quinta-feira, 30 de junho de 2011

Sacrifícios e mais sacrifícios



 


Não foi o dr. Cavaco que o povo – ou melhor, a comunicação social – apodou de mentiroso. Mas lembro-me bem de, no seu discurso de tomada de posse, no passado dia 9 de Março, o recém empossado presidente para o seu segundo mandato (como é que é possível? Se bem que o George W. Bush também foi eleito por duas vezes!) dizer, frisando bem, que não era possível pedir mais sacrifícios aos portugueses!

Percebeu-se, de imediato, que a sua intenção era fazer “apear” o governo em funções e deixar a pairar uma brisa de esperançosa mudança que empurrasse para o governo os seus apaniguados desejosos que estavam de “ir ao pote”. Que foi, aliás, o que aconteceu. Coisas da democracia – nada a obstar.

Mas como vem agora o senhor presidente insistir claramente na “distribuição justa” dos sacrifícios? Sacrifícios? Não eram os portugueses que já não aguentavam mais sacrifícios? Ou era só em Março último? E acrescenta candidamente como é seu habitual: “Já tive ocasião de dizer que têm sido tempos muito difíceis e, se bem se recordam, há talvez mais de dois anos que disse que Portugal se aproximava de uma situação explosiva, lamentavelmente chegámos a essa situação explosiva.” Pode ter dito, pode. Alguém se lembra? Mas isso também não interessa agora. Porém, não sentiu ele – presidente da República – a obrigação pelo menos institucional de prevenir a situação tomando medidas?

E agora que o “seu” governo veio, com toda a educação e sempre “com muita verdade a toda a transparência como foi prometido na campanha eleitoral”, anunciar que vai cortar 50% do subsídio de Natal a todos os que ganham mais de 485 euros, - uma fartura!- não se verá o senhor presidente na obrigação de “puxar as orelhas” também a este governo?

quarta-feira, 29 de junho de 2011

S. Pedro





Chegados quase ao final do mês de Junho, festeja-se S. Pedro, o último dos Santos Populares. Procurei quadras populares a São Pedro, mas só me apareceram quadras em a S. João e a Santo António. Por isso, para além da brincadeira política, deixo aqui umas (pobres) quadras que me vieram à ideia.



O São João é do Porto
Santo António de Lisboa,
E São Pedro que é o último
Todo o mundo o apregoa.


Desde S. Pedro de Sintra
Até S. Pedro do Sul
Do Pico à Ribeira Grande
Acham S. Pedro cool.


No Bombarral, em Felgueiras,
No Seixal, em todo o lado,
Em Évora e Castro Verde
Hoje é dia de feriado.


Por isso rico S. Pedro,
Não te sintas inferior
Porque de entre todos os santos
Foste o escolhido do Senhor!

terça-feira, 28 de junho de 2011

Marionetes





Tenho o hábito de ler a breve crónica que o jornalista Ferreira Fernandes assina diariamente na contracapa do DN. E a de ontem – que transcrevo abaixo – voltou a trazer-me à cabeça esta ideia que ando a remoer há algum tempo.

Não dá para entender como é que a Europa e (quase) o resto do mundo se deixam assim manipular pelos Estados Unidos. De onde lhes vem o direito de intervirem e decidirem o destino dos países? O Bush sonhou que o Saddam Hussein tinha armas nucleares escondidas e lá foram pôr o Iraque a ferro e fogo, matar a torto e a direito, sem deixar pedra sobre pedra para procurarem as ditas que, afinal, nunca apareceram. Agora é o Kadafi. Ah! porque são ditadores e opressores do povo! E vai daí invadem-se ao países, deixam-se em ruínas, ameaçam-se e matam-se as pessoas destroem-se cidades e campos deixa-se tudo de pantanas, mas acabou-se com o ditador!

Na Europa como a arma nuclear se chama euro, cria-se um exército de agências de rating, invadem-se as finanças dos países, ditam-se-lhes umas novas leis económicas e enquanto não estiverem de joelhos, não saem de lá.

E eu pergunto-me de novo: de onde lhes vem o poder, a permissão para manobrarem e pretenderem mandar em todos arvorando-se em senhores do mundo? Têm mais poder económico? Parece que não. Têm uma posição histórica que lhes permita ver mais além? De todo, não! Podem “dar cartas” ao mundo em termos civilizacionais e de cidadania? É que nem pensar. Então?! Por brincadeira costumo dizer que já realizaram tantos filmes em que se põem no papel de salvadores da humanidade que acreditam mesmo que o são.

Olhem lá, Bruxelas não era para unir?

