(Imagem retirada da net) |
«A casa está construída na duna e
separada das outras casas do sítio. Esse isolamento cria nela uma unidade, um
mundo. O rumor das ondas, o perfume do sal, o vidrado da luz marinha, o ar
varrido de brisas e vento, a cal do muro, os nevoeiros imóveis, o arfar
ressoante do mar estabelecem em seu redor grandes espaços vazios, tumultuosos e
limpos onde tudo se abre e vibra.
A casa é construída de pedra e
cal e a sua frente está virada para o mar.
No andar de cima da fachada há
três janelas e uma varanda com grades de madeira. No andar de baixo há três
janelas e uma porta. Essa porta, as janelas e as grades da varanda estão
pintadas de verde. No chão, ao longo da parede, corre um passeio de pedra que
separa a casa das areias da duna.
Para além das dunas a praia
estende-se a todo o comprimento da costa e só o limite do olhar a limita. E, de
norte a sul, ao longo das areias, correm três linhas escuras e grossas de
algas, búzios e concas, misturados com ouriços, pedaços de cortiça e pedaços de
madeira que são restos de bóias e de barcos. Sobre a areia molhada que a maré
cheia alisou o poisar das gaivotas deixa finas pegadas triangulares,
semelhantes à escrita de um tempo antiquíssimo. (…)
Há na casa algo de rude e
elementar que nenhuma riqueza mundana pode corromper, e, apesar do seu halo de
solidão e do seu isolamento na duna, a casa não é margem mas antes
convergência, encontro, centro. (…)
Quem do quarto central avança
para a varanda e vê, de frente, a praia, o céu, a areia, a luz e o ar, reconhece
que nada ali é acaso mas sim fundamento, que este lugar é um luar de exaltação
e espanto onde o real emerge e mostra seu rosto e sua evidência.»
“A Casa do Mar”, Sophia de Mello
Breyner Andresen, 1970
Sophia!... Só ela poderia descrever assim um lugar, um momento, porque para Sophia os espaços amplos e abertos significam a liberdade - «...só o limite do olhar a limita» - O sujeito é encarado como parte integrante da Natureza sugerindo o bem-estar, a Unidade.
ResponderEliminarA esta luz na descrição de espaços abertos opõe-se a sombra na descrição dos espaços citadinos, espaços de dispersão que corrobora na divisão do sujeito e consequentemente no seu desassossego.
Gosto da claridade da obra de Sophia.
Um beijo
É sempre delicioso ler Sophia! E paisagem mais veraneante que essa, não há... :)
ResponderEliminarBom fim de semana, Graça!
E o que eu gostava de ter uma assim.:)
ResponderEliminarSophia...é Sophia (nem parece ser mãe daquele bruto!)
beijinhos, querida Gracinha
Devíamos, todos, ter memórias de uma casa assim onde cada espaço não fosse "acaso mas sim fundamento"...
ResponderEliminarParadisíaco lugar para viver a magia de grandes amores. Belíssimo!
ResponderEliminarBj. Célia.
Este mar que agora ouço não e o de Sofia mas também tem a sua poesia...
ResponderEliminar:)
Li a "casa do mar" e outras coisas de Sophia.
ResponderEliminarLinda esta imagem.
Beijinhoe uma flor
Mais um trabalho soberbo de Sophia.
ResponderEliminarLê-se a primeira frase e v~e-se logo que é de Sophia! :-))
ResponderEliminarAbraço