domingo, 31 de janeiro de 2016

Há 125 anos gritou-se Viva a República...31 de Janeiro de 1891...


"O mais luminoso e viril movimento de emancipação que ainda sacudiu Portugal no último século" , assim definiu João Chagas o levantamento revolucionário de 31 de Janeiro de 1891, no Porto, a primeira grande tentativa republicana de derrube da monarquia.



O ambiente de exaltação revolucionária e patriótica no Porto foi exemplarmente traduzido pela Liga Patriótica do Norte (LPN), fundada a 26 de Janeiro de 1890, logo a seguir ao ultimato. Presidida - a convite do monárquico Luís de Magalhães - pelo prestigiado poeta e socialista Antero de Quental, então radicado em Vila do Conde, a LPN reunia monárquicos e republicanos, irmanados no repúdio ao ultraje inglês e na ambição de recuperação de um país mergulhado em grave crise política, económica e social.

"Portugal - proclama Antero - expia com a amargura deste momento de humilhação e ansiedade de quarenta anos de egoísmo, de imprevidência e de relaxamento dos costumes políticos, quarenta anos de paz profunda que uma sorte raríssima nos concedeu e que só soubemos malbaratar na intriga, na vaidade, no gozo material, em vez de os aproveitar no trabalho, na reforma das instituições e no progresso das ideias".

Para o grande poeta - que após o fracasso do 31 de Janeiro regressa aos Açores, suicidando-se em Setembro de 1891 - o maior inimigo não era o inglês: " Somos nós mesmo, e só um falso patriotismo, falso e criminosamente vaidoso, pode afirmar o contrário. Declamar contra a Inglaterra é fácil: emendar os defeitos da nossa vida nacional será mais difícil (...) Portugal, ou se reformará, política, intelectual e moralmente, ou deixará de existir. Mas a reforma, para ser efectiva e fecunda, deve partir de dentro, do mais fundo do nosso ser colectivo: deve ser antes de tudo uma reforma dos sentimentos e dos costumes. Enganam-se os que julgam garantir o futuro e assegurar a nacionalidade com meios exteriores e materiais, com armamentos e alarde de força militar ".





sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

O papagaio

(Esta tem bolinha vermelha, mas... rir é preciso. Bom fim de semana!)



Quando a vizinha passava, o papagaio gritava-lhe:

- Bom dia, putona linda!

Todos os dias era isto até que a mulher, já farta, foi queixar-se ao dono do papagaio. Este castigou-o pintando-o de preto.



No dia seguinte a vizinha passou e o papagaio não disse nada.

A mulher, com ar triunfante, provocou-o:

- Então agora estás calado, não é?

O papagaio com ar superior e depreciativo respondeu-lhe: 

- Quando estou de smoking, não falo com putas!

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Vergílio Ferreira

Hoje foi dia de (re)ler Vergílio Ferreira. Faz 100 anos que nasceu, lá na aldeia de Melo no concelho de Gouveia.

Bem me fazia reler a Alegria Breve, Rápida a Sombra, Signo Sinal, Para Sempre, Nítido Nulo, Até ao Fim – romances que li avidamente nos anos de 80 e de 90, mas que agora gostaria de reler não com os olhos de quem lê um bom romance, mas com uma perspetiva mais profunda, mais literária.

Hoje, porém, limitei-me a rever algumas páginas do volume I da sua Conta-Corrente que abrange escritos (muito pouco) diários dos anos 1969 a 1976. Um espanto de escrita, de saber, de sinceridade. Sempre gostei.

Dessa (re)leitura breve, retirei para aqui duas entradas de outros 28 de Janeiro.

«28-Janeiro (72) (sexta). Hoje são os cinquenta e seis, quase «sexagenário» - que tal? Manifestação dos rapazes do liceu. Lá lhes disse que obrigadíssimo pela saudação ao «professor» que não gosto de ser. (…) Contei que quando confesso isto a antigos alunos, eles se mostram surpreendidos. O quê? Eu não gostava? Eles diriam que sem ela eu morria de inanição. Pois se eu «disfarço» tão bem… Coube-me o destino de uma fracção de «homem público». E o «homem público» é quase o feminino de «mulher pública». Como o corpo desta está à disposição de todos, está a reputação daquele. Mas se a profissão é má, tem algo bom. Para mim apenas o encontrar mais tarde antigos alunos que se lembram com agrado das aulas que lhes arranjei. Talvez o ter mais tempo para as habilidades literárias. E é só. Tudo o mais é chatérrimo, a começar pelo ordenado. (…)»

