quinta-feira, 28 de junho de 2012

28. Uma sombra no Verão

A maior sombra no Verão é quando este está a acabar. Para mim, que sempre fui professora – até me parece que já nasci professora! - o fim do Verão trazia-me sempre as angústias, os receios, as incertezas que se sentem no final de cada ano quando um novo Janeiro teima inexoravelmente em nascer.

Mar de São Pedro, com nevoeiro

Nos anos – e foram muitos – que, em 31 de Agosto, deixava para trás o sempre brumoso mar de S. Pedro e em que dizia às minhas filhas para dizerem «Adeus, praiinha, até para o ano!», sentia sempre um imenso nó na garganta que nunca consegui explicar. Nunca gostei de Setembro. Nunca gostei do início do Outono. Não sei se pelo resvalar do brilho da luz para a névoa, se pelo triste minguar dos dias, se pelas incertezas que me apertavam o coração. E a imagem que me toldava a mente era a do náufrago que tenta a todo o custo atingir a margem e pensa «Será que chego lá?»

 
Em Setembro de 70 escrevia assim:

Fim de Verão

Quando o sol desce mais pálido
Além nas verdes colinas
hoje mais cedo que ontem
e inda mais cedo amanhã,
que a névoa de verão de esfuma
ao longo dos areais
e que o mar bate nas rochas
solitário e esquecido
em redondilhas de espuma
e em danças orientais,
então acaba-se o sonho,
o mundo da fantasia;
acabam-se os dias longos,
o prazer da beira-mar,
a fragrância dos pinheiros,
os encantos do luar.
Então acaba-se a vida
e começa a lassidão.
Quando o sol desce mais pálido –
cai tudo em estranho sono,
em suave mansidão –
e então preciso de ti,
de realidade e … de outono.


Não resisto ainda a deixar aqui a minha canção de fim de Verão, na encantadora voz de Paul Anka: “Summer’s gone”, de 1960.

 



11 comentários:

  1. Para além de tudo o mais que aqui ficou registado, gostei particularmente do poema.

    Sente-se o marulhar das ondas e dos pinhais
    e outras coisas mais!

    Anos 70,
    ó década maravilhosa,
    romântica,
    vigorosa,
    turbulenta
    Esperançosa!...

    Beijo de versos, versos...sentidos!

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  2. buáá´´aá´...buááá´

    Estou muito tristinha....não gostas do meu mês, snif ...snif...

    Beijinho enlagrimado

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  3. Também não gosto do Setembro. Sinto o tal nó na garganta. Mas pior, pior é o Janeiro.

    Quanto ao Paul Anka, que dizer? Soa-me a férias de Verão!

    Beijo

    Laura

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  4. Volto para te dizer que gostei dos teus versos. Então e agora, não há mais???

    Beijo

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  5. Muito lindo, sim senhor, mas esperava um poema mais alegre...sei lá. É que em setembro de 1970, eu tinha apenas 1,5mês e dava jeito uma ode à minha pessoa.:))

    (hoje estou parva de todo!:))

    Adorei os teus versos (amanhã também versejo, mas os meus são mais "inocentes" do que os teus:))

    beijocas

    Nina

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  6. P.S: descobri mais umas coisas para embelezar/modificar fotos.
    Se gostares da minha, amanhã, encaminho-te para o site.
    O que é que queres? Sou uma pirata nata!:))

    mais beijinhos
    Nina

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  7. Graça minha querida
    Também gosto muito de S. Pedro. também não gosto de Outubro até á primavera, principalmente até os dias serem pequenos, não suporto fazer-se de noite taão cedo.

    Adorei teus versos, também do Summe´s.

    Beijinho e uma flor

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  8. Gosto de dias grandes, com muita luz, para cinzento (ou grisalho?) já basto eu.
    :)

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  9. Sabia que o Paul Anka
    foi a primeira estrela canadiana
    a fazer operação estética?
    Foi à orelhas...
    Dizia que era feio vê-las
    e foi na Primavera da vida dele
    Acho que não me lembro de nenhuma canção em que Paul Anka falasse (verdadeiramente) do Outono...

    Seu poema, por si só, justificava o post

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  10. Querida Graça, não és só tu a sentir essa mistura de nostalgia e angústia... achas que é defeito de profissão?
    Beijinhos.

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  11. O setembro sugere um período muito longo de temperaturas baixas....

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