terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Liceu Maria Amália


Não sou seguidora dos Morangos com Açúcar, mas também não tenho a pretensão de pertencer àquele número de portugueses moralistas e pseudo-bem-comportados que renegam com desprezo terem já visto uma ou outra novela ou uma ou outra série da novela para garotos com receio de que os apelidem de parolos ou incultos. Lembro-me que segui com menos do que com mais atenção a primeira série dos Morangos e que achei engraçado até porque tinha de estar “actualizada” para falar com os meus alunos sabendo do que falava. Nestas últimas séries até tenho assistido a alguns momentos de dança e de canto muito giras, bem treinadas, com boas vozes e miúdos e miúdas que se sabem mexer muito bem em termos de coreografias. Todos nos lembramos da Fame nos anos 80 e de como estávamos a anos-luz de distância daquelas actuações irrepreensíveis em termos de voz e de movimento.

Mas vem tudo isto a propósito do facto de terem sediado a escola dos Morangos – que aliás está muito mal desenhada com aquela directora ignorante e tonta e com aquele corpo docente constituído por apenas três ou quatro professores quase da idade dos alunos e com centenas de alunos – no Liceu Maria Amália.

Desculpem falar em Liceu e não em Escola Secundária como se passaram a designar os liceus depois do 25 de Abril, mas é que quando lá andei, era Liceu Maria Amália que se chamava. Liceu Feminino de Maria Amália Vaz de Carvalho. Porque naquele tempo, nos idos de 60, não havia mistura de sexos nas aula, nem nas escolas das cidades maiores, como era o caso de Lisboa. E naquele “meu” liceu, que era do mais fascizante que havia à época (talvez por causa dos recém-acontecidos casos Ballet-Rose) não entravam homens. Havia o jardineiro, o Sr. Carlos, que, no seu fato-macaco azul eléctrico, era mais velho que as árvores do recreio e, às vezes entrava o rapaz que entregava os bolos e as bananas no bufete. Imaginem que para o baile de finalistas do meu ano, a Senhora Reitora comunicou pelo seu inter-comunicador para as salas de aulas (que ela ligava quando muito bem entendia, para escutar o que lá se passava) que as meninas do 7º ano (ano das finalistas e que corresponde ao actual 12º) poderiam convidar rapazes até aos nove anos de idade. Estão a ver o estilo...

No passeio frente à entrada principal do Liceu não poderia haver ajuntamentos de alunas, nem namorados à sua espera e, na paragem do autocarro, era norma termos de dar a nossa vez na bicha (eu não gosto de dizer “fila” que considero um estrangeirismo) a qualquer professora que chegasse entretanto para apanhar um autocarro.

Imaginem o que a Sr.ª D. Maria Guardiola ou a Sr.ª D. Alice Andrade, (no Liceu nós tratávamos as professoras por Senhoras Donas e não por doutoras como agora) Reitoras daquele Liceu nos anos 50/60, pensariam e sentiriam se pudessem ter conhecimento que o seu Liceu, onde se pretendiam formar as elites femininas do salazarismo, está a emprestar a imagem a uma pseudo escola de dança moderna para uma série de televisão “duvidosa” que nem sequer passa no canal público...


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Convites

Hoje ficam aqui os convites para dois eventos muito especiais.

A inauguração da exposição de fotografia "Sensibilidades 2" no próximo dia 4, às 15.00 horas na Câmara Municipal de Ourém, promovida pelo CEPAE e pela Câmara Municipal de Ourém.




E a conferência subordinada ao tema "As Mulheres na 1ª República; as Senhoras Modernas" pela Professora Doutora Teresa Santos, da Universidade de Évora, promovida pelo Museu Escolar e pela Junta de Freguesia de Marrazes, a realizar no próximo dia 5, às 15.30, no auditório da Filarmónica de Marrazes.





domingo, 28 de novembro de 2010

As Árvores e os Livros


Há quem roube uvas, laranjas, maçãs, pêssegos das árvores dos vizinhos ou mesmo das da borda da estrada. Eu roubei a árvore inteira do blog da minha escola, de um texto da equipa da Biblioteca, primeiro porque a achei lindíssima - deve ser do colega de EVT , C.C. que faz sempre uns desenhos muito criativos e cheios de significado para os alunos. Roubei-a também porque fica tão bem com um poema que encontrei por acaso - nada acontece por acaso, não é?

Aqui ficam ambas as formas artísticas para embelezarem o vosso Domingo.


As Árvores e os Livros

As árvores como os livros têm folhas
e margens lisas ou recortadas,
e copas (isto é, capas) e capítulos
de flores e letras de oiro nas lombadas.

E são histórias de reis, histórias de fadas,
as mais fantásticas aventuras,
que se podem ler nas suas páginas,
no pecíolo, no limbo, nas nervuras.

(Jorge Sousa Braga, 1957, in Herbário)

sábado, 27 de novembro de 2010

Que frio!


As temperaturas desceram muito neste fim-de-semana. Ontem e hoje foram os primeiros dias de muito frio neste Outono. Leiria é das cidades que apresenta das maiores amplitudes térmicas. as mínimas descem aos zero/um graus enquanto as máximas, com o Sol chegam aos quinze, dezasseis, dezassete.


Vejam como os gatos da casa aproveitaram qualquer fonte de calor...


(A Ritinha aproveitando alguns raios de Sol)


(A Branquinha saltou para cima do muro para mais perto do Sol)

(Hummmm! Este solinho dá cá um sono!...)


(O Socas aproveitou mesmo o édredon enquanto eu fazia a cama)

(Mas o Gorki gosta mesmo é de pôr o nariz quase no vidro da lareira)

Que sortudos são estes gatos!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

No dia em que cercaram a Assembleia


Conforme anunciei, ontem, aqui deixo um excerto de um texto de Maria Velho da Costa, com a sua linguagem vivíssima sobre o cerco da Assembleia Constituinte no tempo de PREC.

"(...) E Sophia era deputada à Assembleia da República, o que a maçava de morte. Nenhuma de nós suffered fools gladly, e era o que havia mais, fools, histeria de massas e descontentamento. Ruía a Poesia está na rua do seu cartaz com Maria Helena Vieira da Silva. A terra estava em cena de ódio e de fogo posto. (...)
Pois um dia, nas calendas de Novembro, a Assembleia da República foi cercada por uma horda exasperada. Desci para ver, eram poucos metros. Na rua, no hemiciclo formado cá fora , uma multidão, poucos amigos, poucos camaradas. Um camião cisterna enviado pelo COPCON de Otelo Saraiva de Carvalho distribuía sopa quente a idosos em hipotermia. Nesse tempo eu não tinha a possante cadela que depois tive. Nem me teria servido de nada, a não ser de irrisão e malquerença do povo desunido. Mas tinha o meu cartão de Imprensa das crónicas do jornal. E estavam lá dentro fechados a Sophia e o Manuel Gusmão. Bati à porta, entrei, fiquei na soleira dos Passos Perdidos, o povo ululando de fascistas para baixo. A Sophia e o Manuel apareceram juntos, estranhamente risonhos.
Tinham comido? Tinham sim.

