terça-feira, 31 de julho de 2012

Brincadeiras ... no hospital

Primeira visita à neta que está no Pediátrico em Coimbra. A fazer exames e mais exames e à espera de fazer mais exames. De resto nem parece estar a precisar de lá estar. As condições do hospital são muito boas, têm sala de atividades e educadora para “trabalhar” com as crianças. O pessoal é de cinco estrelas no trato e em tudo e ela está tão bem “integrada” que hoje até confessou à mãe que “afinal estar no hospital até nem é assim tão mau”!...

A mãe, que está acabrunhada e exausta como todos podem imaginar, sentiu hoje uma réstia de alegria quando o médico que viu hoje a Elisa disse que ela está a recuperar e que começam a inclinar-se para que os sinais – que foram francamente assustadores – sejam ainda resultantes do malvado vírus da varicela que a atacou com toda a violência no passado mês de Abril. Sem certezas ainda, porém. 

A tarde foi uma brincadeira pegada com a visita do primo.

Houve lanche divertido




Houve fotografias com caretas feias 






 E até a avó teve de fazer caretas!


Vamos ver se esta vivacidade toda é sinal de melhoras mesmo!


segunda-feira, 30 de julho de 2012

Os relvados ingleses

(St James's Park)
Ando a dizer isto há anos em relação ao estado e à evolução da educação no nosso país. Da educação e não só. Quem quer à viva força comparar o estado social, cultural, educacional do nosso país com o dos países ditos civilizados, especialmente com os do norte da Europa, com o único objetivo de nos achincalhar e aos governos que se têm seguido alternadamente desde a instauração da democracia, só mostra que, de facto, não deve muito è inteligência ou que não tem feito as leituras que devia. É que, quando saímos ainda não há quarenta anos do estado de letargia, de submissão, de medo e de ignorância para começarmos a dar os primeiros passos na vida democrática, tateando, tropeçando, esses outros países já nos levavam pelo menos cem anos de avanço. A todos os níveis.

Esta é uma daquelas evidências que saltam à vista, nem é preciso ser muito esperto. Só que nós gostamos mesmo é de dizer mal de nós próprios e do país e pronto! (Bem razão tem o Sérgio Godinho em cantar: “Só neste país, só neste país é que se diz só neste país!”)

Agora pensem como fiquei realizada ao ler uma metáfora tão simples como esta com que um dos meus cronistas preferidos, o Ferreira Fernandes do DN, terminou a sua crónica de ontem sobre a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres e que diz assim: «Já a Rainha Isabel aceitar entrar, ela própria, num diálogo – “Boa-noite, Mr Bond!” – deixar a sugestão de que se atira de para-quedas com Daniel “Bond” Craig para o Estádio Olímpico e aparecer na tribuna em tempo real, com o mesmo vestido e a cara de enfado habitual, só se explica pela mesma razão do brilho dos relvados ingleses. Basta cortar e regar. Só? Sim, isso e fazê-lo durante umas centenas de anos.» 

É isso que eu ando a dizer há anos em relação ao nosso dito "atraso estrutural", mas nunca com esta simplicidade: é que não basta “cortar e regar os relvados” para eles terem aquele brilho. É preciso, mesmo, fazê-lo há umas centenas de anos. 


(St James's Park)

domingo, 29 de julho de 2012

sábado, 28 de julho de 2012

Os Jogos Olímpicos



Pertenço àquela minoria que não liga muito, para não dizer nada, aos Jogos Olímpicos. Como não ligo a outras competições sejam mundiais, europeias ou nacionais. Sou assim, que se há-de fazer? Nunca gostei de jogos, nem de desporto, suponho que porque não entendo nem aceito a competição. 

Esta minha estranha forma de ser no que toca a estas coisas do desporto e dos jogos torna-se ainda mais estapafúrdia se disser que o meu núcleo familiar – marido e filhas – bem como toda a minha família próxima – mas nunca o meu pai – foi sempre e desde sempre praticante e defensora das mais variadas atividades desportivas, que eu não nego, naturalmente!

