quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Parabéns, António!

(Se assim me é permitido dizer – eu que não passo de uma paramécia…)

Fiquei a saber – abençoado facebook! – que o escritor António Lobo Antunes, que considero o nosso  melhor escritor vivo, faz hoje anos. 74 para que conste. Por isso digo: Parabéns, António!

Corri lá acima para ver se encontrava no seu livro de Cartas de Guerra (que diariamente escreveu, no ano de 1971, a sua mulher Maria José Fonseca e Costa, quando esteve na guerra do ultramar em Angola) uma carta datada do seu dia de anos. E encontrei. Passo a transcrevê-la.

«Gago Coutinho
  1.9.71

Querido amor

Faltam já só vinte e tal dias para te ver, e, à medida que a data se aproxima, o tempo parece tornar-se mais lento… Fui hoje ao Ninda, e suponho não ter de voar mais até à próxima quarta-feira: sete dias de existência terrena, de platitude.

Espero que mantenhas esses 55 kilos! A mim, magníficas rotundidades! Quanto ao cafeco [a filha bebé que ainda não conhecia] começo a perder as esperanças de ver retratos dela… Os rolos estragam-se uns após os outros… Diabo de sorte!

Começam a andar no ar boatos acerca de uma possível rotação do batalhão para uma zona melhor, mas tudo, ao que penso, sem consistência. A verdade é que temos já 5 mortos – fora o resto. O batalhão anterior teve só 1 morto em combate durante quinze meses, e por esta comparação podes ver o recrudescimento da guerra por estar bandas. Mas não falemos mais nestes tristes assuntos.

Já me esquecia de que faço anos hoje. Ninguém aqui me deu os parabéns porque ninguém sabe. E eu próprio não me sinto como dantes me sentia nesta data. Tenho a impressão de que o dia 1 não representa nada para mim. a velhice, a usura. E este melancólico desencantamento…

Há que tempos que não escrevo aos meus pais. Nem aos teus. O teu velho faz anos no dia 7, mais ou menos, não é? Teve a lata, coitado, de me mandar um livro chamado «Saber ser pai». Eu sinto-me mais teu amante do que teu marido: cada vez que penso em ti relambo os beiços. E, a propósito, gosto tudo de ti, facto notabilíssimo.

Milhões de beijos do
António

Saudades à criancinha, fruto dos nossos ardentemente ilegítimos amores.
GTS»


(O último livro de Lobo Antunes que lei foi «As Naus» publicado em 1988 - um portento! Hei de falar desse livro, um dia destes.)


(no colo de sua mãe)

(com a sua mulher Maria José)


(em Angola)


(capa do livro Cartas de Guerra)


(O Ninda, Angola)

Anunciando o fim do Verão

(Pressuposto: para mim, Verão é praia e dias longos. De modo que, quando chega o fim de Agosto, chega o fim do Verão, mesmo sabendo como o Setembro é quente aqui em Leiria.)

Oiçam bem (relembrando, naturalmente...) esta canção maravilhosa e vejam se não é mesmo um anúncio ou prenúncio do fim do Verão...




Este prodígio da canção americana gravou um único LP porque não viveu o suficiente para escrever e cantar mais (1941-1967) Morreu, aos 26 anos, num acidente aéreo durante uma tournée pelo espaço americano. Uma pena.

Gosto de todas as suas interpretações, mas a mais, mais de todas é «These arms of mine» (they are yearning of wanting you...) Muito sensual.




terça-feira, 30 de agosto de 2016

Parabéns, Dona Cleo!

Cleonice Berardinelli – cem anos!

Esta senhora, figura grande do estudo e do ensino da literatura portuguesa no Brasil, professora universitária e membro brilhante da Academia Brasileira de Letras, completou cem anos no passado dia 28.

