quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Um pedido de desculpas do tamanho do mundo


Sabemos todos nós que por aqui escrevemos que o fazemos para sermos lidos e disso termos algum retorno, que é, de facto, onde tenho vindo a falhar. Cada vez mais. Tenho falhado na visita e mais ainda nos comentários aos textos dos meus amigos bloggers.

Como publiquei há dias na minha página do facebook, «na escola ensinam-nos o passado simples, mas não o futuro complicado»...



 ... e, o facto é que, neste momento, o presente e o futuro cá em casa estão muito complicados. E, por isso especialmente, junto com todas as atividades em que (felizmente e ainda bem para distração do espírito) me envolvi, não encontro ânimo nem tempo para vos visitar e ler e comentar como muito bem merecem. Por isso vos peço muita desculpa.

Mas não me levem a mal se por aqui continuar a aparecer com um ou outro texto, uma ou outra música ou poema, ou até com uma ou outra brincadeira – há que manter as rotinas, fazer com que não se esqueçam de mim e aliviar o sufoco d’alma…





domingo, 25 de novembro de 2018

Não o fazem apenas os políticos...


Esta é mais uma história da minha rua.

A vizinha tinha (e tem) muito mau feitio. Diziam, por eufemismo, que “tinha o nariz arrebitado”. Eu, que sempre a conheci por dentro (e até gostava dela: se calhar ainda gosto, sei lá!) sempre achei que o fazia por grande défice de educação e de boas maneiras.

Por de mais autoritária, gritava tanto lá em casa que se ouvia em toda a vizinhança. Tudo a toque de caixa. A prole tinha-lhe um “respeitinho” exacerbado que os fazia obedecer-lhe ao minuto. Lá em casa não entrava (nem entra) ninguém – crianças então nem pensar – porque tudo estava (e está) museologicamente exposto sem lugar a mínimas mexedelas…

De um humor altamente variável, eram (e são…) mais as vezes que passa e quase não fala (ou não fala mesmo) às pessoas, mesmo as mais chegadas do que aquelas em que se digna notá-las. Algumas dessas vezes é capaz de falar sem parar, de contar chistes e de falar nos bons velhos tempos com a maior emoção.

Amigos fazia-os com grande facilidade e, enquanto lhe convinha eram umas amizades excessivas com encontros e prendas constantes, até ao dia em que, por qualquer motivo, se desagradava deles e pof! Acabavam-se as amizades…

Extremamente vaidosa e bastante conflituosa, sempre se arrogou o direito de desconfiar, julgar e maldizer quem quer que fosse – nomeadamente os que que eram mais próximos.

Daquelas pessoas com quem, apesar das prendas que, por vaidade, gosta(va) de distribuir pelo Natal, nunca se pôde, nem pode contar para nada.

Conseguiu, com os seus comportamentos desmedidamente azedos, afastar, ao longo dos tempos, os familiares jovens mais próximos que, já adultos, só lhe falam por educação.

Agora que – como a todos nós sempre acaba por acontecer – a Vida lhe tem desabado em cima com toda a espécie de maldades, quer dar uma imagem de santidade (que nunca se preocupou em ter) como aquelas pessoas que, para o fim da vida e com o terror da morte e da doença se viram para os deuses que sempre desprezaram. E trata de querer branquear todo um passado de desconformidade dizendo e repetindo: «que é que eu fiz, para merecer isto tudo?»; «qual foi o meu grande pecado?»

Entretanto, e perante educada indiferença com que é tratada por aqueles que toda a vida desfeiteou, lamenta e diz não entender as razões de tal distanciamento, de tal frieza de comportamentos… «Gostava de lhes perguntar que mal lhes fiz!» - reclama continuadamente.

Não são, de facto, apenas os políticos que pretendem branquear os erros passados…




sexta-feira, 23 de novembro de 2018

Isto da Black Friday...


Sabe bem quem já me vai conhecendo que não me incomodam nada nem beliscam a minha noção de identidade nacional as «importações» de hábitos culturais como atualmente acontecem nomeadamente aqueles que nos invadem vindos dos países anglo-saxónicos.