Para mim, programas intermináveis à procura de um “eleito”, seja individual, seja por equipas são sempre uma enorme “seca”. Que é o caso dos mundiais ou europeus de futebol – bah! – ou seja de que modalidade for! E isto inclui campeonatos de dança, de música, já para não falar dos impossíveis programas tipo ídolos – portugueses ou não! 

Por isso também nunca me entusiasmei demasiado com os emblemáticos, mediáticos e porque não dizer mesmo ostensivos, excessivos, exibicionistas espetáculos de abertura dos Jogos Olímpicos. Lembro-me vagamente da sessão de abertura dos jogos de Moscovo em 1980 que pôs o público nas bancadas a representar o ursinho Misha a deitar uma lágrima, o que à época foi uma coisa maravilhosa e da dos Jogos de Los Angeles em 1984 por ter tido como pano de fundo a história da maravilhosa música americana anos 30/40/50 que eu adoro (e o feito quase épico do nosso Carlos Lopes) e pouco mais.




Os últimos, que se realizaram em Pequim, em nada me atraíram, aliás como outros realizados em países orientais – que me desculpe o amigo Cambeta – com toda aquela perfeição conseguida sabe-se lá a que custo! As atuais culturas orientais, atuais, repito, parece quererem provar ao ocidente a sua superioridade e tentam fazê-lo e fazem-no a todo o custo pretendendo atingir a perfeição, pretendendo encantar-nos com o espetáculo dessa perfeição que eles inventaram.

Daí ter, de facto, gostado da sessão de abertura a que assistimos ontem. Sou suspeita, muito suspeita mesmo, dado o gosto que mantenho desde sempre pela cultura inglesa, pela sua história, pela sua poesia, pela sua música, mas especialmente pela sua força, traço visceral de um povo. São arrogantes? São, sim senhor! São “conceited”? São, sim senhor! Pensam-se acima e diferentes de todos os outros? Pensam-se, sim senhor! Mas são capazes de se superar de houver necessidade disso. Só pela força do trabalho, do muito trabalho conseguiram largar os campos e vir para as cidades fazendo uma revolução industrial como nenhum outro país antes fizera, não deixando de lado a revolução agrícola, a revolução social, a revolução cultural. E foi essa força que eles tiram sempre dos seus músculos e dos seus cérebros, sempre suportada pelos seus mitos e pelos seus heróis que nunca abandonam que vimos ontem na sessão de abertura destes 30ºs Jogos da era moderna. A força com que batiam nos tambores foi a força com que no século XIX bateram o ferro e o transformaram em aço pelo fogo – sinais sempre presentes no espetáculo; mas uma força temperada pelo toque de classe e o bom gosto do seu humor, da sua literatura, da sua música, da sua história – que veneram.

O ponto forte do espetáculo – para mim, claro! – foi mesmo a breve, mas excelente e humorada representação da Rainha, finíssima e austera como sempre, acompanhada pelo seu grande protetor Mr Bond, o eterno agente britânico ao serviço de Sua Majestade e com licença para matar. E a seriedade e a finura esse quadro com que foi feito.

Inglaterra no seu melhor!

(Poderão, se assim o entenderem, ter uma outra perspetiva da sessão de abertura dos Jogos de Londres, quiçá bem mais estapafúrdia, aqui.)


Dia de anos


Tenho a certeza que na sua vida ainda jovem, nunca a minha filha mais velha teve um dia de aniversário enevoado como o que passou hoje. 

Depois de ter passado a tarde de ontem no hospital de Leiria com a filhita fazendo exames inconclusivos, foi-lhe passada “guia de marcha” para o Hospital Pediátrico de Coimbra com a possibilidade de internamento. 

Por lá estiveram hoje toda a manhã, tendo a menina sido – no dizer dos pais – admiravelmente atendida e examinada por uma equipa de neurologia que a submeteram a várias provas psico-motoras, acabando por deixá-la voltar para casa, se bem que ainda sem diagnóstico definido e com regresso marcado para 2ª feira.

Dois toques de sorriso, porém:

      1. Quando um dos médicos pediu à Elisa que contasse até dez, ela, muito natural – como parece ter estado em todos os exames a que foi submetida – perguntou: “Em português ou em inglês?” … Ao que o médico, perdido de riso, respondeu: “Em inglês…”

          2. Quando saíram do hospital e depois do habitual almocinho no McDonald’s, a menina pediu muito para irem comprar um bolo de anos – de chocolate, claro! – para se cantarem os parabéns à mamã.