Especialista em Camões e Fernando Pessoa, não desmerecendo autores desde Eça até Saramago, considera a Literatura Portuguesa – que conhece profundamente – a base de tudo. E diz: «Nós chegamos até aqui porque existiu lá atrás um sujeito chamado Camões. Ninguém mais conhece Dom Diniz, que escreveu as cantigas de amor mais lindas. Então, tudo isso é o lastro de conquistas seguidas até se chegar ao século XVI, com os artistas já considerados clássicos. Até chegar o Gil Vicente, foi preciso passar antes pelos esboços de teatro de Henrique da Mota, por exemplo

Dona Cleo formou gerações e mais gerações de professores e intelectuais. Alguém lhe pergunta o que significa leccionar, ao que responde com toda a simplicidade: «Tudo. A aula é o começo de tudo. O que eu escrevi foi a partir do que eu estudei para ensinar. Os ensaios que eu escrevi nasceram na sala de aula. A minha atividade como professora, como didata, é a raiz de tudo que eu fiz, de tudo que eu escrevi. Uma pessoa que me entrevistava me perguntou: "Como pode a senhora chegar a esta idade com este entusiasmo, esta paixão pelo que faz?". Eu disse: "Porque nunca parei de dar aulas e nunca parei de fazer exatamente aquilo de que eu gosto". Então, trabalhar naquilo que se gosta é realizar-se. É a impressão que eu tenho. Se me obrigassem a pentear cabelos, eu seria uma desgraçada total. No terceiro cabelo, eu já estaria louca. Eu penso nisso porque sempre detestei me pentear.

Em magnífica forma, dizem os seus amigos, mantém a sua capacidade de comunicação e de ler bem os versos dos poetas que estudou e admira.


E em dias de festa para a língua portuguesa, a escritora e amiga Nélida Piñon também celebra: “são 100 anos augustos, benditos. E teve uma vida muito bonita. Ela serviu ao rei que ela queria: a língua portuguesa”.


Oiçamo-la!




(Para saber mais:)



segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O impedimento

A Presidente eleita do Brasil foi impedida de governar por um grupo de pessoas que, tal como por cá, estavam com uma enorme vontade de «ir ao pote».

Foi impedida, obstruída, desacreditada, depreciada, descredenciada, despojada, impugnada – tudo sinónimos que esclarecem o significado de impeachment que os nossos irmãos brasileiros preferem referir.

Segundo a Wikipedia, na acepção jurídica, impeachment significa 'acusação e processo de uma pessoa por traição, outro grande crime ou afronta a um tribunal competente'. É disto disto que acusam a Presidente eleita do Brasil. Mesmo que, ao contrário dos seus acusadores que lhe tomaram o lugar, nada de grave haja de que possa ser incriminada ou se prove. Cometeu erros? Ah, certamente. Pois quem não os comete todos os dias, mesmo sendo figura com uma responsabilidade desta envergadura?

Hoje a Presidente eleita teve de se submeter ao mais humilhante interrogatório perpetrado por um Senado vendido (ou comprado, sei lá qual é a pior perspetiva!) para ver se a deixam continuar a ser Presidente ou se será banida e proscrita como uma vulgar criminosa. Lamento muito por ela!

Hoje deveria ter sido um dia em que todos os democratas deste mundo teriam saído à rua em defesa da Democracia. Mas sei bem que isso não acontece. Só nas palavras politicamente corretas que hipocritamente dizemos e nos contos de fadas e princesas encantadas… Sinto muito por ela…

(Faz-me lembrar – com a distância de anos-luz e com a dimensão da mais ínfima paramécia perante a grandeza de uma Presidente eleita de um país com o tamanho e a população do Brasil – como também tive de me submeter a uma entrevista realizada por um encarregado de educação novato, pequenote e com tiques de patrão, também ele "comprado" por quem quis impedir-me (e conseguiu, apesar da enorme distância de currículo que nos afastava!) de continuar a ser presidente lá do meu agrupamento de escolas. Uma entrevista a que respondi com todo o brio profissional de anos e com um «saber de experiência feito» em que o pequenote simulava fechar os olhos com sono enquanto eu falava… Nunca me senti tão humilhada na minha vida.)

O impedimento de uma Presidente eleita sem qualquer acusação jurídica formada e que dá «o peito às balas”, para ser substituída por gente com processos de corrupção pronunciados é a maior das humilhações pessoais, públicas, políticas … Sinto muito! Sinto muito pela Presidente eleita. Sinto muito pelo Brasil!



domingo, 28 de agosto de 2016

Turismo à portuguesa

É sabido que São Pedro de Muel é os meus encantos. E a casa do poeta Afonso Lopes Vieira, ali bem frente ao mar, a «casa-nau» ainda faz mais os meus encantos.



