sábado, 16 de junho de 2012

16. O meu fato de banho

Para a época, eu até tive uns pais de mente bem aberta! Mas, apesar de tudo, o meu pai – que aos treze anos, sem dizer nada à mãe viúva com cinco filhos pequenos para sustentar, apanhou um dia o comboio em Barcelos rumo a Lisboa para orientar a vida; que tinha sido do reviralho; que por isso foi expulso da Escola Veiga Beirão onde estudava à noite, etc. e tal – tinha uns preconceitos na cabeça (e quem os não tem) que lhe ditavam certas leis de forma a nunca permitir que a filhinha pintasse os olhos ou as unhas, que fosse de “au pair” para Londres para aprender inglês, que usasse botas de cano alto e, muito menos, que usasse a moda que, nos anos 60, chegava, se bem que proibida por lei, de Saint Tropez – bikini!

Ora no Verão em que entrei para a Faculdade – 1966 – fomos, pela primeira vez, passar o mês de Agosto à Ericeira e eu estalando por usar bikini! Só que o meu pai não deixava. Aí, a minha mãe, que sempre foi muito senhora do seu nariz, pegou em mim e no meu primo M. que vivia connosco e aí fomos nós num sábado à tarde para a Baixa comprar fatos de banho! Penso que entrámos em todas as lojas e mais alguma, mas acabámos por encontrar o fato de banho ideal – absolutamente encantador! – que havia de dar a volta aos desígnios do senhor meu pai! Era um fato de banho branco que na parte de trás tinha o desenho de fato de banho com decote oval bem cavado até ao fundo das costas e, na parte da frente, era um duas peças, autêntico bikini, cobertas de cima a baixo por um rendado que quase deixava a barriguinha à mostra… O meu primo comprou um calção também branco com cintinho azul-escuro, tipo calção de ténis que lhe assentava que era uma luva! E lá fomos nós todos lampeiros para a Ericeira, branquinhos de pele e de fatos de banho brancos que até parecia que íamos vender gelados!… Pena não haver fotografias dessas belezuras…

Infelizmente, o meu pai não viveu muito mais tempo… Com uma deficiência congénita no coração e depois de uma vida muito cheia e muito bem vivida, aos 49 anos, não resistiu ao susto e à comoção do grande tremor de terra de 1969. Não por falta de respeito, mas nesse Verão, usei o meu primeiro bikini – de um turco leve, verde musgo.

(Vejam-se as toalhas de praia feitas na costureira, com franjinhas nas pontas...)

De então para cá, nunca mais vesti um fato de banho! Depois, tive um bikini preto, muito reduzido para a época, que usava com uma capeline branca com que ainda escandalizei algumas pessoas no Estoril – vejam lá! – e até em S. Pedro.


Já em Leiria, ano sim, ano não, comprava um bikini, geralmente da marca Huit ou outra congénere, que eram bem modernos, bem parisienses e bem caros também! Por isso não se compravam todos os anos... 


Nos "fresquinhos" Verões de S. Pedro de Muel, com as filhas a tremerem de frio...

Nem sei como convenci a minha filha mais velha a usar este bikini...

Férias do lagarto, em Milfontes.

Mais tarde, bikini branco no nevoeiro

Ainda hoje, que há muito deixei de vestir os números 34 ou 36 para partir para o 40 ou para o 42, com as gorduras e as marcas da idade, e mesmo muito instada pela minha filha mais velha que nunca gostou de usar bikini, não sou capaz de me ver de fato de banho!

Quem não quiser que não olhe, não é?

17 comentários:

  1. E que bem que te fica!
    Eu já deixei de usar...não tenho esse "corpinho de sereia" ! :-))

    Abraço e bons banhos

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  2. O biquíni continua a ficar-te muito bem!
    Há sempre um pai ou uma mãe mais conservadora. E filhas com um tal poder de persuasão!... : )

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  3. Cada um veste como gosta, como está habituado, sem olhar às críticas ou às opiniões destrutivas ou daquelas só porque sim.

    A Graça gosta de usar bikini? Use.

    Abraço

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  4. Apesar de morar perto da praia passam-se verões em que lá não ponho os pés... mas quando vou gosto de bikini, apenas usei fato de banho uma vez, que mo ofereceram porque eu "já estava velha e gorda" para usar duas peças. Usei-o uma vez e deitei-o fora...
    Quem não quiser que não olhe, concordo totalmente!

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  5. Graça
    Adorei tuas fotos! E muito das tuas palavras, onde consegui recuar no tempo, revi-me em algumas frases tuas! Em miúda ia para a praia mas só podia levantar um pouco a saia, fato de banho népia, na minha Aldeia era um escandalo,em 1969 com os meus 13 anos vim para a Marinha Grande aí comecei logo a usar o bikini, hoje com os meus 55 anos ainda não o larguei e sinceramente não me estou a ver de fato de banho, até porque a parte de cima do bikini está quase sempre deitado ao meu lado a apanhar banhos de sol. Heheh.

    Beijinho e uma flor

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  6. E eu a ouvir...Jacques Brell, Joe Dassin, Lara Fabian etc
    Hoje deu-me para isto,

    Até a escrever versos dispersivos que nem eu entendo lá muito bem,

    Voltemos pois a esses Verões!
    Viva a juventude!
    Alegria de viver, vai tudo à frente!