A Sophia partilhara com o Manuel um pão com chouriço da sala dos comunistas. E ria aquele riso de um só travo.

- Não deixe entrar o Francisco, Maria, ainda se põe em cima de qualquer coisa, um daqueles leões de pedra feiíssimos, a fazer mais aranzel.

E lá foram, ridentes, quase de braço dado, a imensa estatura.
Poetas é uma gente muito perigosa. E o Sagitário e o Escorpião não se domam ao medo nem à bruteza facilmente.
A noite caía e fazia muito frio. Felizmente não chovia. Pela calçada acima ouvia os brados esmorecidos, uma maré em refluxo. Há muitas horas que não dormia, mas pela madrugada não pude deixar de voltar. Um a um, em cadeia, os deputados eram deixados sair. Os apupos da multidão reacordada do relento, sem arredar pé, recrudesciam. Só era poupado quem erguia o punho direito, e mesmo assim.
Então vi sair Sophia. Estava de preto, ou assim a lembro. Avançou no seu tiquetear ligeiro, sem olhar, como quem vai atrasada a uma tarefa, a uma costureira, à Baixa. Como sempre. Não se lhe viam gravidade no semblante, nem susto. Apenas os sinais de um contratempo, uma maçada, nem sequer o puf, puf do nervosismo, Nem altivez. Saía dali, de um sequestro de horas, como quem tem mais que fazer.
Eu estava perto, mas não me viu, a compactez dos corpos a injuriar era impossível de atravessar.

 - Fascista, fascista!

E então aconteceu uma coisa que me pareceu miraculosa de tão arcaica, uma coisa do fundo dos tempos, quando os anfiteatros pungiam de dor, horror e pasmo diante das máscaras terríveis que apresentava o rosto mais que o rosto.
A Sophia parou. Os que iam adiante continuaram, os que a seguiam juntaram-se a uns metros. Também devem ter sentido a aura de antiquíssimo pundonor das palavras naquela mente e naquele coração. As palavras naquele corpo frágil ocupado por uma herança comum e inatingível. As palavras viscerais de uma cultura denegada, mas imorredoiras.
Podiam tê-la apedrejado.
Sophia parou e virou-se para a turbamulta. Nem indignação, nem cólera. E disse uma só palavra e teve um só gesto, parado. Cruzou as duas mãos sobre o peito, como quem leva as sagradas espécies a um moribundo, e disse

 - Fascista? Eu?

Os que estavam mais perto recuaram e calaram. Formou-se, ondulante em reverbero, um semicírculo de silêncio e respeito.
Sophia seguiu. O mesmo passo, a mesma ligeireza sem pressa. Parecia um pouco mais alta. (...)”

Maria Velho da Costa, in “Evocação de Sophia”

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

A propósito do 25 de Novembro


Faz hoje 35 anos que se deu o movimento do 25 de Novembro e, a propósito, encontrei um texto óptimo, um resumo dos acontecimentos, no blog Da Literatura, de Eduardo Pitta, que decidi copiar, em parte, para aqui.


"Com a derrota dos radicais do MFA, do PCP, das Brigadas Revolucionárias e outros grupos de extrema-esquerda, faz hoje 35 anos a democracia portuguesa começou a entrar nos eixos. (Só entraria definitivamente com a extinção do Conselho de Revolução a 30 de Setembro de 1982.) Na memória de todos, o cerco da Constituinte (a 12 de Novembro) por operários da construção civil afectos à Intersindical. Nessa semana, com a conivência do Sindicato dos Bancários, controlado pelo MRPP, transferência para o Porto das reservas de ouro do Banco de Portugal. Na madrugada do dia 25, pára-quedistas insurrectos ocupam Tancos e outras bases aéreas a Sul. Porém, aviões, pilotos e Estado-Maior da Força Aérea (Morais e Silva) desde a véspera na região Norte, em prontidão nas bases da Cortegaça e Monte Real. James Callaghan, primeiro-ministro britânico, garante o envio de armamento e combustível para aviões. Possibilidade séria de guerra civil. Um terço das famílias do eixo Lapa-Cascais a recato em Londres, outro em Madrid, outro no Rio. Soares, Sá-Carneiro e Freitas do Amaral deixam Lisboa. Decretado o Estado de Sítio. Brejnev apressa-se a tranquilizar a NATO: a URSS não intervirá em Portugal. No Porto, Pires Veloso cria condições para a transferência rápida dos centros de decisão militar, governo, Parlamento, directórios do PS, PPD e CDS, embaixadas, RTP, etc. Costa Gomes deixa cair Otelo, que foi preso. Jaime Neves quer prender Cunhal, mas Costa Gomes não autoriza. Em Lisboa, os comandos da Amadora desmantelam a Polícia Militar. Imposto o recolher obrigatório. Ao fim da tarde, na RTP, Danny Kaye substitui Duran Clemente. A maioria silenciosa respira de alívio. Eanes surge como homem providencial. Melo Antunes impede a ilegalização do PCP. Os jornais nacionalizados (três matutinos e três vespertinos) ficam suspensos durante um mês. Victor Cunha Rego, que fora chefe de gabinete de Soares (e seria, mais tarde, embaixador em Madrid), é nomeado director do Diário de Notícias, de onde Saramago foi expulso."

Amanhã, conto passar para aqui um texto que considero muito interessante sobre o cerco da Assembleia Constituinte.


Vale mais cair em graça...



Sabemos que o Presidente Obama caiu em graça em grande parte do povo americano e também é engraçado. Vejam o charme, a naturalidade e a graça com que ele, na presença oficial e solene das suas duas filhas, anunciou à imprensa e a quem o quis ouvir, que salvou dois perus de serem comidos no jantar de Acção de Graças depois de terem sido seleccionados de entre 25 outros finalistas por jurados especializados...

Imaginem esta cena a ser representada pelo nosso Presidente da República... Não teria nenhum charme, nenhuma naturalidade e, muito menos, graça!

É que o nosso Presidente (infelizmente) caiu na graça deste povo, mas não é, de todo, engraçado...


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Extinção das DRE?


Tenho seguido durante os últimos anos, mesmo depois de sair da escola, o blog de educação do Professor Ramiro Marques. É actual à hora, tem sempre a legislação mais recente, tem orientações muito sérias e muito precisas e são interessantes as suas muitas “dicas” para o trabalho nas escolas.