Quando íamos de férias para São Pedro, a casa era habitada por umas velhas senhoras, finíssimas, e na varanda sobre o mar viam-se as crianças da Colónia Balnear que o poeta recomendou que funcionasse ali para os filhos dos vidreiros e dos bombeiros da Marinha Grande e também para os do pessoal da Mata Nacional.

Sinto um encantamento especial que não consigo explicar por tudo o que envolve quem tem o dom da criação literária por isso (também por isso) aquela casa bem tratada e de recorte bem português (foi desenhada por Raul Lino) sempre exerceu sobre mim o maior fascínio. Sempre desejei lá entrar e, embora se visite de há uns anos para cá – foi chamada de Casa-Museu de Afonso Lopes Vieira – nunca consegui encontrá-la aberta ao público de cada vez que lá passo.

Este fim-de-semana, li, realizava-se em São Pedro o Festival Afonso Lopes Vieira com passeios pedestres, palestras, poesia dita, concerto para crianças, e sei lá o que mais. E então o que é que eu pensei? Que a Casa-Museu estaria aberta ao público. Nada mais natural. Assim, após o almoço, lá nos abalámos de passeio até à magnífica praia de São Pedro para, finalmente, entrar naquele espaço quimérico, surpreendente.

Mas surpreendente (para não dizer contundente…)  foi o facto de a Casa-Museu lá estar linda na sua aura poética, mas fechadinha, sem um horário, sem uma nota ao visitante. Nada.

Chegou outro senhor que tocou à campainha e nada. «Disseram-me ali no café que a menina devia vir às duas mas telefonou a dizer que estava um bocadinho atrasada…» Eram três e um quarto… e nada. Desistimos: o senhor e eu.

Dei uma volta e vi que no local da Colónia Balnear estava a funcionar um qualquer entretenimento de crianças com os inefáveis insufláveis onde perguntei se não se podia visitar a Casa. A jovem foi de uma extrema amabilidade e telefonou a saber. Que não, que no verão não havia visitas…  Mas no inverno também as não há que eu sei. Pois, dizia a jovem, que sabia que a Casa fora submetida a obras de restauro e que não tinha ficado pronta a tempo. Mas que se eu quisesse saber mais que fosse falar com o João da pastelaria «tal»…

Com o João da pastelaria?! O que é isto? Um espaço museológico de nome e não há uma informação, uma nota, um esclarecimento? Se não se tivesse passado comigo, eu não acreditava…

Mas não se perdeu o passeio! O tempo estava lindo, sem a habitual bruma (que tanto encantava o poeta), o cheiro a pinhal e maresia era intenso, o mar com bandeira amarela a permitir um bom banho e a praia cheia de gente…






sábado, 27 de agosto de 2016

Música para o fim de semana

Oh como eu gosto de «dar música ao pessoal»!! Esta é dos anos 50 e serviu de tema musical ao filme «A Volta ao Mundo em 80 Dias».

Gosto especialmente desta interpretação na voz do doce Nat King Cole de 1950. Mas não posso deixar de trazer aqui a versão de Frank Sinatra. (1958)

É que ... gostos não se discutem!







Ambos canta(va)m maravilhosamente, mas eu cá... prefiro o Cole. E os meus amigos?


sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Hablando espanholês...

É sempre bom terminar (e começar e mear) a semana a rir. E se for a rir de nós próprios, então o gozo ainda é maior…

Sabemos como os espanhóis, especialmente os do Sul, são duros de ouvido para as línguas e que, se lhes falarmos em português, não entendem palavra! Se calhar por isso é que nós, portugueses, espertos que nem alhos, caímos na tentação de lhes falar em espanholês – que eles ainda percebem menos…

Eu tenho algum pudor em fazer isso pelo ridículo que é. E como fui nada e criada em casa da minha avó espanhola, que nunca falou português, até conheço muitas palavras e expressões daquele idioma.

Ora no outro dia, lá em Mijas, havia uma mini feira de artesanato e, uma das banquinhas tinha uns quadros, postais e magnetes muito lindos e muito simples que utilizam apenas o desenho e pedras. Como tinha magnetes representado gatinhos, tratei de comprar para mim e para a minha neta Elisa. 



