sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Os nossos foliões

6ª feira Gorda (lembram-se desta denominação?). Gorda em trabalho, canseira e dores de cabeça para as nossas colegas educadoras e professoras do 1º ciclo. Carregadinhas de paciência - deus me livre!! - para levarem todos aqueles indiozinhos para o meio da cidade! Bem hajam por isso!!

E os nossos lá foram, todos contentes, fazendo a sua parte.

O mais pequeno armado em doutor cientista...






E os mais velhos, a fazerem jus ao que de facto são, de piratas, embora sem perna de pau...







Se bem que, na escola, ele não tivesse sido pirata, mas tão-somente Rei-Sol...




No meu tempo, não era nada assim...

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Não te rendas

(in esquerda.net)

Não te rendas, meu povo. Não te rendas
às mãos de quem te quer voltar a ver
cativo e desgraçado. Não te vendas.
Aqui nada mais temos a vender.

Não te cales, meu povo. Que a saudade
já não pode doer dentro de nós.
Se o teu punho constrói a liberdade
levanta ainda mais a tua voz.

Não te rendas, meu povo. Não te rendas.
Que já nos querem sós. E divididos.
Que já nos querem fracos. E calados.

Não te cales, meu povo. Não te vendas.
Que quando nos quiserem já vencidos
hão-de ter-nos de pé. E perfilados.




(Joaquim Pessoa, in AMOR COMBATE, 1976)

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Alpedriz

Por vezes o sábado de manhã dá para darmos umas voltas por aí. No sábado passado, manhã de solinho, vai de sair a caminho da Batalha, Azoia, Maceira, Juncal, o pinhal e desembocámos numa aldeiazinha com três belos azulejos à entrada.






Não resistimos a azulejos e toca de ir ver de perto. Demos com a história da terrinha, Alpedriz, – que até já foi uma grande terra – resumida nos painéis. De facto, pertenceu aos coutos do Mosteiro de Alcobaça por ter tido recebido do Rei D. sancho I uma comenda da Ordem de Avis. A vila de Alpedriz possuiu no passado uma Misericórdia, um Hospital de Antigos Pobres e uma Cadeia e foi sede de concelho. E, estava escrito lá nos azulejos que como restos desse passado de prestígio, existe um velhíssimo Pelourinho, que estava localizado no meio dum largo em frente da chamada Capela do Santíssimo, e que no lugar dessa Capela  está hoje instalado o referido Pelourinho.

Então se há sinais dessa história antiga, há que ir à procura deles. E lá num cantinho quase escondido lá encontrámos o velhíssimo pelourinho e um relógio de sol.








Mas, enquanto procurávamos esses vestígios de História, demos com a indicação de uma praia fluvial por perto e aí tivemos de ir investigar. E, mais à frente, lá estava o parque em redor de uma pequena ribeira que transbordara com os recentes temporais e, de alguma forma, alagou o sítio da praia.






E porque estamos na zona de Alcobaça, os pomares brotam por todo o lado. Ali mesmo na praia fluvial está um vestidinho de inverno e todo alagado.




Ainda avistámos uma pontezinha romana que liga as margens do pequeno ribeiro do Pereiro.

(Foto retirada daqui.)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Ai as escolas secundárias!

Não, não tem nada a ver com aquela musiquinha dos loucos anos 80 do Perfume Patchouly! É mesmo para falar das Escola Secundárias e, desde já, apresento as minhas desculpas se, por acaso, vou melindrar algum/a do(a)s possíveis leitor(a)s deste texto.

Foi notícia de fim-de-semana nas televisões (nem sei como tiveram tempo e lembrança de falarem de uma questão de educação no meio do “arraial minhoto” que montaram à volta do congresso/circo do PSD!) e teve direito a uma página inteira no jornal diário: que o número de alunos com necessidades educativas especiais (NEE) duplicou no secundário e que as escolas secundárias não estavam preparadas para tal «boom».

