terça-feira, 30 de junho de 2015

Finisterra

(Lagoa dos Teixoeiros ou da Mata; Tocha; Cantanhede
onde Carlos de Oliveira viveu)

Recordo sempre «Uma Abelha na Chuva» (19 53) como um dos melhores romances que li. Foi de tal modo que, no fim de uma daquelas excelentes formações que tive em Lisboa sobre essa obra, ainda no âmbito da Reforma Viga Simão, em finais de 70, fui à (saudosa) Sá da Costa, comprei o livro e li-o quase todo de enfiada na viagem de comboio para Leiria.

Há dias li não sei onde que a obra-prima de Carlos de Oliveira em prosa não fora «Uma Abelha na Chuva», nem «Casa na Duna» (1943), mas «Finisterra» (1978). E aí me mandei eu para a Biblioteca Municipal para requisitar o dito romance.

Comecei a lê-lo assim que cheguei a casa e garanto-vos que na página trinta e tal ainda não tinha percebido nada. Só que não era capaz de parar à espera que, ao virar de página ou de linha, me aparecesse uma ponta da meada para começar a (des)enrolar o novelo. Nada!

A voracidade com que li «Uma Abelha na Chuva» foi a mesma com que li «Finisterra». Mas enquanto da primeira vez eu avançava célere para conhecer o enredo, agora, lia para entender a construção da narrativa. Copiei frases, palavras-chave, ideias e quando ao fim da tarde do dia seguinte cheguei ao fim das suas 180 páginas, voltei ao princípio – como tantas vezes me acontece no final da leitura de tantas obras – para completar as notas que avulsamente fui tirando e, saltitando atrás e à frente, reli o livro todo.

Cola-se-nos como o líquido pastoso da gisandra – planta ou mineral? não se sabe – que perpassa toda a obra se cola à casa e à narrativa, enfim.. É que toda aquela arquitetura do romance que se aprendia na faculdade sobre as personagens, o narrador, o espaço, o tempo e a ação cai por terra nesta obra. Trata-se da verdadeira desconstrução do romance numa perpetiva neo-realista da fase tardia do Modernismo em Portugal.

«Finisterra» - fim do mundo – tem como subtítulo «Paisagem e Povoamento» e é toda ela mais descrição da paisagem e da forma como foi povoada pela família em questão. E é dentro dessa descrição algo caótica e enigmática que nos são contados em constantes e nublados avanços e recuos os contornos da família que povoou a paisagem e construiu a casa. [“A casa, vista de fora, impressiona. Fortaleza, resistindo aos impulsos da névoa. Fantástica, também: o halo, o contorno fosforescente…”] A casa está em ruínas como a família – ou o que dela resta e… (não vou dizer como termina…)

O narrador (um ou vários, vá-se lá saber…) tanto fala como narrador (em 3ª pessoa) como personagem (em 1ª pessoa) e isso acontece muitas vezes quase dentro da mesma frase.

As personagens não têm nome, apenas lhes é referido o laço familiar. Há a criança “sentada no osso de baleia” no jardim a desenhar, quase sempre febril, que alterna com o homem adulto (a mesma personagem diga-se) “a vaguear toda a noite” pela casa e “vai a caminho da infância, duplica a própria imagem regressivamente”. Há o pai, a mãe, o tio – a memória do avô povoador, o amigo da família e o executor fiscal – todos apresentados quase como silhuetas rodeadas de névoa e de uma reverberação enigmática.

O leit motiv da narrativa – que é a obsessão de toda a família –  é o registo da imagem: da casa, das dunas, da lagoa, do jardim, quer pelo desenho (a criança), pela fotografia (o pai), pela pirogravura em carneira (a mãe), pela topografia, a maquete (pelo homem adulto – que é afinal a criança e muitas vezes o narrador.) Mas tudo desfocado, moldado pelo orvalho, pela névoa do mar e das dunas, pelo vento, por um halo de luz, pela penumbra, pelos jogos de sombras em labaredas, a madrugada e o crepúsculo.

Tudo muito misterioso, muito enigmático num desconcerto de tempo e de espaço, mas com uma linguagem poética de índole romântica pelo assunto, mas modernista pela forma, num jogo de cores, de luz e contraluz, de fluidez, de bruma e encantamento que fazem lembrar a ambiência dos tempos de Merlin e das maléficas deusas de Avalon.