Vamos ver o que nos reservam os próximos dias.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Dia difícil


Um dia muito difícil. Muito difícil, mesmo! Houve mesmo que terminar as férias mais cedo. Voltamos aos hospitais e aos exames com a neta. Vamos ver o que o dia de amanhã nos reserva.

Não está a ser nada, mesmo nada fácil.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Try a little tenderness

Hoje, durante um dos banhos da manhã, ouvi a belíssima canção de Otis Redding Try a Little Tenderness numa versão tão bonita e tão harmoniosa na voz tão suave e também harmoniosa de Michael Bublé que me reenamorei dela. É que nesta versão "menos jazz" dá para reparar na letra que é de completo enamoramento.

Dado tratar-se de uma bela canção para ouvir numa bela tarde de Verão, a bebericar uma vodka-laranja ou um gin tónico bem fresco, deixo aqui ambas as versões, bem como a letra, para ver qual das duas preferem.

Esta, romântica e suave



 Ou esta, mais antiga, mais arranhada, mais arrebatada




E a letra, romântica mesmo, verdadeiro hino à forma de tratar a mulher de quem se gosta, e que diz assim 


oh she may be weary
them young girls they do get wearied
wearing that same old miniskirt dress
but when she gets weary
you try a little tenderness
oh man that
i know she’s waiting
just anticipating
the thing that you’ll never never possess
no no no
but while she there waiting
try just a little bit of tenderness
that’s all you got to do
now it might be a little bit sentimental no
but she has her greaves and care
but the soft words they are spoke so gentle
yeah yeah yeah
and it makes it easier to bear
oh she won’t regret it
no no
them young girls they don’t forget it
love is their whole happiness
yeah yeha yeah
but it’s all so easy
all you got to do is try
try a little tenderness
yeah
damn that hart (hard?)
all you got to do is know how to love her
you've got to
hold her
squeeze her
never leave her
now get to her
got got got to try a little tenderness
yeah yeah
lord have mercy now
all you got to do is take my advice
you've got to hold her
don't squeeze her
never leave her
you've got to hold her
and never
so you got to try a little tenderness


terça-feira, 24 de julho de 2012

Já nem o Algarve...

Depois de uns dias com um tempo de verão estupendo e sem nada que o fizesse crer, hoje o dia nasceu  nublado e ventoso. Só faltou chover... 

A meio da manhã, a piscina normalmente cheia, estava neste sossego





E, quando nos outros dias havia que chegar bem cedo para ter um lugarzinho... à sombra, hoje tínhamos as cadeiras todas por nossa conta.



E como até a praia estava pouco convidativa,



 houve que ir para casa pôr as leituras em dia...



Já nem o Algarve é o que era!

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Comam fruta!

Com este tempo quente de Julho, não há nada como comer fruta fresca e variada. 
Assim:




Ou haverá quem prefira comê-la assim...




domingo, 22 de julho de 2012

Mudança de netos

Na segunda semana de férias aqui...


... houve que mudar de filhas e de genros e de netos. Uma pena para quem parte, uma excitação para quem chega!

Houve que despedir estes com a lágrima no olho...





... e logo receber estes com todo o entusiasmo!





E o pior é que, não tarda, estamos todos a ir por aí acima, de lágrima no olho... Mas, para o ano há mais.
Se ainda houver país.....

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Cuidado com o Cupido!

Amigos (homens), no limiar de mais um fim de semana, deixo aqui uma advertência: 

Cuidado com o Cupido que ele tem destas coisas...




Bom fim de semana para todos!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Donos de Portugal


Mesmo neste sítio encantador onde passamos férias e mesmo com este Julho que nos presenteou com um tempo de verdadeiro Verão que ainda não tínhamos sentido, não se consegue abstrair das notícias dos jornais e dos comentários nas televisões. É que noutros anos havia aquela invenção ridiculamente sensaborona da silly season e os jornais incluíam suplementos com jogos e atividades ou editavam pequenas coleções de livros para entretermos os nossos dias de férias de Verão entre uma ida ao banho e um descanso à sombra do chapéu-de-sol. Este ano, porém, as novidades (tristes novidades, entenda-se) são tão profusas, já para não dizer tão alarmantes e castradoras, que não dá para delas desligarmos.