Diziam então que, entre 2010/11 e 2012/13 a percentagem de alunos com NEE inscritos no ensino secundário cresceu 81% por causa do alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos. E logo veio a terreiro o ilustre presidente da Associação Nacional dos Diretores Escolares afirmar que “as escolas secundárias não estavam preparadas para os alunos com NEE”. E acrescenta «sem rodeios» - diz o jornalista – que “os alunos passaram a ser obrigados a chegar aos 18 anos nas escolas. Antes, de uma forma ou de outra, iam saindo”.

Pasmei! Não pelo conteúdo das declarações do ‘ilustre senhor’, que essas já eu esperava, mas pela forma desabrida e despudorada como foram feitas. Sabemos – eu, pelo menos, sei há muito e com um “saber de experiência feito” – que grande parte dos ‘senhores’ professores do ensino secundário nunca ultrapassaram os tempos em que a Escola Secundária era o Liceu, onde quem aprendia, aprendia e quem não aprendia era mandado embora – ou nem sequer chegava a entrar! Quem se lembra ainda dos obscenos Exames de Admissão aos Liceus? Mas nem é preciso ir tão longe na História da Educação. Depois do alargamento da escolaridade obrigatória para o 9º ano em inícios de 90, a admissão às escolas secundárias era feita a partir de uma escala de classificações obtidas no 9º ano. Os alunos com NEE, portanto, nem pela porta da escola secundária passavam e se, por acaso, lá entravam, “chumbavam logo em outubro” costumava eu dizer ironizando …

O alargamento da escolaridade obrigatória para os 18 anos (concorde-se ou não) foi determinado pela Lei 85/2009, não foi ontem ou no mês passado. E o senhor presidente da associação dos senhores directores vem, em pleno 2014, dizer que “as escolas secundárias não estavam preparadas para…”?! E muito me espanta que não tenha também largado aquela máxima que muitos (muitos, mesmo!) professores gostam de largar dizendo que “não lhes deram formação para…”

Para o que as escolas secundárias não estavam preparadas era para receber todos os alunos, todos mesmo, sem pôr uns tantos, ou muitos, de lado sem grandes preocupações até eles desistirem e irem embora ou mesmo serem mandados embora.

Nós, “pobres” professores dos 2º e 3º ciclos (detentores, não obstante, da mesma ou mais alta habilitação, mas muitas vezes olhados com um estatuto de menoridade em relação aos do secundário) que há anos, muitos anos mesmo, fazemos de tudo para levarmos todos os alunos (com NEE, com graves problemas sociais, filhos de famílias por de mais disfuncionais, etc. etc.) a saírem da escola com um diploma que lhes permita serem olhados como pessoas com determinada aptidão, sempre soubemos que, quando estes alunos chegassem às escolas secundárias, estas – e em especial muitos dos seus professores – não estariam preparados!

Porque não queriam. Porque nunca acreditaram que isso pudesse vir a acontecer.







segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Só mesmo eu!

Lembram-se daquele último gato que, antes do Natal, me entrou pela casa dentro sem bater à porta nem nada e de que vos falei há uns tempos?

Assim louro e possante, vigoroso e bem tratado - de certo perdido ou abandonado, que ainda se notava a marca da coleira.






Passou a vir comer cá a casa...


... e a fazer as suas sonecas.




Mas meteu-se Janeiro e o apelo da carne foi de tal ordem que passava as noites fora e chegava todo encharcadinho de manhã.




Na semana passada, chegou com uma orelha mordida e em sangue, muito constipado, com os olhos congestionados. Ficou doentinho, levou injeções e tomou comprimidos, mas melhoras nenhumas.

Passou o fim-de-semana sem sair, quase sem comer, quase sem conseguir respirar, recostinho no sofá... 




Hoje ficou internado para tratamento «de choque». Vamos ver se resiste.

Só mesmo eu, não vos parece?!

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Até para ser cão é preciso ter sorte!



Digo isto muitas vezes. Porque, ao contrário do que muita gente diz – que «a sorte se constrói» e assim – eu acredito mesmo na sorte. Indiscriminada. Aleatória. Desaparelhada. Sorte apenas!

