sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Passagem de Ano






O último dia do ano
não é o último dia do tempo.
Outros dias virão
e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
Beijarás bocas, rasgarás papéis,
farás viagens e tantas celebrações
de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com sinfonia e coral,
que o tempo ficará repleto e não ouvirás o clamor,
os irreparáveis uivos
do lobo, na solidão.


O último dia do tempo
não é o último dia de tudo.
Fica sempre uma franja de vida
onde se sentam dois homens.
Um homem e seu contrário,
uma mulher e seu pé,
um corpo e sua memória,
um olho e seu brilho,
uma voz e seu eco,
e quem sabe até se Deus...


Recebe com simplicidade este presente do acaso.
Mereceste viver mais um ano.
Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
Teu pai morreu, teu avô também.
Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
e de copo na mão
esperas amanhecer.


O recurso de se embriagar.
O recurso da dança e do grito,
o recurso da bola colorida,
o recurso de Kant e da poesia,
todos eles... e nenhum resolve.

Surge a manhã de um novo ano.
As coisas estão limpas, ordenadas.
O corpo gasto renova-se em espuma.
Todos os sentidos alerta funcionam.
A boca está comendo vida.
A boca está entupida de vida.
A vida escorre da boca,
lambuza as mãos, a calçada.
A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.


(Carlos Drummond de Andrade
in Poesia Completa, Rio de Janeiro, 2002)


BOM ANO aos Amigos, todos!

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Perdas de regalias das Direcções Executivas das Escolas



Nunca entendi muito bem a pressa do Governo em substituir os Conselho Executivos por Directores de Escola/Agrupamento até Maio de 2009 independentemente de aqueles órgão democraticamente eleitos por três anos terem ou não terminado os seus mandatos. (Dec. Lei 75/2008)

E foram-lhes dadas tantas benesses – mais poderes, mais elementos e muito melhores gratificações – que foi uma corrida às candidaturas. Isto para quem, ao longo de uma vida profissional inteira, se habituou a ver a dificuldade que era em muitas escolas para arranjar quem estivesse disponível para integrar os Conselhos Directivos (que depois se passaram a denominar Conselhos Executivos) foi um verdadeiro espanto! Houve até elementos de algumas Direcções Regionais de Educação que se propuseram para directores de várias escolas/agrupamentos; isto já para não falar de professores do ensino privado que não faziam a mínima ideia do que era dirigir uma escola secundária ou um agrupamentos de escolas públicas!

Que pensarão estes e especialmente os escolhidos ao assistirem aos constantes cortes que a Administração que tanto os lá quis, agora está a desferir-lhes?

Primeiro, com a criação em massa dos (malfadados) mega-agrupamentos, grande parte dos elementos das Direcções Executivas que se deveriam manter por quatro anos, foram (e vão continuar a ser) liminarmente dispensados.

Depois, cortaram no número de adjuntos – só as escolas ou agrupamentos com mais de 1800 alunos mantêm os três adjuntos iniciais (Despacho n.º 18064/2010). Depois anunciaram que o crédito horário especialmente atribuído para as assessorias técnicas vai passar a ser retirado da componente não lectiva dos professores ou, no caso de se tratar de professores que não tenham horas do art. 79º, deverá ser retirado do exíguo crédito horário das escolas.

Finalmente, na véspera de Natal, sai o Decreto Regulamentar n.º 5/2010 pelo qual os suplementos remuneratórios dos directores, subdirectores e adjuntos são cortados, sendo determinados em função do número de alunos das escolas, de acordo com o seguinte quadro:

                             Nº de alunos        Director      Subdir.     Adjunto
                             Mais de  1800         750 euros       400          375
                             De 1501 a 1800      750                375          350
                             De 1201 a 1500      700                350          350
                             De   901 a 1200      650                300          250
                             De   601 a  900       450                250          200
                             De   301 a 600        300                200          150
                             Até 300                   200                150          130
                        
Que mais lhes irá acontecer? E para que foi tanta pressa em mudar o modelo de gestão e administração das escolas?

Mas o que me intriga mesmo, é que não os vejo a reclamar nem a demitirem-se em sinal de protesto.