Mesmo mais recentemente que o Professor se tem colado aos ideais da direita em termos de educação ao ponto de defender acerrimamente o ensino particular em desfavor da escola pública, há muitos, mesmo muitíssimos textos e opiniões com as quais eu concordo. Uma delas é a extinção das Direcções Regionais de Educação que vem agora a Fenprof sugerir com o objectivo de ajudar a equilibrar as contas públicas.
De facto, já o disse aqui, no contexto actual, para que servem as DRE? Estas foram criadas em 1987, como serviços desconcentrados do Ministério da Educação e assim funcionaram durante algum tempo. Lembro-me que as reuniões que as direcções das escolas faziam com as DRE eram invariavelmente presididas pelos Directores Regionais e, de alguma forma, aquelas serviam como apoio e acompanhamento das escolas.

De há uns anos para cá, porém, as direcções das escolas são chamadas à Direcção Regional (do Centro, pelo menos!) para reunir com a Ministra, ou com os Secretários de Estado que apresentam, de cima para baixo, as orientações educativas, ou com o Director Geral dos Recursos Educativos quando há concursos, ou novas aplicações informáticas para as escolas utilizarem.

Por outro lado, o dito acompanhamento às escolas tem sido feito pela Inspecção em forma de pequenas avaliações formativas sobre determinados procedimentos sobre o desenvolvimento de medidas consagradas em diplomas de grande importância para o desenvolvimento do processo educativo nas escolas.

Se os serviços educativos foram (re)concentrados em Lisboa, então o que estão tantos professores e tantos funcionários destacados nas DRE? Para que há tantos Directores Regionais e Directores Adjuntos e Directores de Serviços e Chefes de Divisão a ganharem as gratificações respectivas desses cargos? São maioritariamente professores que têm os seus lugares assegurados nas suas escolas. Quanto a isso, nada de trágico. O mesmo se passará com os assistentes.

E as escolas, garanto-vos eu!, ficariam muito mais aliviadas porque tudo seria tratado sem o degrau intermédio das DRE. É que, nem vos passa pela cabeça! Quando há um problema na escola e se pretende telefonar para a DRE(C) a tirar uma dúvida ou a pedir uma orientação, raramente se consegue ligação telefónica e, se se consegue, logo nos dizem que esse assunto é da competência de outro sector ou então que terão de consultar este ou aquele serviço em Lisboa. Também há os mails, meio de comunicação sempre aconselhado por aquele organismo... que raramente têm resposta e, quando têm, vem em forma de “parecer” de jurista que pode ser seguido ou não, mas é melhor ser, se não o senhor legista responde na forma de “superior hierárquico” que confunde e atrapalha quem pôs a questão...

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Congresso Fernando Pessoa



Começou hoje e prolongar-se-á até depois de amanhã o II Congresso Internacional Fernando Pessoa na Casa que usa o nome do Poeta. O dia de hoje terá sido, na minha opinião, o mais interessante porque contava com nomes de grande envergadura como Teresa Rita Lopes, Jerónimo Pizarro, António Feijó, Richard Zenith, que vão falar sobre Bernardo Soares e o (muito na moda) Livro do Desassossego. Maria Aliete Galhoz e Eduardo Lourenço estarão, de igual modo presentes. Naturalmente o (actualíssimo e super-na-moda)  filme do Desassossego também será exibido.

Amanhã, dia 24, será abordada a relação literária de Pessoa com outros autores e será glosado o tema “Quantas Pessoas tem Fernando?” No último dia dos trabalhos, dia 25, falar-se-á, entre outros assuntos, sobre as relações do poeta com o Estado Novo, sobre os sentidos ocultos de Pessoa e sobre a poesia de Álvaro de Campos. Ao filósofo José Gil caberá realizar a conferência de encerramento do congresso.

É, com toda a certeza, um evento de enorme riqueza cultural a que eu gostaria muito de assistir. Estão a ver as enorme vantagens de se viver em Lisboa?

Vale-nos o facto de ir ser lançada, durante o congresso, a revista PESSOA na qual se prevê termos  acesso a muito do que for feito nestes três dias.



segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Romãs

Uma noite destas fomos a um jantar cuja decoração das mesas era feita por um conjunto de três romãs enormes e vermelhas no meio das quais havia uma vela sobre uns raminhos de oliveira. Nada mais simples não fora a beleza e a conspicuidade dos frutos. Sei é que, no fim do jantar, o meu marido lembrou-se de perguntar à organizadora do jantar se podíamos “roubar” uma romã. Que sim, que não havia problema. Logo cada convidado começou de trazer as belas das romãs, tão atraentes elas eram! O pior foi quando uma das responsáveis pela decoração deu conta e tratou de dizer que as romãs não eram para trazer. Tarde de mais! Grande parte, incluindo eu!, tinha já zarpado com o seu exemplar na carteira...

De facto, país de culturas mediterrânicas que somos, farto em sumarentas laranjas e tangerinas, doces pêras e maçãs, gordas uvas e frescos melões e melancias que trincamos com deleite, nem nos lembramos das romãs com as suas tonalidades outonais entre o amarelo, o castanho e o vermelho, cheias de pequeninas bagas de sangue que, segundo os Antigos, têm poderes afrodisíacos (a romãzeira foi uma árvore consagrada a Afrodite, deusa da fecundidade e do amor). Eram também colocadas, como oferendas sagradas, nos túmulos dos faraós. Ao longo dos séculos e das civilizações, a romã vai-se “carregando” de simbolismo que lhe dá um toque de sobrenatural.

Em alguns países, incluindo o nosso, há o costume de comer romãs no Dia de Reis. Diz a tradição que este fruto atrai a prosperidade e a abundância.

Para além de tudo isto, parece que se trata de um alimento de baixo teor calórico (o que o deve fazer entrar na moda tal como aconteceu à melancia...) e, melhor ainda, tem qualidades que dizem combater as doenças das coronárias e o envelhecimento!

Toca a dar atenção às romãs! Podemos apreciá-las em sumo, simples ou com açúcar, na decoração de bolos, em assados de carne, eu sei lá!


( uma romãzeira da minha rua...)

(...carregadinha de romãs, já abertas, para a passarada se deliciar)



(O resultado do "roubo" descarado - a vermelha brilhante,claro!)

domingo, 21 de novembro de 2010

Tenho uma grande constipação!

(imagem retirada de net)

Tenho uma grande constipação,
E toda a gente sabe como as grandes constipações
Alteram todo o sistema do universo,
Zangam-nos contra a vida,
E fazem espirrar até à metafísica.
Tenho o dia perdido cheio de me assoar.
Dói-me a cabeça indistintamente.
Triste condição para um poeta menor!
Hoje sou verdadeiramente um poeta menor!
0 que fui outrora foi um desejo; partiu-se.