Depois lembrei-me que o meu neto José tem uma cadela e quis trazer-lhe um magnete com a imagem de um cão. Ora no meu português mais límpido perguntei: «E haverá  um cão?» Mas o senhor olhou para mim com o olhar mais opaco que se possa imaginar. Ai, e sem pensar, eu tentei: «Un can?…» A opacidade agravou-se nos olhos do senhor. Ato contínuo, saiu-me «A dog, please?» Abençoada língua inglesa que abriu um sorriso luminoso na cara do jovem artesão… e logo me apareceram magnetes com cães orlados de todas as cores…

Fiz as minhas compras continuando a usar o inglês e, quando cheguei a casa tratei de chamar todos os nomes ao homem que não percebera o que era “un can”…. Mas aí foi em mim que se fez luz!! Vergonha das vergonhas, os nomes que chamei ao homem caíram diretos e com força sobre mim! Em espanhol, cão diz-se «perro» - como haveria o senhor de perceber o meu bom espanholês?

(Desta vez podem rir de mim à vontade, que mereço…)

(Poderão ver mais artefactos destes em  www.hecilarte.com/ )



quinta-feira, 25 de agosto de 2016

«Praia de Cascais»



Esta aguarela, com o nome de «Praia de Cascais» foi pintada em 1906 pelo Rei D. Carlos e foi adquirida em 1933 pelo médico oftalmologista António Anastácio Gonçalves, grande colecionador de arte. Por essa altura comprou também a Casa Malhoa, mandada construir pelo pintor José Malhoa no início do século XX para funcionar como seu atelier. Este edifício foi distinguido com o Prémio Valmor 1905.



Anastácio Gonçalves mudou-se para a sua nova casa onde viveu até à sua morte (1965) organizando a sua enorme coleção de arte. Por sua vontade, a casa foi legada ao Estado Português para aí se criar um museu que abriu ao público em 1980. Foi ampliada e melhorada tendo reaberto em 1997. 

A casa é linda por fora e por dentro e o acervo é riquíssimo: são cerca de três mil obras de arte que abrangem pintura portuguesa dos séculos XIX e XX, mobiliário português e oriental e porcelana chinesa. Existem ainda importantes núcleos de ourivesaria civil e sacra, pintura europeia, escultura portuguesa, cerâmica europeia, têxteis, numismática, medalhística, vidros e relógios de bolso de fabrico suíço e francês.

Vale bem a pena uma visita!

































A aguarela da autoria do Rei D. Carlos nem sempre está exposta dado ser muito frágil, mas no próximo outono vai ser possível admirá-la.

Uma boa razão para ir até à Casa-Museu Dr Anastácio Gonçalves. É já ali, na 5 de Outubro, em Lisboa...

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Red Roses for a Blue Lady

Não é novidade para ninguém que gosto - sempre gostei - de canções românticas.

Hoje, que me sinto particularmente «blue» porque estou farta de Verão quente e de férias em casa,  lembrei-me - lembro-me muitas vezes - desta canção linda que se ouvia muito nos idos de 60, mas que, curiosamente nasceu em 1948 - como eu... 

Esta é a versão de que me lembro, embora tenha sido tão popular que foi interpretada por cantores como Pat Boone, Andy Williams, Paul Anka, Dean Martin, Frank Sinatra e por grandes orquestras de música de dança.

Quem se lembra?



Mas não resisto a deixar aqui esta delícia de interpretação de Jimmy Osmond, o irmão mais novo dos The Osmond, quando ainda era muito, muito pequeno.

Ora vejam só a maravilha...




terça-feira, 23 de agosto de 2016

Hilariante, ou talvez não...

Quando, no ano da Revolução, mudei a minha vida toda aqui para Leiria, lisboeta bem habituada a Lisboa, senti falta de muitas, muitas coisas (acho que até falta de ar senti…) Porém, aquilo de que mais me senti foi mesmo a quase inexistência de transportes públicos.