(Amanhecer na Lagoa dos Teixoeiros, Tocha)

Poderia estar aqui a falar desta obra por mais sei lá quantas páginas, mas não o farei sob pena de…

Quem gostar e se atrever, leia a obra. É um espanto em termos de literatura e de língua. De Língua Portuguesa.


domingo, 28 de junho de 2015

Toca a pedalar para a escola!

Tenho tanta pena de não ter um daqueles programas tipo photoshop ou lá o que é, para fazer montagens de imagens!

E mais pena ainda de o «WeHaveKaosInTheGarden» já não estar ativo. É que dava-me jeito compor uma imagem do (C)rato de olhos em bico a ir de bicicleta para o ministério....

Este extraordinário ministro da Educação, depois de querer pôr os alunos do Secundário a aprender mandarim, quer pôr os alunos a ir para a escola de bicicleta... 

É que no limiar de um novo ano escolar, depois de o que está agora a terminar em que tudo funcionou mal desde a malfadada colocação dos professores até à disparatada azáfama dos exames, o mais premente é, de facto, ensinar mandarim aos alunos e definir a forma como eles se devem deslocar para a escola... 

Como sempre, à portuguesa: ataca-se o acessório e tapa-se o essencial com a peneira...

Entretanto, e para não parecer que estou sempre contra o ministro (C)rato, deixo aqui algumas sugestões para os alunos e para os pais e até para os avós levarem as criancinhas à escola.


Podem pedalar sozinhos.



Ou em grupo.



Pode pedalar o pai.



Pode pedalar a mãe.




Pode pedalar o avô.



E as professoras também podem/devem pedalar...


(daqui)
E porque não o cão?!




Que rica ideia a do ministro (C)rato!!

sábado, 27 de junho de 2015

Je suis grecque!

Aujourd'hui moi, je suis grecque!




sexta-feira, 26 de junho de 2015

Velhices...

Da série «netices»

«gatices», 

agora é a vez das...

«velhices»...

Foi assim: a vizinha chamou-me lá a casa para me mostrar um cortinado de renda e, a propósito, quis mostrar-me mais isto e mais aquilo e andando da sala para a cozinha e daqui para a marquise à procura dos objetos visados, ia dizendo: «Credo! Estou cada vez pior! Pareço uma barata tonta à procura das coisas...»

E eu, querendo de alguma forma mostrar-me algo simpaticamente solidária, contei como nessa manhã tinha posto a chávena com o leite a aquecer no microondas e, ato contínuo, me pus à procura da dita chávena para pôr o leite a aquecer. (E isto foi verdade!)

Mas a vizinha - que até tem menos três anos do que eu! - logo retrucou: «Pois, mas eu, para aquecer o leite, meti a chávena no frigorífico, e pus-me à espera que o microondas tocasse ao fim do habitual minuto.»

Garanto, amigos, que nada disto foi inventado! Antes fosse...



quinta-feira, 25 de junho de 2015

Cuidado com o ego...



Recebi por mail esta imagem algo divertida e lembrei-me do senhor presidente que, na sua deslocação à Bulgária, deu em fazer desabafos no avião.

Primeiro que estava "mais aliviado" com a venda da TAP que fora assinada no dia anterior. E depois, confrontado pelos jornalistas com as críticas da oposição ao seu discurso do Dia de Portugal, o senhor presidente afirmou impante: «depois de ter ganho quatro eleições com mais de 50 por cento dos votos, o meu ego está satisfeito, está no máximo.»

Depois ainda disse mais uma mentirinhas do tipo: cede "zero a pressões venham elas da direita ou da esquerda do centro ou das costas" e que só fala "no superior interesse nacional." - mas isso já nada tem a ver o o seu enorme ego... Digo eu!!

terça-feira, 23 de junho de 2015

Uma Marcha ao Flambó

A minha maior consideração e simpatia para quem tem a (difícil) missão de tratar dos idosos trabalhando para que vivam o resto do tempo de vida que lhes falta viver de forma digna, mais ou menos harmoniosa e mais ou menos preenchida. 

Uma «noite de São João» num lar aqui da freguesia teve a particularidade de reunir os velhos - sem medo das palavras! - com os miúdos do pré-escolar e do 1º ciclo em grande festa de vida e de frescura.

Houve sopas




e docinhos...