Há muitos anos, lá para os finais de 80/ inícios de 90, assisti, de muito perto, ao desfazer de uma fraude de alguma envergadura no meio. No meio profissional e social. Um professor de carreira, na direção de uma escola C+S, como se dizia à época, dando provas de bom desempenho profissional,  de quem se provou ter forjado as habilitações e que não tinha feito mais do que o antigo 5º ano (actual 9º). Foi um caso sério como devem calcular. Não tenho como desculpar o seu feito, nem é desculpável, naturalmente. Mas nunca mais me esqueço da “armadilha” que um grupo de colegas lhe armou, nem o olhar de gáudio – senão mesmo de algum ódio – de uma delas ao apresentar a denúncia.

Nunca mais ouvi falar dele, nem sei o que lhe aconteceu. Nem me interessou saber, face à humilhação da pessoa – que até nem era das minhas maiores simpatias.

E é aqui que entra a sorte. Aquela com que comecei o texto de hoje. O «dr» Relvas não fez mais do aquele meu ex-colega de que falei: aldrabou, forjou, aproveitou-se. Só que enquanto o meu ex-colega teve um grupo de colegas que o cercou e abateu, naturalmente com justiça, o «dr» Relvas, depois de ser cercado e denunciado, saiu pelo seu próprio pé, refugiou-se no Brasil desempenhando um qualquer cargo (para o qual não tem habilitação, nem saber) e agora é resgatado pelo grande amigo (que por acaso é o primeiro-ministro de Portugal) que muito lhe deve (ou direi tudo?) e volta para a ribalta política, pela porta grande – mesmo sendo a porta grande de um palco pequenino como é o da vida politico-governamental deste país. Também pequenino.

Estão a ver porque é que eu digo que ate para ser cão é preciso ter sorte?

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Nojo!


Nojo! É o que sinto hoje de cada vez que acendo a televisão!!

Chegadas ao centro das operações transmitidas quase como as das grandes estrelas de Hollywood! Beijinhos a abraços e sorrisos de orelha a orelha! As televisões fazem a cobertura mais mediática dos nomeados para os óscares do PSD com toda a pompa e circunstância, com muita luz e muita cor, sob pena de serem despedidos…

Todos muito contentes, muito bem-falantes, muito teatrais, muito embusteiros, diga-se! O costume. E o povo muito quietinho, sereninho, deixa-se estar no sofá a comer pipocas, a ver as estrelas e a ouvir os discursos dos laureados e os comentários dos “comentadeiros” de serviço que lhe vão inculcando as falácias e os embustes que tão bem funcionaram em 2011 e pronto(s)!


E são sempre os mesmos. Ou os filhos. Os seguidores. E já nem interessa o que fizeram no passado mais ou menos longínquo, porque eles dizem – e se dizem é porque sabem – que os culpados são os outros e pronto(s)!














sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Dia Internacional da Língua Materna



Todas as invenções – ou direi descobertas? – do Homem desde que pôs os pés na Terra são extraordinárias. Mas a criação de um código linguístico para exprimir e organizar o pensamento e para se entender com o próximo, é das mais espantosas.

A língua em que cada nativo se exprime é a sua primeira condição de pessoa singular e social, de individualidade e de pertença, de igualdade e de diversidade.

Sou suspeita, sou de Letras e as minhas disciplinas preferidas foram mesmo as Linguísticas: o estudo da história da(s) Língua(s) – independentemente de ser a Portuguesa ou outra – do seu funcionamento, da sua evolução, de como é usada por cada falante, por cada pequeno grupo deu-me um imenso prazer.

Porém, apesar de gostar imenso da língua inglesa e até da francesa que não domino tão bem, não tanto da alemã, nada há que chegue, para mim, à bela, fresca e rica Língua Portuguesa.

Bem sei que há situações nas malhas da política em que é importante usar-se o inglês, mas ver estes jota-governantes que nos calharam em rifa (e ainda não eram sorteados os topo de gama com o voto) a palrar em inglês por essa Europa fora por tudo e por nada para armar ao fino, e o irrevogável (ou direi “inenarrável”?) vice-primeiro a hablar espanhuel, dá-me volta ao estômago! Isto para não falar naquela moda, não sei se de facto aplicada, de dar as aulas no superior em inglês.

E, exagerada que sou, as minhas leituras recaem, quase exclusivamente, sobre obras dos bons autores portugueses – e temos muitos! E são tantos e com obras tão excelentes que lamento não ter tempo (nem dinheiro…) para ler todos!