“Uma cidadezinha no calcanhar da bota italiana, onde o Adriático começa a transformar-se em mar Jónico, Trani. Esquecida, usada só em paragem breve para quem desce de Bari, mas querendo agora reerguer-se como a torre formidável da catedral de San Nicola Pellegrino. Aqui foi o porto de embarque preferido dos Templários, os religiosos guerreiros que foram, nos tempos medievais, os cavaleiros da Europa. É com essa tradição que Trani quer reatar: defender a Europa. Com as armas modernas da lei e contra os infiéis do momento: a agência de rating americana Moody's. No ano passado três analistas desta pandilha fizeram relatórios sobre a dívida italiana e a estabilidade do sistema bancário italiano que causaram um terramoto na Bolsa. O assunto era de toda Itália (aliás, não, era europeu), mas a pequena Trani armou-se em cavaleira por todos. O seu Ministério Público investigou os três analistas (é assim que se agarram os desembestadas, um a um), pediu pareceres a economistas prestigiados (um deles foi Mario Draghi, que acaba de tornar-se o presidente do Banco Central Europeu) e concluiu que os propagadores do bacilo E. coli nas finanças europeias "não se basearam em dados reais". O próximo passo, caso a Moody's continue "sistematicamente incorrecta", é propor a sua expulsão de Itália. Será conseguido? Só se a Europa ouvir. Que Tomar, que foi sede dos Templários portugueses, se junte a Trani. E mais e mais.”

(Ferreira Fernandes, DN, 26/06/2011)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O Homem dos Impostos...

Não sei porquê... lembrei-me desta canção dos Beatles...





E fica aqui a letra para se tornar mais fácil de entender.

Taxman



One, two, three, four...
Hrmm!
One, two, (one, two, three, four!)

Let me tell you how it will be;
There's one for you, nineteen for me.
'Cause I’m the taxman,
Yeah, I’m the taxman.

Should five per cent appear too small,
Be thankful I don't take it all.
'Cause I’m the taxman,
Yeah, I’m the taxman.

(if you drive a car, car;) - I’ll tax the street;
(if you try to sit, sit;) - I’ll tax your seat;
(if you get too cold, cold;) - I’ll tax the heat;
(if you take a walk, walk;) - I'll tax your feet.

Taxman!

'Cause I’m the taxman,
Yeah, I’m the taxman.


Don't ask me what I want it for, (ah-ah, mister Wilson)
If you don't want to pay some more. (ah-ah, mister heath)
'Cause I’m the taxman,
Yeah, I’m the taxman.


Now my advice for those who die, (taxman)
Declare the pennies on your eyes. (taxman)
'Cause I’m the taxman,
Yeah, I’m the taxman.


And you're working for no one but me.
Taxman!

(George Harrison)

domingo, 26 de junho de 2011

A Villa Portela





Tenho uma atracção especial por palacetes e chalés suíços. Especialmente quando circundados por parques cheio de vegetação que quase não os deixam ver. É uma daquelas marcas que me ficaram de pequenina. Talvez do tempo em que o Palácio Anjos em Algés – terra onde nasci e vivi até aos dez anos – estava algo abandonado e fechado ao público e cercado de grandes árvores que mal o deixavam ver por entre as grades; talvez dos chalés de Sintra, Colares, Praia das Maçãs também romanticamente fechados e envoltos por grande arvoredo e mistério; talvez do tempo em que o belíssimo Palácio de Monserrate estava fechado, vazio e abandonado e em que, nos nossos passeios de adolescentes, espreitávamos pelas janelas para admirar os tectos artísticos ou à espera de vislumbrarmos um armário meio aberto, uma sombra, uma visão...

E, quando cheguei a Leiria, em 74, lá estava mais um chalé suíço, terrivelmente romanesco, meio abandonado, rodeado de um imenso arvoredo luxuriante e com aquele portão de ferro que nos impedia de ir espreitar. Era a casa dos Charters – disseram-me. E, sempre que podia, ia lá espreitar porque me lembrava Sintra, talvez porque esperasse também vislumbrar uma sombra sentir um arrepio.

Pois há dias atrás estiveram a cortar uma árvores e o portão estava escancarado. Não havia ninguém e, atrevida, entrei. Era Sintra mesmo! Arrebatadoramente romântico, tragicamente belo.




















Em 2007, saiu o livro Villa Portela - Os Charters d’Azevedo em Leiria e suas ligações familiares (século XIX) com a chancela da Gradiva, escrito por Ana Margarida Portela, Francisco Queiroz e Ricardo Charters d'Azevedo que se centra no chalé Villa Portela, o seu primeiro proprietário - Eng. Roberto Charters Henriques d'Azevedo - e nos Viscondes de S. Sebastião, e que abrange algumas das mais importantes famílias da região de Leiria no século XIX, tais como os Costa Guerra, os Lopes Vieira, os Veríssimo, os Crespo, os Monteiro, os Soares Barbosa, os Zúquete ou os Taibner de Morais.

Também refere histórias da Invasões Francesas em Leiria, a figura do Cardeal D. Patrício da Silva, a casa dos Charter's d'Azevedo no Terreiro e as biografias de alguns dos mais abastados proprietários do concelho de Leiria em meados do século XIX .


 


sábado, 25 de junho de 2011

Um poema de Verão






As amoras

O meu país sabe as amoras bravas
no verão.
Ninguém ignora que não é grande,
nem inteligente, nem elegante o meu país,
mas tem esta voz doce
de quem acorda cedo para cantar nas silvas.
Raramente falei do meu país, talvez
nem goste dele, mas quando um amigo
me traz amoras bravas
os seus muros parecem-me brancos,
reparo que também no meu país o céu é azul.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Viva o S. João!