«28-Janeiro (76) (quarta). Fiz sessenta anos. Agora quando morrer ninguém dirá que «ainda era novo». É o que bruscamente se me representou: uma vida finda. Mas tenho de sobreviver. Vale-me que em todas as idades da vida se fecha um círculo que as absolutiza. Seja eu pois o que for, isso me será evidentemente verdadeiro, certo, justificável. São os outros, os de menos idade, que poderão discordar. Mas dar neste caso razão aos outros é estar e não estar no meu mundo. O que é absurdo. Entretanto vou pensando numa notícia deste género: «Foi atropelado na via pública um pobre sexagenário»… Em todo o caso, para mim, em «sexagenário» é obviamente um tipo de oitenta anos.»

Escolhi outra entrada que me pareceu bastante interessante pelo momento que acabámos de viver. Ora leiam.

«8 de Junho (76) (terça). Ontem na TV confronto entre os candidatos à Presidência da República: Pinheiro de Azevedo, Ramalho Eanes, Octávio Pato e Otelo Saraiva de Carvalho. Pinheiro de Azevedo, um tonto; o Pato, um catequista mecanizado; o Otelo, um pobre ingénuo; o Eanes, seguro, directo, inteligente. Creio que para todo o País ficou feita a demonstração de quem merece a Presidência. Receava pelo Eanes. Julgava-o tosco, seco de princípios, sem agilidade mental. É expedito, sem alterar a firmeza de ideias. Foi o único que falou «patriotismo», «reencontro de Portugal», história secular. Foi brilhante o modo como anulou o Otelo, envolvendo-o numa geleia de amabilidade. Como a uma mosca. Otelo seria bom, «generoso», mas muito «influenciável». O que é o pior que se pode dizer de um chefe. Ser «influenciável» é não saber o que se quer.»


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Les Comédiens

Por de mais conhecido de vós este meu gosto por música ligeira do século passado.
Por de mais conhecida de vós esta minha tendência para relacionar canções com determinados acontecimentos.

Alguém é capaz de imaginar porque será que desde domingo só consigo trautear esta cantiga Les comédiens dos tempos loucos de Charles Aznavour?


   


Dou uma ajudinha deixando aqui um pedaço da letra...

Viens, voir les comédiens,
Voir les musiciens,
Voir les magiciens,
Qui arrivent

Les comédiens
Ont installé leur tréteau
Ils ont dressé leur estrade
Et tendu des calicots
Les comédiens
Ont parcouru les faubourgs
Ils ont donné la parade
A grands renforts de tambours

Devant l'église,
Une roulotte peinte en vert
Avec les chaises
D'un théâtre à ciel ouvert
Et derrière eux
Comme un cortège en folie
Ils drainent tout le pays
Les comédiens

(...)

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Exame ou não-exame: that is the question...

No nosso país há dois temas que toda a gente se acha no direito de comentar (ou mandar uns bitaites…): o futebol e a educação.

Os jornais e os noticiários desdobram-se em artigos, comentários e opiniões sobre a educação, mas, ao contrário do que acontece com a economia – em que vão buscar especialistas nem que seja à China (?!) – raramente se fazem valer de (verdadeiros) especialistas em educação.

Ontem, espantei-me com uma entrevista feita ao Professor Joaquim Azevedo que o DN promoveu e publicou. O título, só por si, (não me dando embora grande novidade) é francamente inspirador: “O nosso modelo escolar é do séc. XVIII e não está adaptado à realidade”. Depois de dizer muito simplesmente que o modelo está esgotado e que há mais de vinte anos que se sabe que está esgotado, afirma que o problema da educação - que se centra na desatenção e no desinteresse dos alunos pelas matérias escolares que provocam desmotivação e indisciplina - não passa, nem de perto nem de longe, pela realização ou não de exames. A propósito desta «guerra» dos exames e da avaliação formativa, diz que, no seu trabalho pelas escolas, vê que os professores só sabem é classificar (não avaliar…)

Sobre isto menciona o novo modelo de educação implementado na Finlândia e nos colégios jesuítas da Catalunha que rompe completamente com toda a organização letiva passando a estruturar o processo de ensino-aprendizagem a partir de temas que interessem aos alunos. Porém, todo este processo está a ser preparado na Finlândia há trinta anos tendo-se começado a investir nos professores, mudando a formação inicial e as regras de funcionamento da profissão docente. Adaptando esta questão ao nosso país, expõe a forma como se poderia começar a preparar por cá a implementação deste modelo. E, para isso, propõe que a nota mínima de acesso à profissão docente deveria ser 16. Exigir ao nível do que se exige para a Medicina.