    Bonitos fatos de banho, sim sra. e ficavam-lhe na perfeição!
    Ai aqueles tempos das primeiras mini-saias!
    Anos 60, os anos de arranque para a nova Era, quem o pode questionar? Só quem os não viveu.

    Ou seja, a preparar uma tese de doutoramento sobre os Verões dos anos 60?!

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  7. Imagino, a Graça a usar aquele bikini preto, bem reduzido e os olhares a virarem-se, à sua passagem! E que corpo de sereia tiveste e tens. :)

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  8. ... "fiu-fiu"... em nada fica a dever para corpos esculturais... você é mulher linda que viveu dignamente, todas as fases de sua vida, com intensidade e autenticidade! Parabéns!
    Bj. Célia.

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  9. O que as "modas" contam de nós, das sociedades e das épocas. (O biquini foi muitas vezes usado como contestação política e social, nos finais dos anos 50, pois era proíbido em muitos países, Portugal incluído).

    Sim, sou pelo biquini. Usei-o sempre e nunca ninguém "me ligou", "se bem me lembro".
    Fato de banho, sempre, na hidroginástica e na natação.

    Parabéns pela boa disposição que perpassa estas "reportagens".

    Lídia

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  10. Prometo
    Se por ti passar
    Só para tua toalha
    ... olhar

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  11. Só vim aqui reiterar o que já ando a dizer há dias: JEITOSA, ou como diriam os nossos manos lá do Brasil GOSTOSONA!:))

    beijinhos ainda com cheiro de bailarico...sem ter dançado (lá me lembrei que o piso era de paralelos?:))
    Nina

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  12. P.S: adoreis este relato, como os anteriores, aliás. Não me imagino a viver numa época de conservadorismo. Devia ser giro para as mentes menos conservadoras.:))
    Nina

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  13. Também é o que uso, não me dou com fato de banho. Hoje em dia já não se liga muito a essas coisas, cada um veste o que mais lhe agrada, e ainda bem.
    Bjs

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  14. Também gosto mais de bikini, mesmo não ficando assim tão bem :)

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  15. Estimada Amiga Graça Sampaio,
    Lindos esses fatos de banho, eu quando era jovem Sesimbra era a praia que frequentava graças aos serviços sociais, depois era o Rio Degebe e meu fato de banho eram as cuecas que usava, e foi nessa bonita maneira que aprendi a nadar.

    DEGEBE RIO DA MINHA INFÂNCIA
    Degebe belo rio
    onde aprendi a nadar
    quer fizesse calor ou frio
    nele me ia banhar

    5 quilómetros tinha que percorrer
    para o poder alcançar
    e sem autorização para o fazer
    lá me ia eu escapar

    Na companhia de amigos ia
    para as aulas de natação
    a cueca é que servia
    substituindo o calção

    Depois de belos mergulhos
    e com dinheiro na algibeira
    iamos encher os bandulhos
    e por por vezes apanhar a bebedeira

    Perto da ponte lá havia
    uma tasca bem à maneira
    que sangue de porco servia
    saboroso e pimenteira

    Pelos campos la colhiamos
    uns nabos bem adocicados
    mais melões que comiamos
    ficando empanturrados

    Chegados a casa nos esperava
    uma sova colossal
    massagem bem aplicada
    que até não fazia mal

    Eramos miúdos traquinos
    rebeldes por vocação
    jovens e lindos meninos
    libertos da escravidão

    A esse Degebe bendido
    grato estamos por nos receber
    suas lições aprendido
    e homens novos nos fazer

    Foram sua belas lições
    sempre boas e proveitosas
    que me criaram emoções
    embarcando nas gloriosas

    Outros tempos onde em Évora ainda não havia piscinas.
    Abraço amigo

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  16. Já aqui foi comentado a restrição que havia em usar biquini, em vários países Portugal incluído sim senhor!
    Lembro-me perfeitamente, de em 1966por esta altura, em pleno Mundial de futebol em Inglaterra, de ter ido para a praia com familiares e no grupo haver uma jovem que estava a usar biquini, por ordem médica, para ajudar a sarar uma costura de operação na região abdominal, que como não apanhava sol estava renitente em fechar. O médico recomendou o biquini, mas tinhamos que estar sempre vigilantes com o Cabo de Mar, porque as pessoas eram espulsas da praia, e tinham uma coima, dependia do autuante.

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  17. Conclusão: bikini, SEMPRE!!! Com corpinho de sereia ou de baleia... Ih! Ih! Ih!

    Obrigada pelas vossas memórias que são sempre interessantes e enriquecedoras.

    O Amigo Cambeta recorda sempre o seu querido Portugal, embora esteja muito bem la pelos Orientes. Há quantos anos não ouvia falar no Rio Degebe! Desde a escola primária, quando tínhamos de saber de cor os afluentes de tudo quanto era curso de água do país e das províncias ultramarinas...

    Também aprendi a nadar num rio: no Lizandro, junto à Ericeira. Com uma enorme câmara de ar a fazer de bóia...

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