Viva o Santo António! Viva o São João!
Viva o 10 de Junho e a Restauração!
Viva até S. Bento se nos arranjar
muitos feriados para festejar!


Viva, viva
E mais não digo
Qu' aturar a troika
Já é bom castigo!

Viva, viva,
É o que nos resta!
Vem lá o S. Pedro
Que o povo quer festa!

(S.) Pedro e (S.) Paulo
já deram o "nó"
com a bênção dum povo
meio trolaró!

O povo quer festa
e depois ir de férias,
que governem por ele
- o resto são lérias!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

A tomada de posse


O novo governo - o melhor de todos dos últimos 37 anos como dizia um comentador habitual do Jornal da Manhã da RPT 1 no passado domingo - tomou ontem posse a toda a brida por ordem do Presidente da República que ultimamente está tão interveniente como nunca fora, para hoje mesmo o novo PM tomar o avião (em classe turística para mostrar como já estamos a poupar) a fim de estar presente na reunião do Conselho Europeu.




E ninguém melhor que o jornalista-escritor Baptista-Bastos para nos descrever no seu Português verdadeiramente impecável a solenidade do momento. Aqui fica mais uma das suas inimitáveis crónicas.

Uma hora de sensaboria e de bocejo

Estavam sentados, direitos, formais, brunidos, infalíveis, porém um pouco confusos. Tinham dormido mal, com a excitação memorável de ser ministros. A sala, triste e sombria, não ajudava à contemplação pontual do momento. Evolava um discreto perfume a Maderas del Oriente. O dr. Cavaco, mãos juntas, aquele vago sorriso de cortesia que faz com que O Grito, de Munch, pareça uma alegoria às aleluias, observava os circunstantes. Contraía, de vez em quando, os músculos da face, e as fibras nervosas do pescoço esticavam-se de modo inquietante.

Em frente e lateralmente aos sentados, o Governo que ia embora. Lá estava José Sócrates, cara fechada, olhar disperso, sem demonstrar o menor resquício de simpatia ou admiração. Também não demonstrava mágoa, desdém ou penitência. Estava ali e não estava ali, se me faço entender. Eu, a um canto da sala, envolvido na penumbra favorável ao meu desejável infiltramento, retinha a cena, arquivando-a nas memórias. Um penetra, eis o que eu era. Mesmo assim, fui reconhecido por dois ou três dos antigos ministros, assim como por uma das recém-vindas. Cumprimentaram-me sem afecto e com inusitada curiosidade. "Que estará este tipo a fazer por aqui?"

Pedro Passos Coelho, grave como convém (mas também não convém ser assim tão grave), dava a ideia de que procurava um adjectivo, uma frase inicial, uma imagem de circunstância. Paulo Portas, na terceira cadeira do poder, agitava-se e tentava manter uma conversa avulsa e transeunte com Vítor Gaspar, que não lhe ligava nenhuma. Mas Paulo sorria de enlevo. A felicidade invadia-o intensamente e ele era um homem cheio de júbilo, graças a Deus!

Dobro o olhar para a direita e continuo. Assunção Crista fora elevada aos céus: um belo sorriso sem reticências, o prazer de ser quem é e ali estar, ministra múltipla, elementar e clara. Nuno Crato não fazia parte daquela pintura. Um pouco sombrio, ele, de hábito tão aplicado em espalhar empatia, sabedoria e simplicidade, expunha o lado chuvoso e uma melancolia funesta, impossível e resignada.

O dr. Cavaco seguia, sem curiosidade aparente, o protocolo das nomeações. Fiquei a saber o nome completo dos que nos vão governar, e distinguir, pelos longos patronímicos, as virtudes e os privilégios familiares dos novos senhores e senhoras. Portas insistia em conversar com o parceiro do lado, que não ocultava, nem sequer dissimulava o seu bocejante desapego.

Finalmente, e depois de atroz intervalo, o dr. Cavaco ameaçou-nos com um discurso. É dos costumes e das imposições. Em todo o caso, o texto poderia ter sido mais cuidado, mais original e mais apelativo. Em suma: ele quer que nos sujeitemos ao diktat da troika, ao respeito pelos compromissos assumidos e à obediência sem hesitações. Tudo em nome do "interesse nacional", expressão itinerante que pode servir a comunistas, a socialistas, a liberais e a tolos, nos momentos azados.

Não empolgou ninguém. O discurso de Passos Coelho pareceu-me mais cuidado. Pelo menos não tropeçou nas preposições e evitou, graciosamente, a cegueira de cabeça caída comum a quem provoca e acelera a aldrabice. Porém, repetiu, maçadoramente, o fado da nossa desgraça, trinando os versos emocionados de uma pátria perdida se nos não sacrificarmos até ao desespero. Para começo de ciclo, o palavreado não foi sedutor, apesar da boa voz de Passos, cujas entoações e pausas fazem lembrar o tenor António José.