Mas a entrevistadora – Ana Sousa Dias – insiste na questão dos exames ou não-exames que muitos dizem que tem a ver com a permissividade e a indisciplina. Ao que o Professor contrapõe: «Isso é uma conversa estafada. Essas tensões existem mas o problema não é esse. É uma mistificação, porque um sistema com exames pode ser altamente permissivo. Ficam bem os que ficam bem no exame. E os outros? Em Portugal, aumentou imenso, nos últimos anos, a retenção no 2.º ano. Porquê? Pelo efeito do exame. Mas aprende-se melhor? Temos de ir um bocadinho mais atrás, mais longe. Esse tipo de discussão cansa-me, não conduz a nada. Vivemos num mundo de faz de conta: faz de conta que escola funciona bem; faz de conta que os exames são bons para os alunos aprenderem; faz de conta que os professores ensinam bem; faz de conta que a legislação que o ministério põe cá fora é eficaz e que os professores e as escolas a seguem, faz de conta que existe avaliação formativa.»

A questão que eu ponho é a seguinte: sendo o Professor Joaquim de Azevedo um homem da área político-partidária mais próxima do PSD, e com os conhecimentos profundos que «ganhou» com os seus estudos e experiência no âmbito das Ciências da Educação, porque não conseguiu pôr algum juízo na cabeça no ministro (C)rato?

O que se tinha evitado!!

domingo, 24 de janeiro de 2016

Felizmente há luar...

«Aquela fogueira, António, há de incendiar esta terra! (...)

Olhem bem! Limpem os olhos no clarão daquela fogueira e abram as almas ao que ela nos ensina!
Até a noite foi feita para que a vísseis até ao fim...

Felizmente - felizmente há luar!»

(Luís de Sttau Monteiro)




sábado, 23 de janeiro de 2016

Vote!


É que é...



sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Dia de reflexão

Sugestão para o dia de reflexão: façam como Jane Birkin e o Serge Gainsbourg...

(lembram-se deles? Je t'aime, moi non plus...)



quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Eu voto nele!


E não apenas porque conheço a sua obra há muitos anos. E não apenas pela sua independência e isenção. Desde que Cavaco - com a sua proverbial incapacidade de avaliar as pessoas - o convidou para «cabeça de cartaz» daquele 10 de Junho de 2012 fiquei com a nítida noção de que ele seria o Homem.

Mas porque há quem o diga muito melhor do que eu, deixo aqui parte das razões apontadas pelo Professor Carlos Fiolhais para votar em António Sampaio da Nóvoa.

«Vou votar em Sampaio da Nóvoa. (...) 

Mas não votarei em Sampaio da Nóvoa apenas por ele ser independente e isento. Votarei nele porque, uma vez eleito, saberá transmitir ideias mobilizadoras. O Presidente pode não ter, à parte situações de crise, muitos poderes, mas tem sempre o poder da palavra. E as palavras importam: traduzem ideias e determinam o futuro. São as palavras que nos orientam no meio da incompreensão e da incerteza. As palavras que queremos ouvir como fazedoras de futuro são, com certeza, democracia, liberdade, solidariedade, mas são também ciência, educação e cultura. E todas essas palavras têm sido ditas, sem dúvidas nem equívocos, por Sampaio da Nóvoa.

Antero de Quental, no manifesto de 1871 que anunciava as Conferências Democráticas, co-assinado com Eça de Queirós, falava da necessidade de “agitar na opinião pública as grandes questões da Filosofia e da Ciência moderna”. Em Causa da Decadência dos Povos Peninsulares Antero escreveu: “A Europa culta engrandeceu-se, nobilitou-se, subiu sobretudo pela ciência: foi sobretudo pela falta de ciência que nós descemos, que nos degradámos, que nos anulámos.” Hoje tornou-se claro que não há futuro sem conhecimento. O extraordinário desenvolvimento da sociedade humana nos tempos modernos deveu-se precisamente à ciência. Sampaio da Nóvoa como Reitor da Universidade de Lisboa colocou a ciência à cabeça. Ciência é uma palavra de futuro.