Muita animação






E, claro, a Marcha à Flmabó, que juntou a população idosa com os ganapos, o que saiu uma mistura muito apreciada.















E Viva o São João!!

segunda-feira, 22 de junho de 2015

O finalista...

O meu Zezito está todo inchado porque recebeu o seu diploma de finalista...

Inchadíssimo porque vai finalmente para a Primária... Finalmente porque o  Zezito é daqueles meninos que fazem anos em Dezembro e, portanto, poderia ter entrado para o 1º ano com cinco aninhos apenas. 

A Educadora bem garantiu que ele estava preparado para avançar, mas ouvidas as opiniões de alguns entendidos em educação - professoras e psicólogo - a mãe achou por bem deixá-lo fazer o seu percurso serenamente. E fez bem!  Os miúdos precisam de tempo para amadurecer (e para brincar, também!) Agora, com mais maturidade e mais calma, vai finalmente entrar no 1º ciclo.

Sempre com aquele pequeno aperto de alma de cada vez que um dos nossos vai entrar no mundo do saber, espero sinceramente que tudo lhe corra bem.






domingo, 21 de junho de 2015

O dia mais longo

Celebra-se hoje o solstício do verão no hemisfério norte: entra o verão e é o dia mais longo do ano. 

A propósito lembro-me sempre do filme O Dia mais Longo que passou aí por 62. Daqueles filmes inolvidáveis pela temática, pelas interpretações, pela força, pela emoção. Afinal ainda nem vinte anos tinham passado sobre o segundo evento mais mortífero em meio século na Europa.

E é importante que não o esqueçamos! Porque, num mundo perigoso e arrepiante como é aquele em que atualmente vivemos, não podemos garantir que não volte a acontecer.

Fica a música, por de mais conhecida - uma marcha vigorosa e de esperança - nas suas versões americana e francesa.








sábado, 20 de junho de 2015

Canções de Amor (3)

Mais umas das minhas escolhas da série Canções de Amor.

Espero que gostem.









sexta-feira, 19 de junho de 2015

Copy paste!

As minhas gatas. E nem primas afastadas são!



Ai que com este calor só apetece dormir à sombrinha!!

Bom fim de semana!!

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Atenção, fotógrafos!

É que recebi este aviso por mail e logo pensei nos meus amigos que gostam e praticam a fotografia. Por isso apressei-me a deixar aqui o aviso para que todos o possam ter em conta!

Ora reparem como um inocente e inócuo sapato pode arruinar uma bela foto...



quarta-feira, 17 de junho de 2015

A formiga e a cigarra

Não sou nada dada a moralismos, nem sequer a moralidades, por isso não sou grande apreciadora de fábulas. Isto decerto porque, para além de me entender muito melhor com a ironia, na minha instrução primária fui – como todas as criancinhas nesse tempo de moralismos clericais – forçada a lê-las e relê-las nos livros de leitura e depois a recontá-las em redações sempre com a obrigação de, à laia de conclusão, retirar e fazer salientar a dita moralidade.

Bom, mas isto tudo para explicar que, não obstante, nos últimos dias o bom do La Fontaine não me tem saído da cabeça com a sua Formiga trabalhadora e a sua Cigarra desmioladamente gastadora. E isto porquê? Por causa do triste caso da dívida da Grécia e do estupidamente chamado grexit.

Quem não se lembra de ouvir o ministro formigo, digo, o ministro Miguel Macedo dizer aí por 2012 que Portugal não podia continuar um país de muitas cigarras e poucas formigas? De facto, o seu desejo foi-se transformando em realidade e, graças ao esforço aturado e gratuito (que se lixem as eleições quem não se lembra também) do “governo” e do seu representante em Belém, atualmente são muitas as formiguinhas, coitadinhas, abençoadas, e poucas a malandras, as desbocadas das cigarras.

O “nosso” primeiro não se cansa de dizer e bradar que Portugal está a salvo de qualquer turbulência e que tem reservas que aguentam qualquer embate (pois não é que temos os cofres cheios?!)

Entretanto a espécie de presidente da República foi para a Bulgária gabar «o bom aluno» que tem sido o seu governo (sabe-se lá a que custo por parte do povo, mas isso também não interessa nada). Disse ele: «O sucesso do programa de ajustamento é o exemplo de política responsável, quando há uma forte vontade política.» E tem o topete de se pôr a «pedir contas a Atenas» e de, armado em bom, lançar papaias deste tipo: «Não podem ser abertas exceções para nenhum país.» E continua: «num espaço tão integrado como a zona euro há regras que não podem deixar de ser respeitadas; o governo de Atenas não pode ignorar a realidade.»

