Para mim, as melhores férias de
Verão são sempre as que passo na praia. Mas, curiosamente, o meu Verão mais
divertido foi o que passei a preparar o meu casamento: o Verão de 71. Era para
ser um casamento de Verão. De facto, esteve marcado para 4 de Setembro, mas
teve de ser adiado por um mês porque o carpinteiro que fez a nossa mobília de
quarto não se despachou a tempo.
Esse ano letivo tinha sido intenso: a terminar
a licenciatura e, ao mesmo tempo a dar aulas, muitas aulas no Colégio do
Ramalhão e também no meu saudoso Externato Académico de Sintra (onde fora
aluna) além de dar ainda algumas explicações em casa. Mas o que era isso para
uma jovenzinha feliz e bem-disposta? O que era preciso era ganhar dinheiro para
as vaidosices todas…
Nesse tempo as férias de Verão
iam desde meados de Julho, quando terminávamos as preparações para os exames
até finais de Setembro. Eram férias que nunca mais acabavam, mas descansem que
também não recebíamos ordenado nesses meses… Mas nesse ano nem deu para reparar que não
havia ordenado: tinha mais que fazer e tinha ganho bem durante o ano, por
isso… O noivo não estava por perto:
estava lá para a Figueira em tempo de tropa e, quando podia, ainda ficava em
Leiria a trabalhar na fábrica do pai para “fazer mais uns dinheirinhos”… Às
vezes, aparecia ao fim de semana, em Sintra ou na Praia Grande, de surpresa e
era muito, mas mesmo muito bom!
Tudo era mandado fazer. Nada se
comprava já feito. Uma trabalheira. Mas uma excitação!
Houve que tratar de comprar os
tecidos para o vestido de noiva e para o fato do segundo dia e para os vestidos
para a viagem de núpcias e pôr tudo a fazer na modista da moda à época lá em
Sintra, a D. Salomite. Vestido de noiva cor-de-rosa, com capeline e bolsinha
dourada nas mãos – nada de flores! Havia que ser diferente e chocar o pessoal…
Vestido do segundo dia macaco curtinho, bem curtinho, de jersey de lã, encarnado
cerise, com cinto de metal prateado descaído
da cintura. Fato de jaqueta e calções curtinhos amarelo sol, etc. etc. Modelos
imaginados por mim. Vaidosices…
Houve que comprar os tecidos para
os cortinados e pô-los a fazer. Houve que escolher as alcatifas e os
candeeiros. Houve que escolher as mobílias que foram feitas em Leiria. Depois
foi levar tudo para Sintra, montar tudo, arrumar tudo, limpar tudo. Uma
trabalheira, mas uma excitação!
Houve que imaginar os convites –
minimalistas de mais para a época – pensar nos convidados (pouco para não se
gastar muito…) e entregá-los. Felizmente os preparativos para o copo-de-água
(como se dizia) e a escolha do restaurante ficaram com os meus sogros, que o
casamento, civil apenas, realizou-se em Leiria.
Houve que mandar fazer e bordar
os últimos lençóis, aplicar as rendas de bilros nos lençóis das primeiras
noites… Que complicados eram aqueles tempos! Que trabalheira, mas que
excitação! O escândalo da bordadeira quando mandei bordar uns monogramas com as
minhas iniciais GM! E ela: «mas se ainda não tem noivo pode bordar-se a sua
letra e deixar o espaço para depois acrescentar a letra dele…» Que nem pensar!
Que o casamento seria daí a um mês, mas que os lençóis eram meus, por isso
teriam o meu nome…
Mas, contando com a ajuda
incomparável da minha mãe, tive ainda tempo para ir passar algumas tardes à
praia com a minha amiguinha L. Metíamo-nos no elétrico da Praia das Maçãs e aí
íamos nós até à Praia Grande ou até à piscina da Praia das Maçãs.
Praia Grande |
Sem praia é que nem pensar!
Isso é que foi um verão. E que trabalheira com os preparativos para o casamento... não o casamento em si, mas as mobílias, as modistas, os lençóis bordados! Mas fizeste-o com alegria e muito amor. Concordo contigo, verão sem praia é que não!
ResponderEliminarE pronto!
ResponderEliminarFiquei de lágrima no canto do olho.:)
Lindo relato!
beijinhos
Nina
Valeu a pena a trabalhêra!
ResponderEliminarE não deixaste de ir à praia. Tudo sai bem, quando bem organizado. Vinte valores, porque a tabela não permite mais
Um verão em grande, está visto! E que bem sabe recordar a energia positiva, a felicidade e até essa trabalheira toda associada ao casamento... :)))
ResponderEliminarBeijocas, Graça, e ainda bem que valeu a pena! :)
Mas que belas férias essas!