Mas, se o nosso atraso vem da falta de ciência, de onde vem a falta de ciência? Volto a Antero: “Dessa educação, que a nós mesmo demos durante três séculos, provêm todos os nossos males presentes.” O nosso défice de ciência veio do nosso défice de educação, outra palavra sem a qual não há futuro. Ficámos feridos com a nossa falta de escola no século XIX. O caso do atraso educativo português faz aliás parte dos livros de história do desenvolvimento. David Landes, economista de Harvard, apontou o dedo ao nosso analfabetismo na sua obra A Riqueza e Pobreza das Nações: “O contraste no analfabetismo entre os países do Sul e os do Norte da Europa é indubitavelmente grande. Por volta de 1900, 3% da população da Grã-Bretanha era analfabeta, o número para a Itália era 48%, para Espanha 56% e para Portugal 78%”. O défice de qualificações é hoje o grande drama nacional que urge superar. Ainda temos 5% de analfabetos e a percentagem de pessoas com um grau de ensino superior não chega aos 17%. Apesar dos progressos recentes, continuamos na cauda da Europa na qualificação da população activa. Sampaio da Nóvoa lembra-nos que falta ao nosso país uma escola que persista no trabalho e que prepare para o trabalho persistente.

Finalmente, a terceira palavra de futuro: cultura, ao mesmo tempo condição e resultado da ciência e da educação. Na linha da Questão Coimbrã, os republicanos preocuparam-se com a cultura. António Sérgio, o pedagogo que foi ministro da Educação na Primeira República, afirmou: “o problema da cultura, o problema da mentalidade: este é, se me não engano, o problema característico de Portugal moderno, e o mais grave dos problemas da sociedade portuguesa.” Sophia Breyner Andresen, a poeta que foi deputada na Constituinte, explicou: “perante a política a cultura deve sempre ter a possibilidade de funcionar como antipoder”. E Alexandre O´Neill, o poeta amargurado e irónico, resumiu: “Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo/ golpe até ao osso, fome sem entretém.” Sampaio da Nóvoa leu e lembra-nos as palavras deles.»

Compreenderão que isto representa muito mais do que quantos Marcelos, do que quantas Marisas podem oferecer.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Alguma decência, alguma humildade

«Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.» (…)

«Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?»







Se me sinto acabrunhada porque alguma coisa me correu francamente mal, porque me desentendi com determinada situação, ou porque conflituei com determinada pessoa, e me permito um desabafo, a última coisa que eu quero é que me mostrem como isso nunca se passa com quem desabafo.

Acontece – ou, pelo menos, acontecia – nas salas de professores e nos conselhos de turma lá na escola. Uma pessoa queixava-se de determinado aluno ou de certa turma e havia sempre quem, ato contínuo, despejasse para cima de nós que não, nunca tivera o mínimo problema com esse aluno, com essa turma.

Tivemos lá aquela responsável pelos serviços administrativos, pessoa de feitio execrável de que já aqui falei, que fazia questão de (des)tratar, de nariz empinado e olhando-nos de cima para baixo,  tudo quanto fosse professor que se lá dirigisse para pôr a mínima questão. De uma das vezes que estive à frente dos destinos da escola, ingenuamente tive um desabafo, entre pares, a propósito da dita pessoa, e logo recebi a voz sobranceira da minha antecessora – derrotada nas eleições – dizendo cheia de certeza e de autoconfiança: «Olha, eu nunca tive problemas com ela!»

Educadamente sorrimos, nem que seja com ironia, mas ficamos – eu, pelo menos, fico – bastante contrafeitos!

Sofremos, cá no país, de um enorme deficit em formação pessoal e em formação social. Não sabemos como tratar com as pessoas, ao nível das maneiras e, pior, ao nível da interação. Mostrarmo-nos de igual para igual e com uma boa dose de humildade é, para nós, portugueses, “colocarmo-nos por baixo”. A preocupação é mostrarmos como somos tão melhores do que os outros, como somos gémeos da perfeição. Se amachucarmos os outros no seu íntimo, paciência! Se impusermos toda a nossa “sapiciência” para cima dos outros, tanto melhor! Ah! E se pudermos dar uma série de ensinamentos e conselhos, bom! isso é a “transcendência”….

Se me sinto acabrunhada, a última coisa que eu quero é uma pessoa que despeje todo o seu “saber sei lá de que experiência feito” para cima de mim. Mas também não quero condescendentes palmadinhas nas costas.


Apenas alguma decência e alguma humildade chegarão…


terça-feira, 19 de janeiro de 2016

1926 - 2016




Lá longe ao cair da tarde
Quando uma saudade se esvai, ao sol poente
Como canção dolente duma mocidade
Lá longe ao cair da tarde.


Até sempre!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Livros e autores

(daqui)


Tanto livro bom a sair e não conseguir ler tudo! [faz lembrar o louco verso de Campos «Quero sentir tudo de todas as maneiras»]. Não se trata de falta de tempo. É que, mesmo que conseguisse passar todo o tempo a ler – o que não seria possível e ainda bem – não daria para ler tudo o que eu acho que deveria ler!