 Isto sim é sinal de grande solidariedade institucional!

Socorro-me uma vez mais de Sérgio Figueiredo – que, repito, gosto de ler – que escrevia há dias: «É francamente difícil de entender a descontração do governo português diante do cenário do grexit grego. Há quase uma satisfação contida no sorriso de Mona Lisa que a nossa ministra das Finanças esboça, quando é confrontada com tal cenário. Lisboa devia ser a primeira a defender uma solução para a Grécia, mas prefere correr para os credores e pagar antes do tempo. Parece que a nossa colossal dívida externa se resolve com prestações antecipadas. Parece que a prioridade é deixar a "alternativa Syriza" sucumbir como prova de que afinal sempre estivemos certos. Parece que não se conhece a lógica implacável dos mercados. Parece que os juros da nossa dívida não voltaram a subir.»

São as belas, solidárias, altruístas, nada vingativas nem rancorosas formiguinhas à portuguesa.

E vem-me à memória aquela canção que diz…


terça-feira, 16 de junho de 2015

Auto-imolação? Não, obrigada.



Já aqui disse uma vez que gosto de ler (que me desculpe o Henriquamigo que não vai com a cara do cara…) as Opiniões de Sérgio Figueiredo às 2ª feiras no DN.

Ontem, antes mesmo de ter tido tempo de ler a do dia, comecei a dar conta que muitos dos meus facefriends estavam a partilhar (oh como odeio a conotação de hipocrisia que este verbo ganhou!) o texto de SF com apreço, a qual abordava a «entrevista que não aconteceu» de José Sócrates à TVI.

Não é novidade para ninguém (nem aqui nem em nenhum outro âmbito em que me mova – a transparência é uma das minhas imagens de marca) que me interessa particularmente tudo o que tenha a ver com a prisão profilática de JS, pelo que me apressei a ir ler o dito texto.

Confesso que fiquei bastante desiludida. Não propriamente com o texto jornalístico que este jornalismo pátrio é tudo menos interessante, isento e sério, mas com o que fez exultar os meus facefriends. Que foi o seguinte: «Não devo nada a ninguém. Muito menos a Sócrates. Ao contrário de outros, outrora amigos, eternos da onça, que se escondem entre as frases ocas que proferem e as visitas que não lhe fazem. Partido cobarde, partido escondido, partido assustado. (…) Mais impressionante que a coragem de Sócrates em permanecer dentro de uma cela, entre delinquentes, é a falta dela em António Costa e na maioria dos dirigentes socialistas, que deliberadamente confundem justiça com amizade.»

O jornalista faz o que o patrão quer que ele faça que é fazer transmitir a mensagem de que António Costa é um fraco que não defende o ex dirigente do partido. É isso que convém aos partidos do governo. Naturalmente se António Costa viesse a terreiro dizer que JS é o único preso político deste país democrático (?) e fosse visitá-lo todas as semanas, o jornalista (este e os outros todos) viria dizer que este era um candidato perigoso (Já não corajoso) porque queria a todo o custo sobrepor-se ao poder judicial e estava claro que defendia as mesmas políticas de JS que “obrigaram” o país a chamar a tr(o)ika…Sempre de acordo com aquilo que o patrão quisesse que ele escrevesse.

Agora serem os próprios militantes e simpatizantes do partido a fazerem a anti campanha, não me quadra nada bem. Mesmo sendo por solidariedade para com JS (e olhem que solidária estou eu com ele desde o primeiro minuto – e escusam de me criticar que não me faz diferença, nem me demovem) não consigo admitir que, numa altura em que há que fazer de tudo para mudar o triste destino que este país escolheu há quatro anos e que este partido é o que melhor se perfila para que isso aconteça, queiramos ser tão “politicamente corretos”, tão independentes, tão isentos que recorramos à auto-imolação!

É que para nos deitarem por terra já temos a coligação e a esquerda dita única.  

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Inquérito sobre o aborto na Madeira



Realizou-se um inquérito sobre o aborto efectuado na Madeira. Alberto João Jardim foi um dos questionados. Oiçamos a sua resposta.