Acabei há dias de ler “Bastardos do Sol”, uma das primeiras obras de Urbano Tavares Rodrigues (1959) que achei uma verdadeira homenagem à Língua Portuguesa. Claro que ao lermos um romance, o importante é a história, a acção, as personagens e o meio e o tempo em que se movem; mas em “Bastardos do Sol” a história apenas transparece por detrás da língua que funciona como uma poalha leve que se asperge por sobre os acontecimentos e as pessoas e que finalmente dá ligamento à história. Muito bom. Muito bem escrito!



quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Chove mais uma vez




Porque hoje foi mais um dia de chuva, recolhi um poema de 2011 escrito por um poeta e artista de várias outras artes contemporâneo – José Carlos Barros.

chove mais uma vez
oiço lá fora o barulho da água a correr nas caleiras
a espalhar-se nos passeios de cimento
estou na sala da casa da
minha avó
passo a ponta dos dedos pela gravura
japonesa da tampa da
caixa de costura
há um único livro
a velhice do padre eterno
os versos do meu pai em folhas quase
transparentes

chove mais uma vez
a infância é um pássaro aceso nos ramos das árvores
um território de meteoros incendiados
numa bacia de plástico
com água
da chuva

(in «Rumor», 2011)

E, a propósito da sua referência ao livro «A Velhice do Padre Eterno» de Junqueiro, lembrei a excelente (e arrasadora) crónica de Baptista-Bastos ontem no DN, que zurzindo a imagem angelicamente pungente e a prestação hipócrita do pequenino ministro Mota Soares nas celebrações dos 500 anos das Misericórdias, recita de cor e em paralelo, parte do tremendo poema recolhido no livro de Junqueiro, «Os Parasitas», que também aqui deixo.


«No meio duma feira, uns poucos de palhaços
Andavam a mostrar, em cima dum jumento
Um aborto infeliz, sem mãos, sem pés, sem braços,
Aborto que lhes dava um grande rendimento.

Os magros histriões, hipócritas, devassos,
Exploravam assim a flor do sentimento,
E o monstro arregalava os grandes olhos baços,
Uns olhos sem calor e sem entendimento.

E toda a gente deu esmola aos tais ciganos:
Deram esmola até mendigos quase nus.
E eu, ao ver este quadro, apóstolos romanos,

Eu lembrei-me de vós, funâmbulos da Cruz,
Que andais pelo universo há mil e tantos anos,
Exibindo, explorando o corpo de Jesus.»

(Guerra Junqueiro)

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Fernando Tordo emigrou

Gosto do Tordo (como do Carlos Mendes) desde muito antes de ter ido à Eurovisão cantar a Tourada. Gosto do Tordo desde o tempo dos Sheiks e assim. É um rapaz da minha idade, do meu ano, do meu signo e eu sempre gostei da voz dele. Gosto muito das suas canções com ou sem o Ary. Gostei muito daquele tempo do «Só nós três» com o Paulo de Carvalho e o Carlos Mendes. E agora não gostei nada de saber que ia emigrar para o Brasil porque não tem como sobreviver neste país e que partiu ontem.

Li há pouco a carta (aberta) que o filho, o jovem escritor João Tordo, escreveu sobre o assunto e transcrevo-a para aqui, nunca numa perspetiva de lamechice, mas muito pelo que tem de testemunho vivo da(s) triste(s) situação(õe)s que se vivem atualmente  neste triste país.

Se tiverem paciência, dêem uma vista de olhos. Vale a pena.