Nas livrarias – em algumas – há livros que parece que se me agarram às mãos, mas não há tempo, nem espaço, nem dinheiro para tanto material de leitura. E depois há os jornais e as revistas de livros e leituras que não param de nos informar, de nos dizer o que há mais para ler. Tanta poesia boa. Tanto romance de grandes autores nossos a serem reeditados e que ainda não foram lidos. Tantos estudos literários interessantes para conhecer!

Na rubrica Maisartes do DN de sábado o jornalista João Céu Silva dá notícia do Livro Viagem a Itália 1786-1788 de Goethe com prefácio e tradução de João Barrento, nome que, de alguma forma me é próximo e não apenas pelo lançamento da obra da misteriosa Maria Gabriela Llansol ou pela fundação do Espaço Llansol em Sintra, mas muito especialmente porque foi meu professor na Faculdade. Mau professor, diga-se, porque pouco ou nada consegui aprender com as suas aulas de literatura norte-americana. Conhecendo o seu trajeto de estudos literários, percebi que se dedicou mais profundamente à literatura alemã, pelo que acredito que ter dado aulas de literatura norte-americana nos primórdios da sua carreira possa ter sido uma necessidade mais do que um gosto ou um prazer.

O curso de Germânicas, nos idos de 60, numa época em que o centro do conhecimento ainda era a cultura francesa, não era o mais bem lecionado ou o mais conseguido da Faculdade de Letras de Lisboa, se bem que fosse já o mais concorrido, o mais procurado pelos alunos. Os professores catedráticos de grande nível pertenciam ao Departamento de Românicas, enquanto o Departamento de Germânicas tinha apenas um professor catedrático que… enfim… Valia-nos o facto de termos algumas cadeiras comuns em que podíamos usufruir de algum bom ensino, de algum encantamento.

De facto, a nossa passagem pela Faculdade, pelo menos naquele tempo, tinha mais de encantamento do que propriamente de absorção de conhecimentos. Pelo menos para mim foi. Vinda de um Liceu opressor como eram os Liceus de Lisboa naquela época, a passagem pela Faculdade foi uma libertação, uma aprendizagem social e pessoal, uma abertura de vistas apesar da situação fascizante e o ambiente pidesco que se vivia: no ano da crise académica de 1969 estava eu a terminar o 3º ano.

Mas aquele foi o tempo em que eu tive o contacto possível com a «transcendência» … É que tive professores como Vitorino Nemésio, Lindley Cintra, Monteiro Grilo, ou seja, o poeta Tomaz Kim, o Padre Manuel Antunes; tive assistentes como António Machado Pires, Ivette Centeno e Teolinda Gersão, todos em início de carreira; cruzei-me nos corredores com o grande (e super vaidoso…) David Mourão-Ferreira, com os Prado Coelho pai e filho, com José Barata Moura, além de que tive colegas como Nuno Júdice e Luís Miguel Cintra. Foi ou não foi um encantamento?


domingo, 17 de janeiro de 2016

Para começar bem a semana...

Um casal de alentejanos estava a jantar e partilhando uma garrafa de vinho de Pias, quando a certa altura ele diz:

- Maria, aposto que nã és capaz de dizeri alguma babosêra, que me ponha sastefêto e apoquentado ao mesmo tempo ...

A mulher pensou um bocado e respondeu-lhe:


- A tua “gaita” é a maior cá dos homens da aldêa!!!

sábado, 16 de janeiro de 2016

Marcelo e as Tágides

Natália Correia sobre Marcelo Rebelo de Sousa

«o tal que um dia concorreu a presidente da autarquia de Lisboa».

MARCELO E AS TÁGIDES

Marcelo, em cupidez municipal
de coroar-se com louros alfacinhas,
atira-se valoroso - ó bacanal! -
ao leito húmido das Tágides daninhas.

Para conquistar as Musas de Camões
lança a este, Marcelo, um desafio:
Jogou-se ao verso o épico? Ilusões!...
Bate-o Marcelo que se joga ao rio.

E em eleitorais estrofes destemidas,
do autárquico sonho, o nadador
diz que curara as ninfas poluídas
com o milagre do seu corpo em flor.

Outros prodígios - dizem - congemina:
ir aos bairros da lata e ali, sem medo,
dormir para os limpar da vil vérmina
e triunfal ficar cheio de pulguedo.