De repente, estava tudo dito e feito. O cerimonial durara uma hora. Uma chatice que a República nos prepara. Carros enormes, fúlgidos e numerosos saíram da Ajuda, nobre colina, para outros destinos. Modestamente, fatigado, acabrunhado e triste, fui para casa.

É Verão - II



Agora que definitivamente entrámos no Verão e que a época balnear já foi declarada aberta, dá sempre jeito dar uma volta aos maillots e escolher o que nos fica melhor.

Talvez gostem de ver estes modelos:


estes...


...ou talvez prefiram estes


mais variedade

... ...

E para os cavalheiros...

Boas escolhas e bons banhos!


terça-feira, 21 de junho de 2011

É Verão!





De admirar a finura da melodia e a poesia da letra que tão bem traduzem a magia do Verão, estação do optimismo e da formulação dos sonhos mais indizíveis.


Summertime and the livin’ is easy
Fish are jumpin’ and the cotton is high
Oh your daddy’s rich and your ma is good lookin’
So hush little baby, don’t you cry
One of these mornings
You’re goin’ to rise up singing
Then you’ll spread your wings
And you’ll take the sky
But till that morning
There’s a nothin’ can harm you
With daddy and mammy standin’ by

(Da ópera Porgy and Bess de George Gershwin, USA, 1935)

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A Feira dos 18 nos Marrazes



Lembram-se as pessoas mais da minha geração que, nas aldeias, nas vilas e até nas cidades, se realizavam, nos largos principais,  feiras semanais ou mensais onde se vendiam desde as loiças e os panos até às verduras frescas criadas nos campos ou nos quintais das próprias vendedeiras e aos animais vivos de pequena e grande dimensão.

Citadina como sou e gosto de ser, ficaram-me bem gravadas na lembrança as imagens - belas porque não vividas senão como pequena espectadora - das feiras de Vieira de Leiria onde vivi pelos meus sete, oito anos já que o meu pai viera desempenhar o cargo de chefe de escritório, como se dizia então, para a fábrica de limas Tomé Feteira. Que lindas as roupas compridas, os xailes de lã e os chapelinhos das vendedeiras que se sentavam no chão no largo da Igreja a vender ovos, couves, galinhas e coelhos. E outras com alguidares de barro - que plástico ainda não havia - a vender camarinhas que era coisa que eu nunca tinha visto lá por Lisboa! Ainda hoje gosto de comer camarinhas apanhadas pelas dunas ali junto às praias.

Pois no passado sábado, fizeram, na freguesia de Marrazes - a maior e mais populosa de Leiria - uma recriação da Feira dos 18 que, naturalmente, se realizava no dia 18 de cada mês  no largo do Coreto que tem exactamente o nome de Largo da Feira dos 18.  Essas feiras aconteceram até meados dos anos oitenta.


(Largo da Feira)






 




(De notar os rolos de trapos com que se fazem/faziam as mantas de trapos;
e uma freguesa descalça)


(As rodilhas de trapo para levar o cântaro de água à cabeça)

(Os animais)



(A almoço na taberna)

(O chapeuzinho do traje de Leiria)


´
(Os barros)

 
(... e duas simpáticas vendedeiras, ou freguesas, ou figurantes
que passeavam pela feira)

domingo, 19 de junho de 2011

A nossa Bandeira





Faz hoje cem anos que, em sessão de câmara, a Assembleia Constituinte confirmou a legalização da bandeira nacional, pelo decreto n.º 141. Não foi no entanto, nada pacífica a escolha da bandeira depois da implantação da República em 1910.

No dia 5 de Outubro, ao ser proclamada a República, na Câmara de Lisboa apareceu uma bandeira verde e vermelha como as que tinham já sido desfraldadas nos centros republicanos de muitas cidades e vilas do país. Assim acontecera durante a revolução de 31 de Janeiro de 1891 na Câmara do Porto. Tratava-se do modelo adoptado pela Carbonária que, além das cores verde e vermelho, incluía uma estrela de cinco pontas e a esfera armilar.

Segundo Isabel Lousada, professora e investigadora da universidade Nova de Lisboa, José de Castro – presidente da Comissão de Resistência e grão-mestre adjunto da Maçonaria em substituição do grão-mestre Magalhães de Lima, exilado em Paris – solicitara, com o maior sigilo, a Adelaide Cabete e Carolina Ângelo – ambas da Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e da Maçonaria Feminina – a confecção de bandeiras verdes e vermelhas a serem hasteadas aquando da revolução que viria a extinguir a Monarquia em Portugal.

Em 15 de Outubro de 1910, o governo provisório nomeou uma comissão composta por Columbano Bordalo Pinheiro, João Chagas, Abel Botelho e mais dois oficiais do Exército e da Marinha para idealizarem a bandeira nacional. Em 29 do mesmo mês foi apresentada a primeira versão da bandeira concebida por Columbano. Como sempre acontece depois das revoluções que, passe o exagero, “não deixam pedra sobre pedra” ninguém se entende daí desencadear-se, em torno da escolha da bandeira, uma polémica que dividiu políticos, escritores, poetas e artistas.