Carta de João Tordo ao pai

«Ontem, o meu pai foi-se embora. Não vai e já volta; emigrou para o Recife e deixou este país, onde nasceu e onde viveu durante 65 anos. A sua reforma seria, por cá, de duzentos e poucos euros, mais uma pequena reforma da Sociedade Portuguesa de Autores que tem servido, durante os últimos anos, para pagar o carro onde se deslocava por Lisboa e para os concertos que foi dando pelo país. Nesses concertos teve salas cheias, meio-cheias e, por vezes, quase vazias; fê-lo sempre (era o seu trabalho) com um sorriso nos lábios e boa disposição, ganhando à bilheteira. Ontem, quando me deitei, senti-me triste. E, ao mesmo tempo, senti-me feliz. Triste, porque o mais normal é que os filhos emigrem e não os pais (mas talvez Portugal tenha sido capaz, nos últimos anos, de conseguir baralhar essa tendência). Feliz, porque admiro-lhe a coragem de começar outra vez num país que quase desconhece (e onde quase o desconhecem), partindo animado pelas coisas novas que irá encontrar. Tudo isto são coisas pessoais que não interessam a ninguém, excepto à família do senhor Tordo. Acontece que o meu pai, quer se goste ou não da música que fez, foi uma figura conhecida desde muito novo e, portanto, a sua partida, que ele se limitou a anunciar no Facebook, onde mantinha contacto regular com os amigos e admiradores, acabou por se tornar mediática. E é essa a razão pela qual escrevo: porque, quase sem o querer, li alguns dos comentários à sua partida. Muita gente se despediu com palavras de encorajamento. Outros, contudo, mandaram-no para Cuba. Ou para a Coreia do Norte. Ou disseram que já devia ter emigrado há muito. Que só faz falta quem cá está. Chamam-lhe palavrões dos duros. Associam-no à política, de que se dissociou activamente há décadas (enquanto lá esteve contribuiu, à sua modesta maneira, com outros músicos, escritores, cineastas e artistas, para a libertação de um povo). E perguntaram o que iria fazer: limpar WC's e cozinhas? Usufruir da reforma dourada? Agarrar um "tacho" proporcionado pelos "amiguinhos"? Houve até um que, com ironia insuspeita, lhe pediu que "deixasse cá a reforma". Os duzentos e tal euros. Eu entendo o desamor. Sempre o entendi; é natural, ainda mais natural quando vivemos como vivemos e onde vivemos e com as dificuldades por que passamos. O que eu não entendo é o ódio. O meu pai, que é uma pessoa cheia de defeitos como todos nós - e como todos os autores destes singelos insultos -, fez aquilo que lhe restava fazer. Quer se queira, quer não, ele faz parte da história da música em Portugal. Sozinho, ou com Ary dos Santos, ou para algumas das vozes mais apreciadas do público de hoje - Carminho, Carlos do Carmo, Marisa, são incontáveis - fez alguns dos temas que irão perdurar enquanto nos for permitido ouvir música. Pouco importa quem é o homem; isso fica reservado para a intimidade de quem o conhece. Eu conheço-o: é um tipo simpático e cheio de humor, que está bem com a vida e que, ontem, partiu com uma mala às costas e uma guitarra na mão, aos 65 anos, cansado deste país onde, mais cedo do que tarde, aqueles que o mandam para Cuba, a Coreia do Norte ou limpar WC's e cozinhas encontrarão, finalmente, a terra prometida: um lugar onde nada restará senão os reality shows da televisão, as telenovelas e a vergonha. Os nossos governantes têm-se preparado para anunciar, contentíssimos, que a crise acabou, esquecendo-se de dizer tudo o que acabou com ela. A primeira coisa foi a cultura, que é o património de um país. A segunda foi a felicidade, que está ausente dos rostos de quem anda na rua todos os dias. A terceira foi a esperança. E a quarta foi o meu pai, e outros como ele, que se recusam a ser governados por gente que fez tudo para dar cabo deste país - do país que ele, e milhões de pessoas como ele, cheias de defeitos, quiseram construir: um país melhor para os filhos e para os netos. Fracassaram nesse propósito; enganaram-se ao pensarem que podíamos mudar. Não queremos mudar. Queremos esta miséria, admitimo-la, deixamos passar. E alguns de nós até aí estão para insultar, do conforto dos seus sofás, quem, por não ter trabalho aqui - e precisar de trabalhar para, aos 65 anos, não se transformar num fantasma ou num pedinte - pegou nas malas e numa guitarra e se foi embora. Ontem, ao deitar-me, imaginei-o dentro do avião, sozinho, a sonhar com o futuro; bem-disposto, com um sorriso nos lábios. Eu vou ter muitas saudades dele, mas sou suspeito. Dói-me saber que, ontem, o meu pai se foi embora.»