Apetece-me dizer: "Oh God, make me good, but not yet"... ...




quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Coro do Orfeão de Leiria



Mais perto já do Final de Ano do que do Natal, mas ainda abrangidos pelo brilho da  época natalícia, deixo-vos aqui uma bela amostra do que foi a actuação do Coro do Orfeão de Leiria na Sé de Leiria, no passado dia 20.

Vale a pena ouvirem porque cantam muito bem e interpretam lindos trechos de belas canções de Natal. É também assim como uma pequena homenagem minha aos amigos que lá cantam - a Maria João, o Luís Lobo, a Lúcia, o Francisco, a Luísa, - e ao jovem Maestro que tão bem rege e orienta aquele imenso grupo.





BOM ANO com muita música e muita alegria.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Para sorrir




Parece-me que a Mãe é o Pai Natal!
Santa inocência!...

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Bom Boxing Day!




Parece que os nossos comerciantes ainda não quiseram descobrir o Boxing Day! Já importaram o Hallowe’en, o St. Valentine’s Day, mas ainda não chegaram bem ao Boxing Day.

Este é mais um dia de celebração da tradição inglesa e ocorre no dia a seguir ao dia de Natal, se não recair num domingo. Se assim for, o feriado passa para a segunda-feira seguinte. É o caso este ano.

Neste dia, o excesso de mercadorias de muitos estabelecimentos comerciais entra em liquidação, sendo vendida por preços muito mais baixos do que os preços originais. É um dos dias mais movimentados do comércio. Esta é uma tradição que passou para os países de língua inglesa, como o Canadá e os Estados Unidos, embora nos EUA, o nome para o dia de saldos a seguir ao Natal seja Black Friday, para lembrar o dia do grande colapso da bolsa em Outubro de 1929. Alguma lojas em Portugal organizam a baixa de preços da Black Friday, mas muito poucas o fazem.

Tradicionalmente em Inglaterra, no dia de Natal, era posta uma caixa de esmolas (Alms Box) em cada igreja na qual os paroquianos colocavam um presente para os pobres; as caixas eram abertas no dia 26 e o seu conteúdo era distribuído pelos mais desfavorecidos. Daí que esse dia tivesse passado a ter o nome de Boxing Day.

No século XVIII, a nobreza rural, senhores das grandes propriedades, costumava pôr as sobras da comida das suas festas e presentes em caixas que distribuíam no dia 26 pelos trabalhadores das suas terras.

E a tradição de dar dinheiro e presentes aos trabalhadores continua ainda hoje: é costume dar gorjetas aos distribuidores diários, como por exemplo, ao leiteiro, ao carteiro, ao limpa-chaminés, ao rapaz dos jornais e, em algumas empresas, os patrões aproveitam este dia para dar um bónus em dinheiro aos seu empregados.


 


 

domingo, 26 de dezembro de 2010

Consoada


É assim há muitos anos: as minhas filhas e eu metemo-nos na cozinha e cada uma faz as suas "especialidades" do costume: a tarte de maçã, a tarte de amêndoa, o bolo inglês, o arroz doce, a mousse de chocolate, o salame de chocolate, um bolo de chocolate, as brisas e depois as migas, o assado, as caras de bacalhau cozidas e os grelos, o caldo verde. Ultimamente, as rabanadas já são compradas porque já não dá tempo para tudo...

Depois há que pôr a mesa que, este ano, ficou assim:




As prendas já lá estão todas à espera...

A Branquinha pensa que ela própria é uma prenda...



e a Ritinha não lhe quer ficar atrás...Olha ela ali, em pose!



Depois foram os miúdos a ver o que lhes calhava


e não saíam dali...


E, no fim, até fomos "apanhadas" a comer doces...


Se for assim no próximo ano, não será mau!
Como se costuma dizer:

"P'ra melhor, está bem, está bem!
P'ra pior já basta assim!"

sábado, 25 de dezembro de 2010

Natal





Nasce um deus. Outros morrem. A Verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.


Cega, a Ciência inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.


(Fernando Pessoa in  Ficções do Interlúdio)

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Voto de Natal



(Anjinhos em casa da Ana)

Acenda-se de novo o Presépio do Mundo!
Acenda-se Jesus nos olhos dos meninos!
Como quem na corrida entrega o testemunho,
passo agora o Natal para as mãos dos meus filhos.