Por fim, rumo ao céu, novo Gusmão
de asa delta a fazer de passarola,
sobrevoa Lisboa o passarão
e perde a pena que é de galinhola.

in INÉDITOS 1979/91




O que escreveria agora a Poeta se ainda se encontrasse entre nós?! 

Será que ainda veremos o candidato Marcelo a surfar a onda na Praia do Norte na Nazaré?

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Sábado de chuva

Chovia desalmadamente, mas não podia nem queria deixar de ir à Marinha Grande assistir ao concerto de piano do João Costa Ferreira, que recentemente foi galardoado com o prémio “Melhor revelação artística” em Paris (e que, por acaso foi meu aluno ali na “minha” D. Dinis.)

Com apenas 29 anos, detém o Diplôme Supérieur d’Exécution em piano da Ecole Normale de Musique de Paris e é mestre em Música e Musicologia pela Sorbonne, sendo professor no Conservatório Georges Bizet de Paris.



Neste concerto de Ano Novo que realizou no renovado Teatro Stephens, o João apresentou, pela primeira vez em Portugal, cinco rapsódias inéditas de José Vianna da Motta descobertas e por si estudadas e trabalhadas. Para além destas interpretações, presenteou-nos com um Noturno do pouco conhecido compositor português porque desaparecido aos 21 anos - palavras do pianista – António Fragoso e ainda a belíssima Sonata ao Luar de Beethoven e o romântico Noturno nº 9 de Chopin.

Interpretações de elevado nível de execução, com momentos de enlevo e outros de verdadeiro arrebatamento, sem pauta, e em que as mãos do pianista quase voavam por cima das teclas mal lhes tocando. Muito bom. Ou pelo menos eu gostei muito.



Enquanto esperávamos pela hora do concerto, e apesar das bátegas de água que teimavam em cair furiosamente, ainda entrámos no edifício da Antiga Fábrica de Resinagem, também ela, tal como o Teatro Stephens, recentemente restaurada, onde assistimos ao fabrico de algumas peças de vidro.














A propósito, deixo  aqui a imagem de um baixo-relevo da autoria do escultor Luís Fernandes  que vi no Teatro Stephens e que ilustra a produção do vidro no tempo do Egito Antigo.


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

São nêsperas, senhor!!

Nêsperas em Janeiro?! 

A nossa nespereira sente-se algo confusa com o Inverno primaveril que se tem feito sentir. E então, depois de se encher de frutos em Novembro, pensando que já está em finais de Março, está a amarelecê-los...

O milagre das rosas pode ter-se dado aqui por Leiria, poiso do nosso Rei-Poeta (que por acaso era um bom "vadio") e da sua paciente Santa Esposa. Então porque não dar-se agora o milagre das nêsperas?!






terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Mudança de paradigma

Aqui d’el rei que o novo (novíssimo) ministro da Educação acabou com os exames dos 4º e 6º anos sem dizer nada a ninguém! O DN não para de escrever sobre o assunto nas suas páginas quase dia sim, dia não. Que não foi feita uma avaliação do sistema de avaliação por exames, que as pessoas não foram consultadas, que os professores não concordam, que não sei o quê, não sei o que mais…

«Conhecidas» – porque se fizeram conhecer – professoras do ensino secundário afirmam no facebook que não concordam nada com esta mudança abrupta e que não viam mal nenhum em que se fizessem exames no 4º ano; outros respondem-lhes que voltamos à promoção da ignorância.

Ignorância é realmente continuar a acreditar que os alunos ficam mais educados, mais instruídos, mais aptos para a vida só pelo facto de fazerem umas quaisquer provas de exame logo aos 10 anos. Provas para as quais os professores gastavam aulas e aulas a mecanizar os alunos em detrimento de aulas planeadas para o desenvolvimento das mentes e das matérias.

Não me lembro que o ministro (C)rato tenha consultado ou informado ou posto à discussão pública a sua política de educação, de triste memória, nem que tenha realizado estudos para que ela fosse adotada! Lembro-me que escreveu um livrinho com um título que pretendia trazer infâmia sobre o paradigma educacional baseado nos estudos realizados pelas Ciências da Educação de que foi «pai» o excelente ministro Roberto Carneiro tendo encomendado os célebres e bem gizados Documentos Preparatórios de que já ninguém se lembra e que, infelizmente, poucos professores leram e estudaram. Nesse livrinho, que por acaso também poucos professores leram, o ministro (C)rato deixou claro o estilo de organização e avaliação de conhecimentos que defendia para a Escola e como pretendia fazê-la regressar aos tempos anteriores a Veiga Simão e que quase ia conseguindo.