A Assembleia Nacional Constituinte, eleita em 28 de Maio de 1911, estabeleceu no que toca à escolha da bandeira a seguinte resolução: “as bandeiras nacionais serão bipartidas verticalmente verde-escuro e vermelho ficando o verde do lado da tralha. Ao centro, e sobreposto à união das duas cores, o escudo das armas nacionais orlado de branco sobre a esfera armilar manuelina, em amarelo e avivado em negro. A divisória entre as duas cores será feita de modo que fiquem dois quintos do comprimento total ocupados pelo verde. O emblema central ocupará metade da altura da tralha.”

Cumpriram-se as cores do projecto de Columbano. No relatório da comissão nomeada pelo governo provisório, Abel Botelho interpretou o vermelho como “cor combativa e quente é a cor da conquista e do riso; uma cor cantante e alegre lembra o sangue e incita à vitória” enquanto o verde aparece como “a cor da esperança e do relâmpago significa uma mudança representativa na vida do País.”

(Texto escrito de acordo com um texto de António Valdemar jornalista e investigador)

sábado, 18 de junho de 2011

Paul McCartney





Nasceu a 18 de Junho de 1944, faz hoje, portanto, 67 anos, aquele que era considerado o "menino bonito" dos Beatles - não por mim, que o meu preferido era mesmo o George Harrison.

Considerado o compositor musical de maior sucesso da história da música pop mundial de todos os tempos pelo Guinness Book of Records de 1979, foi, com John Lennon, o autor de grande parte dos êxitos do conjunto que mudou o rumo da música no início dos anos 60, tendo, depois da sua separação, continuado a compôr e a tocar músicas líndíssimas. Uma das minhas preferidas e que fez os encantos das minhas filhas foi
esta:




Poderá haver quem prefira recordá-lo neste visual mais jovem!


(No álbum branco)



sexta-feira, 17 de junho de 2011

Que esperar de Nuno Crato?





Agora que temos a certeza que o Dr. Nuno Crato vai mesmo ser o novo Ministro da Educação, fui rapidamente à estante tirar o seu tão apreciado – não por mim, mas quem sou eu? – livrinho “O ‘Eduquês’ em Discurso Directo – Uma Crítica da Pedagogia Romântica e Construtivista”, editado pela Gradiva, em Abril de 2006, em que o autor, em cerca de 104 das 121 páginas escritas, critica a pedagogia proposta e aplicada “por várias áreas políticas, que tiveram uma influência crescente no Ministério da Educação ao longo dos anos 80 e 90, que, portanto, vingaram sob a acção dos governantes de partidos tão diversos como o CDS/PP, PPD/PSD e o PS.” (pág. 9)

E, rapidamente, me precipitei para as conclusões, para ter uma ideia, ainda que muito vaga, das ideias gerais do novo ministro para a educação básica e secundária. E diz: “A finalizar, apontamos em poucos parágrafos secos algumas ideias sobre o que consideramos que se deve adoptar na educação.

Em primeiro lugar, julgamos que o ensino não precisa de reformulações drásticas nem reviravoltas pedagógicas revolucionárias. (...)

Em segundo lugar, é preciso centrar forças nos aspectos essenciais do ensino, ou seja, na formação científica dos professores, no ensino das matérias básicas, na avaliação constante e na valorização do conhecimento, da disciplina e do esforço. (...) É necessário reafirmar que o essencial na formação de professores é o conhecimento da matéria que ensinam. (...) Também nos currículos e práticas do ensino básico e secundário – e mesmo universitário, mas essa é uma outra batalha – é indispensável a concentração nas matérias e temas essenciais de que são exemplo a Matemática e o Português, a História, a geografia e as Ciências. Em todas essas áreas seria bom que se estabelecessem patamares mínimos – standards – e se concentrassem esforços, sendo-se ambicioso e exigente no domínio dos mínimos essenciais.

A avaliação é fundamental, mesmo para a entrada na profissão de professor (...) É preciso manter os exames nos 9º e 12º anos de escolaridade (...). Admite-se que um outro exame nacional se venha a tornar necessário, possivelmente no 4º ou no 6º ano de escolaridade. (...)

O espírito de disciplina, trabalho, esforço, persistência e concentração deve ser desenvolvido nos estudantes de forma sistemática e progressiva. O ensino tem de formar elites, mas também de acompanhar os menos favorecidos ou menos dotados e apresentar-lhes vias alternativas. (...)

É indispensável adoptar expectativas exigentes para os estudantes e o seu trabalho. (...) currículos ambiciosos e avaliações rigorosas e continuadas trabalham a favor de estudantes mais bem preparados.

Finalmente, é necessário adoptar métodos provados, que são naturalmente eclécticos. (...) Deve-se desenvolver o gosto pelas disciplinas e tentar motivar os alunos, mas não se pode limitar o ensino àquilo de que os alunos gostam, nem se deve balizar o progresso curricular pelo sentimento positivo dos alunos. (...)