E a corrida que siga, o facho não se apague!
Eu aperto no peito uma rosa de cinza.
Dai-me o brando calor da vossa ingenuidade,
para sentir no peito a rosa florida!


Filhos, as vossas mãos! E a solidão estremece,
como a casca do ovo ao latejar-lhe vida…
Mas a noite infinita enfrenta a vida breve:
dentro de mim não sei qual é que se eterniza.


Extinga-se o rumor, dissipem-se os fantasmas!
Ó calor destas mãos nos meus dedos tão frios!
Acende-se de novo o Presépio nas almas.
Acende-se Jesus nos olhos dos meus filhos.

(David Mourão-Ferreira, 1960)

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Solstício de Inverno



(Sol através de uma pedra do Stonehenge)

 
O Solstício de Inverno este ano ocorre no dia de hoje, 21 de Dezembro, pelas 23.38. Trata-se do momento em que a Terra está mais inclinada em relação ao Sol e, por isso, recebe menos luz. Marca, no hemisfério norte, o início do Inverno e hoje, dia 21, temos o dia mais curto do ano e portanto a noite mais longa. Que bom para quem gosta de dormir!

A partir de hoje dá-se a viragem do domínio da noite, começando os dias a ser progressivamente mais longos até ao Solstício do Verão, em 21 de Junho.

Na maioria das civilizações antigas, o Solstício de Inverno marcava o momento em que o astro-rei iniciava um novo ciclo sobre a terra derramando a luz portadora da esperança, símbolos de renovação, oportunidade de ampliação da luz interior de cada ser.

As celebrações do Solstício de Inverno assumiam grande importância na vida das comunidades. Constituindo-se como momentos agregadores de grande alegria e de transmissão de conhecimento. Eram , de igual modo, momentos propícios à reflexão ancestral e, por intermédio desta, determinantes na escolha dos objectivos para o novo ciclo que se iniciava. – Quem não estabelece, ainda hoje, novos objectivos no início de cada ano?

Eram, pois, ocasiões de partilha de sabedoria nas quais se manifestava a força resultante da comunidade e em que se festejava com muita beleza.

Não foi por acaso que a data da festa do nascimento de Cristo foi escolhida para esta altura tão próxima do início de um novo ciclo de vida.

(A partir de um belo texto do meu amigo FS)



(Stonehenge)



(Celebração do Solstício de Inverno junto ao Stonehenge)

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Postais de Natal


 


Havia anos, nos meus tempos de adolescente que eu escrevia trinta e mais postais de Natal: eram as amigas do peito, os tios, os avós, os amigos da praia (todos os anos fazia imensos amigos e alguns namorados na praia...) e as pessoas adultas que me mereciam consideração. Era um ritual. Escolher os postais mais bonitos e mais baratos para a minha mãe não resmungar. Lá em Sintra essas compras eram feitas  na Camélia e no Sr. Silva que tinha uma pequena papelaria junto à Periquita das queijadas e era muito surdo, o que dava para nos rirmos imenso à sua custa... Depois, ir comprar os selos de $50 (cinquenta centavos) que davam para enviar os postais desde que os envelopes fossem abertos. E, por fim, escrevê-los, todos com prosas diferentes, o que me dava para pelo menos duas tardes divertidíssimas.

Mantive sempre esse hábito que achava muito delicado e simpático da minha parte e recebia imensos postais lindíssimos cheios de palavras queridas, muitos dos quais ainda guardo. Ainda há poucos anos enchia a madeira da lareira com os imensos postais que recebia.

Quando estava na direcção da escola, costumava decorar a porta da entrada do gabinete e a janela em frente com os postais recebidos de outras escolas e de outras entidades. Ficava colorido, animado e dava para toda a gente poder ler e saber quem nos tinha felicitado.

Com o advento e o uso em massa da internet, foi-se perdendo esse hábito que, de algum modo aproximava as pessoas e fazia com que nos lembrassemos uns dos outros. Agora, recebem-se aqueles postais virtuais muito lindos mas, isso mesmo, virtuais e os mails que reencaminhamos para todos os contactos ao premir de um simples botão e pronto!

Tudo em nome da poupança de tempo. Que faremos com tanto livre que as novas tecnologias nos proporcionam? Entramos em depressão ou, então, mais saudável e menos dispendioso, dizemos mal do governo...