Adeus para sempre, rainha das fadas!
As tuas asas eram de sol, e eu cá vou andando,
Não estarei bem se não me deitar na cama
Nunca estive bem senão deitando me no universo.


Excusez un peu... Que grande constipação física!
Preciso de verdade e de aspirina.

(Álvaro de Campos)

(É que tenho mesmo uma grande constipação! E lembro-me sempre do meu bem querido Álvaro de Campos que diz sempre tão bem as coisas que eu por vezes sinto. Nem queiram saber o meu encantamento quando li pela primeira vez a expressão "fazem-nos espirrar até à metafísica"! Como é possível alguém lembrar-se de misturar duas noções tão diferentes: os espirros e a metafísica!

E diz ele que é um poeta menor... )

sábado, 20 de novembro de 2010

A zona velha de Leiria


Gosto muito de passear pela zona velha de Leiria: a Praça Rodrigues Lobo, a Rua D. Dinis, a Rua Direita e o seu emaranhado de ruelas estreitas que vão até ao Castelo, tudo tem ainda um traço medieval que nos encanta. Pena é que tantos prédios senhoriais lindíssimos estejam em ruínas, desabitados, decrépitos. Mas quando aparecem umas casinhas reparadas, repintadas e adornadas como se de casinhas de bonecas se tratasse, sente-se como que um estremeção de vida que me toca muito.

Foi o que senti quando, ontem, ao atravessar do Largo do Jardim para a Rua D. Dinis pelo portão do (ex)Banco de Portugal, entrevi a casinha que até há pouco tempo albergou a vetusta Livraria Martins.

Vejam!





Não resisto a guardar aqui memória do lindo portão de ferro do edifício do Banco de Portugal que dá acesso àquela rua que liga a Sé à Praça Rodrigues Lobo.





Quem não morar em Leiria, bem pode vir respirar o tempo em que o Eça e depois o Torga por aqui andaram.

Quem cá mora, detenha-se a passear por aí e a respirar este ar medievo! Sempre poupam umas horas na seca do ginásio...


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Jantar-xanax

(imagem retirada da net)

Trabalhávamos todas no serviço distrital da DREC quando esta foi criada, em finais dos anos 80, com o objectivo solene e primeiro de apoiar as escolas da sua área. Coisa que, desde há uns anos para cá, não acontece já que se arrogou a DREC o direito de se instituir como superior hierárquico das escolas lançando-lhes em cima todo o trabalho burocrático que pode e inventando constantes questionários on line e não só, a que as escolas têm de responder repetidamente, porque se perdem, ou não chegam, ou não partem, ou qualquer outro tipo de desorganização que se possa imaginar. Quanto a ser um verdadeiro apoio das escolas, esqueçam porque, em nome da autonomia (que não existe) tudo é da responsabilidade destas.

Mas houve mudanças de vontade ou de governo ou de não se sabe o quê e, em meados de 1993, fomos dispensadas do tal serviço – eu, que era coordenadora adjunta, fui “despedida” por fax (ainda não havia mails nesse tempo) e a coordenadora chefe por carta entregue em mão pelo motorista da Directora Regional – “gente fina é outra coisa”...

Como éramos bastante unidas e nos dávamos muito bem – até tínhamos andado dois anos a correr para a Universidade de Aveiro para fazermos uma pós-graduação sobre Administração Escolar, o que era uma novidade à época – passámos a encontrar-nos quase mensalmente para jantar. E não é que, ainda hoje, passados 17 anos, ainda continuamos a encontrar-nos para jantar juntas quase mensalmente?

Somos seis, todas agora ex-professoras, todas iguais, todas diferentes e nem queiram saber o que nos divertimos! Os maridos não são admitidos! Só de há uns cinco anos para cá, depois de muita insistência deles, é que passámos a admiti-los muito excepcionalmente no nosso jantar de Natal...

Falamos de tudo e de todos (às vezes, quer dizer, muitas vezes, mal...); contamos as nossas peripécias de entre-jantares; contamos alegrias e tristezas, férias e cansaços, aventuras e desventuras. Não é que por altura do Europeu fomos jantar todas vestidas de encarnado e verde como Seu Scolari mandou? Por vezes falamos todas ao mesmo tempo e rimos, rimos como adolescentes do liceu.  Em tempos contávamos muitas anedotas, o que se foi desvanecendo com o aparecimento dos mails e também com a falta de memória... Mas rimos de nós próprias, dos “disparates” dos maridos ... dos “desatinos” dos filhos (e dos políticos), das gracinhas dos netos... Rimos...

São os nossos (abençoados) jantares-xanax!


quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Mulheres e Gatos

(Hoje é para "picar" os meus amigos homens e amantes de cães...)


"Women and cats do as they damned well please, and men and dogs had best learn to live with it."


"Mulheres e gatos fazem o que muito bem querem. Homens e cães têm que aprender a viver com isso."

(Allen Holbrooke)


terça-feira, 16 de novembro de 2010

Conforto vs Desconforto




Ontem à tarde declarámos aberta a época Outono/Inverno cá em casa: começámos a acender a lareira! Dá uma sensação de conforto e de bem-estar que não sei se vem mais do calor que espalha se da beleza rubra das chamas e do crepitar e do estalar da madeira.

Desconforto, desconforto, foi quando, ao início da tarde, vim abrir o meu (querido) blog – nunca pensei que gostasse tanto dele... – e uma mensagem seca no écran me dizia “este blog foi removido”! E tentei de novo e de novo a mensagem irritante: “este blog foi removido”... Bem, nem vos digo! Lembrei-me logo da minha amiga Amélia Pais que ainda há pouco tempo perdeu o seu blog e esteve uma semana sem saber dele... Foi uma aflição!

Depois, como pude, lá segui as orientações da página onde estava escrita a embirrante da mensagem. A primeira orientação dizia: “Don´t panic!” E foi o que tentei fazer (vá lá que não tive de recorrer ao xanax...) e então, sem “panicar” lá segui as outras orientações e, não sei muito bem como, lá consegui reaver o meu (querido) blog...

Mas há sempre que aproveitar o lado bom das situações menos boas – e o lado bom deste susto foi que logo duas amigas seguidoras me fizeram ver que este meu espaço não é tão dispensável, tão desnecessário como me possa parecer.

São estas as pequenas coisas do “lado B” da vida...

Encontro



Marquei encontro
com o sol
esta manhã.
Em vez de sol veio a nuvem
com seus pezinhos de lã.

Pôs-se a chorar à janela
para eu a deixar entrar,
de lágrimas fez um rio
que vai na rua a passar.

Marquei encontro
com o sol
esta manhã.
Em vez do sol
veio o vento
e pôs tudo em movimento.