Já o disse aqui antes e por mais de uma vez que os pseudo-elitistas deste país aplaudiram de pé e foram muitos os professores que o fizeram, embora depois, muitos deles tenham entendido o logro em que tinham caído.

Hoje o novo (novíssimo) ministro da Educação veio a público dizer apenas aquilo que é a mais simples das verdades: que as mudanças agora introduzidas no sistema de avaliação do ensino básico têm um só propósito que é repor o conceito de Escola como uma escola inclusiva, uma escola para todos e não como uma escola seletiva!

É só isso (o que não é nada pouco!) Quem não entende, paciência. É porque ainda está a viver ou com o pensamento posto no 24 de Abril.






segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Canções de Amor (7)

Sempre influenciada pelos gostos musicais do meu pai, grande apreciador e conhecedor da música dos anos 40 e 50, as minhas primeiras preferências em termos de música ligeira e de canções de amor foram para a belíssima e sensual música sul americana - boleros e tangos. 

"A" canção dos meus pais era o Besame mucho (seguida do Begin the Beguine). Um dos meus primeiros "encantos" foi mesmo o Sabor a mi pelo trio Los Panchos, bolero que aqui deixo nesta interpretação mais atual.



Outra das lindas canções que cedo me encantaram foi o El dia que me quieras, tango que já teve mil interpretações, mas que deixo aqui no seu original pelo Carlos Gardel.




Boa semana musical!

domingo, 10 de janeiro de 2016

Chove que se farta!!!

E que tal aproveitar da melhor maneira a oportunidade que nos é dada?! (mas cuidado com as constipações...)



sábado, 9 de janeiro de 2016

Cuidado, amigos!!

Nada de enganos!!!


sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Are you lonesome tonight?

Não, não é nenhum tipo de convite para sairmos hoje à noite... 

É que hoje é/seria o dia de aniversário do Rei Elvis (8 de Janeiro de 1935 - 16 de Agosto de 1977) e, como nunca me esqueço deste meu ídolo da minha juventude, deixo aqui a minha canção preferida (ou uma das minhas preferidas, que isto do grau superlativo é muito relativo...) na sua belíssima voz.

(E que lindo que ele era?!... Ui!)

Espero que gostem.



quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Histórias da minha rua (9)

A vizinha tem uma filha no 10º ano. Aqui na escola secundária. Escola suburbana. Escola que a miúda frequenta desde o 7º ano com sucesso e sem problemas.

Este ano as coisas não têm corrido muito bem em termos de relação professores - alunos. Os miúdos têm vindo a queixar-se de uma boa parte do elenco dos professores da turma sobre a forma como a matéria lhes é administrada e por causa da chuva de negativas baixas que lhes caíram em cima durante todo o 1º período. De facto, não é, no mínimo, curial , um professor classificar com negativas – e algumas vergonhosamente baixas – vinte em vinte e cinco testes! Eu, professora, ficaria desesperada com esses resultados! Como é que eu teria preparado os meus alunos para esse teste?! Mal. Muito mal. Mas ali as colegas limitam-se a atribuir as culpas para os professores do ciclo anterior (que por acaso são da mesma escola) e a intimarem-nos a ler.

Ontem houve reunião com os encarregados de educação para entrega das avaliações e a vizinha veio de lá desesperada. Alguns pais queixaram-se ao diretor de turma sobre alguns professores que se limitam a ler powerpoints nas aulas e, se os miúdos dizem que não percebem, não há tempo para tirar dúvidas. Ao que lhes foi respondido que os programas mudaram, os programas têm de ser cumpridos e quem tiver dúvidas que vá às aulas de apoio. Isto agora é 10º e os professores têm que preparar os alunos para o ensino superior.

A vizinha veio angustiada e dizia que, com o que o diretor de turma dissera, tinha saído com a sensação de que agora é assim: quem entende, entende e aguenta-se; quem não entende, fica pelo caminho. Coitados dos nossos filhos, lamentava-se ela.

De facto, estes senhores professores ainda não conseguiram compreender – ainda não houve quem lhes passasse os powerpoints(!!) – que o ensino passou a ser obrigatório até ao 12º ano (se eu concordo? se calhar não concordo com esta obrigatoriedade de 12 anos, mas está legislada e aceite.) E o ensino obrigatório é para todos, não é seletivo como no tempo em que eles foram alunos. E que o ensino secundário tem os seus próprios objetivos e nenhum deles é «preparar os alunos para o ensino superior».


Ai, ai! Quando é que estes professores deixam de ser (pseudo) elitistas, deixam de se considerar máquinas de «dar matéria» e assumem a sua missão (superior) de fazerem os alunos aprender?


quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Neve

(vi no facebook e não resisti a trazer para aqui...)








