quinta-feira, 17 de junho de 2010

Vêm aí os mega-agrupamentos!


(L'important, c'est la rose l' ímportant...)

Falei nisso a colegas, mas não me deram saída. Que não sabiam o que eram. Que não tinham ouvido falar. É assim com grande parte dos professores: não têm interesse por se informarem e só se apercebem das coisas quando lhes “caem em cima”!

Já veio nos jornais, no início deste mês e os blogs da educação também já andam a atacar esta matéria. E até já saiu a Resolução do Conselho de Ministros n.º 44/2010 que quase os define preto no branco. É a Resolução de Conselho de Ministros n.º 44/2010 que diz no seu art. 1º o seguinte:

1 — Estabelecer orientações para o reordenamento da
rede escolar, no sentido de:
a) Adaptar a rede escolar ao objectivo de uma escolaridade
de 12 anos para todos os alunos;
b) Adequar a dimensão e condições das escolas à promoção
do sucesso escolar e ao combate ao abandono; e
c) Racionalizar os agrupamentos de escolas, de modo
a promover o desenvolvimento de um projecto educativo
comum, articulando níveis e ciclos de ensino
distintos.

E o seu art. 9º prevê o seguinte:

9 — Estabelecer que a sede do agrupamento de escolas
deve funcionar num estabelecimento público de ensino em
que se leccione o ensino secundário ou, em alternativa,
noutro que não leccione o ensino secundário, sempre que
tal permita assegurar:
a) Que o agrupamento não exceda a dimensão adequada
ao desenvolvimento do projecto educativo;
b) Uma gestão mais eficaz do agrupamento de escolas; ou
c) Uma melhor integração das escolas nas comunidades
que servem ou na interligação do ensino e das actividades
económicas, sociais, culturais e científicas.

Estão a ver o transtorno disparatado que isto vai trazer na gestão e na organização das escolas, não estão? Já foi difícil quando se decretaram os agrupamentos de escolas. Mas estes traziam a vantagem de tirar as escolas do 1º ciclo do isolamento em que pretensamente viviam e tinham como objectivo promover a articulação entre programas, professores e alunos dos vários ciclos do Ensino Básico. Por outro lado, os professores das EB 2/3 já estavam habituados a trabalhar e a conviver com a escolaridade obrigatória há algum tempo (especialmente os do 2º ciclo) o que veio, de algum modo, facilitar a miscibilidade, a integração do 1º ciclo e do pré-escolar.

Agora estão a ver os nossos colegas do ensino secundário que são tão cheios de si próprios, dos seus saberes e dos seus conteúdos, que se apregoam como sendo o ensino preparatório para o superior, que até queriam transformar o secundário num espaço a dois ritmos – o secundário inferior e o secundário superior – que não têm ainda a mais pálida ideia do que é o ensino obrigatório, terem de absorver, do pé para a mão, as escolas EB 2/3 e as EB 1 e os jardins-de-infância...

Isto seria algo interessante se se tratasse de uma escola que abarcasse todos os alunos mais ou menos nas mesmas instalações ou lá perto, assim como já quase acontece em Alvaiázere, ou em Vieira de Leiria, ou em Mira d’Aire. Agora criar-se esta situação para um mundo de 3000 alunos e quantos professores? E quantos funcionários?

Não me venham atirar areia para os olhos com a panaceia do mesmo Projecto Educativo para os alunos dos 3 aos 18 anos! O Professor João Barroso, pai do Projecto Educativo em Portugal, não o previu assim, posso assegurar! Até porque ele fala em identidade e diversidade como sendo as características de um Projecto Educativo e com a integração dos actuais agrupamentos que ainda não estão bem “cimentados” com as escolas secundárias (que vão mandar) aí vai por água abaixo a identidade e a diversidade de uns e de outras, mas especialmente a dos agrupamentos. Estou a ver a secundária Rodrigues Lobo a “engolir”, a muito breve trecho, o agrupamento D. Dinis!

Além de que vai trazer muito mal-estar nas direcções executivas que foram eleitas “a vapor” sem nem sequer deixarem terminar os mandatos dos conselhos executivos anteriores e que se vão ver obrigadas a cair por força da criação também “a vapor” destes pouco simpáticos mega-agrupamentos...

3 comentários:

  1. Essa informação apanhei-a num jornal, depois vários blogues começaram a alertar as hostes e como não há fumo sem fogo, cá estão mesmo os dito-cujos!
    Vai ser um burburinho que nem te conto...
    Ainda bem que já estou de fora e a viver menos intensamente do que tu estes problemas.
    Mas acompanho-os...

    Abraço

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  2. Estou a ver a secundária Rodrigues Lobo a “engolir”, a muito breve trecho, o agrupamento D. Dinis!
    Achei piada a esta tua frase! Fiz hoje o mesmo comentário em vários locais, pois tive esse mesmo feeling. Não tive medo, mas que não vai ser fácil, não vai! Para ninguém! Eu só já queria saber as regras do jogo, para me habituar. Mas está difícil! Acho mesmo que é o ano de mais incertezas de que me lembro e, como sabes, já tenho alguns. Qual o ECD que vai vigorar? Qual a ADD que vamos implementar? Quais os currículos em vigor? As metas são para já ou para mais logo? Como vou elaborar a "Bíblia 2010/11" (tu que entendes bem este código, percebes a angústia), deixando tudo pronto para uma distribuição de serviço adequada? Quando vier de férias, haverá muitas alterações? Para dar um ar mais volátil à coisa... Ainda existirá a D. Dinis? Já terá sido engolida? Os chefes serão os mesmos? Ainda se leccionarão línguas estrangeiras? Ainda é lá que me apresento?... ???...
    Bem, caro amigo/a... Se o que você procura é incerteza, adrenalina, excitação e um amanhã sempre diferente, cheio de novidades, eventualmente radical... está à espera de quê para ser assalariado do ME?!... Escolha a sua Escola de preferência e amanhã logo se vê se ainda existe. Uma coisa é garantida: ROTINA?!... Já era!!!

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  3. Tens toda a razão Luís! Que incertezas! Que angústias que quem está ao serviço deve estar a sentir, sem se saber de nada e com o conhecimento que temos destes "nossos" chefes que hoje pensam uma coisa e amanhã outra... cada vez é mais difícil estar nas escolas. E os alunos? Também ao sabor disto tudo porque por muito bons que sejamos (e muitos são-no) torna-se difícil não deixar transparecer estas ansiedades nas nossas aulas. Com que calma preparemos aas nossas lições? Com que cabeça as ministraremos?

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