terça-feira, 15 de junho de 2010

Faz 40 anos que morreu Almada Negreiros


Ouvi na rádio logo de manhã: faz hoje, dia 15 de Junho, 40 anos que morreu Almada Negreiros, pintor, poeta, escritor, ensaísta, dramaturgo, “poeta d’Orpheu, futurista e tudo!” Pertenceu ao grupo modernista constituído por Amadeu de Sousa Cardoso, Santa Rita Pintor e Fernando Pessoa.

Não vou esquecer nunca a entrevista que lhe fizeram no programa de boa memória Zip-Zip nos finais dos anos 60 na televisão. Aqueles olhos enormes, ainda cheios de vivacidade, sempre prontos a satirizar e a chocar não obstante estar a viver-se no tempo da censura a sério.

O primeiro texto que li deste poeta “futurista e tudo” foi-me dado para traduzir para inglês como exercício preparatório para os exames de aptidão à Faculdade. Difícil de traduzir por se tratar de prosa poética mas de uma beleza tal e de uma sensibilidade que me tocou para sempre. Agora é um texto bastante conhecido, mas aí por 65/66 nem por isso. É este:

"Pede-se a uma criança: Desenha uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!"

Depois conheci outros e outros textos e poemas de Almada, mas outro pico de admiração foi quando li “O Manifesto Anti-Dantas”. Um espanto! Se eu soubesse, gostaria de escrever assim, com esta força, com esta agudeza, com este poder satírico! E então dito pelo meu querido e único diseur Mário Viegas.... Bom!

Morra o Dantas! Morra! Pim!

2 comentários:

  1. Também me lembro desse programa que naquele tempo era de uma enorme irreverência!
    Foi bom relembrar Almada Negreiros na voz de Mário Viegas, meu colega no Liceu de Santarém...há tantos anos!

    Abraço

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  2. Estou a ver que és muito bem relacionada...

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