João Tordo, 19/Fev/2014




terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

O Avô fez anos!

Hoje o Avô fez anos e os meninos brindaram-no com umas lembranças únicas.

Uma foto para mais tarde recordar...





Uma obra de arte com a palavra «Avô» pintada a quatro mãos e dois pés...




E ainda um postalinho "digital"...




... com legenda...





Só vos digo que o Avô babou...


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Literatura com Gatos

No Dia Mundial do Gato, aproveito para transcrever uma crónica deliciosa escrita por (mais) um amante de gatos, Eugénio Lisboa, que li há anos no Jornal de Letras e que ainda não tinha tido oportunidade de pôr aqui.

É um pouco longa, bem sei. Mas não consegui cortar-lhe nenhum dos parágrafos por importantes que são todas as referências a diferentes vultos da literatura que amavam gatos.


(Eugénio Lisboa)
«Diz quem sabe que os gatos apareceram no nosso planeta, há cerca de sete milhões de anos. Apareceram e, de então para cá, quase nada mudaram, na sua constituição, porte e funcionamento. Este “mínimo tigre de salão”, como lhe chamava Neruda, numa das suas belas odes, apareceu para ficar, durar e fascinar – ainda hoje, tal como no primeiro dia. Veio logo com formato definitivo, marimbando-se para a lei da evolução, que só dá para se aplicar aos outros animais.

Por isso alguém disse, com um acinte que apetece aplaudir: com o gato, Deus acertou à primeira. O gato veio perfeito e assim tem permanecido. Quando a Igreja Católica quis arranjar argumentos para uma briga com Darwin, esqueceu-se do gato, isto é, desperdiçou o único argumento decente que tinha à mão: porque, se o homem descende, inconvenientemente, do macaco, o gato descende apenas do gato, sem qualquer intermediário que lhe obscureça o trajecto.

Tenho toda uma biblioteca consagrada ao gato (felideoteca?) e nela colho, diariamente, renovadas e acrescentadas razões de apreço e de afecto pelo elegante felino (sem falar, é claro, nas aulas práticas com a Secotine). O gato é, obviamente, o animal superior da criação. Concordo inteiramente com Mark Twain – de quem o Nobel, como é seu costume, se esqueceu – quando diz que, se o homem se cruzasse com o gato, melhoraria o homem, mas deteriorar-se-ia o gato. O gato tem sido consagrado e até venerado por tudo quanto é gente de gabarito. A minha felideoteca que o diga! Numa das duas edições da Enciclopédia Britânica, que possuo, pode ler-se isto, que ponho à vossa consideração: “A personalidade independente do gato, combinada com a sua graciosidade, limpeza e com os seus subtis sinais de afecto, são traços que têm um vasto apelo”. Ogden Nash, o celebrado autor de poesia humorística, dizia, num dos seus poemas, que o problema com os gatinhos era eles tornarem-se, eventualmente, gatos. Esta afirmação prova, entre outras coisas, que Nash nada percebia de gatos, caso contrário, saberia que, para um verdadeiro amante de gatos, um gato é eternamente um gatinho.

(Mark Twain)