Foi o caso do Hallowe’en e do Dia de São Valentim de que tanto acusam os professores de Inglês (touchée…) Antes disso tinha-se «importado» o Pai Natal no seu vistoso fato vermelho da Coca-Cola montado no seu belíssimo trenó puxado por pares de renas do Polo Norte…

(Isto para não falarmos da constante «importação» de termos e expressões inglesas que vão enxameando a nossa belíssima lexicologia sem que os abespinhados defensores da ortografia anterior a 1990 disso façam o mínimo caso!)

Agora temos de aguentar a interminável torrente dos afamados (mas enfezados) descontos da Black Friday…

Faz parte das minhas rotinas ir ao shopping à sexta-feira de manhã para dar uma volta pelas lojas e fazer as compras da semana. Hoje calhou-me a tal da Black Friday. Os descontos andavam na casa dos 20% - sei que, até ao Natal, hão de aparecer descontos muito mais vantajosos, mas o shopping estava cheio e as pessoas parecia que andavam maluquinhas...




domingo, 18 de novembro de 2018

Cai a chuva abandonada


Cai a chuva abandonada
à minha melancolia,
a melancolia do nada
que é tudo o que em nós se cria.

Memória estranha de outrora
não a sei e está presente.
Em mim por si se demora
e nada em mim a consente

do que me fala à razão.
Mas a razão é limite
do que tem ocasião

de negar o que me fite
de onde é a minha mansão
que é mansão no sem-limite.
Ao longe e ao alto é que estou
e só daí é que sou.

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'




sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Porque é preciso rir...

Isto dos homens e das mulheres é assim a modos que bem diferente. Eles, coitados, acabam por ser uns simplórios...

Senão vejam...


Um homem e sua esposa fizeram uma lista de 6 pessoas com quem eles gostariam de transar:


Ela escolheu:

George Clooney
Brad Pitt
Cristiano Ronaldo
Rob Lowe
David Beckham
Antonio Banderas

Ele:

A sua prima
A professora do filho
A vizinha
A cunhada
A melhor amiga da esposa
A empregadinha de 18 anos da vizinha.

Os homens são assim, simples, modestos, sem luxos…




terça-feira, 13 de novembro de 2018

Um tesourinho dos anos 70

De 1975, da parceria Vinicius/Toquinho, uma doçura.

Já quase nem dava para lembrar... Ouvi esta manhã na rádio e não resisti em trazê-lo para aqui.

Espero que seja também para vós uma boa recordação.




domingo, 11 de novembro de 2018

Dia da Papoila

No dia do centenário do Armistício da Grande Guerra, volto a trazer aqui o poema que o soldado canadiano John Mcrae escreveu em plena guerra., pouco antes de ser morto.


IN FLANDERS FIELDS

In Flanders fields the poppies blow
Between the crosses, row on row,
That mark our place; and in the sky
The larks, still bravely singing, fly
Scarce heard amid the guns below.

We are the Dead. Short days ago
We lived, felt dawn, saw sunset glow,
Loved, and were loved, and now we lie
In Flanders fields.

Take up our quarrel with the foe:
To you from failing hands we throw
The torch; be yours to hold it high.
If ye break faith with us who die
We shall not sleep, though poppies grow
In Flanders fields.


(John Mcrae, em 3 de maio de 1915)
NOS CAMPOS DA FLANDRES

Nos campos da Flandres
as papoilas florescem entre as cruzes
que em fileiras e mais fileiras assinalam
nosso lugar; no céu as cotovias voam
e continuam a cantar heroicamente,
e mal se ouve o seu canto entre os tiros cá em baixo.

Somos os mortos... Ainda há poucos dias, vivos,
ah! nós amávamos, nós éramos amados;
sentíamos a aurora e víamos o poente
a rebrilhar, e agora eis-nos todos deitados
nos campos da Flandres.