Ontem, por exemplo, ficámos a saber que a família real espanhola quis dar um sinal de solidariedade com os cortes nos rendimentos dos espanhóis e anunciou um corte de 7,1% nos rendimentos dos seus membros, enquanto o rei receberá menos 20 mil euros de ordenado. A França e a Itália também tinham já anunciado cortes nos ordenados dos ministros dando assim o exemplo que, dizem os livros, deve vir de cima para baixo.
No nosso país, pelo contrário, os governantes e os deputados deixam-se ficar sossegadinhos à sombra da troika que quer cortar 450 euros por ano a cada um de nós. E se a troika quer, há que lhe obedecer! Por isso vais de cortar o dito montante nos salários em geral, que não nos deles que não lhes chegam para as suas despesas correntes bem como das suas esposas! Veja-se o caso do senhor presidente Cavaco, por exemplo.

Por ouro lado, leio que o PSD “cerra fileiras em torno de Relvas”… o que me parece bem porque se trata de uma pessoa cheia de rigor pessoal e ético e cumpridor de todos os preceitos da moral. Aliás ele até é o presidente da Comissão de Ética da RTP, em cuja última reunião afirmou que o caso Público estava encerrado. É assim género fábula ou metáfora ou como se lhe queira chamar: «eu cometo os erros e sou eu próprio que os julgo e lhes concedo o perdão» mas tudo com o espírito da maior clareza e transparência, claro!

Entretanto, deixo cair o meu queixo de espanto, ao ler a ameaça de despedimento do bispo das Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira (que na 3ª feira à noite fez declarações explosiva, mas certeiras, contra alguns elementos do governo bem como contra muitas das suas tomadas de decisão) por parte do pequenino ministro da Defesa – tomaria ele ter quem o defenda – quando diz que «o senhor bispo tem te escolher entre ser bispo das Forças Armadas e ser comentador político».
 
Por fim, vem o ministro (C)rato afirmar, para inglês ver ou para atirar areia para os olhos do povo, que «quer dois professores por sala na primária»! Deus do céu que de demagogia na boca do bom criador do falacioso «eduquês» que tanto encantou os professores mais bacocos e os portugueses mais antiquados senão mesmo mais retrógrados! Estou mesmo a ver daqui: num agrupamento em que haja professores com horário zero de, por exemplo, filosofia, estes irão para as aulas do 1º ciclo desempenhar a função de segundo professor da sala. Mas se noutros agrupamentos em que eventualmente até façam de facto falta os segundos professores nas aulas do 1º ciclo, mas onde não haja professores sem componente letiva, os diretores não poderão – não terão autonomia (que é outra falácia deste ministério) – para contratar outro professor desse ciclo. Isto de facto não é «eduquês», é «autonomês». Ou será antes «gestonomês»? 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Que fúria!



Agora é que eu percebi bem porque é que a malta nova anda sempre com uns pequeninos auscultadores nos ouvidos! Não é só para estarem sempre a curtir as suas musiquinhas, nem para ficarem surdos mais depressa! É mesmo para evitarem ouvir as baboseiras que muitos velhadas (p’raí da minha idade ou assim) fazem questão de dizer pela boca fora em locais que nem lembram ao diabo! 

 Se eu também andasse com os MP3 ou sei lá o quê nos ouvidos, hoje tinha evitado ouvir dois velhadas – nem pensem em compará-los com os velhotes dos Marretas, que esses eram rezingões, mas elegantes e engraçados – que estavam atrás de mim na bicha para a caixa do supermercado queixando-se amargamente de tudo e duvidando da crise – «Crise? Qual crise?» berravam com ar desdenhoso – por haver tanta gente no Algarve. De onde rapidamente saltaram para o tema Relvas não entendendo porque é que tanto se malhava nele por causa do caso da licenciatura, se para se ser ministro, que eles soubessem, era preciso ter apenas a 4ª classe! A 4ª classe e mais nada! Estúpidos!