Nash, felizmente, é excepção. Os amantes de gatos são legião, se exceptuarmos algumas criaturas execráveis, que a história regista: Júlio César, que tinha horror a felinos e morreu assassinado (justiça transcendente?), os papas (três!) Gregório IX, Inocêncio VII e Inocêncio VIII, a Rainha Elizabeth I (bem feito, morreu virgem!), o imortal bardo de Stratford, que congeminou o Hamlet, mas sempre se referiu maldosamente ao mais gracioso animal da criação, o Rei-Sol, Luís XIV, que dançava à volta de gatos que mandava lançar à fogueira, Napoleão Bonaparte, o compositor Johannes Brahms, que se entretinha a disparar setas contra os bichos indefesos, a dançarina e coreógrafa Isadora Duncan, e, por fim, o general Eisenhower, que proibiu gatos na Casa Branca, enquanto presidente – tudo gente horrível, mal disposta e, no fundo, sem o mais pequeno sentido estético. Mas estes são a triste excepção e, como muitos dos amantes do Felis Catus são ficcionistas e poetas, não se cansam de incluir o gato nos seus romances e contos, como protagonista de relevo, ou de o cantar e exaltar, nos seus poemas: Victor Hugo, Balzac, Théophile Gautier, Perrault, Alexandre Dumas, Colette, Thomas Hardy, Kipling, Mark Twain, Lewis Carroll, La Fontaine, Swinburne, Shelley, Keats, Edward Lear, Matthew Arnold, Jonathan Swift, Oscar Wilde, Zola, Arnold Bennett, Anatole France, Ford Madox Ford, Emily Dickinson, Petrarca, Yeats, Pierre Loti, Jean Cocteau, Simenon, P. G. Wodehouse, Ernest Hemingway, Saki, Walter de La Mare, Louis Macneice, T. S. Eliot, Don Marquis, Ted Hughes, Ambrose Bierce, Stevie Smith, Patricia Highsmith, A.L. Rowse, Eça de Queirós, Miguel Torga prestaram homenagem, nas suas prosas e nos seus versos, ao inimitável Catus.




De todos eles, tenho testemunhos cintilantes em livros e antologias. Baudelaire tinha pelo “mínimo tigre de salão” uma verdadeira paixão: quando ia a casa de algum amigo, mostrava-se extremamente nervoso, enquanto lhe não aparecia o gato da casa; quando este, finalmente, se dignava aparecer, o poeta pegava-lhe, acariciava-o, beijava-o, falava-lhe, inteiramente esquecido dos donos da casa a quem mal ou distraidamente respondia. A sua empatia e quase identificação com os felinos era tão grande, que alguém descreveu o poeta das Flores do Mal como “um gato voluptuoso e blandicioso, com as suas maneiras aveludadas.”

(Hemingway)
O compositor russo Borodine vivia literalmente rodeado de gatos, a quem dava todas as liberdades. Com visitas em casa, os bichos saltavam para cima da mesa do jantar, sem que ao músico passasse pela cabeça enxotá-los. A romancista Colette, universalmente admirada por tudo quanto tinha nome de escritor, viajava com os seus gatos e levava-os para os hotéis onde, ocasionalmente, se aboletava. E escreveu um romance, ainda hoje famoso, La Chatte, no qual, em luta com uma mulher, pelo amor de um homem, a gata vence. Ao seu magnífico gato angorá, Victor Hugo deu o nome de Gavroche, o pequeno herói das barricadas, do romance Les Misérables. Foi sua grande e fiel companhia, durante o prolongado exílio na ilha de Guernesey, mas não teve o destino grandiosamente trágico do pequeno Gavroche: envelheceu, engordou e amolengou-se, passando a chamar-se “O cónego” (Le Chanoine). Hemingway, o homem das grandes caçadas africanas e da pesca graúda em Havana, vivia, na sua Finca La Vigia, em Cuba, rodeado, não de canzarrães temíveis, mas sim de gatinhos a granel (chegou a ter trinta e quatro). O romance For whom The Bells Toll foi escrito numa secretária atapetada de gatos ciosos (como é conhecido o ciúme que os felinos têm do papel em que escrevemos, presume-se que o romance deva ter levado, a ser escrito, o dobro do tempo que levaria... sem gatos!) Mark Twain era de opinião que uma casa sem gatos devidamente apaparicados não era uma casa digna desse nome. Mas, aos bichos, gostava de dar nomes arrebicados: Apollinaris, Zoroastro, Blatherskite (Parlapatão), ou Sour Mash (Mixórdia Azeda): tudo maneiras de lhes exprimir o seu carinho. De resto, Eliot, num poema cuja tradução dediquei à generala a quem agora co-dedico este texto, explicava que os gatos precisam de ter nomes invulgares e improváveis, sem o que não conseguem manter a cauda perpendicular (ele queria dizer, é claro, “vertical” e não “perpendicular”, mas, por um lado, não percebia nada de geometria nem de Física, por outro, a palavra “perpendicular” é mais longa e aparatosa). Mark Twain não tinha lido Eliot, mas chegara à mesma conclusão por simples intuição e por ter, com os gatos, longas e amigas conversas.