Continuai a lutar contra o nosso inimigo;
 a nossa mão vacilante atira-vos o archote:
mantende-o no alto. Que, se a nossa fé trairdes,
nós, que morremos, não poderemos dormir,
ainda mesmo que floresçam as papoilas
nos campos da Flandres.





sábado, 10 de novembro de 2018

Mais um lugar comum...


A internet está cheia de lugares comuns. Não desses em que estais pensando “viver um dia de cada vez”, “dar a volta por cima”, “é complicado”, “basicamente”, “então é assim” – e tantos, tantos outros.

O lugar comum a que hoje me refiro é de outro teor. Nos blogs e no facebook, pululam mensagens de real e profunda tristeza que dizem: «Pai, partiste há [tantos] anos…» ou «Faria hoje [tantos] a minha querida mãe/o meu querido pai partiu…»   

Temos, de facto, uma enorme necessidade de expurgar a saudade, o vazio que nos ficou na alma (e no espaço físico que é bem mais visível) e por isso expomo-los aos olhos de todos, talvez com a esperança de que as palavras carinhosas de retorno nos aliviem o coração (ou nos envaideçam o ego, sei lá!)

Pois hoje é dia de ser eu a vir aqui plantar mais um desses lugares comuns: a minha mãe foi, de certo, a pessoa que mais marcou a minha vida e, se bem que tenha partido inesperadamente há trinta anos, nem por um só dia deixo de me lembrar dela. E tantas vezes, ao fim da tarde, sinto aquela vontade de lhe telefonar como fazia todos os dias quando a deixei sozinha em Sintra para finalmente vir viver a minha vida de mulher casada.

Pois é: faria hoje anos – muitos, mas não posso esquecer que tão cedo partiu…

Parabéns, mamã. Tenho muitas saudades tuas.




quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Ainda e sempre a nossa Língua

Reparem bem, meus amigos, no título deste desenho que descobri numa exposição de trabalhos antigos ali na galeria do antigo Banco de Portugal.

Viaducto no Valle d'Alcantara



Não estava datado, mas, pela ortografia usada, é com certeza anterior ao acordo ortográfico de 1911.

Imagine-se o que os contemporâneos desse acordo tiveram de gritar e barafustar quando se passou a escrever Viaduto do Vale de Alcântara...

Se não houvesse reformas ortográficas ainda estaríamos a escrever em galaico-português...

Boa noute... :)))



terça-feira, 6 de novembro de 2018

No aniversário de Sophia



Nascida no Porto em 6 de novembro de 1919, faria hoje 99 anos a voz helénica que sempre se elevava contra todas as injustiças do seu tempo.

Aqui fica um dos seus poemas sempre belos e atuais.

Com Fúria e Raiva

Com fúria e raiva acuso o demagogo
E o seu capitalismo das palavras

Pois é preciso saber que a palavra é sagrada
Que de longe muito longe um povo a trouxe
E nela pôs sua alma confiada

De longe muito longe desde o início
O homem soube de si pela palavra
E nomeou a pedra a flor a água
E tudo emergiu porque ele disse

Com fúria e raiva acuso o demagogo
Que se promove à sombra da palavra
E da palavra faz poder e jogo
E transforma as palavras em moeda
Como se fez com o trigo e com a terra

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "O Nome das Coisas"

sábado, 3 de novembro de 2018

A vida é o ai que mal soa...

Li o mail esta manhã: "o nosso amigo Carlos Oliveira, (do sempre interveniente blog Crónicas do Rochedo,) morreu na passada 2ª feira. Foi cremado."

Triste de mais. Triste de mais. Apesar daquela sua despedida algo desassombrada em 6 de setembro último, apesar de se estar já à espera, a realidade bate sempre forte e crua.

Não sei se acredito naquela frase de conveniência que se diz: «Descanse em paz.» Mas que descanse em paz se for caso disso.

E, como sempre, é a poesia que me vem de imediato à ideia. E evoco aqui João de Deus.

«A vida é o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa.

(...) 

A vida o vento a levou.»




Até um dia, Carlos!