Varreu as folhas do chão,
varreu a nuvem do ar.
Entrou-me pela janela
um raio de sol a brilhar.

Marquei encontro
com o sol
esta manhã.
Não vou faltar ao encontro.
Até amanhã.

(Luísa Ducla Soares)

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Gatices...

Para os meus amigos ainda no activo...


domingo, 14 de novembro de 2010

Fernando Pessoa


Fernando Pessoa morreu em 1935. Eu saí do Liceu em 1965, onde tive Literatura Portuguesa nos 6º e 7º anos e nunca me falaram de Pessoa. Falaram-me do Dantas, mas não me falaram de Pessoa ou de Almada.

Pessoa foi-me “apresentado” pelo Professor Vitorino Nemésio no 2º ano da Faculdade na disciplina de História da Cultura Portuguesa e pelo seu jovem assistente António Machado Pires, que mais tarde foi Reitor da Universidade dos Açores, e a quem nós, completas “teenagers inconssientes” chamávamos “carapau pr’ó gato” dada a sua simplicidade e a sua quase subserviência face ao Mestre. Sabia imenso, porém! Quem acredita que só actualmente os alunos são irreverentes para com os professores, desengane-se porque indisciplina e irreverência sempre aconteceram nas aulas...

Fernando Pessoa foi-nos introduzido como poeta nacionalista, sebastianista, autor dos elevados poemas da Mensagem, criador do Quinto Império. A propósito falaram-nos dos heterónimos que, acto contínuo, me fascinaram pelo mistério dessa criação.

Corri à Sá da Costa onde vi a poesia dos três heterónimos na Colecção Poesia das Edições Ática. Apaixonei-me pelo Álvaro de Campos. Nesse ano de 67, o meu “conversado” (como lhe chamava por influência da minha querida amiga vinda do Alentejo), que viria a ser o meu marido, ofereceu-me as “Poesias de Álvaro de Campos” que eu li e reli com avidez e encantamento.

E, no Prefácio, aquele excerto da extraordinária carta de Fernando Pessoa a Adolfo Casais Monteiro sobre a criação dos heterónimos: “Álvaro de Campo nasceu em Tavira, no dia 15 de Outubro de 1890 ... Este, como sabe, é engenheiro naval (por Glasgow) mas agora está aqui em Lisboa em inactividade. Caeiro era de estatura média, e, embora
realmente frágil (morreu tuberculosos), não parecia tão frágil como era. Ricardo Reis é um pouco, mas muito pouco, mais baixo, mais forte, mas seco. Álvaro de Campo é alto (1, 75 m., mais 2 cm do que eu) magro e um pouco tendente a curvar-se. (...) Como escrevo em nome desses três?... Caeiro por pura e inesperada inspiração, sem saber ou sequer calcular que iria escrever. Ricardo Reis, depois de uma deliberação abstracta, que sùbitamente [sic] se concretiza numa ode. Campos, quando sinto um súbito impulso para escrever não sei o quê. O meu semi-heterónimo Bernardo Soares, que aliás em muita coisas se parece com Álvaro de Campo, aparece sempre que estou cansado ou sonolento, de sorte que tenha um pouco suspensas as qualidades de raciocínio e de inibição; aquela prosa é um constante devaneio. É um semi-heterónimo porque, não sendo a personalidade a minha, é, não diferente da minha, mas uma simples mutilação dela. Sou eu menos o raciocínio e afectividade. A prosa, salvo o que o raciocínio dá de «ténue» à minha, é igual a esta, e o português perfeitamente igual...”

De Bernardo Soares, nessa época, conheci apenas uns pequenos fragmentos que me deixaram mesmo em “desassossego”. Só em 82 aparece a primeira edição do Livro do Desassossego e, por essa altura, andava eu por de mais ocupada com as filhas pequenas e com as aulas e os Conselhos Directivos em que me envolvi para me aperceber da saída desse “anti-livro” cheio de teses e antíteses, de indiferença, de “des-sentimento”.

E em boa hora! Que já Campos me revirou a alma e os sentidos ao dizer tão bem muito do que eu sentia sem ser capaz de o dizer ou sequer de o pensar.

sábado, 13 de novembro de 2010

Canções de Verão


Hoje deu-me para comprar o CD "Óculos de Sol" que é uma colectânea de canções portuguesas (ou versões) que foram sucessos de Verão dos anos 60 e 70. Não é saudosismo porque não sou muito dada a essaas coisas, mas não resisti aos "Vinte Anos" dos Green Windows, ao "Lonely Lost and Sad" dos meus queridos Sheiks, das cançõezinhas dos Conchas (de quem não tinha nenhum disco), ao "É Verão" do Duo Ouro Negro e, mais que todas, ao "O Verão" do Carlos Mendes!

É que o "O Verão" cantado pelo Carlos Mendes para o Festival da Eurovisão no ano de 1968 foi a primeira canção concorrente ao Festival  - que naquele tempo era um verdadeiro acontecimento, tratado com toda a pompa e circunstância cá no país - de que realmente gostei. Ao contrário da maioria dos portugueses que estavam mais na linha das canções ultra-românticas do tipo António Calvário e dos gritinhos pseudo-yé-yés da Madalena Iglésias...  É que já nessa altura as minhas opiniões eram ao contrário das da  maioria das pessoas (ainda agora assim é...)  E todos auguravam o pior dos resultados quando a canção fosse apresentada lá fora. Raramente era passada na rádio; o cantor ainda não era muito conhecido, era muito jovem, saído dos festivais de conjuntos do Monumental, dos Sheiks, a letra não era lamechas nem parola - em suma: não gostaram da canção!

A ironia  e a minha imensa satisfação à época, vem do facto de ter sido a primeira vez que Portugal pontuou no Festival. Teve quatro pontos, o que foi um espanto! Lembremo-nos que estávamos em plena Guerra Colonial, os países europeus ignoravam-nos, era a época do "orgulhosamente sós" de Salazar.

Ainda hoje gosto de ouvir e de trautear O Verão. Vejam como o intérprete era giro!


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Apanhada!


Estamos no início do fim-de-semana que é quando mais apetece  divertir-nos. Nem que seja à custa dos outros... É o caso. Hoje trouxe-vos um pequenino filme para se divertirem... à minha custa.

Sempre detestei  programas sobre "apanhados". Desde os primeiros que foram apresentados há uns vinte anos pelo Joaquim Letria. Acho horrível os outros rirem-se à custa da nossa  inocência e, por vezes, as cenas roçam a agressividade e a intrusão no íntimo de nós.