Os bons professores sabem o que se deve fazer e tentam fazê-lo. Se muitas vezes não o fazem mais e melhor, essa limitação não se lhes deve. Deve-se sim às imposições avulsas do Ministério, aos currículos desconexos, aos maus manuais escolares, a um ambiente de desrespeito pela cultura e pela educação.” (págªs 115 a 120)


Breve declaração de intenções, escritas há cinco anos, estas perspectivas são passíveis de várias leituras, de diversas operacionalizações. Que esperar?

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Lançamento de Livro na "minha" Escola



Recebi um amável convite da professora bibliotecária da "minha" escola (uma das minhas boas amigas que ainda lá tenho) para a apresentação de um livro de uma aluna de 9º ano. Uma aluna a editar um livro? Não posso deixar de confessar que fiquei bastante surpreendida. E lá fui, cheia de curiosidade.

Era, de facto, uma menina que eu conhecia bem desse o 5º ano, ano em que ela escreveu esta história que só no passado Natal o pai, como forma de presente, a mandou ilustrar e publicar. Chama-se "A menina sem nome" e versa o tema da generosidade, bem como a falta dela. É uma história muito bonita, muito graciosa, muito poética que se resume em poucas palavras:

Numa bonita manhã de Primavera um passarinho entrou no quarto de Mariana e levou-lhe o nome. A menina saiu de casa para o procurar, pedindo ajuda a várias pessoas. Quando estava prestes a desistir, desanimada, alguém com o coração cheio de ternura lhe deu a mão...


(Capa do livrinho)


(Apresentação do livro pela autora e pelo seu professor de Português
que escreveu o prefácio)


(Colegas de vários anos e turmas que assistiam à palestra)


(E também estavam presentes outras professoras e funcionárias)

Tantas virtualidades tem a escola pública e tão destratada tem sido! 

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Vai uma ginjinha?



Árvores carregadinhas de ginjas - que, infelimente, não são nossas...


Tão lindas!


Então pus-me a fazer ginjinha! É uma das tradições da casa. Daquelas que herdei da minha mãe. Eu não sei como é que ela tinha tempo para estas coisas, mas tinha. Era professora primária – como sempre se disse sem o medo das palavras que agora se tem! – no tempo em que uma professora tinha trinta e muitos alunos de todas as classes; fazia ensino individualizado com as meninas da 1ª classe; levantava-se muito cedo para “passar as cópias” para elas e para corrigir os trabalhos das outras; tinha a casa e a família com dois adolescentes para gerir – o que não é fácil! – dava, depois das aulas curriculares, as célebres explicações para o exame de admissão aos liceus e à escola técnica e ainda tinha tempo para fazer doces e bolos e camisolas de malha para nós dois. Claro que nem é preciso dizer que andava tudo a toque de caixa à frente dela especialmente eu e as alunas, coitadas!

Mas voltando à ginjinha. Um ano, lá pelo início dos anos 60, depois da elaboração do licor, lá foram os frascos para uma janela onde dava muito sol e onde haveriam de permanecer durante aproximadamente três semanas para se fazer a respectiva fermentação. Ora nós tínhamos em casa uma cadela fox terrier muito pespeneta que se chamava Laika, como qualquer cadela que se prezasse naquela época, e um gato lãzudo, preto, de olhos verdes que se chamava Fananuque – que era a distorção do nome Faruk que o meu pai lhe pôs por ele ser todo preto... E um dia, os nossos amigos desapareceram da nossa companhia. Onde se meteu a Laika? Onde estará o Fananuque?

É preciso dizer que nós morávamos num casarão, lá em Sintra, com duas alas de divisões divididas pela enorme sala de aulas e pelo imenso refeitório que, além de um ror de escadarias para baixo e para cima, tinha uma cave que dava para um jardim e para o enorme campo de ténis que servia de recreio para as alunas da escola. E os nossos animaizinhos, quais donos da casa, tinham acesso a todo esse espaço. De modo que, lá andámos, eu e o meu primo M. escada abaixo, escada acima, à procura deles.

Eis senão quando, fomos dar com eles, muito refastelados, na divisão onde estavam os frascos da ginja, um dos quais estatelado no chão e feito em pedaços, e os bons dos bichinhos a lamberem o líquido doce e bem alcoolizado... Foi uma risota! Porque eles estavam completamente bêbados! O gato não se aguentava em pé e a tonta da cadela até entrou às arrecuas para o caixotinho forrado onde dormia!


Bom, agora só falta deixar aqui a receita da ginjinha da minha mãe, que não pode ser mais simples:

A proporção dos ingredientes tem esta base:

1 kg de ginjas
1kg de açúcar
1 litro de aguardente

Descaroçam-se as ginjas, envolvem-se no açúcar e junta-se-lhe a aguardente. Mistura-se muito bem e verte-se para frascos que, bem fechados, se põem a fermentar ao sol durante três semanas.

Se possível longe da tentação de possíveis animais caseiros...



A descaroçar as ginjas, uma a uma, com agulha de croché


Agora, só daqui a três semanas...


terça-feira, 14 de junho de 2011

Falando de Pessoa




Devia ter sido ontem, dia do aniversário do seu nascimento. Mas ontem foi dia de homenagear o nosso Santo lisboeta. E hoje, ainda vamos a tempo de falar um pouco sobre grande Fernando Pessoa. Para isso, deixo aqui uma descrição da sua natureza e maneira de ser, nas suas próprias palavras:

"É necessário agora que eu diga que espécie de homem sou.