Não tendo sido talhada para a condução automóvel (sim, a carta lá está numa qualquer gaveta no seu tom rosa forte e com a fotografia dos meus vinte anos) e morando na periferia da cidade(zinha) a três quilómetros da escola onde trabalhei sempre, tive enormes amargos de boca  para me fazer transportar dado que havia uns raros autocarros que faziam (e fazem) mal a ligação dos arredores a esta capital(zinha) de distrito. Além disso, o que não era melhor, é que nunca houve nesta terrinha (nem há) a noção do que era fazer uma bicha (desculpem a minha rudeza, mas recuso-me a dizer «fila») para apanhar um autocarro (carreira, como diziam…) de modo que era «tudo ao monte e fé em Deus», empurrões com cestas e as mãos das mulherzinhas nas nossas costas para nos empurrarem para dentro…

De facto, mesmo morando em Algés ou em Sintra, e naqueles tempos cinzentos de 50/60, sempre me movi para todo o lado utilizando transportes públicos. Aqui, penso que, somadas todas as horas e minutos que passei à espera do dito autocarro, daria uns belos meses senão mesmo anos… (Culpa minha, eu sei…) Uma coisa é certa, porém: nunca cheguei atrasada a nenhuma aula ou reunião de trabalho!

Ao longo destes anos todos, a situação dos transportes feitos pela mais que limitada Rodoviária do Tejo não se alterou em muito. Os autocarros passaram a ter uma frequência de 40 minutos, mas sem qualquer obrigação de cumprir horários, ou de fazer todas as carreiras. Aos sábados e domingos não havia autocarros e grande parte das redondezas continuaram sem ligação à cidade. Os alunos do meu local de habitação continuam ainda hoje sem autocarro para a EB2,3 que está situada a mais de dois quilómetros das suas casas…

Bom, mas aqui há uns quatro ou cinco anos, a nova autarquia resolveu criar uma carreia nova de ligação mais rápida e mais frequente dos locais da área urbana ao centro da cidade, a que chamou Mobilis. Muito bem, mas, hélas!! Apenas fazia a ligação da área “mais urbana”, que o resto da dita zona urbana ficou de fora. Gritos e barafustos das populações e dos autarcas das freguesias!! E, ao fim de muitos gritos e barafustos (e de alguns anos mais), finalmente a edilidade, cheia de boa vontade, lá alargou mesmo as voltas do Mobilis, chegando a locais mais «recônditos» do concelho e, pasme-se! até ao subúrbio onde moro que é, repito, a três quilómetros da «civilização»…

Ontem, resolvi-me a ir experimentar o Mobilis. Andei por Leiria (a ver as lojas e o castelo) e, depois de muito procurar, lá encontrei uma paragem da dita 8ª maravilha. Depois de muito esperar que o motorista convencesse (de forma irritantemente brincalhona) uma velha senhora que aquele carro era o que ela queria apanhar, lá consegui entrar e pagar o bilhete. Entraram mais pessoas e o motorista ia dizendo aos brados: «Vamos lá. Vamos lá, que quanto mais depressa entrarem, mais depressa partimos!». Só que alguém lhe ligou para o telemóvel e aí ele diz: «Desculpem lá, mas temos de esperar pelo Jorge! Se quiserem sair, estejam à vontade porque aqui dentro está muito calor!» 

Passado algum tempo, lá percebemos que o Jorge era o motorista do outro Mobilis que entretanto chegou com o carro e tivemos ordem de partida. E volta o motorista à carga: «Importam-se que leve a porta aberta porque está muito calor?». Vento a entrar, que bom, fresquinho, que ar condicionado não há! A senhora de idade, que ia sentada no lugar da frente, só não foi aspirada pela porta aberta porque era um bocado pesada… Uma senhora levanta-se e toca a campainha para sair; o motorista apercebe-se e pergunta no seu tom pseudo-brincalhão: «Quer sair? Tem de dizer, porque a campainha não toca! Mas quer sair onde? Aqui?» Que era ali atrás, na paragem, diz a senhora… Travagem a fundo e lá sai a senhora. «Até é bom a campainha não tocar! Assim há comunicação entre os passageiros e o motorista…» diz ele!

Aí lembrei-me que bom seria o vereador, vice-presidente, que conheço desde quando usava calções, viajar ali, disfarçado, claro, para ver funciona esta sua jóia da coroa…

E quer ele, e não só, que Leiria seja Capital Europeia da Cultura num destes anos… Ai, ai!


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

E, em cada viela, damos com ele...

Em cada viela, ao virar de cada esquina, por cima do casario, damos sempre com ele... e é sempre lindo. O Castelo.


















Lembro a propósito uns versinhos que escrevi aquando da minha primeira visita a Leiria depois de conhecer aquele que viria a ser o meu marido.