«Branca e leve
Branca e fria»...


E cá em Leiria que só chove!!...

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Citadinos



Como os buracos de um crivo, apertadas,
As filas de janelas; empurrando-se,
As casas tocam-se de perto, erguendo-se
Pardas e inchadas como estrangulados.

Engalfinhadas umas nas outras vejo
No carro eléctrico as duas fachadas
De gente, descarregando olhares, caladas,
E cresce o emaranhado do desejo.

As paredes são finas como a pele,
Todos me ouvem quando choro, ou então
É como um berro a conversa ciciada:

Emudecidos, em caverna fechada,
Sem ninguém que lhes toque, olhe para eles,
Todos estão longe e sentem: solidão.


(Alfred Wolfenstein, traduzido por João Barrento, in A Alma e o Caos)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Eduardo Lourenço

Não sei falar da obra de Eduardo Lourenço, o pensador que sabe e tem escrito (quase) tudo acerca da nossa cultura. Uma vez que falei nisso à minha saudosa amiga Amélia Pais, ela aconselhou-me a ler “Fernando, o rei da nossa Baviera”, que era o livro de Eduardo Lourenço de que ela mais gostava. Fiquei a entender o valor, a qualidade, a profundidade de pensamento e de conhecimentos que jorram dos seus textos. É por isso que não perco um texto, um comentário, um ponto de vista seu que apareça num jornal, numa revista.

Ouvi-o uma vez apenas e foi na apresentação que José Sócrates fez do seu livro na Biblioteca Nacional na primavera de 2014 e fiquei encantada com a sua eloquência fácil, a singela exposição dos factos e acontecimentos históricos e sociais que, desde a Antiguidade, têm influenciado toda a nossa vida ocidental, toda a nossa razão de ser. Ouvi-lo é como se todas as peças de um imenso puzzle rapidamente se integram umas nas outras fazendo com que tudo tenha um sentido.




E tudo isto por um senhor que já conta 92 anos de vida e de intenso estudo. É espantoso! Por isso gostei de saber que foi distinguido por mais um prémio, a primeira edição do Prémio Vasco Graça Moura (que teria feito ontem 74 anos), depois de ter recebido o Prémio Camões (1995) e o Prémio Pessoa (2008) entre muitos outros nacionais e internacionais.

O Diário de Notícias noticia isso de forma quase poética: «Eduardo Lourenço junta Graça Moura a Camões e a Pessoa» e relata a forma simples e algo humilde como o grande estudioso e pensador fala daquilo que faz: «Quando lhe perguntamos como corre o seu trabalho nos dias de hoje, responde: "Tenho sempre muita dificuldade em chamar trabalho àquilo que eu fiz. Acho que era o Mastroianni que dizia que não percebia como é que lhe chamavam trabalho quando, afinal de contas, ele só tinha prazer naquilo que fazia. Eu não sou o Mastroianni, mas é a mesma coisa. Não me posso considerar um trabalhador, é ofender os trabalhadores verdadeiros." Conta que continua "a ler bastante" e "a escrever", mas di-lo como quem é obrigado a comentar uma rotina matinal.»

Mas melhor do que tudo o que eu possa dizer, será passar a palavra a Guilherme de Oliveira Martins, outro grande senhor da cultura portuguesa e presidente do júri que atribuiu o Prémio Graça Moura, que diz: «Eduardo Lourenço segue os passos da Geração de 70 demarcando-se da religiosidade tradicional, e de um sentimento universal, notados em Fradique Mendes e depois na galáxia Fernando Pessoa e no modernismo. Nesta ligação, o ensaísta assume grande originalidade ao articular (como antes ninguém fizera) as Conferências Democráticas e o Orpheu. "A história e o destino de Portugal nunca foram trágicos fora da tragédia adiada que a vida é. Também não o são agora. Pela primeira vez, o nosso país vive-se a si mesmo e começa até a ser visto pelos outros, como um povo insolentemente feliz." Lourenço falou, por isso, de "maravilhosa imperfeição", como marca indelével de Portugal. Nem contentamento nem desconcerto, do que se trata é de procura de um sentido emancipador. Perante as nuvens negras da crise, o seu tema é o da vontade, que supere uma ciclotimia antiga. O tema de Portugal como Destino está de pé. Longe dos mitos da glorificação ou do pessimismo são urgentes a liberdade e a vontade! Afinal os mitos obrigam a ter deles uma leitura exigente e crítica.»