Fui atendida rapidamente porque, por acaso, não estava assim tanta gente na bicha, nem o Algarve está assim tão cheio! e saí dali antes de os ouvir dizer mais aleivosias, chegando furiosa ao carro a barafustar – agora eu! – que, de facto, o 25 de Abril foi um grande transtorno para tanta gente neste país! Estávamos tão quentinhos aqui no nosso cantinho, a matar (como dizia o Solnado na história da sua ida à guerra) com o Salazar a tomar conta de nós e veio a pedrada agitar as águas estagnadas do charco! Por isso estamos como estamos! Uns rendidos, uns vendidos, uns pasmados! 

E subiu-me uma fúria incontrolada que me faz reverberar: «Se em vez de pormos cravos nas espingardas, à nossa boa maneira poética, tivéssemos feito rolar umas tantas cabeças, talvez estas velhadas – velhos e não velhos – não se atrevessem a ter pensamentos tão regougados, tão arrepanhados!»

Fúria que recrudesceu quando a minha filha mais velha, que é professora há anos e anos, num quadro de zona do longínquo Alentejo, me disse que, da escola dela lhe comunicaram que está com horário zero e que, se não estivesse como professora bibliotecária de uma escola de Leiria – até quando só o senhor ministro (C)rato o saberá – estaria já em mobilidade, ou disponível ou sei lá o que quererão chamar aos desempregados atualmente. E disse-me também que um em cada três professores do quadro está sem horário! Assustador!

Aonde vamos ter? Com que mentalidades – que não certamente com as de quem os lá pôs! – vamos poder lutar contra estes catões reaccionários que nos governam para o empobrecimento e para o marasmo?  




segunda-feira, 16 de julho de 2012

A tomada da Bastilha








No dia 16 de Julho de 1879, Leonor de Almeida, a Marquesa de Alorna, poderia ter descrito assim no seu Diário, a tomada da Bastilha a que terá assistido.

«O que mais me aflige é a duplicidade, que me envergonha.

Dividida entre os meus ideais, os meus princípios e o temor suspeitoso de poder estar a testemunhar o início da queda do meu mundo, tal como o conheço.

Foi o que senti ao assistir à tomada da Bastilha,

sem saber como lidar com os meus sentimentos divididos, diante das emoções tumultuadas do povo exaltado.

Na madrugada do dia treze tudo parecia ainda amodorrado e duvidoso. Sem nenhuma autoridade civil, Paris aparentava dormitar, apesar do clima de tensão e os nervos arrepiados, à flor da pele da noite, numa espécie de furor assombrado e mal contido.

Madrugada brumosa e fria, a anteceder a manhã luminosa, enganosa, que desponta logo nas primeiras horas do dia catorze.

Saí afoitada para a rua, em busca de uma tranquilidade que mais tarde se iria estilhaçar, fazendo com que o clima aparentemente calmo e amortecido, depressa se transformasse em brasa, enquanto eu seguia arrastada pelo entusiasmo e a coragem das muitas mulheres que, em tumulto, corriam gritando ou cantando com uma vontade inquebrantável. Desde esses primeiros instantes, tão tolhida de medo quanto fascinada pela ousadia feminina, indómita e corajosa, segui sem relutância o trilho da raiva, da exaltação e do desespero a que sempre leva a falta de liberdade, a miséria e a fome.

E acabei diante da Bastilha.

Na noite seguinte, para ir ao salão da pintora Marie Anne Vigée-Lebrun, escolhi um vestido de seda negra com rendas altas e nocturnas a cobrirem-me os ombros, os braços e o pescoço, como se estivesse de luto. No entanto, colocara num dos meus dedos um rubi sanguíneo encastoado a ouro.

Sentia o pulso apressado como nunca, e no meu peito, o coração descompassado exultava.»

Paris, 16 de Julho de 1789

(de “As Luzes de Leonor” por Maria Teresa Horta, 2011)

(se gostarem de romances históricos, de prosa poética e se tiverem pachorra para ler um livro com 1050 páginas, aconselho este, indubitavelmente!)

domingo, 15 de julho de 2012

Férias!