Deixo aqui uns postais de Natal muito originais especialmente para os amantes de cães e de gatos. Espero que gostem.

E, já agora, como se dizia nos ditos postais: Boas Festas e Feliz Ano Novo para todos!


 


domingo, 19 de dezembro de 2010

Exposição de Presépios


É tradição do "meu" Agrupamento  que já vem do Agrupamento horizontal de Leiria-Barosa, os professores do  1º Ciclo e do Pré-escolar realizarem uma exposição de trabalhos feitos com os alunos sempre subordinada a um tema que tenha a ver com a época do Natal. Este ano, o tema foi  'Presépios' e eu, lá fui até ao Turismo para espreitar. Admirei sempre a imaginação destes colegas e o trabalho que conseguem realizar com crianças tão pequenas. Esta pequena "reportagem" é, por assim dizer, o meu tributo a esse grupo de incentivadores de arte.


Anjinho anunciador

Presépio de boas-vindas

Presépios de ontem, hoje e amanhã


Presépio cartaz

Presépio de barro

Presépio de ovos

Presépio no vidro

Presépio de pinhas


Presépio de sacos de areia


Presépio de jornais


Presépio de toros de madeira


Presépio de folha de alumínio

Estão todos muito bonitos e são todos muito originais. Atrevia-me a propor aqui a eleição do "melhor", mas talvez seja difícil a partir de meras fotografias de uma (nem sequer) amadora... Talvez possa, porém, servir como desafio a irem até ao Turismo  para os verem in loco...

Eu, pessoalmente e sem desprimor para nenhum, voto no das pinhas.

sábado, 18 de dezembro de 2010




A propósito da tão noticiada crise e daquela bela frase do presidente da República "Envergonha-nos a todos saber que há portugueses com fome", o jornalista, escritor e historiador João Ferreira escreveu (mais) uma crónica bem crítica que termina de uma forma muito original e muito verdadeira que diz assim: "Os portugueses precisam de reabilitar uma palavra antiga que atitudes e preconceitos tornaram politicamente incorrecta: caridade. Todos, indivíduos e instituições, têm obrigação de ajudar, a começar pelos que mais podem. E não vale a pena vir agora dizer que a culpa é do Sócrates ou do Cavaco: também é dos camaradas do Chico Lopes que fizeram as nacionalizações em 1975 e do Salazar que condenou Portugal ao atraso e do D. João V que gastou o ouro do Brasil em conventos e palácios e do D. Manuel que expulsou os judeus e desperdiçou os lucros das especiarias..."

E, já agora, aproveito para dizer que li o livro do mesmo João Ferreira "Histórias Rocambolescas da História de Portugal" que achei muito interessante e que recomendo a quem se interessa pelas coisas da História de Portugal


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Gosto e Não Gosto





Havia uma rubrica na antiga revista de sábado do Diário de Notícias, a DNA, - revista aliás muito boa! - em que o editor convidava figuras públicas a dizerem dos seus gostos e "não gostos" conforme lhes vinha à cabeça. Sempre tive vontade de fazer isto comigo e, agora, que tenho o tempo menos ocupado, resolvi fazê-lo. Deixo aqui as minhas preferências correndo mesmo o risco de ser julgada por algumas delas e...

... convido os meus amigos a fazerem o mesmo ou parecido anotando rapidamente as coisas de  que gostam e não gostam e registando-as  aqui. Se assim o entenderem, naturalmente!


Gosto


de rir, de gatos, de café com leite, do mar, de rosas, dos Beatles, do arco-íris, de bolos de chantilly, do Verão, de ler, de bifes, de bailado clássico, de poemas de amor, de falar da escola, de viajar, do Natal, de Álvaro de Campo, de homens altos e morenos, de inglês, dos Diamantes, de praia, de fazer compras, de olhos esverdeados, de Sintra, de saias curtas, de pessoas sensíveis, de mulheres muito bonitas, de chocolate, de casacos de malha, da História de Portugal, de azul, de pessoas generosas, de ser do Carneiro, de dar prendas, de laranjas (...)