- O que pensa sobre o aborto?


- Considero-o um péssimo 1º ministro e está a governar muito mal o País.

domingo, 14 de junho de 2015

Muito machos, muito machos!

Eu juro que não os adubei com viagra, mas este anos nasceram-me todos assim!












Que quererá isto dizer?!

sábado, 13 de junho de 2015

Quadras ao gosto popular

No dia do aniversário de Fernando Pessoa – que é dia de Santo António – algumas quadras ao gosto popular do grande poeta do Desassossego.



O vaso de manjerico
Caiu da janela abaixo.
Vai buscá-lo, que aqui fico
A ver se sem ti te acho.

O cravo que tu me deste
Era de papel rosado.
Mas mais bonito era inda
O amor que me foi negado.

O manjerico e a bandeira
Que há no cravo de papel –
Tudo isso enche a noite inteira
Ó boca de sangue e mel.

Manjerico que te deram,
Amor que te querem dar…
Recebeste o manjerico
O amor fica a esperar.

Manjerico, manjerico,
Manjerico que te dei,
A tristeza com que fico
Inda amanhã a terei.

No dia de Santo António
Todos riem sem razão.
Em São João e São Pedro
Como é que todos rirão?



(Quadras ao Gosto Popular, Fernando Pessoa,
Edições Ática, 1969)

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Arcaísmos

A menina estava a praticar para o [Cratino] exame de Português da próxima segunda-feira e respondeu à questão de compreensão do texto com duas simples palavras. E eu disse: «Isto não é um telegrama!» Cara de ponto de interrogação. «Um telegrama? O que é isso, um telegrama?»

De facto, a menina nasceu já dentro da época “dourada” dos telemóveis portanto como saber da existência daqueles papéis A5 dobradinhos em três e selados com as palavras – poucas, que se pagava à palavra – que se queria que chegassem rápidas ao destino. E eu expliquei-lhe que quando havia muita urgência em enviar uma mensagem para alguém que vivesse longe se ia ao correio escrever as ditas palavras que depois eram telegrafadas ou telefonadas para o local onde morava o destinatário. Depois alguém do correio de lá ia de bicicleta ou de moto entregar o telegrama com a mensagem a casa da pessoa a quem a mesma era dirigida. Olhos bem abertos de espanto!

E ainda lhe falei dos telefones de antigamente. E ela: «Tinham um disco que se rodava para marcar os números.» E eu que sim, mas antes, nos anos 50, quando eu tinha ainda 7 ou 8 anos, se tínhamos de ligar para outra terra, outra cidade, tínhamos de ligar para as telefonistas e pedir uma chamada interurbana, dizer o número para o qual queríamos falar e depois esperar, por vezes três ou quatro horas, por vezes até mais, para recebermos a chamada da telefonista que nos punha em comunicação com a pessoa com queríamos comunicar e, por vezes, a ligação caía e tínhamos de começar tudo de novo… Cara de quem nem sequer acredita no que estou a dizer…

O outro menino, a propósito das expressões em latim que o Frade de Gil Vicente lançava ao Diabo, dizia: «Nesse tempo a missa era dita em latim.» E eu: «Há 40 e tal anos ainda se dizia a missa em latim. Eu sou desse tempo! Fartei-me de assistir a missas em latim» Olhos arregalados como se eu fosse da era da pedra lascada…

Entretanto hoje a minha neta pediu-me para comprar um brinquedo insignificante e desnecessário que custava um euro. E eu: «Ó Elisa, 200 escudos por esta parvoíce…» E, ato contínuo, ela: «Ó avó, o que é 200 escudos?!»

Realmente são só arcaísmos… Ou sou eu que estou a ficar arcaica…


A propósito, deixo-vos aqui a cançoneta «Un telegrama» apresentada no Festival de Benidorm, em 1959.... 

Outro arcaísmo...




quinta-feira, 11 de junho de 2015

Coimbra é uma lição

Na data em que Lisboa se exalta e é exaltada, um apontamento de Coimbra para fazer saudades a quem lá estudou (que não foi o meu caso).



Espero que gostem!