Não importa o meu nome, nem quaisquer outros pormenores externos que me digam respeito. É acerca do meu carácter que se impõe dizer algo.

Toda a constituição do meu espírito é de hesitação e dúvida. Para mim, nada é nem pode ser positivo; todas as coisas oscilam em torno de mim, e eu com elas, incerto para mim próprio. Tudo para mim é incoerência e mutação. Tudo é mistério, e tudo é prenhe de significado. Todas as coisas são «desconhecidas», símbolos do Desconhecido. O resultado é horror, mistério, um medo por demais inteligente.

Pelas minhas tendências naturais, pelas circunstâncias que rodearam o alvor da minha vida, pela influência dos estudos feitos sob o seu impulso (estas mesmas tendências) — por tudo isto o meu carácter é do género interior, autocêntrico, mudo, não auto-suficiente mas perdido em si próprio. Toda a minha vida tem sido de passividade e sonho. Todo o meu carácter consiste no ódio, no horror da e na incapacidade que impregna tudo aquilo que sou, física e mentalmente, para actos decisivos, para pensamentos definidos. Jamais tive uma decisão nascida do auto-domínio, jamais traí externamente uma vontade consciente. Os meus escritos, todos eles ficaram por acabar; sempre se interpunham novos pensamentos, extraordinárias, inexpulsáveis associações de ideias cujo termo era o infinito. Não posso evitar o ódio que os meus pensamentos têm a acabar seja o que for; uma coisa simples suscita dez mil pensamentos, e destes dez mil pensamentos brotam dez mil inter-associacões, e não tenho força de vontade para os eliminar ou deter, nem para os reunir num só pensamento central em que se percam os pormenores sem importância mas a eles associados. Perpassam dentro de mim; não são pensamentos meus, mas sim pensamentos que passam através de mim. Não pondero, sonho; não estou inspirado, deliro. Sei pintar mas nunca pintei, sei compor música, mas nunca compus. Estranhas concepções em três artes, belos voos de imaginação acariciam-me o cérebro; mas deixo-os ali dormitar até que morrem, pois falta-me poder para lhes dar corpo, para os converter em coisas do mundo externo.

O meu carácter é tal que detesto o começo e o fim das coisas, pois são pontos definidos. Aflige-me a ideia de se encontrar uma solução para os mais altos, mais nobres, problemas da ciência, da filosofia; a ideia que algo possa ser determinado por Deus ou pelo mundo enche-me de horror. Que as coisas mais momentosas se concretizem, que um dia os homens venham todos a ser felizes, que se encontre uma solução para os males da sociedade, mesmo na sua concepção — enfurece-me. E, contudo, não sou mau nem cruel; sou louco, e isso duma forma difícil de conceber.

Embora tenha sido leitor voraz e ardente, não me lembro de qualquer livro que haja lido, em tal grau eram as minhas leituras estados do meu próprio espírito, sonhos meus — mais, provocações de sonhos. A minha própria recordação de acontecimentos, de coisas externas, é vaga, mais do que incoerente. Estremeço ao pensar quão pouco resta no meu espírito do que foi a minha vida passada. Eu, um homem convicto de que hoje é um sonho, sou menos do que uma coisa de hoje."

1910?

(in "Fernando Pessoa Quando fui outro" por Luiz Ruffato, Alfaguara, Editora Objctiva, Lisboa, 2010)


segunda-feira, 13 de junho de 2011

Pedidos a Santo António





Faz hoje (123) anos que nasceu o grande, o nosso maior poeta do século XX, Fernando Pessoa.
Também se festeja o dia da freguesia de Leiria e, por coincidência, é também o dia do Agrupamento D. Dinis - vulgo, a "minha" escola.

Mas, mais que tudo, é Dia de Santo António. Dia de feriado em Lisboa, de marchas e bailaricos, de sardinhas assadas e de manjericos enfeitados de quadras populares. 




E, desta vez, também me atrevi a escrever algumas quadras populares - ou popularuchas! - com alguns pedidos ao Santinho milagreiro.

A ver se tenho sorte!

Ó meu rico St.º António,
Meu santinho milagreiro,
Traz alegria p´ra gente
E também algum dinheiro!


Se lá do alto avistares
Este blogger com seus autores,
Diz-lhes que mandem de volta
Todos os meus seguidores.


Tira o paleio aos políticos,
A fanfarra ao FMI;
Manda a troika arejar
Para bem longe daqui.


Nem Merkel, nem Sarkozy
Nos levam mais ao engano!
Temos o bom do Paulinho
Mais um Coelho africano.


Por isso, Santo Antoninho,
Meu pezinho de açucena,
Já estamos no bom caminho
De nós não há que ter pena...

domingo, 12 de junho de 2011

Adivinha


Hoje deixo aqui uma adivinha infantil para ver se os meus especiais amigos conseguem descobrir. Fácil de mais, como de costume, para amigos tão perspicazes...