Não gosto


de azeitonas, de fado, de ratos, da Sic, de alemães, de ser contrariada, de pessoas arrogantes, de chuva, de banda desenhada, de morar na Estação, de vinho, de economia, de acender a lareira, do Cavaco, de limpar o pó, de cobras, de violência, de teatro de vanguarda, de ir a picnics, de pessoas sempre de óculos escuros, de matemática, dos domingos à tarde, de conversas de mulheres, do “antigamente é que era bom”, do Benfica, de descascar batatas, de criancinhas espertalhonas, das pessoas que dão conselhos, do Facebook, de jogos, da hipocrisia, de falar ao telefone, de vestir de preto, de trovoada (...)




quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Acontece...


Quando oiço falar no jornalista Carlos Pinto Coelho, lembro-me sempre de, pelo menos, duas coisas: do excelente programa cultural Acontece que passou diariamente durante anos na RTP 2 e da forma brutal como o ex-ministro Nuno Morais Sarmento, em 2003, acabou com o programa por questões financeiras dizendo que "O Acontece não está, sequer, entre os mais vistos" (...) ficaria mais barato pagar uma volta ao mundo a cada um dos espectadores do Acontece do que produzir o programa." ; e da formidável  imitação que o Herman José fazia dele. 

Sucumbiu, ontem, aos 66 anos de idade, a um ataque cardíaco. Lamento. Lamentamos todos. Era uma pessoa de valor, muito culta, muito interessada e versátil e, para os tempos que correm, ainda era novo e tinha muito para dar, como se costuma dizer. O coração não se compadece com idade, nem com valor, quando resolve parar. Acontece ...

Em jeito de homenagem, deixo este vídeo que tem muito a ver com o que atrás deixo escrito.



quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

All I want for Christmas is you



Com a falada crise, ainda bem que esta senhora que deixo aqui a cantar para vós diz que não se interessa por  presentes debaixo da árvores de Natal, nem por ir patinar no gelo, nem por nada daquelas coisas caras que as pessoas gostam de oferecer pelo Natal. Só o quer a ele!...

Oxalá ele esteja disponível... vai ser uma poupança!...

Merry Christmas!


terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Os Meninos do Colégio


Deparei-me hoje, cá em Leiria, com uma grande manifestação de crianças e adolescentes no Largo em frente do edifício da Câmara, gritando e alguns empunhando cartazes que, do carro, não consegui ler. Pensei: “Meu Deus, o que é que o Raul Castro fez a estas criancinhas? Isto é um Agrupamento...” E, por momentos, até pensei que se tratasse dos alunos do “meu” Agrupamento que é o mais central da cidade.

Mais tarde informaram-me, porém, que se tratava de uma manifestação dos alunos dos colégios a reclamarem contra o novo regime de financiamento às escolas privadas.

Não se tem lido nem ouvido outra coisa que não seja a “maldade” que este governo está a fazer em reduzir, já no início do próximo ano, do apoio aos 500 colégios apoiados de 114 mil euros para 80 mil euros por turma!

Francamente não sei do que se queixam! Não entendo por que razão o Estado, que tem as suas próprias escolas, muitas e boas, com bons corpos docentes e actualmente já com condições bastante boas, tem de estar a gastar milhões para apoiar o ensino privado. Entendi isso, nos anos 80 do século passado, quando se deu o boom da massificação, com os filhos das pessoas regressadas das ex-colónias e com o alargamento da escolaridade para os 15 anos, numa altura em que ainda não estavam construídas tantas escolas como as que temos actualmente por todo o país.

As famílias têm o direito de escolher o tipo de educação que pretendem que os seus filhos recebam, têm sim senhor, está escrito na Constituição; mas não está escrito que tem de ser o estado a pagar as várias opções. Se, de facto, o ensino privado tem tanta qualidade como alguns pais e alguns pedagogos reclamam, então os pais que suportem essa despesa. Porque a alternativa para todos é uma falácia. Por exemplo, aqui nesta cidade, a alternativa limita-se aos alunos filhos de determinadas famílias com elevado estatuto social. Se estas condições não se puserem, ou se os alunos se revelam menos responsáveis ou não correspondam ao perfil de aluno definido pela direcção do colégio, eles não têm lá lugar. Então onde está a liberdade de opção?

Mais uma razão para não ser o Estado – e todos nós – a pagar esse ensino que muitas vezes só vai de encontro à vaidade de alguns pais.