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Camões, grande Camões

Celebração do grande poeta Camões por outros grandes poetas


“De Luís de Camões sabemos pouco, é certo, mas sabemos o suficiente para se não poder fazer dele outro modelo que não seja de singularidade. Pois em que padrão poderia transformar-se um homem que não estudou leis, não teve modo de vida conhecido, não levou nenhuma dama à igreja, não contribuiu para o aumento da população, não pertenceu a qualquer confraria, e cuja vida é capaz de ter sido mesmo das mais desgraçadas que jamais a qualquer português letrado coube em sorte? Camões, se modelo é, convenhamos que é apenas modelo de poesia e de liberdade e isso basta.”   
          
(Eugénio de Andrade, “Quem celebra quem” in Camões, nº1, Agosto de 1980, Ed. Caminho)



Camões

Nem tenho versos, cedro desmedido
Da pequena floresta portuguesa!
Nem tenho versos, de tão comovido
Que fico a olhar de longe tal grandeza.

Quem te pode cantar, depois do Canto
Que deste à pátria, que to não merece?
O sol da inspiração que acendo e que levanto,
Chega aos teus pés e como que arrefece.

Chamar-te génio é justo, mas é pouco.
Chamar-te herói, é dar-te um só poder.
Poeta de um império que era louco,
Foste louco a cantar e louco a combater.

Sirva, pois, de poema este respeito
Que te devo e professo,
Única nau do sonho insatisfeito
Que não teve regresso!

(Miguel Torga, Poemas Ibéricos)


Camões dirige-se aos seus contemporâneos

Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E, mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.

(Assis, 11/6/1961)

E diremos ainda com Sophia de Mello Breyner Andresen

Este país te mata lentamente…


terça-feira, 9 de junho de 2015

Pedidos a Santo António

Igreja de Santo António de Lisboa

A Santo António que pedes
Ele que faz milagres tantos?
Se já levou a Moura Guedes
Que leve o Rodrigues dos Santos.

E se não causasse atropelo
Pedia ainda outra cousa:
Desaparece com o Marcelo
Mais a Judite de Sousa.

Meu santinho de Lisboa,
Bem sei que nunca te ofendes,
Faz ainda outra coisa boa:

Livra-nos do Marques Mendes!


(Se tiverem outros pedidos para fazer, não se acanhem e acrescentem! O Santo não leva a mal...)

Bom feriado!



segunda-feira, 8 de junho de 2015

A pesada herança

À partida não gosto das crónicas de Vasco Pulido Valente. Apesar de ser cultíssimo e de escrever num português por de mais correto, não me agrada a forma como dispara dardos à esquerda e à direita sem nunca – ou raramente – apresentar uma opinião, uma forma de ver a realidade lisa e coerente. Porém – e isso é que me espanta e, de certo modo me preocupa… – já é a terceira vez em pouco tempo que concordo com ideias seus.

Hoje o meu jornal citava esta frase sua que encaixa na perfeição naquilo que eu penso e defendo há anos. Diz assim: «Algumas pessoas descobriram agora que uma campanha eleitoral decente exigia que se fizesse a história não só do governo de Sócrates mas também do governo de Passos Coelho. Infelizmente, ninguém se lembrou ainda que a mais leve compreensão da “crise” tem de começar muito antes na “pesada herança” (verdadeiramente pesada) que nos legou Salazar.»

E continua: «Além de uma guerra colonial em Angola, Moçambique e Guiné e de um exército monstruoso, tecnicamente atrasado, a sociedade que Salazar nos legou (fora meia dúzia de enclaves em Lisboa e no Porto) era uma sociedade arcaica. De resto, para a esmagadora maioria da população, não havia nada: não havia saneamento básico ou água corrente; não havia electricidade; não havia hospitais nem centros de saúde; não havia uma rede escolar decente; não havia qualquer espécie de segurança social; não havia estradas; não havia transportes; e, tirando a PIDE e a GNR, não havia polícia

Essa “pesada herança” tem realmente a ver com a extrema pobreza e a inacreditável falta de condições de toda a espécie em que o povo vivia e cuja superação criou, ao longo dos anos depois da Revolução, enormes necessidades financeiras. Mas o pior aspeto dessa “pesada herança” foi é continua a ser a nossa enorme falha na educação e na cultura.

