil, onde permanecerá entre 1954 e 1972, ano em que foi para a administração da Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Antes de morrer ainda ocupará o cargo de director-geral dos Assuntos Culturais do ministério da Educação e Cultura.

Embora publicasse desde 1949, ano em que deu à estampa o primeiro dos seis volumes do seu diário — «Páginas» —, o essencial da obra literária arranca com a edição de «Garanguejo» (1954), atingindo o cume com «A Torre de Barbela» (1964) e «Silêncio para 4» (1973). Os três volumes da autobiografia — «O Mundo à Minha Procura» — serão publicados entre 1964 e 1968. Depois da sua morte chegou às livrarias o romance «Kaos» (1981), posfaciado por José Palla e Carmo. A obra de historiador é muito extensa, terminando em 1975: «A Acção Diplomática do Conde de Lavradio em Londres 1851-1855». Além dos títulos aqui citados, Ruben A. publicou outros romances, livros de contos, narrativas de viagem, peças de teatro, volumes de correspondência de D. Pedro V e ensaios de investigação histórica.

A 26 de Setembro de 1975, um ataque de coração fulminante impede-o de ocupar o cargo de Senior Fellow no St Antony’s College, de Oxford. Tinha 55 anos e vivia então com Maria Luísa Távora. Está sepultado em campa rasa no cemitério de Carreço, perto de Viana do Castelo.


(Texto de Eduardo Pitta)

Deixo aqui  um texto deste (des)conhecido autor.

O Amor é Inevitável


(O Amor) É inevitável, faz parte da combustão da natureza, é força, mar, elemento, água, fogo, destruição, é atmosfera, respira-se, quando se morre abandona-se, o amor deixa, fica isolado, é um elemento, come-se, bebe-se, sustenta pão, pão diário para rico e pobre, pão que ilumina o forno do amassador, aparece nas condições mais estranhas, bicho que nasce, copula dentro de si mesmo, paira, espermatozóide e óvulo, as duas coisas ao mesmo tempo, amor é assim outro elemento fundamental da natureza, as pessoas vivem tanto com o amor, ou tão alheias do amor, que nem notam, raro percebem que o amor existe, raro percebem que respiram, que a água está, é indispensável, ninguém pode viver alheio aos elementos, ao amor.

Ruben A., in 'Silêncio para 4'


7 comentários:

  1. Não conhecia. Fiquei a conhecer. Grato pela partilha.
    .
    Saudações
    Proteja-se

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  2. «Os Meninos de Ouro» é um dos poucos livros que não li de Agustina Bessa-Luís, mas fiquei com curiosidade.

    Quanto ao Ruben Alfredo Andresen Leitão somente sei, que ele era primo direito de Sophia de Mello Breyner, mas não conheço a sua obra. Após de ler que o amor é inevitável, tenho que ler 'Silêncio para 4'.

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  3. Não o conhecia, nem li nada dele, mas hoje por coincidência chegou o livro dele A Torre de Barbela da colecção Miniatura que encomendei na Bertrand - porque gosto da colecção e quando o vi anunciado fiquei curiosa. Gostei muito deste post, da possibilidade de ficar a saber mais sobre o escritor.
    um beijinho e uma boa noite

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  4. Dele só tenho e só li A Torre de Barbela mas foi há tanto tempo que não consigo fizer nafa sobre este livro.
    Li Os Meninos de Ouro mas não o reconheci por lá.

    Abraço

    Abraço

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  5. Conheço o nome, mas nunca li nada dele.


    Tudo de bom e saúde

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  6. Só conheço o nome, não a obra.

    Beijinho Graça

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