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

História Antiga



(Presépio de casa da Elisa)


Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da nação.

Mas, por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

(Miguel Torga)



domingo, 12 de dezembro de 2010

Leiria iluminada

     Afinal sempre há iluminações de Natal nas ruas de Leiria este ano. Só hoje as vi. São mais modestas que nos anos anteriores e começaram a brilhar muito mais tarde que noutros anos, mas  estão cá!

É que não concordo nada com o que se ouve agora nas televisões e se lê nos jornais que é: “com a crise e com tantas pessoas as passarem mal, não parece bem fazer iluminações de Natal”. Isto é de uma imensa hipocrisia! Se me garantissem (não sei como) que o dinheiro a ser gasto nas iluminações fosse na totalidade e directamente para conforto das famílias que estão a passar mal, aí eu hesitaria, mas não me venham com falácias... haverá outros cortes a fazer nos orçamentos que não seja em focos de alguma alegria e de ânimo para as pessoas.

Se até nesta época formos deixar as cidades imersas em tristeza e escuridão de alma, as pessoas sentir-se-ão ainda mais deprimidas e mais soturnas. Dê-se-lhes alguma animação, música, luz, boa disposição, atraiam-se para as ruas nem que seja só para passear e ver e a dita crise pesará bem menos.

Esta discussão à volta das iluminações de Natal nas cidades, como outras miopias que se discutem nos nossos meios de comunicação  vêm na linha do nosso cinzentismo como povo que fez moda no tempo da ditadura e que actualmente está a ressurigir como alimento para esta crise instituída e que faz os encantos das algumas das nossas elites governativas que tanto gostam de dizer aos jovens jornalistas das televisões desejosos por apelar à lágrima de quem os ouve, que a “situação do país é verdadeiramente insustentável.” (R. Eanes) ou “este ano, só há prendas para os netos; nem para o meu marido!” (Mª Cavaco Silva), ou ainda “o país devia envergonhar-se por haver 18% de portugueses que passam fome.” (Cavaco Silva)

“How convenient!” como dizem ironicamente os ingleses. E que bem caem estas frases em quem gosta de as ouvir e de as repetir contristados.

Bom Natal!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Natal


Para além do registo dos meus netos a admirarem o presépio que o pai da Elisa  teve a paciência e arte de fazer para a filha, deixo aqui um poema de Natal que tem a assinatura de uma colega e grande amiga, uma grande senhora, dona de uma sensibilidade indizível - a Senhora D. Margarida Belo, que foi a Presidente do primeiro Conselho Directivo da minha escola. Sei que ela não vai ler nada disto porque não é "dada" a computadores, mas fica aqui a minha modesta homenagem a todo o seu saber e o seu sentir, bem como o meu agradecimento pela sua amizade.

Natal é vivê-lo
tal como se fora
tudo bem verdade:
uma luz a prumo
sobre a ansiedade
um roçar alado
nas mão doloridas
olhos semeados
em campo inocente
a palavra branca
no silêncio nforme.

Natal é querê-lo
em verdade inteira
nos dias sem nome.

(Margarida Belo, Dez/ 81)


sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Resultados do PISA


Fiquei bastante feliz com as melhorias no desempenho dos nossos alunos no PISA (Programme for International Student Assessment) 2009. Não tão-somente como professora mas como portuguesa. Fiquei feliz por saber que, entre 2003 e 2009 a percentagem de alunos com níveis médios e excelentes aumentou em 9,5 pontos e a percentagem de alunos com níveis negativos diminuiu 2,9 pontos. Fiquei feliz por saber que, entre 2003 e 2009, Portugal aproximou-se dos países com maiores percentagens de alunos com níveis de desempenho acima do nível 3. Fiquei feliz por saber que Portugal é o 6º país cujo sistema educativo melhor compensa as assimetrias económicas e que é o país da OCDE que mais progrediu no conjunto dos três domínios avaliados – Leitura, Matemática e Ciências – registando um aumento de 20 pontos.

Não venho aqui dizer, como os actuais governantes, que este salto se deveu às políticas de avaliação das escolas, ou de avaliação dos professores, ou ao esforço dos directores, como li pelos jornais e que me parece, no mínimo, risível. Nem tão pouco quero pensar na mais recente corrente defendida pelos pedagogos de direita – e não só! – de que o ensino privado é que gera sucesso.