É o sapientíssimo Guilherme de Oliveira Martins que o diz: «A única maneira de sairmos da crise financeira é através da inovação e da criatividade. E a inovação e a criatividade têm a criação artística, a criação cultural, a investigação científica e a educação como realidades dinâmicas. A aprendizagem é o fator que distingue um país desenvolvido de um país atrasado. Um país atrasado é um país que não é capaz de aprender. A realidade cultural é isso. Pesa-me muito e penaliza-me ver demasiadas vezes os programas políticos que têm um capitulozinho no fim e dizem 'é cultura'. Parece que alguém se esqueceu e, à força, lembraram-se que têm de encaixar aquilo ali.»


Por acaso esta espécie de governo que nos tem atormentado nestes últimos quatro anos e que se prepara para voltar a «engrolar» os portugueses para que lhes dêem mais quatro anos de opressão e prepotência não tem a mais básica noção sobre o que atrás ficou dito.

domingo, 7 de junho de 2015

Arrumações

Hoje deu-me para organizar fotografias - podia ter-me dado para pior.... E aí encontrei esta foto do «casal maravilha» do inverno de 72 uns meses depois de se casarem. Atentei e reparei - como nunca tinha reparado - que (passe a imodétia...) elegantes éramos!!...



sábado, 6 de junho de 2015

A "nossa" Justiça

Mais uma absolvição - por nada se ter provado - para outros elementos deste laranjal à beira-mar plantado! Mais uma vergonha por que nos fazem passar estes "nossos" juízes que, no meu modesto entender, ou não conseguem desligar-se da educação clerical e subserviente que receberam em pequeninos ou então baixaram completamente a cerviz ao poder político. O que, em qualquer das hipóteses é muito mau.

Isto vem a propósito da notícia (mais uma «bomba») de ontem. 

«João Rendeiro, antigo presidente do BPP, Paulo Guichard e Salvador Fezas Vital foram hoje absolvidos da acusação de burla qualificada em co-autoria. Rendeiro nem se deu ao trabalho de ir ao Campus da Justiça. Está em Miami, como confirmou o seu advogado, José Miguel Júdice.» - escrevia ontem Eduardo Pitta na sua página do facebook.

Absolvidos por um coletivo de juízes liderado por Nuno Salpico. Em comunicado, João Rendeiro fez saber que, "neste momento de satisfação", o seu pensamento "vai para os clientes do BPP" que, diz, "felizmente, em mais de 90 % dos casos já receberam a totalidade dos seus patrimónios". Além disso, afirmou ainda que o Estado "tem coberto o seu crédito de 450 milhões na massa insolvente do BPP. “. [PAGA, ZÉ!!! - digo eu!]

Grande amargo de boca nos deixam estas e outras (in)Justiça(s). Amargo de boca muito bem descrito por um sempre atento facefriend meu  e cujo texto passo a transcrever.


«O Rendeiro que faz parte dos grandes burlões do país e deixou centenas ou mais de um milhar de clientes sem nada, enquanto fazia uma vida faustosa numa vivenda de grande luxo e área coberta e de jardim na antiga quinta do Patinho, foi ilibado de qualquer crime de burla. Roubou centenas de milhões de euros e ficou livre, podendo gozar o produto do roubo nas Caraíbas ou noutro lugar paradisíaco.

O dono de uma pensão no Porto ASSASSINOU um cliente com facadas no pescoço e na cabeça seguido de profanação de cadáver levou apenas 12 anos de prisão que poderá ser reduzida para metade se tiver bom comportamento prisional.

O Godinho das sucatas que não matou nem feriu alguma pessoa, mas deu uns robalos ao Varas do PS e qualquer coisa ao filho do Peneda, tendo sido provado que uma primeira acusação de oferecer viaturas Mercedes de luxo era mentirosa, não adquiriu, não ofereceu e as viaturas referidas não saíram nunca da Mercedes, mas como estava ligado ao PS levou 17 anos de prisão, mais que o Vitor Jorge que matou sete pessoas na praia do Osso da Baleia, incluindo a sua própria mulher e a filha, tendo ficado apenas 14 anos na prisão e hoje é criado de restaurante em Nice.

Há juízes que deviam ser condenados a penas de prisão por falta de imparcialidade e equilíbrio que roça a patologia neuronal. A esquizofrenia anti-PS é tal que leva aos maiores absurdos jurídicos nas sentenças lavradas.

E não esqueçamos que enquanto uns são ilibados, outros condenados a penas menores por crimes gravíssimos, há um preso sem acusação e que não é arguido há quase sete meses, José Sócrates.»

(DD, in facebook,ontem)

(