Neste bairro nasci
nesta cidade cresci.
Mais tarde saí
Viajei.
Procurei.
Em muitas terras vivi
Numas destas morri.
Em todos os momentos o Amor aprendi.

Quem sou eu?


sábado, 11 de junho de 2011

Estamos quase lá!





Ontem de manhã, como habitualmente, enquanto tomava o pequeno almoço, tinha a televisão acesa no Canal 1 e, como os festejos do dia de Camões (e de Portugal) se realizavam em Castelo Branco, o apresentador do programa fez uma chamada para o repórter a fazer serviço na capital da Beira Baixa para saber o que se passava por lá no que tocava à organização dos espaços e dos tempos, sobre a chegada do Presidente da República, se havia muita gente por lá.

Não queiram saber! Apresentou-se um senhor de fato e gravata, com um ar muito circunspecto, extremamente contido, seráfico mesmo, a falar muito baixinho e muito pausadamente, deslocando-se quase a medo entre as pessoas a quem ia fazendo perguntas decoradas – ou devo dizer descoradas? – que previam as respostas politicamente correctas, como se diz agora. E, o que mais me incomodou foi o modo assaz subserviente como se referia ao Senhor Presidente da República e à hora da sua chegada, e das pessoas que, ansiosas o esperavam, e das enormes expectativas com que aguardavam o seu discurso – como se falasse da própria Divindade que estivesse para descer dos Céus ali de Castelo Branco!

Não era sequer o tom com que eram, em tempos, feitas as transmissões televisivas das peregrinações de Maio à Cova de Iria. Aquele tom sussurrado, provinciano e servil transportou-me, de imediato, para o tempo em que, na televisão e na rádio, os apresentadores tinham de se comportar como se estivessem na Igreja, escolhendo umas palavras e silenciando outras para não serem eles próprios silenciados.

Veio-me à cabeça o que a avó de um colega lá da escola disse quando se deu o 25 de Abril: “O tempo que vamos ter de esperar para voltar a pôr tudo na mesma!” Estamos quase lá!


sexta-feira, 10 de junho de 2011

Dia de Camões





Para mim, o 10 de Junho foi sempre o dia de Camões. Foi assim que me ensinaram lá em casa, já que fora decretado nos primórdios da jovem República Portuguesa. Luís de Camões representava o génio da pátria na sua dimensão mais esplendorosa, significado que os republicanos atribuíam ao 10 de Junho, apesar de nos primeiros anos da república ser um feriado exclusivamente municipal de Lisboa.

Com Salazar o dia de Camões passou a ser festejado a nível nacional, passando a ser conhecido como o dia de Camões, de Portugal e da Raça. Este último epíteto, da Raça,  foi criado por Salazar na inauguração do Estádio Nacional no Jamor em 1944. (Quem não se lembra da gaffe do actual Presidente da República, no ano passado, quando se referiu a este dia como o dia da Raça? ... Confusões lá da cabeça dele!)  A partir de 1963, o 10 de Junho tornou-se numa homenagem às Forças Armadas Portuguesas, numa exaltação da guerra e do poder colonial.

Depois da Revolução de Abril, mas apenas em 1978, o 10 de Junho passou a ser chamado dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas. Deixou de se assistir ao folclore das festividades fascistas apresentadas no Estádio Nacional à boa maneira hitleriana, para passarmos a ter outro tipo de folclore distribuído, em cada ano, pelas diversas cidades do país, com discursos de Estado e  imposição de insígnias a figuras que os vários Presidentes da República entendem que devem homenagear.

Folclore por folclore, eu prefiro dizer que é apenas do Dia de Camões, o grande poeta da Língua Portuguesa.

Assim, deixo aqui dois ou três poemas da sua vastíssima e riquíssima lírica.

Um dos seus muitos e belíssimos sonetos:

Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança ainda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais
E, se torna, não tornam as idades.


Razão é já, ó anos, que vos vades,
Porque estes tão ligeiros que passais,
Nem todos pera um gosto são iguais,
Nem sempre são conformes as vontades.


Aquilo a que já quis é tão mudado
Que quase é outra cousa; porque os dias
Têm o primeiro gosto já danado.


Esperanças de novas alegrias
Não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
Que do contentamento são espias.

Uma cantiga:

Mote


De que me serve fugir
da morte, dor e perigo,
se me eu levo comigo?


Voltas


Tenho-me persuadido,
por razão conveniente,
que não posso ser contente,
pois que pude ser nacido.
Anda sempre tão unido
o meu tormento comigo
que eu mesmo sou meu perigo.


E se de mi me livrasse,
nenhum gosto me seria;
que, não sendo eu, não teria
mal que esse bem me tirasse.
Força é logo que assi passe,
ou com desgosto comigo,
ou sem gosto e sem perigo.


E ainda o mais belo de todos os seus sonetos "Amor é fogo que arde sem se ver"  nesta engraçada versão figurativa que encontrei num blog chamado textos-e-reflexoes 




(informações sobre o Dia de Camões retiradas da Wikipédia)