Agora imaginem-me a ser "apanhada" por uma câmara indiscreta da SIC! Fora há alguns meses e eu já nem me lembrava, quando uma destas noites atrás comecei a receber telefonemas de conhecidos e amigos e familiares a dizerem que me estavam a ver na televisão! Raramente vejo aquela estação de televisão por isso quase nem me vi... Porém, com as actuais modernices da comunicação, o filme logo saltou para a net e é esse mesmo filme que deixo aqui para se divertirem um pouco.



quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O Dia da Memória

Ando a ensinar português a uma senhora canadiana que veio, pelo casamento, viver para Leiria. É uma pessoa extremamente doce, delicada, de uma simplicidade, de uma sensibilidade e de uma educação absolutamente admiráveis e irrepreensíveis.

Hoje chegou a minha casa com uma papoila de feltro ao peito com a folha de plátano da bandeira canadiana no centro da papoila. Admirei-lhe a alegre pregadeira que exibia ao que ela me respondeu, muito entusiasmada, que era o símbolo do Dia da Memória (Remembrance Day) que se comemora hoje no Canadá. E que se trata de um dia muito importante no seu país.

Então ofereceu-me uma cópia manuscrita do poema "In Flanders Fields" da autoria de John McCrae, um médico, tenente canadiano que serviu na Primeira Guerra Mundial, na Flandres, onde as papoilas cresciam por todo o lado indiferentes à morte dos soldados. O poema, escrito em 1915, alcançou um estatuto quase mítico no Canadá contemporâneo e tornou-se um dos símbolos mais importantes do país, sendo dito e cantado todos os anos nas televisões e sendo decorado pelos alunos das escolas.

Deixo aqui a cópia do poema tal como me foi oferecida manuscrita pelo autor e como foi publicada na Revista Punch em Dezembro de 1915.

(Prometo traduzir o poema brevemente)

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Prémio PT de Literatura


O Prémio PT de Literatura 2010 foi atribuído ao poeta-cantor Chico Buarque de Hollanda pelo seu quarto romance “Leite Derramado” narrativa em primeira pessoa de um velho com mais de cem anos que, da sua cama de hospital, relata a história da sua vida e da sua família para quem quer ouvir, na assunção de que está a ditá-la para alguém que está a escrevê-la.

Já tinha lido, pela altura do Natal passado, este romance que achei extraordinariamente bem arquitectado e muitíssimo bem escrito. Trata-se de um romance protagonizado por um  verdadeiro anti-herói que quase destroi tudo quanto toca, desbaratando a imensa fortuna dos seus pais e avós pela sua preguiça, a sua inépcia, a sua falta de jeito.

Recomendo vivamente, não obstante ser bastante deprimente. Entretanto transcrevo uma das muitas passagens interessantes da narrativa.

«Eulálio Montenegro d’Assumpção, 16 de Junho de 1907, viúvo. Pai, Eulálio Ribas d’Assumpção, como aquele rua atrás da estação do metrô. Se bem que durante dois anos ele foi praça arborizada no centro da cidade, depois de os liberais tomarem o poder e trocarem seu nome pelo de um caudilho gaúcho. A senhora já deve ter lido que em 1930 os gaúchos invadiram a capital, amarraram seus cavalos no obelisco e jogaram nossas tradições no lixo. Tempos mais tarde um prefeito esclarecido reabilitou meu pai, dando o seu nome a um túnel. Mas vieram os militares e destituíram papai pela segunda vez, rebatizaram o túnel com o nome de um tenente que perdeu uma perna. Enfim, com o advento da democracia, um vereador ecologista não sei por que cargas-d’água conferiu a meu pai aquela rua sem saída. Meu avô também é uma travessa, lá para os lados das docas. E pelo meu lado materno, o Rio de Janeiro parece uma árvore genealógica, se duvidar mande um moleque comprar o mapa da cidade. Estes são meus dados pessoais, caso a senhora tenha interesse em atualizar o cadastro. O resto são bagatelas de que não me ocupo, aliás não pedi para estar aqui, quem me internou foi a minha filha. Convênio médico não é assunto meu, e se não estiver quite, por favor dirija-se à dona Maria Eulália. Para efeitos de contabilidade, quem paga minhas despesas é meu tataraneto, Eulálio d’Assumpção Palumba Neto. E se fizer questão de saber de onde procedem seus rendimentos, eu lhe afirmo que não tenho a menor ideia. Sou muito grato ao garotão, mas para ganhar milhões sem instrução alguma, deve ser artista de cinema ou coisa pior, pode escrever aí. Mas a senhora não escreve nada, a senhora abana a cabeça e me olha como se eu falasse disparates. As pessoas não se dão ao trabalho de escutar um velho, e é por isso que há tantos velhos embatucados por aí, o olhar perdido, numa espécie de país estrangeiro. Disparates quem fala é a minha filha que tem oitenta anos e olhe lá. O garotão viaja para não sei onde, anda com malas cheias de dinheiro, e ela diz, este sim é um legítimo Assumpção. Mas o dinheiro dos Assumpção sempre foi limpo, era dinheiro de quem não precisa de dinheiro. Saiba a senhora que ao ganhar do presidente Campos Sales a concessão do porto de Manaus, meu pai era um jovem político bem-conceituado, sua fortuna de família era antiga. Não sei se alguma vez lhe contei que meu bisavô foi feito barão por dom Pedro I, pagava altos tributos à Coroa pelo comércio de mão-de-obra de Moçambique.» (pág. 93-94)


terça-feira, 9 de novembro de 2010

Prémio Dardos



“O Prémio Dardos é o reconhecimento dos ideais que cada blogger emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc., que, em suma, demonstram a sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece entre as suas letras e as suas palavras.

Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os bloggers, uma forma de demonstrar o carinho e o reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.”

Este prémio foi-me atribuído pela blogger minha amiga Tite, cujo nome é Ti-MaMaRiso e cujo endereço é: http://taobomseravo.blogspot.com/


As regras para passarmos este selo são as seguintes:

1º Exibir a imagem do selo no blog;

2º Revelar o link do blog que nos ofereceu o selo;

3º Escolher 10, 15 ou 20 blogs para premiar.

Eu vou fazer como a blogger que me premiou: já cumpri as duas primeiras regras; quanto à terceira, quem me visitar é seguramente, pessoa interessante, por isso, fazem o favor de levar este simpático prémio. Entretanto, não vou deixar de nomear os meus queridos Rosa-dos-Ventos, Tinta com Pinta, Dispersamente, Blogotinha, Corvo Dinis, Horizonte Sem Horas, Janelas de Oportunidade, Rio das Maçãs, As Ilhas Encantadas, A Turista Acidental ...

 

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Sintra, um lugar mágico

(Casa dos Penedos)

Como sabem, sou uma apaixonada por Sintra. Por isso não resisto a deixar aqui notícia de que um dos mais prestigiados jornais norte-americanos, o Chicago Tribune, dedicou um artigo àquela minha vila do coração, dizendo que se trata de “um lugar mágico na ponta da Europa”. Faz referência às lojinhas da Vila Velha, à arquitectura dos palacetes e das casas senhoriais, aos hotéis e, especialmente à Quinta da Regaleira (daí a magia, pelo seu poço iniciático e todos os sinais que a ligam à maçonaria) e ao Cabo da Roca que é o ponto mais ocidental da Europa.