ResponderEliminarCansativas, sem dúvida, repletas de tarefas a fazer...mas compreendo a razão de terem sido das suas melhores férias!
Beijinhos
Espectaculo esta tua revelação!
ResponderEliminarAdorei, adorei.
Sabes graça recuei no tempo, mas tu naquele tempo já era tudo nos trinques! Eu casei com 16 anitos em Fev/1973, o meu vestido foi feito com tecido de cortinados, o almoço foi em casa dos meus sogros, dinheiro de visitas só uma a do meu padrinho que serviu para pagar umas calças e uma camisola para mim e para o noivo para o 2º dia, também deu para pagar o resto da mobilia de quarto.
Boa semana
Beijinho e uma flor
Estimada Amiga Graça Sampaio,
ResponderEliminarAinda bem que tudo correu a seu modo e foi como gostava de ir, diferente das demais, ainda bem. Igualmente não dispensou a praia e fez bem, praia essa que eu conheço igualmente bem, principalmente a Praia Grande, e por casualidade moro na Praia Grande em Macau.
Seu relato me fez recuar no tempo e recordar o meu casamento, totalmente diferente dos vossos aí em Portugal, tudo foi por conta dos noivos já que eu nem quis entrar no sistema da cultura chinesa senão ficaria empenhado por muitos anos.
Abraço amigo com voto das maiores felicidades.
E são estas coisas que nos fazem bem. A azáfama, a ansiedade.
ResponderEliminarAgora é tudo descartável, prático ( não é necessário ir-se à modista) e fútil.
Foi um verão em cheio! E os noivos estavam lindos!
Beijo
Laura
A energia do mar também me atraí e muito! Bjs. Célia.
ResponderEliminarBelo verão...quente muito bem descrito a cores e quase ao vivo! :-))
ResponderEliminarEu ainda não sabia que aquele iria ser o meu último verão de solteira passado na Nazaré!
Só quando em Outubro chegou a colocação em Setúbal é que decidimos casar no início das férias do Natal!
Com uma trabalheira semelhante( embora o enxoval estivesse completíssimo) na montagem de casa em Almada, fato de noiva, de segundo dia, cortinados, mobília que veio do Norte, candeeiros, carpetes, etc, e que passado um ano lectivo tivemos que encaixotar por decidirmos regressar às raízes...ou perto!
Como teria sido se tivéssemos ficado por Almada?
On sait jamais! :-))
Abraço
Já aqui disse, casamos no mesmo mês e no mesmo ano.Foi um verão de muitas despesas, mas pelo menos foi o primeiro ano que tivemos, nós os professores ,direito a férias pagas, até 30 de Setembro. Devemos este bem ao ministro Veiga Simão.Não tive férias de praia, não aprecio, mas 15 dias em Caldelas; sendo o noivo de Amares ...óptimo.O meu vestido ,bastante parecido com o seu , foi comprado já feito em Zamora, na altura , um luxo que ia ficando apreendido na fronteira bem como os adereços...e já lá vão 40 anos e quase 8 meses. Saúde.
ResponderEliminarM.A.A.
para mim o melhor e mesmo a companhia
ResponderEliminarBjinhos
Paula
Amiga, parabéns pela excelente memória e por este texto que me comoveu.
ResponderEliminarOs noivos estão lindos e a "canseira" foi muito saudável :)
beijinhos e obrigada por esta partilha
Ai estas minhas queridas comentadoras que se deixam comover com tão pouco!...
ResponderEliminarMas muito, muito obrigada pela vossa simpatia e pelas memórias lindas!
M.A.A., temos o mesmo tempo de casamento. Que giro! Nós casámos a 9 de Outubro. E não ganhava ainda nas férias por andar ainda a dar aulas pelos colégios. Grande ministro o Prof. Veiga Simão - do melhor! Quem no-lo dera agora!
Rosinha, tanta trabalhêra para pôr a casa em Almada e depois... volta para trás! A vida e os seus imponderáveis... Mas tudo vale a pena, não é?
Adélia, minha querida, não há comparações que valham a vida das pessoas! Todos diferentes, todos iguais - e depois logo se vê!
Beijinhos especiais para todos.
Férias atarefadas essas... mas por uma boa razão. Eu casei num 2 de setembro de muito calor. O verão, sempre o verão. :)
ResponderEliminarah! os casamentos!!!!!
ResponderEliminarQuerida Graça, que belas memórias tu nos trazes, sempre! E que bonita estavas nos dia do teu casamento! E sim, era tuuuudo, mandado fazer, não se comprava nada feito, até porque pouco havia! :)
ResponderEliminarBreves comentários:
ResponderEliminarEm 1971, nasci :)
Por essas e por outras é que o Sr. IKEA montou o negócio!
Andei no Externato S. José - Restelo. Hoje anda lá a minha M.
Sem praia nem pensar! :)