(Manuel António Pina)
Quando se gosta destes sábios felinos, eles tomam, por completo, conta de nós, até porque sabem muito bem que o homem foi feito para servir o gato. Tanto que Evelyn Underhill não se pejava de confessar: “Acaba de me ser dado um gatinho persa extremamente sedutor... e ele é de opinião que eu lhe fui dada a ele.”


Esta crónica vai longa, mas se o leitor pensa que a matéria – literatura com gatos – está esgotada, anda muito enganado. O tema é inesgotável e, por isso, voltarei a ele.»


Eugénio Lisboa
JL, Dez/2010

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Sunny

Em homenagem ao dia inteirinho de Sol que, ao fim de muitos, muitos de chuva, fez hoje, deixo aqui uma canção (das minhas) «Sunny, yesterday my life was filled with rain». É uma canção de 1966, ano em que conheci o meu último namorado (que ainda mantenho...) e que foi também como que um sol depois de alguns anos de "chuva"...

Vejam se se lembram!


     


sábado, 15 de fevereiro de 2014

My foolish heart

Mesmo sem nada ter a ver com esta americanada do Dia dos Namorados, (nem com grande parte dos Dias de) perante toda a pressão da publicidade, dos media, da decoração das lojas, da sociedade em geral, uma pessoa acaba por se ver envolvida no ambiente do «love is in the air». Por isso, e no rescaldo do dito dia do amor, e também porque para mim a música está e sempre esteve intimamente ligada a estas coisas do amor e da paixão, dei por mim a pensar nas (muitas) músicas que estiveram ligadas às minhas (muitas) convulsões do coração…

Foram muitas as canções «da minha vida» que para sempre ficaram intimamente ligadas a momentos marcantes que jamais me saíram da memória. A primeira – influência do meu pai, lembro-me bem – foi a melodia «My foolish heart» na estupenda versão da excelente orquestra de Mantovani. Foi na minha festa dos treze anos: tinha eu começado a perceber que o meu coraçãozinho pré-adolescente batia descoordenado por um colega de escola que, naturalmente tinha sido também convidado para a festa… Tocava a dita melodia e o meu pai pegou-me para dançar e quando fez menção de passar-me para um dos meus amiguinhos convivas, “ele” tímida e discretamente afastou-se…

A melodia é muito bela, o nome, algo premonitório, teve muito a ver comigo e ficou sempre gravada no meu «foolish heart»…

Deixo aqui a versão de que falo pela orquestra de Mantovani e também a versão cantada, não no seu original dos inícios dos anos 50, nem da de Frank Sinatra ou de Tony Bennett que são muito jazz, nem do Cliff, mas na de Rob Stewart que tem aquela voz melíflua sem ser por de mais açucarada. Se tiverem paciência, ouçam-nas. Ou não.


Ah! E será que podem fazer um esforço e lembrarem-se da vossa primeira canção da vossa vida? Vá lá, façam um esforçozinho e digam.

  




sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

E onde anda o anticiclone dos Açores?!

No intervalo de umas horas em que a chuva simpaticamente permitiu que um fraquinho sol de inverno timidamente mostrasse uns pálidos raiozinhos amarelos, consegui esta tarde ouvir um primeiro chilrear de pássaros. É típico do mês de Fevereiro, apesar de ser muito frio, deixar antever os primeiros sinais da Primavera. Mas este ano a chuva e o mau tempo permanentes não nos têm deixado um momento para pensarmos na aproximação da bela estação do ano.

Temo-nos perguntado cá em casa por onde andará o nosso protetor anticiclone dos Açores que nem se tem ouvido falar nele? Terá emigrado seguindo o aliciante conselho do “nosso” primeiro, ou foi contrabandeado para a China sem sequer ter passado por um leilão na Christie’s? É que há meses que não se tem feito sentir a sua ação no clima…


Bom, mas apesar de tudo, cá pelo meu mini-nano-micro jardim as flores vão dando os primeiros sinais de alento.












E até a minha jovem buganvília roxa (que tanto desejei por ser da mesma cor da trepadeira que cobria a frente do meu colégio Gil Eanes em Algés) já mostrou a sua primeira flor da época...