(Palácio do Milhões, agora Quinta da Regaleira)


Mas, para quem lá mora, ou morou, a magia vem da Serra com toda aquela vegetação luxuriante, do clima quase londrino que envolve os bosques e toda a serra em geral de neblina cerrada dias e dias a fio, lembrando Avalon e as suas velhas e misteriosas histórias sobrenaturais. A magia emana do interior da terra e como que nos agrilhoa ali, àquele largo que se abre no sopé da serra com o seu palácio medieval com aquelas chaminés gigantes onde o Rei de Aviz beijava as suas damas mas “era por bem”.....

Lá aprendi, em tempos, uma canção popular de que já só me lembro do princípio e que diz tudo. Era assim:

Não sei o que Sintra encerra
Que ao vê-la um dia
Nos enfeitiçamos

Não há em nenhuma outra terra
A graça, a alegria
Que nela encontramos

E a beleza não está, para os amantes de Sintra, no Palácio da Regaleira, vulgo do Milhões. A beleza está nos verdes musgados dos parques da Pena, no Palácio de construção romântica do príncipe de Saxe que casou com a nossa rainha D. Maria II e, para mim, especialmente no Palácio de Monserrate e nos seus frondosos jardins em volta que chegaram a ter duzentos jardineiros para tratar deles.



(Palácio de Monserrate)

Nos anos da minha adolescência, nos nossos passeios pela Serra, íamos muitas vezes até Monserrate. Nessa altura, o Palácio estava fechado ao público e das janelas, por onde espreitávamos, podíamos admirar os belos tectos e as paredes. Mas as salas estavam completamente vazias. Que belas histórias de mistério construíamos nas nossas cabeças!

Essa era a verdadeira magia!

(Monserrate, em versão antiga)

domingo, 7 de novembro de 2010

A apanha da azeitona



O olival cá de casa é quase um conjunto vazio. É composto por uma única oliveira que nasceu ali atrás no quintal transportada, há uns anos, ainda em embrião, numa terra vinda do pinhal para um canteiro descarnado.

De há uns três ou quatro anos para cá, a boa da oliveira começou a dar azeitonas que não chegariam ao quarteirão completo e que caíam com o vento e com a chuva. Mas este ano, não se sabe por que divina razão, encheu-se de azeitonas verdes que foram engrossando e tornando-se pretas. E nem queiram saber a excitação que foi cá em casa – não minha, que detesto azeitonas e, ainda por cima, citadina como sou, não dou grande importância a estas explosões mais campestres.

Foram semanas a falar na apanha da azeitona e, esta semana, deu-se: o avô e a neta dedicaram-se com todo o afã à azáfama da apanha das ditas! E não é que ainda se apanharam mais de vinte quilos dos negros frutos?!

Ora vejam:

(eis a oliveira)

(o avô e a neta)


( a neta)

(a avó deu uma ajudinha, pouca...)

(o avô empenhou-se muito...)


(...era às mãos-cheias!)


(e depois foi às alguidaradas...)

(Vejam a satisfação da neta!)


Lembram-se os meus amigos menos jovens daquela adivinha do nosso livro da 2ª ou da 3ª classe que era assim:

Verde foi meu nascimento
E de luto me vesti.
Para dar a luz ao mundo
Mil tormentos padeci.

sábado, 6 de novembro de 2010

We will survive!


A sério! Estamos a ficar fartinhos da crise! Os nossos meios de comunicação só podem ser sádicos porque constantemente nos moem o juízo com a crise e com os (des)mandos do governo e da oposição e do presidente da república e dos juros da dívida pública e do FMI e sei lá o que mais!

Por favor, chega! Não é a primeira vez que enfrentamos uma crise financeira, política ou seja que tipo de crise for! Crise a sério passámos nós nos tempos da ditadura - e mais tínhamos as contas públicas equilibradas (sabe deus a que preço!) - e sobrevivemos e soubemos levantar a cabeça. Portanto, não tenhamos dúvidas que havemos de levantá-la outra vez e outra e outra se for preciso!

Mas para isso há que fazer renascer a alegria e a boa disposição das pessoas e não acabrunhá-las a cada minuto que passa dando razão a quem diz que somos um povo soturno, tristonho, saudosista.

Para isso deixo aqui uma versão extraordinariamente bem disposta da canção "We will survive" que vale a pena ver até ao fim.



quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Devolver os aumentos? Não, obrigado!

(antiga imagem do site da DGRHE - só simpatia e confiança!)

A Direcção-Geral de Recursos Humanos da Educação – vulgo DGRHE – saiu-se com mais uma daquelas orientações que põe logo as escolas a tremer, alertando para possíveis erros nas progressões na carreira de alguns professores realizados nos últimos anos, ao abrigo das duas últimas versões do Estatuto da Carreira Docente, de 2007 e de 2009 e, não contentes com isto, intimava os directores a promoverem, “com a maior brevidade possível”, a devolução das verbas pagas em excesso, sob pena de serem responsabilizados por estas.

São tão engraçados estes “nossos” superiores hierárquicos! No espaço de dois anos lançam dois Estatutos da Carreira Docente diferentes seguidos de toda a parafernália de diplomas e normativos deles decorrentes sem darem tempo às escolas de absorverem as novas determinações e, mais importante ainda, sem promoverem reuniões formativas sobre as mesmas.

As escolas, que não têm advogados nem economistas ao seu serviço, têm sempre imensas dúvidas na interpretação das leis que são, elas próprias confusa, ambíguas e remissivas e sobre estas questões de progressão e outras que implicam dispêndio de verbas. Pedem-se constantes esclarecimentos às ressequidas DRE que raramente têm resposta ou, quando as têm vêm em forma de pareceres e são tão ambíguas e de tão difícil interpretação quanto as leis – entenda-se isto a partir da minha experiência com o senhor advogado e chefe de divisão da DREC – e depois têm o topete de atirar com o odioso das questões para cima das escolas – e agora que (re)inventaram os directores que vão ser “pau para toda a obra” ameaçam-nos com as responsabilidades e, ainda por cima, retroactivamente!

De cada vez que há um novo concurso de professores ou qualquer outro procedimento administrativo para o qual seja criada uma nova aplicação informática, logo a DGRHE promove reuniões com as direcções das escolas para lhes passar o rotineiro “powerpoint” com todos os passinhos de acesso à dita aplicação para que tudo funcione bem aos olhos do público – na avaliação dos professores foi o que fizeram, aliás, foi a única coisa que fizeram! Mas quando se trata de explicar e de aferir procedimentos determinantes como são vencimentos, a avaliação do pessoal ou critérios e orientações pedagógicas, de imediato apelam para a dita autonomia das escolas...