Não posso deixar de registar o valor de medidas importantes como foram o Plano Nacional de Leitura, o reforço esforçado das Bibliotecas Escolares, o Plano de Acção da Matemática, o esforço que foi o desdobramento das aulas das ciências experimentais. É inegável que estas acções, desenvolvidas ao longo dos últimos dez anos, bem como as incontáveis aulas de apoio que se dão na escola pública e até as aulas de Estudo Acompanhado, queiram ou não queiram os mais obstinados e mais cépticos, foram, em grande medida, as responsáveis por estas melhorias tão visíveis. Naturalmente que a acção de muitos professores também não pode, de forma alguma, ser esquecida. Como a de muitas famílias.

Citando Guilherme de Oliveira Martins, num excelente artigo sobre “O valor da aprendizagem” no Jornal de Letras de 17/30 de Novembro, “... importa contrariar a ideia de que a educação apenas cabe à escola. A família e a sociedade, como realidades heterogéneas, têm de estar na primeira linha. Aos educadores profissionais que são os professores temos de ligar os educadores naturais que estão nas famílias. (...) Se continuarmos a pensar a política educativa como reservada aos técnicos e aos pedagogos, continuaremos a recusar-lhe o valor que lhe é exigido. Se estamos insatisfeitos (e é legítimo que tal aconteça), assumamos as responsabilidades todas – e percebamos que há consensos estratégicos a assumir para um prazo alargado.”


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Natal digital


Daqui até ao final da época, o Natal vai estar sempre presente neste meu espaço porque é, de facto, um tempo de que eu gosto mesmo muito. Hoje fiz apelo a  um video que muitos de vós poderão já conhecer, mas que achei tão giro, tão moderno, tão original que não resisti a colocá-lo aqui.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Enfeites de Natal


É um dos muitos ritos da casa. No dia 8 de Dezembro é dia de fazer a árvore de Natal cá em casa. Quando as miúdas eram pequenas, era o dia em que iam com o pai ao pinhal cortar um pinheirinho, pô-lo num vaso bem grande forrado de papel com motivos de Natal e depois colocar as luzes - que nem sempre acendiam - as fitas, as bolas de vidro coloridas, os sininhos, os lacinhos, a neve de spray e sei lá o que mais. Era um dia inteiro e uma enorme excitação, até porque, depois, iam-se buscar os presentes já comprados e embrulhados e colocavam-se de volta da árvore.

Depois elas cresceram  e deixaram de ir buscar o pinheirinho que cheirava a pinhal e a caruma e acabei por ceder à compra de uma árvore artificial - modernices!

E hoje, como em muitos anos que já ficaram para trás, assim aconteceu.

Fez-se a árvore que não cheira a pinhal nem a caruma mas que é ecológica...



Puseram-se arranjos com velas,


 



Dispôs-se a aldeia de Natal,


Enfeitou-se lareira,



E, no fim, quisemos registar o momento com uma fotografia do neto junto da árvore, mas não resultou... estava com muito sono!



Agora faltam os presentes em redor da árvore e espera-se que os gatos, nas suas brincadeiras, não puxem as fitas e as luzes para o chão...

Bom Natal!


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Caridade


Hoje li no jornal uma carta enviada por um leitor que não resisti a transcrever para aqui de tanto que concordo com o que lá é dito. Ora leiam:

É tão útil haver pobrezinhos. Se não os houvesse, como é que as almas benfazejas podiam praticar a caridade, socorrê-los, enfim, fazer boas acções? Evidentemente que, para haver muitos pobrezinhos sem quase ou nenhum dinheiro mesmo, têm algumas dessas tais almas de possuir muitos, muitos milhões. Por isso é que o presidente executivo da PT, Zeinal Bava, se congratulou com a possibilidade (dada pelo PS, pelo PSD e pelo CDS ao votarem contra a proposta do PCP) de o grupo que dirige, e outros, anteciparem a distribuição de lucros, embolsando, assim, mais uma boa maquia.

É também por haver tantos pobrezinhos e tanto altruísmo que o referido gestor e o seu colega presidente da Caixa Geral de Depósitos, Faria de Oliveira, tiveram mais uma tão nobre atitude: inscreveram-se como voluntários no Banco Alimentar contra a Fome.

