Ando há semanas – desde que o
ministro (C)rato começou a mandar cá para fora diplomas, propostas de diplomas
e bocas foleiras sem que mesmo assim os professores se levantem e venham para a
rua como quando fizeram quando a ministra do governo do “Anticristo” se propôs
a avaliá-los pelo processo dos restantes funcionários das escolas – a rememorar
na minha cabeça um texto que expusesse tudo aquilo que penso sobre as falinhas
mansas que muito agradam à população em geral e até aos professores, com que o
referido ministro apresenta o seu modelo de educação elitista e seletivo.
Mas eis que apareceu um texto com
tudo o que eu pensava escrever e, naturalmente, muito mais bem escrito e muito
mais completo que aquele que eu almejava elaborar! Então porque não transcrevê-lo
para aqui? Tem por título «O velho eduquês» e tem a assinatura do Professor
José Manuel Pureza.
«(…)Do "independente" Nuno Crato deu-se - e
continua a dar- -se - a imagem de alguém que vem pôr ordem na bagunçada (coisa
com tradição nefasta em Portugal...). Crato não é diferente de qualquer outro
ministro deste Governo: todos acham que os setores que administram eram
pântanos de irresponsabilidade e de farra antes de eles chegarem ao poder; e
juram que, com eles, vai "voltar" a disciplina, a seriedade e a
exigência. Crato desempenha esse papel com mestria, justiça lhe seja. Debita
para o senso comum que a escola foi tomada de assalto por aventuras pedagógicas
e deixou de ensinar. Que o facilitismo cultivado por esse "eduquês"
está a produzir gente ignorante e a transigir com a incompetência. E, numa
cruzada contra esse apodrecimento - algo sempre sedutor para os leitores de
tabloides -, ele não se propõe menos que a regeneração da educação nacional.
Pois bem, essa regeneração não é outra coisa senão a
transformação do conservadorismo ideológico em política pública. São três as
suas expressões mais evidentes. A primeira é a sua conceção de curriculum.
Crato é há muito porta-voz da tese de que a educação está hoje muito pior do
que antigamente. E é ao antigamente que quer voltar. A desvalorização
curricular da educação artística (musical, visual e tecnológica) e da educação
para a cidadania ou a fixação no suposto papel nuclear dos exames mostra uma
desconsideração do papel da escola na formação do sentido crítico, da
capacidade criativa, da formação de convicções éticas e na experimentação da
cidadania. É uma escola regressada à função de ensinar a memorizar, ler,
escrever e contar. Uma escola que forma força bruta de trabalho desqualificado
e abdica de formar gente crítica, criativa e consciente dos seus direitos e
deveres. Para um país condenado a ter como única vantagem comparativa os baixos
custos da mão de obra, isso é quanto basta.
Ideológico é também o desdém para com a educação de
adultos e a insinuação de que a certificação de competências incluída no
programa Novas Oportunidades era uma certificação da ignorância. Essa recusa de
que a vida de trabalho ensina e cria habilitações, tantas vezes mais perfeita e
intensamente do que as aprendizagens formais em meio escolar, tem a marca de um
elitismo arrogante que não se coíbe de humilhar milhares de homens e mulheres
que não tiveram acesso à escola enquanto jovens e que não lhes reconhece nem valida
as competências que o percurso da vida lhes deu. Mais ideologia do que isto é
difícil.
Ideológica é, enfim, a criação de 115
mega-agrupamentos escolares, alguns com mais de 3600 alunos. Invocar para o
efeito o "reforço do projeto educativo e da qualidade pedagógica nas
escolas" é brincadeira de mau gosto. O que está em causa é tão-só a
transformação das escolas em armazéns de anonimato e mediania, desqualificando
o serviço público de educação e favorecendo assim o ensino privado que aposte
na personalização do trabalho educativo, vedado desta forma à escola pública.
A escola pública de qualidade é uma das gorduras do
Estado que o Governo quer queimar. O espírito crítico, a aprendizagem da estima
pela diversidade, a exigência cidadã arderão por arrasto. É a dieta ideal para
dar à sociedade gente mansa e com a versão oficial da felicidade bem
decoradinha.»
(Os sublinhados são da minha responsabilidade)
parece que os ministros, que espalhavam a sua sapiência nos blogues e nos artigos de opinião, estão a perceber que governar é uma coisa diferente.
ResponderEliminaro Crato, o Álvaro e o Francisco, se têm espelho em casa, já devem ter percebido que a coisa não está a correr muito bem.
abraço Carol
O Crato é um cretino como os outros!
ResponderEliminarVamos a ver como é que vai correr o arranque do ano lectivo com tanta mudança cada vez para pior!
Penso que muitos e muitas docentes não irão aguentar a parada!
Abraço
Aplaudo de pé, Gracinha!
ResponderEliminarBem hajas.
Subscrevo e assino!
ResponderEliminarChega de tanta hipocrisia!
beijinhos