Se bem que... de férias estejamos nós há mais de dois anos! ...
Mas agora são férias de Verão, aqui no sul - que é outro país em termos de tempo e de mar. Como é habitual em Julho, viemos para aqui.




E para aqui.



De modo que agora os texto vão, talvez, rarear ou então ser mais "enlatados"... Além de que vou andar menos pelos blogs dos meus amigos.

Porém, deixo aqui o recado que aprendi com o amigos Carlos do Crónicas do Rochedo:


sexta-feira, 13 de julho de 2012

Histórias da minha ida à Caixa


Foi há mais de trinta anos que tive de abrir conta na Caixa Geral de Depósitos para poder receber o vencimento quando este deixou de ser pago em dinheiro na secretaria da escola mediante assinatura naquelas folhas enormes que depois eram integradas em livros também enormes. Lembro-me que abri a conta com cem escudos…

Mas nunca fiz da CGD o meu banco. Todos os meses desde então me dou ao trabalho de transferir o vencimento para o meu banco de sempre e na caixa ficavam (quando havia…) os subsídios de férias e de Natal, eventuais ajudas de custo, dinheiro que ia ganhando na formação de professores e outros possíveis extras. E isso porque o atendimento ao público foi sempre deplorável, muito mau. E continua.




 É sempre um desespero ir à Caixa, mas hoje tive de ir ativar o novo cartão e, para evitar as longas filas de espera, em vez de ir à agência central em Leiria, optei por ir a uma agência de bairro aqui perto de casa.
 
Estavam quatro pessoas à minha frente em fila única. No balcão estavam dois funcionários: um a atender e, ao lado, uma funcionária, bem na casa dos cinquenta anos, com um letreiro à frente que dizia «encerrado», ia mexendo no computador, com um ar muito entendido se bem que pouco atarefado, cara fechada e lábios finos cerrados em linha, pretendendo mostrar a sua concentração e a sua autoridade. A fila – gosto mais de dizer bicha, mas não quero chocar os meus possíveis leitores – ia aumentando para trás de mim, sem que reduzisse para a frente. E os clientes lançavam olhares inquiridores senão mesmo furiosos à senhora do letreiro «encerrado» a ver se ela o retirava e se punha a atender o público. Nada!

Nisto, entra, vindo da rua, para dentro do balcão um senhor de meia-idade, fato cinzento e gravatinha encarnado vivo a ler um prospeto e senta-se a uma secretária mais atrás, mexendo em papéis. O chefe – pensei eu. Depois apareceu lá de dentro um jovem funcionário, fatinho cinzento, que se sentou ao balcão para o “atendimento personalizado” que se destina a abertura de contas e negócios. Atenção que este “atendimento personalizado” não é sinónimo de melhor ou mais rápido atendimento! Só dá direito a estarmos sentadinhos à frente do funcionário que é mais simpático do que o que está no atendimento geral e cumprimento os clientes estendendo-lhes ostensivamente a mão para o impositivo cumprimento cordial ou assertivo ou sei lá o que lhe ensinaram na formação.

A bicha avança lentamente. A senhora do letreiro «encerrado» que destila comportamento de funcionário público por todos os poros, fartinha de levar com os olhares penetrantes do público que demora em ser atendido, resolveu levantar-se e ir lá para dentro.

Entretanto, de outro lado dos gabinetes interiores aparece uma jovem funcionária, salto de sapato alto, barriga encolhidinha e calça comprida larga e bamboleante, tic tic tic, com um papel na mão que se dirige tic, tic, tic à secretária do pretenso chefe. Larga o papel, pega outro e regressa ao interior de onde tinha aparecido, tic, tic, tic…

E o único funcionário que estava a fazer o atendimento lá continuava, inexpressivo e antipático, mas algo eficiente, porém. A menina dos saltos altos ainda fez uma nova aparição, tic, tic, tic até à secretário do possível chefe para recolher outro papel. Sem palavras.




Estava a chegar a minha vez quando reparei num bonito cartaz publicitário na parede em frente com um comboio que, dada a demora, me pareceu ser do tempo da Revolução Industrial inglesa e de onde saíam umas frases estudadas que diziam: «Há um banco que mexe e faz mexer o país: a Caixa com certeza». 

A mexer assim realmente não vamos lá!...