Claro que há mais almas sensíveis para com os pobrezinhos que eles geram. Ainda hoje vi , numa grande superfície comercial os/as caixas com camisolas da referida instituição. Juntam, portanto, o útil ao agradável: a clientela fica embevecida com tanta solidariedade e compra mais umas toneladas.

Portanto, tudo isto graças aos pobrezinhos, coitadinhos, e à generosidade dos que os geram, que até é de pôr em causa a afirmação bíblica de que é mais fácil entrar um camelo pelo buraco de uma agulha que um rico no reino dos céus.

(Francisco Ramalho)


Até me fez lembrar aquela canção do antes do 25 de Abril, do então jovem José Barata Moura  "Vamos Brincar à Caridadezinha", lembram-se?


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Em nome da Constituição






É, no mínimo, indecente o presidente do governo dos Açores ter decidido compensar pecuniariamente os funcionários públicos que, por força da Lei do Orçamento para o ano de 2011, vão sofrer cortes nos seus ordenados. Apesar de ser uma região autónoma, aquele arquipélago não deixa de ser abrangido pela soberania nacional pelo que deveria cumprir o que foi decidido, sabe-se a que custo, para todos os funcionários em geral.

Quanto a isto, ponto assente!

O senhor presidente da República veio, de imediato, para a televisão, na sua campanha eleitoral encapotada, dizer que considera que esta medida pode violar a Constituição e a moral e sei lá o que mais. Naturalmente! Um presidente da República tem de ser o garante de que toda a lei legitimamente aprovada seja cumprida de igual forma por todos os cidadãos! E, se estivermos atentos, vemos como os “elevadores” de opinião dos jornais puseram o senhor presidente no topo com uma setinha para cima por esta sua chamada de atenção sobre este assunto que, repito, considero deplorável.

Mas, alguém poderá explicar-me por que razão o senhor presidente não vem à televisão defender os princípios constitucionais de cada vez que o senhor presidente do governo da Madeira toma decisões contrárias às decisões nacionais ou de cada vez que profere aquelas barbaridades a que todos tivemos de nos habituar a ver e a ouvir e de cada vez que perpetra aqueles seus enormes dislates partindo sempre do princípio que a Madeira é a Madeira e não é o Continente?!

domingo, 5 de dezembro de 2010

It's Christmas Time


Se bem que ainda não vestisse a casa de Natal - isso, cá em casa, é feito há muitos anos sempre no dia 8 de Dezembro - já é Natal por todo lado. Por isso, começo desde já a desejar a todos os meus amigos  - e aos outros também porque é tempo de boa-vontade - um bom Natal. Para isso, e porque estou em Leiria, escolhi uma voz bem leiriense - aqui  mesmo dos Marrazes! - e bem conhecida e bem timbrada: a voz de David Fonseca com uma moderna canção de Natal de que gosto muito.

Como ele diz: "Give something to someine special!"

 Merry Christmas!


sábado, 4 de dezembro de 2010

Dreams





A senhora canadiana a quem ando a ensinar português e que já referi neste espaço é, como já disse, uma pessoa cheia de sensibilidade e delicadeza - sense and sensibility, na linguagem de Jane Austen - e ofereceu-me um dos seus poemas e que não resisti a transcrever para aqui por tão breve e tão cheio de verdade.

"Fly high on your dreams
as dreams are your happiness
and soul for living."

            (Susie E. King)

Avanço a tradução que ela própria tentou com alguma ajuda, perdendo-se embora um pouco da leveza e do ritmo das palavras.

"Voa alto nos teus sonhos,
que os sonhos são a tua felicidade
e a alma para viveres."


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Dia de anos






Hoje faz anos o nosso neto, o José Ricardo. O nosso Sagitariozinho, signifique isso o que significar. Faz apenas dois aninhos, mas já tem "muita personalidade"...

E vejam: quando fui para lhe tirar uma fotografia sentadinho no sofá com o avô, saiu assim:



E passeando pelo jardim, em Leiria.







Aqui, para o apanharmos a ele num instante, quase cortámos a cabeça da bela estátua das "Mulheres de Leira", à entrada do parque.

É um sossego o nosso menino!