Que conveniente!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A Camioneta Fantasma



Às vezes, detenho-me a ver nos jornais as percentagens das audiências dos programas de televisão . É um bom indicador dos nossos gostos, da nossa maneira de ser.

No outro domingo atrás foi, no mínimo, surpreendente (e assustador) verificar que a chamada gala da Casa dos Horrores – eu bem sei que é a Casa dos Segredos, mas parece-me mais real chamar-lhe Casa dos Horrores porque este reality show (como se diz agora; até parece que a nossa língua não é suficientemente rica em vocabulário para termos de usar as expressões inglesas...) é realmente um verdadeiro horror a todos os níveis! – liderava a tabela, sem qualquer contestação, com 14% de audiência média (43,6% de share, seja isto o que for...) à frente dos (abomináveis) Ídolos da SIC, do jogo do Sporting (e se fosse do Benfica era a mesma coisa!), dos telejornais, etc., etc..

Mas, o que me deixou mais contrariada foi o facto de o último programa da tabela, com apenas 5,8% de audiência e 14,4% de share, fosse o mini-filme histórico “Noite Sangrenta” que o canal público passou em dois episódios emitidos no sábado e no domingo que muito me agradou (aliás tem passado vários filmes desta série sobre acontecimentos históricos da 1ª República) e que versava os acontecimentos trágicos da noite sangrenta de 19 de Outubro de 1921, em que a chamada Camioneta Fantasma liderada por um simples cabo do Exército arrebanhou, de suas casas e da forma mais vil, alguns dos mais notáveis homens da implantação da República, assassinando-os sem se saber, até hoje, a mando de quem.

O meu espanto e o meu desagrado têm a ver com dois aspectos principais: um é que estamos constantemente a ouvir dizer que a nossa História tem tantos episódios tão interessantes para se fazerem peças de teatro e novelas e filmes e sei lá o que mais para instruir as pessoas e dar-lhes a conhecer o nosso passado e, no fim, quando se faz alguma coisa nesse sentido e até com alguma qualidade, há “meia-dúzia” de bem intencionados que vêem o programa.

Por outro lado, e este é o aspecto que menos abona a nosso favor, é que está meio país embasbacado com os insanes desacatos de uns tantos jovens homens e mulheres, todos bem apessoados e vestidos/despidos à moda, diga-se, para atraírem o ”pessoal”, mas de uma boçalidade e de um baixo nível que nos deixam, no mínimo, envergonhados!

Não pretendo armar-me em moralista ou coisa parecida porque é coisa que nunca fui; nem me escandaliza o nosso voyeurismo (aí vai outro estrangeirismo...) que faz parte da natureza humana (lembro-me que me diverti um bocado com os primeiros Big Brother); mas contraria-me o facto de aquelas pobres ”marionetas” terem sido escolhidas pelas suas características mais baixas e mais negativas de forma a dramatizarem com a maior naturalidade os sentimentos e os valores mais baixos da escala, como sendo a mentira, a desconfiança, a inveja, o engano, o fingimento, a traição e sei lá o que mais, tudo rodeado de grandes festas fictícias – as galas – e de uma grande alegria mascarada.

Há, com toda a certeza, outras formas menos perniciosas de divertir as pessoas.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Dia de Finados




Não Choreis os Mortos

Não choreis nunca os mortos esquecidos
Na funda escuridão das sepulturas.
Deixai crescer, à solta, as ervas duras
Sobre os seus corpos vãos adormecidos.


E quando, à tarde, o Sol, entre brasidos,
Agonizar... guardai, longe, as doçuras
Das vossas orações, calmas e puras,
Para os que vivem, nudos e vencidos.


Lembrai-vos dos aflitos, dos cativos,
Da multidão sem fim dos que são vivos,
Dos tristes que não podem esquecer.


E, ao meditar, então, na paz da Morte,
Vereis, talvez, como é suave a sorte
Daqueles que deixaram de sofrer.

(Pedro Homem de Mello, in "Caravela ao Mar")

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ó tia, dá bolinho?



(in pitoreska.blogspot.com)

Só quando vim viver para Leiria (no ano 74 do século passado) ouvi falar no Dia do Bolinho. Em Lisboa, no dia 1 de Novembro, vivia-se (pouco) o Pão-por-Deus. Grupinhos de crianças iam de prédio em prédio, subindo e descendo escadas, a pedir o pão por Deus. E as pessoas enchiam-lhes os saquitos com castanhas, nozes, romãs, chupa-chupas, rebuçados.

A (enorme) novidade para mim, quando vim para cá, foi o bolinho propriamente: essas maravilhosas broas de batata ou de batata doce que as donas de casa coziam recheadas de deliciosos frutos secos e a saberem a erva-doce e a que chamavam merendeiras. Hummm! Uma delícia, mesmo!

O pior, porém, era mesmo o dia 1 de Novembro, quando logo pelas sete da manhã, hordas de garotos começavam a tocar incessantemente às campainhas das portas das casas, logo dando murros nas portas e gritando, alguns, selvaticamente, “Ó tia, dá bolinho! Se não leva no focinho!”

Nunca fui muito apreciadora destes costumes a que alguns chamam de “manter a tradição” – não sou grande seguidora da tradição! – e muito menos nestes termos, de modo que nunca dei a devida resposta a estes pedidos de bolinho indiscriminados.

Actualmente, aqui pela zona onde vivo pelo menos, já poucas crianças se metem nessas andanças, o que a mim me parece muito bem.

Aprecio e muito, porém, o trabalho das Educadoras e das Professoras dos mais pequenitos que, nas escolas, trabalham com eles estes costumes, desenhando, descrevendo, cosendo saquinhos de pano, procedendo ao levantamento de receitas e cozendo, até, com eles as ditas broinhas para oferecerem lá em casa aos familiares.

Não resisto a deixar aqui uma das muitas receitas das ditas “merendeiras” de que eu tanto gosto!

Ingredientes:

1kg de farinha de trigo
1kg de batata
750g de açúcar louro
5 ovos
1 colher de sopa de manteiga
1 colher de sobremesa de fermento royal
frutos secos
erva-doce q.b.
raspa de limão.

Preparação:

Cozer as batatas com sal e transformá-las em puré, juntar a manteiga e misturar bem. Depois juntar o açúcar e, de seguida, a erva-doce. Juntar os ovos inteiros e mexer bem, colocar a farinha e fermento e amassar bem. Finalmente, juntar os frutos secos. Depois fazer bolinhas de massa e levá-las ao forno a cozer.