segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Começaram as aulas


 Foi hoje que começaram as aulas. Com menos horas no currículo dos alunos; com disciplinas diferentes; com muito menos professores nas escolas e muitos mais a engordarem as filas para o pedido do subsídio de desemprego e a emagrecerem o número de funcionários públicos que é o que convém para ajudar o governo a manter junto de Frau Merkel a sua imagem de "bom aluno"; com 3,9% do PIB para investimento na educação (ao nível da Indonésia) contra os já então baixos 5,9% gastos em 2009. 

Ah! E com mais horas semanais letivas  para os professores, com exames aos miúdos de dez anos - modelo único em todo o mundo ocidental - e com mais alunos por turma, num máximo de trinta!

Não vem daí nenhum mal ao mundo dizem os "treinadores de bancada" da educação e os Velhos do Restelo desta terra - que são muitos! A minha Mãe, que era professora primária, tinha, nos anos 60  na sala, à volta de 40 alunas das quatro classes e o sucesso no exame da 4ª classe e no exame de admissão era quase sempre total. Eu própria tive turmas de 34 alunos nos anos 80 quando as escolas não tinham salas que chegassem para albergar o boom de alunos nos 7º, 8º e 9º anos de escolaridade quando passou a ser obrigatória. 

E deve ser isso que este ministro (C)rato pensa! Só que ele não sabe porque só vê números que os alunos de hoje não são os alunos desses tempos. As condições e os condicionalismos das diferentes épocas são incomparáveis. A sociedade de hoje nada tem a ver com a dos anos 80 e muito menos com a dos tempos do obscurantismo. Nesses tempos não eram todas as crianças que iam para a escola e as que iam, se não obedecessem cegamente às normas impostas ou que não conseguissem ou não tivessem vontade de aprender, acabavam por sair da escola, fazendo-se assim a triste "seleção".

Atualmente as coisas não funcionam assim. Os alunos todos, de todas as condições, têm o direito e o dever de ir à escola e de sair de lá com um diploma. Por outro lado, a forma de ser e de estar das crianças, bem como a das famílias e a da sociedade em geral, nada tem a ver com a forma de viver de antigamente. Assim, como querem que um professor consiga (man)ter 30 alunos em cada turma, de hora a hora, juntando sete ou oito turmas no seu horário e no fim garanta sucesso a todos ou, pelo menos, à grande parte deles? Será que o senhor ministro (C)rato conseguiria?

(Uma turma de rapazes da 4ª classe de uma escola Conde Ferreira nos anos 50)

12 comentários:

  1. Faço votos que tenha um grande ano, Graça e, que no final, possa dizer que ainda tem esperança em que os profs sejam tratados com a dignidade que merecem

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  2. Minha querida , não refiles: muita sorte temos nós ( e as crianças e adolescentes ainda mais) que o nosso sapiente Nuno Crato ainda não tivesse enchido os estádios de futebol do Euro e põr um/a professor/a leccionar num palco e com ecrãs gigantes.

    Já viste o que se economizava? Além disso, assim se salvariam também os ditos estádios em risco de serem arrasados por causa do custo da manutenção.

    Bons sonhos

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  3. Graça,
    Não irá ter Nuno Crato como aluno.
    Sortuda!
    Não vai ter que analisar trabalhos de Miguel Relvas.
    Sortuda!

    Um ano em cheio é o que se deseja.
    Para o bem da sua classe e de toda a Educação.

    P.S. - Aqui, onde vivo, existe uma agora chamada EB1 com o nome de Conde Ferreira.

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  4. Aqui temos a Bill 115 que foi aprovada pelos liberais e pelos conservadores. Deram-lhe o nome de “Putting Students First Act 2012”. Brilhante ideia do nosso “Premier”, Mr. McGuinty. Congelamento de salários, redução dos dias de baixa e de outros benefícios e... cúmulo dos cúmulos – não permite que os professores façam greve, o que é uma raridade nesta província.
    Hoje, os professores das escolas elementares, iniciaram as “McGuinty Mondays”. Às segundas-feiras não comparecem a reuniões, não participam em atividades extracurriculares ou outras que não façam parte das suas responsabilidades como docentes.

    4 de setembro foi o primeiro dia de aulas.

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  5. "Ao Mestre Com Carinho"... é um lindo filme... Que ele tenha uma "varinha mágica" para facilitar suas estratégias pedagógicas! Mais uma vez se vê a implantação da mediocridade, pois quanto menos sábios mais fácil de conduzirem "seus súditos"... Não se pensa mais na qualidade... Aulas de sucesso por aqui são aquelas em que o professor, de microfone à la Xuxa, dá seu show! Diverte os alunos, arranca-lhes gargalhadas e, assim, os prepara para a universidade de onde sairão os profissionais do futuro! Isso é motivação? Estou rasgando meus diplomas!
    Bj. Célia.

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  6. A sociedade, também ela, precisa de pensar a escola como sua e não dos professores. Quando se fala de desemprego na classe docente parece haver uma dissociação deste factor com a qualidade do ensino prestado nas escolas.
    Ainda ontem uma mãe dizia perante as câmaras que, ou os professores se esforçam mais, ou como poderão eles, "coitados", dar apoio aos trinta alunos que têm na sala. Como se a questão dependesse apenas do empenho dos professores.
    Só quem é professor sabe a angústia que fica, no final de uma aula, quando não consegue chegar a todos e a cada um, da forma que o aluno merece e tem direito. Mas o professor ainda não é um "robôt"...
    Para bem da Educação.

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  7. Minha amiga, só desejo que apesar das dificuldades impostas, consiga alcançar os seus objectivos pessoais.
    Estamos a assistir a um retrocesso a todos os níveis infelizmente.
    Mas estou confiante numa mudança!

    beijinhos

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  8. Dignidade no ensino é um conceito que escapa completamente a este ministro só virado para os cifrões. A ele, ao PM e ao restante elenco governativo, que o bom senso também não reina naquelas cabecinhas de ar e vento...

    Beijocas, Graça!

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  9. Que as aulas tragam esperança aos alunos e aos professores, que o nosso (des)governo possa dar mais valor à dignidade do ensino!

    Graça tiveste uma visita no post anterior da minha "alma de passaro", fiquei surpreendida.

    Beijinho e uma flor

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  10. Não acredito, Catarina! Até no Canadá?! Mas os professores canadianos sabem como responder...

    Observador, esses não vão de facto ser meus alunos - e outros só em aulas particulares porque estou fora há dois anos - que sorte para eles!...

    As escolas Conde Ferreira foram criadas no tempo da República só para rapazes por todo o país quando quase não havia escolas, tendo continuado a ser aproveitadas no tempo de Salazar.

    Lídia, também ouvi essa mãezinha a dizer baboseiras na televisão! Até fiquei com pele de galinha! É o que eu digo toda a gente se vê com autoridade para mandar papaias sobre educação e sobre os professores!

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  11. Não consigo acompanhar o teu ritmo de postagens (termo que detestas)! :-))
    Nem a informação chega a aparecer nos meus favoritos!
    Quando lá chego já passaram duas!
    Claro que subscrevo o que dizes, Gracinha!

    Abraço

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  12. A minha filhota também já começou as aulas. Está no 7º ano, está uma mulher...
    Acho que o início do ano é muito importante e tenho tentado estar sempre por perto, atenta às suas necessidades, afinal, como aqui em casa somos só as duas, é como se andasse na escola com ela ;)

    Um beijinho

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