O castelo iluminado
O castelo enluarado
O castelo esverdeado
O castelo à luz do dia.
Visto de frente o castelo,
de baixo, de cima, de lado,
de perfil perspectivado,
visto ou não em simetria,
não tem noutro paralelo
o teu castelo de Leiria. 

(quanta ingenuidade há na paixão...)



domingo, 21 de agosto de 2016

Coveiros e assessores

Realmente, à partida, nada têm a ver. Para já vejamos como são recrutados uns e outros... E depois atentemos nas definições avançadas para cada um das profissões.


No aviso nº ----     (2ª Série) do D. R, declara-se aberto concurso no I.P.J.
Para um cargo de "ASSESSOR", cujo vencimento anda à roda de 3500 euros).

Na alínea 7:... "Método de selecção a utilizar é o concurso de prova pública que consiste na
"... Apreciação e discussão do currículo profissional do candidato."

 ...............................

Já no aviso simples da pág. 26922, a Câmara Municipal de Lisboa lança concurso externo de ingresso para COVEIRO, cujo vencimento anda à roda de 450 euros mensais.

Método de selecção:

Prova de conhecimentos globais de natureza teórica e escrita com a duração de 90 minutos.
A prova consiste no seguinte:

1. - Direitos e Deveres da Função Pública e Deontologia Profissional;
2. - Regime de Férias, Faltas e Licenças;
3. - Estatuto Disciplinar dos Funcionários Públicos.
4. - Depois vem a prova de conhecimentos técnicos: Inumações, cremações, exumações, trasladações, ossários, jazigos, columbários ou cendrários.
5. -Por fim, o homem tem que perceber de transporte e remoção de restos mortais.
6. - Os cemitérios fornecem documentação para estudo.
Para rematar, se o candidato tiver:
- A escolaridade obrigatória somará + 16 valores;
- O 11º ano de escolaridade somará + 18 valores;
- O 12º ano de escolaridade somará + 20 valores.
7. - No final haverá um exame médico para aferimento das capacidades físicas e psíquicas do candidato.

 ...........................................

Por estas e por outras, é que em Portugal existem Coveiros Cultos e Assessores de ….


Definição de funções

- COVEIRO - Homem ativo que enterra os mortos;
- ASSESSOR - Homem passivo que ajuda a enterrar os vivos;​




sábado, 20 de agosto de 2016

Ulysses

A nossa saudosa amiga e colega Amélia Pais, que sabia muito de literatura, dizia que nunca se poderia entender muito bem e saber muito sobre o romance moderno se não se tivesse lido o Ulysses de James Joyce.

Lamentavelmente, em três anos de Literatura Inglesa na Faculdade, nunca ninguém nos falou dessa – nem de outras igualmente importantes – obra. Sabemos que uma licenciatura, mesmo das que levavam cinco anos a completar, não dá o conhecimento universal, pretendendo antes lançar as bases e fornecer as ferramentas para nos tornarmos cada vez mais e mais sabedores, cada vez mais e mais bem formados. A questão é que – e já aqui disse isso antes – as nossas obrigações profissionais e familiares da fase adulta nem sempre nos deixam tempo e até disponibilidade mental para fazermos as leituras que devíamos fazer.

Agora que, finalmente, me (re)lancei na leitura dos clássicos, comecei a ler Ulysses. Confesso que não está a ser fácil, mas também ainda agora estou no princípio… Eu até me “dou bem” com a leitura de Virginia Woolf – terminei há dias a leitura de «Orlando – uma biografia» que muito apreciei e que, de facto, é uma biografia não da complexa (mas terrivelmente romântica e sensível) personagem Orlando, mas a biografia do espírito do(s) tempo(s) em Inglaterra desde a era isabelina até 1929. Muito interessante.

Vamos ver como e se me consigo “desenvencilhar” do Ulysses, o romance modernista do irlandês James Joyce, escrito entre 1914 e 1921 em Trieste e Zurique – já que o seu autor saiu jovem da sua Dublin – e publicado em 1922 em Paris, depois de Joyce ver recusada a sua publicação nos Estados Unidos e em Inglaterra, curiosamente pela editora dirigida por Virginia Woolf.


(O autor e a sua editora Sylvia Beach)

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Entrevistas de Verão

Não gosto de ler entrevistas. Aborrecem-me. Aborrecem-me se são longas pela dispersão das temáticas. Aborrecem-me se são breves por serem, a maior parte das vezes, áridas ou tontas. Prefiro sempre um bom artigo sobre a pessoa em questão ou um texto escrito pelo próprio acerca do(s) tema(s) que se querem ver tratados. Desse modo, não temos de lidar com as interrupções do entrevistador – que muitas vezes corta o fio do discurso e do pensamento do entrevistado – e com as suas muitas vezes acidentadas mudanças de rumo. Além disso, é frequente os entrevistadores não estarem ou serem bem preparados para a abordagem dos assuntos e até mesmo para a abordagem ao entrevistado.

Abro exceção para algumas entrevistas passadas na revista Ler sobre literatura, grande parte delas traduzidas do inglês ou do francês, e que são feitas por quem sabe muito do tema. Não se espraiam a falar de onde nasceu e de como a infância o/a influenciou na escrita, são verdadeiros artigos sobre literatura.

Isto vem a propósito das entrevistas de verão que o jornal DN tem feito a escritores e pessoas da ciência e da política. Claro que não me ative – e perdoe-se-me a arrogância – a ler num uma linha da entrevista ao “pisca-olho” do Rodrigues dos Santos, mas dei uma vista de olhos pela entrevista à escritora Dulce Maria Cardoso – de quem li e gostei de lei O Retorno – e achei de uma superficialidade incrível.

Pior, ou talvez não, foi ler a entrevista de ontem ao cientista João Magueijo, um físico de caráter algo estilhaçante que trabalha no Imperial College London. O que doeu foi constatar a grandeza de pensamento do cientista (que também tem livros editados fora da ciência embora não dentro da ficção) e a pequenez de espírito do entrevistador. A entrevista pretendeu ser abrangente, sem se ater apenas aos aspetos científicos (em que o entrevistador devia estar a léguas de distância do físico – e isso é o menos) mas que ficou muito aquém nos aspetos políticos (sobre o brexit nomeadamente) e sobre conceitos como a dualidade esquerda/direita que notoriamente “baralhou” o entrevistador. Este não teve a humildade de deixar o cientista transmitir um pouco do seu pensamento – que é o interessante numa entrevista já que é assim que aprendemos e alargamos os nossos horizontes – e, por outro lado, com algumas das suas perguntas “pequeninas” deu azo a que o respondente lhe desse algumas “patadas” e a respostas de que não estaria à espera nem gostaria de ter ouvido.

Se estiverem na disposição de ler a entrevista poderão fazê-lo aqui.

João Magueijo

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

A minha Branquinha...

Nunca tal me acontecera. Há anos que, quando saio de férias, deixo os meus gatinhos de estimação (e por vezes, também as das minhas filhas) em casa com saída e entrada assegurada para o quintal e contando com a amabilidade da vizinha que, ao longo dos tempos, vem aqui, quase maternalmente, pôr-lhes a comida de manhã e à noite.

Quando volto, cá os encontro: uns mais rápidos a aparecer, outros mais demorados, lá vêm ter comigo, esfregando-se nas minhas pernas, miando por festinhas.

A minha mais velhota, a minha Branquinha, que está habituada a ficar diligentemente há mais de oito anos, chega sempre um pouco mais tarde, enervada com a ausência e com a presença sempre indesejável de outros gatos que se aproximam da casa e entram «roubando-lhes» os biscoitos… Mia alto a ralhar comigo, mostra o seu mau feitio como pode e sabe e no primeiro dia não me salta para o colo. Quando, em finais de Julho, chegámos do Algarve, só apareceu no dia seguinte, bem mais magra e bem mais aborrecida comigo.

Mas desta vez, não aparece. Já passaram cinco dias desde a nossa chegada a casa e da minha Branquinha nem sinal. Procurámos já pelos quintais vizinhos chamando-a com toda a meiguice, mas ela não aparece.

Estou tão triste! Já perdi tantos gatinhos, grande parte por eutanásia ou por morte natural, e dói sempre muito. Agora desaparecer-me assim uma gatinha mimada, habituada, desde que ainda bebezinha, aqui me apareceu no jardim, a casa e ao espaço envolvente, sem saber o que lhe poderá ter acontecido, é um sobressalto muito diferente.

Podem rir de mim que eu não me importo, mas podem crer que estou tão triste!